Antologia
Todos os Poemas
Valdeck
Almeida de Jesus
Parte
17
Versões
atualizadas e outras nem tanto
O amor é hoje
e me dói isso
esse entendimento
esse hoje
esse eterno hoje
e me preenche também
e me dá fôlego
para outro hoje
outro eterno hoje
pois o amor é eterno
quando é sempre hoje
para Syd Samuca
(Corrigido
por Márcia)
Salvo pelo umbigo
Fez um chá de maconha, viu o
umbigo de Cristo e se curou da loucura.
Promessa
quebrada
Subiria no Redentor de joelhos.
Só deu pra ir até ao umbigo de Cristo. Caiu e morreu.
Sexo dos
anjos
Beijou boca, ombros, braços,
tórax. Não havia o que beijar abaixo do umbigo de Cristo.
Poema
erótico
Meu teu, teu meu, meu teu, teu
meu... Tell me: foi bom pra você?
São Paulo 1
Vista do céu O
horizonte é tudo o que temos.
São Paulo 2
Poesia concreta: Mar de prédios...
Consciência leve: voo sem asas.
Agora eu choro só
O modelo não me atrai,
Porque artificial
O alternativo não me seduz,
Porque programado
No meio ou do lado
Ou na extremidade
Permaneço no sonho
E no ideal
Esperando a banda passar
Será que serei um velho feliz
Sorridente ou ranzinza
Reclamão e mal humorado?
Dá vontade de andar só
Assim, não tenho do que reclamar
Ninguém pode se queixar
Cultura, Arte, Literatura
Dança, Teatro, Escultura
Circo, Artes Plásticas
Pintura, Artes Visuais
Leitura, Livro, Artes Virtuais
Dá vontade de andar só
Assim, ninguém será culpado
Nem receberá aplausos
Nem tomate, nem pedrada
Fotos em redes sociais
Com careta ou sorridente
Não reclamarei mais
Não beijo nem abraço
Nem resenho nem comento
Se cair, que quebre a cara
Se quebrar, que fique a marca
Dá vontade de andar só
Não fazer nem consumir
Nem mídia nem anonimato
Na cidade ou no mato
Dá vontade de andar só...
Eles são bichinhos
de zoológico
não sabem mais
caçar nem pescar
correr não morrer
sobreviver
em dificuldade
Eles são sensíveis
frágeis
e quase ingênuos
Mentes brilhantes
e corpos frágeis
qualquer gripe
qualquer tapa
ou empurrão...
Eles são bichinhos
de estimação.
Genebra, 01 de maio de 2013
Observando pessoas atravessando a rua
Dez motivos para não matar
(Galinha Pulando)
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Por que matar um americano
que passa embaixo da marquise?
Por que matar um chileno que está no táxi?
Por que matar um alemão sentado na grama?
Por que matar um bretão que está na padaria?
Por que matar um grego que está dormindo?
Por que matar sírio que está jantando?
Por que matar um afegão que está sorrindo?
Por que matar um brasileiro que está na
praia?
Por que matar um norueguês que está beijando
o filho?
Por que matar um esquimó que está pescando?
Porque matar é a forma mais fácil de não
conviver com a diferença.
Le Capitole Hotel, Genebra, 01 de maio de
2013
Meu filho
Quantas noites você
ficou com medo
de dormir sozinho
e eu não estava perto
não pude te abraçar
e te acolher
Quantas noites você
me quis por perto
e eu, bem longe
não percebi
tua carência
Quanto tempo mais
não terei a chance
de te proteger
12 de maio de 2013 – Dia das Mães
Minha
religião não permite
(Galinha Pulando e Facebook)
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Você é diferente
É negro
É branco
É mulato
É sarará
É loiro
É mulher
É homem
É criança
É adulto
É adolescente
É idoso
É índio
É africano
É europeu
É asiático
É americano
É da Oceania
É da Antártida
É gente
Minha religião não permite
Desculpe
Tenho que te discriminar
Amém!
Valdeck Almeida de Jesus
19 de maio de 2013
Jurutonfa de infusão cura até dor de corno
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Me contaram a
boca pequena que esta planta rara nasce em lugares inóspitos
Ela prefere paredes de prédios altos ou galhos de plantas não comestíveis
Cresce uns dois a três centímetros e depois as folhas caem
O ciclo de vida não dura mais que quatro a cinco semanas
Vida adulta ela enrijece e hiberna por seis meses
Daí se renova e começa tudo de novo
As folhas precisam estar verdinhas, verdinhas
Duas a três já são suficientes
Uma infusão em um litro de água e pronto
Um copo por dia e a cura chega a cem por cento
Não tem olho gordo nem inveja
Maledicência ou tramoia, nada te pega
Guarda o segredo e pense firme
Tudo vem e a paz te acompanha
Estou à procura da cura faz tempo
E acho que estou perto de encontrar
Trabalhar para comer =
capitalismo
Eva culpada = machismo
Sexo-Pecado = religião
Faz um ano que tenho me
sacrificado por algumas causas. E tenho obtido resultado. Mas em outros
aspectos, dou voltas ao redor de mim mesmo. Em breve vou iniciar um novo ciclo
em minha vida. Mesmo que tenha que perder muito do que já conquistei.
.
Vou tirando máscaras e cascas de
mim... virando borboleta e voltando ao casulo para virar borboleta de novo. É o
processo doloroso da evolução.
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Teoria da vida
Não me venha com
lembrança
Missa de Sétimo Dia
Na vida eu aprendi
Viver não tem teoria
Nada rima com nada
Nem precisa poesia
Não me venha com
lembrança
Missa de Sétimo Dia
Pois a lágrima de sangue
mancha tudo e escurece
o que temos que doar
é carinho todo dia
pois a breve vida breve
quando menos se percebe
já se foi não vai voltar
por isso peço de novo
minha gente e meu povo
Não me venha com
lembrança
Missa de Sétimo Dia
Pois a vida é ao vivo
E não rima com teoria.
Valdeck Almeida de Jesus
14 de abril de 2013
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Do que precisa um ser humano
de um tiro e ser jogado
na ribanceira?
Casa, comida, segurança,
Escola, médico e carinho?
Talvez um pouco de atenção
Meia hora de afago
Um abraço afetivo
Um olhar de outro ser
Quem sabe droga,
Quem sabe, facada
Quem sabe ser esmurrado
Sangrar na calçada
Do que precisa um ser humano
Para se sentir amado
Presença, ausência
Companhia ou sexo
Uma cidade, um Estado
Do que precisa um ser humano
Apenas alguns minutos
Que lhe mude o rumo da vida
E lhe tire da depressão
Quem sabe um tiro, uma facada
Quem sabe uma Constituição
Um aperto um abraço
Um braço, uma perna, uma mão...
Valdeck Almeida de Jesus.
Aeroporto de Salvador, 28 de
abril de 2013
Escurinho do
cinema
(Galinha Pulando)
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Noite ou dia
Acompanhado ou só
Friozinho ou não
No telão é melhor
Fim de semana
Dia de trabalho
De buzu, taxi
Ou de carro
No shopping
Praça, avenida
Faculdade
Ou na vida
Legendado, nacional
Estrangeiro ou dublado
Em várias dimensões
Ou no trivial
Tem que ter pipoca
Levei biscoito
Comi pãozinho
Testei torrada
Até paçoca
Não tem jeito
Cinema não tem rima
Ou só rima com pipoca...
Salvador, 27 de maio de 2013
Chegando a hora de morrer. Toda
noite eu morro. Amanhã é dia de nascer e começar tudo de novo.
Vendo
(Publicado no livro Trilhos de
minha trilha – 2017)
VENDO um avião 809-700 com
duzentos lugares. VENDO um apartamento de cobertura com cinco quartos e piscina
de 200m quadrados. VENDO uma Mercedes i800 com ar, direção e alarme. VENDO um
terreno de 4 mil metros quadrados. Da minha janela estou vendo muito coisa.
Inspiração nessa oficina:
Escritas em Trânsito, na oficina “O que fazemos
quando fazemos poesia”, de 17 a 19 de dezembro de 2012, ministrada por Carlito
Azevedo, promovida pela Coordenação de Literatura da Fundação Cultural do
Estado da Bahia, unidade da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
(Para Antologia Portugal Minerva 3)
Anos atrás eu procurava
corredeiras, caminhos, vielas, aeroportos
Agora procuro sete palmos de
terra, onde eu possa fechar os olhos e
esperar a eternidade me cobrir de
limo e esquecimento
Uma lápide, com ou sem epitáfio,
sem cruz nem saudades
O caminho que busco é a quadra e
o lote onde repousarei
ali, tão perto e tão distante de
todos. A poucos passos da estrada
mas, ao mesmo tempo, um lugar
onde ninguém me visitasse
nem lembrasse que um dia eu
existi.
02 de junho de 2013 - Vitória da
Conquista-BA
Dizer poemas ao vivo
Dizer poemas ao morto
Dizer poema ao ereto
Dizer poema ao torto
Dizer poemas a todos
Ao corpo, ao mato
Dizer poemas, de fato
De tripa, de bucho
Quando digo poemas
Me estrebucho
Rebusco, busco, e nada
Dizer poemas ao tudo
Dizer poemas ao nada
Ao vento, ao lento,
Ao rápido, ao coxo
Ao tetraplégico
Ao paraplégico
Dizer, simplesmente
Poemas, aos ouvidos
E ao ouvido
Ao ouvinte, ao andante
Dizer poemas ao cambaleante
Ao delirante, ao poeta
Ao Pós Tudo, ao Pós Lida, ao Pós
Nada!
Sebo Porto dos Livros – Salvador,
06 de junho de 2013
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
A água que lava a água
A água que lava o chão
Leva para a minha amada
Recado pro coração
Diz a ela que meu sonho
De viver com emoção
Já se foi na enxurrada
E virou só ilusão
Lavei a alma e a cara
Joguei tudo para cima
Esqueci a poesia
E apaguei toda rima
Diz a ela que há outra
E que eu estou sozinho
Não quero amor nem amada
Nem paixão e nem carinho
Oficina Escritas em Trânsito
Fundação Cultural do Estado da
Bahia - Allan da Rosa
Salvador, 06 de junho de 2013
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Se água não sobe escada
Pedro não vai pro céu
Vou fazer arquitetura
E fazer um escarcéu
Vou dar voz e vou dar letra
Se ligue na minha treta
Vou pintar minha cara toda
Na cabeça boto um véu
Com escada ou sem escada
Do inferno vou pro céu
Vou subir ao Paraíso
Com escada ou sem escada
Eu nunca fui indeciso
Me ouça meu camarada
Eu farei o que preciso
Pra chegar nessa quebrada
Oficina Escritas em Trânsito
Fundação Cultural do Estado da
Bahia - Allan da Rosa
Salvador, 06 de junho de 2013
Emoldurar para o amor durar
Se já não brinco mais soltando
palavras ao vento em bolhas
de sabão
Se liberto apenas palavras
de madeira, de rocha e ferro,
de pedra e chão
Preciso talhar cada uma
a ferro e fogo e emoldurar
pra não ferir nenhum coração
Oficina Escritas em Trânsito
07 de junho de 2013 – Allan da
Rosa
Poesia Gera Poesia
Chama Chama Chama
Sou uma prostituta
da língua
não tenho rima,
métrica, sílaba,
verso,
sou uma prostituta
da língua, obedeço
e pronto
Minha moleta pra vida
está em secreta fonte
Onde encontro guarida
Pra trepar atrás do monte
Escondido dos olhares
E de dedo que me aponte.
A água que lava a água
A água que lava o chão
Leva para minha amada
Recado pro coração
Diz a ela que meu sonho
De viver com emoção
Já se foi na enxurrada
E virou só ilusão
Lavei a alma e a casa
Joguei tudo para cima
Esqueci a poesia
E apaguei toda rima
Diz a ela que há outra
E que eu estou sozinho
Não quero amor nem amada
Nem paixão e nem carinho
Dizer poemas ao vivo
Dizer poemas ao morto
Dizer poemas ao ereto
Dizer poemas ao tordo
Dizer poemas a todos
Ao corpo, ao mato
Dizer poemas, de fato
De tripa, de bucho
Quando digo poemas
Me estrebucho
Rebusco, busco, e nada
Dizer poemas ao tudo
Dizer poemas ao nada
Ao vento, ao lento,
Ao rápido, ao coxo
Ao tetraplégico
Ao paraplégico
Dizer, simplesmente
Poemas, aos ouvidos
E ao ouvido
Ao ouvinte, ao andante
Dizer poemas ao cambaleante
Ao delirante, ao poeta
Ao pós tudo, ao pós nada, ao pós
lida
06 de junho de 2013, Sebo Porto
dos Livros
Das coisas que são mais
Um sotaque que não entendo
Uma sonoridade na voz que não
conheço
Um olhar sonhado, imaginado
Gestos ao abrir a geladeira
Andar pela sala, ir à cozinha
Descer a escada, subir ao sótão
De nada disso entende Santo
Antônio
Ninguém pede um amor ordinário
Mas é disso e de menos ainda
Que é feita a vida dos casais
E Santo Antônio não sabe disso
Nem entende os pedidos dos
mortais
Para Syd
11 de junho de 2013 – Casa de
Tereza – Sarau Prosa e
Poesia
(Corrigido
por Márcia)
Do gueto viestes
Ao gueto voltarás
Seja rico ou seja pobre
Mediano ou avesso ao mundo
Do palácio ou chão imundo
Ao gueto tu voltarás
Seja rico ou seja pobre
Cada um com seu quilate
Quanto vale e quanto pesa
Quando ora ou quando reza
És do gueto e é ao gueto
Que é teu canto e teu lamento
Com intento ou sem intento
A ele tu voltarás
11 de junho de 2013 – Casa de
Tereza – Sarau Prosa e
Poesia
Meu fogão
virou poesia
Não sei pra onde se foi
Se cozinha em banho Maria
Mas troquei o meu fogão
Por uma bela poesia
Era novo o equipamento
Nunca tinha sido usado
Foi-se embora para sempre
Ainda na caixa embalado
A poesia foi publicada
Falando de minha mamãe
Que foi homenageada
Em casebre ou em palácio
Vê-lo ir pra todo sempre
Foi difícil, não foi fácil
Oficina de criação literária com
Bruna Beber
Fundação Cultural do Estado da
Bahia – 12 de junho de 2013
Saudade: teu futuro é estar
presente no meu passado.
Valdeck Almeida de Jesus –
Oficina de criação literária com Bruna Beber
Fundação Cultural do Estado da
Bahia – 13 de junho de 2013
Facebook: No princípio era o
livro. Veio o verbo em inglês e o livro fez-se book
Fastio: ofereceram um cozido ao
guloso, após comer um peru assado, dois pratos de feijoada e uma bacia de
salada. Ele respondeu: faz, tio, que eu como.
Terra Sem Lei – I
Segunda-Feira: brigou por seu
lugar na fila do elevador.
Terra Sem Lei – II
Terça-Feira: impaciente com o
frentista, alterou a voz.
Terra Sem Lei – III
Quarta-Feira: foi xingado no
trânsito por uma pedestre fora da faixa.
Terra Sem Lei – IV
Quinta-Feira: o dentista adiou o
tratamento com uma desculpa esfarrapada.
Terra Sem Lei – V
Sexta-Feira: fingiu não ouvir a
sirene da ambulância pedindo passagem.
Terra Sem Lei – VI
Sábado: não leu o pedido urgente
de sangue tipo: o seu.
Terra Sem Lei – VII
Domingo: ficou esperando a mãe
voltar das compras. Ela não voltou nunca mais.
É um contrassenso este mundo. Eu
acho que os saberes são válidos, com ou sem diploma. Mas temos que nos submeter
a esta nova máquina de controle para poder se candidatar ao mundo do capital e
ser valorizados pelo que acumulamos. Mas a saída ainda é esta mesma, estudar. E
conquistar riquezas e não viver ou viver para enriquecer os outros.
Tudo o mais: uma voz ao fone,
palavras cadenciadas,
sotaque de uma terra distante,
acento forte em uma letra
aqui ou ali, falar do coração,
sentir o calafrio no corpo,
ter borboletas no estômago..
Nem precisa ver a pessoa, nem
precisa estar perto,
nem precisa ter visto ou
conhecido pessoalmente...
Santo Antônio não sabe o que é
isso. Nem quem faz pedido
ao Santo Casamenteiro.
Valdeck Almeida de Jesus
11 de junho de 2013
Poste Iço
Copio e colo
Reflito, como espelho
Vou no curso
Que me empurra
E aceito
Não reflito
Não sou espelho
Sou contra
Sou a favor
Sou indiferente
Mas copio
Mas colo
Sem pensar
Estou no fluxo
E no refluxo
Afinal
Sou postiço
Valdeck Almeida de Jesus
15 de junho de 2013
Quem não gosta de aparecer ou
finge que não gosta, nem devia entrar em rede social.
Quem não gosta de opinar nem
ouvir opinião contrária, não devia abrir a boca.
Quem não gosta de ser criticado,
nem devia criticar, mesmo sem dizer uma palavra.
Viver é fácil. Morre, também.
Basta um clique e você mata a possibilidade de o outro postar em teu mural ou
marcar teu nome nas publicações.
Mas é bem mais fácil ser
hipócrita ou posar de bom samaritano.
O difícil, mesmo, é ser sincero.
Mas as postagens e as cutucadas denunciam tudo.
Manifestações Populares no Brasil
em 2013
Tudo isso, no Brasil e em outros
países, é o resultado de políticas neoliberais e do capitalismo sem freios, que
prioriza tudo, exceto os seres humanos. Felizmente, nem todos estão com a mente
e o raciocínio deteriorados. Felizmente ainda há pessoas de carne e osso, que
reage e que tenta mudar o curso da história. Eu ouvi de uma pessoa "se não
estiver bom para todos não está bom para ninguém". É o sentimento de
pertencimento das pessoas, que querem se sentir parte do mundo em que habitam,
querem proteger os direitos de COMER, MORAR, SE LOCOMOVER. Num sistema
capitalista como o que domina o planeta, esses direitos são para poucos.
Aqueles que se acham os donos do mundo não sabem a força que bilhões de pessoas
possuem. É lamentável que o mundo tenha chegado a este ponto, de as pessoas
precisaram apelar, partir pra violência para mostrar que estão sendo oprimidas.
Espero que haja tempo para acordos, para conversas e para paz. Alguns países
como Espanha, por exemplo, em que o ETA lutou com terror por vários anos,
sentiu e pagou um preço que poderia ter sido evitado. As multidões estão
soltas. Está na hora de os governantes do mundo, ONU e outros organismos
internacionais abrirem os olhos.
Fragmento de
um dia de sol
E passei vários anos
olhando pela vidraça
as gotas caindo
sem fim
e todas se
espatifando
no chão
e eu olhava
e sorria
e cerrava os olhos
e fitava a janela
e via a chuva
cair do outro lado
destruir a cidade
arrastar meus sonhos
e eu atrás da vidraça
olhando a chuva cair
30 de junho de 2013
O toque do
sino
O dia raiou
E a vida me chama
O badalar ecoa
E a vida me chama
Caminhar à toa
Sem saber
Nem querer
Ou vou
E o toque do sino
Num longo ecoar
Então anuncia
O meu funeral
30 de junho de 2013
Aconchego
Tudo o que busco
é relaxar
cada dia
e cada noite
num lugar diferente
desconhecido
onde eu possa voltar
se preciso
30 de junho de 2013
Nem sei
O que me invade
ou se invade
nem sei se sou eu
ou se é você
nem sei se amo
mais a mim que a você
só sei que é bom
lhe ver bem
Para Syd
02 de julho de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Hoje fui
xingado
“Seu viado,
Velho gagá
Idiota
Você ‘tá’ cego,
Disgraaaça?
Sai da frente,
Imbecil!
Ôoo, filho da puta!
Retardado...
Maluco, babaca!
Vai dar o cu,
Hoje fui xingado
Esculhambado,
Como se eu
Não fosse terrestre
Hoje fui xingado
De puta, de peste
Apenas porque
Dei vez a um pedestre...
Salvador-BA, 15 de julho de 2013
Sabores de
cheiros
Sonhos alimentados
A pão e vinho
Ideais, utopias
Horizontes e núvens
Gela o corpo
Treme a alma
E tudo que me acalma
É saber de ti
Se triste, se vivo
Se bem ou dormindo
Os sonhos me embalam
Não deixam que calem
No peito o pulsar
Sonhar e preciso
E viva o sonhar...
Para Syd
10 de julho de 2013
(Corrigido
por Márcia)
O anjo voou
Pra longe
Sem deixar recado
Nem sinal
Em outros cantos
Estradas
Caminhos
Passou a andar
Sorrir, voar
Para Syd
Salvador-BA, 14 de julho de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Deus Morreu
Quebrou-se o espelho
e tudo fez sentido
Imagem
e semelhança
outrora valiosa,
agora, mera
lembrança
Deus morreu
e com ele
levou pecado
morte e
ressurreição
remorso e perdão
Deus morreu
Restaram cinzas
e o homem
que se libertou
Salvador, 16 de julho de 2013
Tradução de SYD
"tradução: esse vento que eh
vc eh uma incóginata, não dá para saber como vc eh de verdade,
nem de longe, nem de perto.
Este eh o VC verdadeiro, interno,
que não da pra mudar... esse vento-vc pode atropelar tudo: sentimentos,
amizades, conquistas etc e ir embora, devastando o mundo...
.
mas ao mesmo tempo eh um vento
suave, capaz de acalmar um elefante, um touro bravio, uma onça faminta...
vc eh o oposto de si mesmo,
lindo! Escorregadio, arredio, medroso, e ao mesmo tempo tempestuoso, cheio de
certeza de si."
Salvador, 2013
Facebook (25 de julho de 2013)
Para uma miragem que povoa meu
imaginário faz anos... que nem sei se é imagem ou invenção, se é sonho ou
ilusão de minha mente. Esta miragem sabe de mim e de muito mais...
Syd Sean Dizem que as miragens
são reflexos de luz ...Se é assim,deixa essa luz de guiar ...
SYD:
essa
onda essa maré esse vento esse mar revolto e tranquilo essa onda marola vento
mar brisa
28 de
julho de 2013
"Não
desenhe na areia, perto da maré; pinte em ouro, prata, coloque onde quiser;
coração, emoção, de tão forte pode quebrar; de preferência, entregue-o a quem
deseja cuidar."
Valdeck
Almeida de Jesus
SYDJogo
da Memória (Marcar SYD nas linhas) (Proposta de Márcio Santos no Facebook)
Salvador, 25 de julho de 2013
Meu pai chegando da roça, com
roupa surrada, cara de cansado, cheiro de mato, os bolsos cheios de balas. A
pobreza não impedia que ele comprasse, toda semana, um punhado de bombons na
venda de “seu” Julio.
Eu e minha irmã Valquíria
disputando um velotrol quebrado, no casarão onde hoje é o Edifício Mansão
Avenida. Ali, minha mãe passava, toda semana, para pedir esmolas. Para evitar
que os dois filhos se matassem, ela dizia que meu pai traria um velotrol novo,
de São Paulo, quando ele voltasse do tratamento de saúde.
Eu olhando pelo vidro traseiro do
fusca que levou meu pai para a fazenda onde minha mãe e meus irmãos estávamos
morando. Nada de velotrol. Trauma para a vida inteira.
Lembrança de cenas do livro “A
insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera: a mulher andando nua pela sala,
peidando...
Gabriel García Marques e os
vários personagens com mesmo nome, em Cem anos de solidão... que viagem.
Vinho, vinho, vinho, na casa de
Nilson Galvão. Bebi tanto que não peguei minha sacola, por mais que eu olhasse
para o objeto e prometesse, a mim mesmo, que não a esqueceria. Fazer o que?
Repetir a leitura de “Alice”,
livro infantil, na época da alfabetização. Lia e relia, na escola. Depois,
passava de ano. E pensar que eu um dia estaria adulto.
15ºC na Rua XV de Novembro,
centro de Sampa, indo pra estação de metrô da Sé, tarde a noite.
Eu e meu filho Valdeck Jr chegando
ao aeroporto de Salvador, esbaforidos, para viajar para Sampa. Primeira viagem
dele, com seis ou sete anos de idade. Pensando que iria ver aviões, me
perguntava o tempo todo, dentro do avião: Pai, cadê o avião que tu disse que ia
me mostrar?
Correndo nu pela praia do Cristo,
em Ilhéus, à noite, sem medo de pisar em espinhos ou cair num buraco. O que não
faz uma garrafa de vinho e uma fantasia na cabeça.
São João em São José do
Jacuípe-BA, conhecida como Cuscuz, discutindo a relação, enquanto o povo bebia,
dançava e se divertia.Sexo na beira da estrada, com medo de algum conhecido
passar e flagrar. Jacobina-BA, terra do ouro, bar Missão, andanças por rios de
emoções. O tempo não volta, mas a imaginação faz rodopios.
Sonhos e mais sonhos com um
holograma que foi impresso em minha pela dos neurônios. Utopias nos atraem para
continuar vivendo. Sem essa luz que nos guia, meu caminhar não teria
sentido.Roubando revistas em quadrinhos na biblioteca da casa da sede da
fazenda. Leitura, devolução e novo roubo. Nem tudo que é ilegal é imoral.
Prosas, Poesias, Lidas e Pós
Lidas, Sarau de Onça, Sarau de Gente, Red Rivers, e o mundo gira. Cada passo
pode ser o último. Mas continuo a caminhada.
Oficinas de Escrita. A cada
lição, uma certeza e uma incerteza. Eis a questão.
Skyline Pigeon, de Elton John,
viagens no tempo e no espaço. Música tem o poder de teletransportar até
pensamentos.
Primeiro poema publicado em
papel, numa antologia. Homenagem à minha mãe. Para publicar, vendi o fogão da
família, com o consentimento de mamãe. Amor e poesia nem rimam, mas são
escritos com os mesmos sentimentos.
Esperar que a vida me presenteie
com uma garrafa de vinho, duas taças e uma companhia.
Carpe diem.- Oi, como vai?
- Beleza.
- Tem notícia de "X"
- Não soube, não? Se aposentou.
- Por quê? Eu sabia que ela
estava doente, mas não achava que era grave.
- Alienação mental. Proventos
integrais. R$ 27.000,00, sem desconto de Imposto de Renda.
- E ela recorreu?
- Claro que não. Só se ela fosse
maluca.
- (Risos). Ela ainda está solteira?
- (Risos)...
A vida é um teatro, em que
estamos, todos, representando múltiplos papéis, alguns deles com duplas
máscaras e personalidades. Esse medo da 'cara limpa' é justificado e poético.
Afinal, quando encontramos a verdadeira pessoa, o encanto pode se quebrar. Mas
na essência estão as pessoas sem máscaras.Quero bombar na mídia
Não me interessa aprender uma
arte, perder tempo com minúcias, detalhes insignificantes. Sair de casa para
uma atividade qualquer, na comunidade, favela, bairro, praça ou ong. Não quero
nem me interessa participar de governo, empresa particular ou grupos de
artistas ou baderneiros. Não penso na possibilidade de investir tempo e esforço
em aula, curso, produção artesanal ou industrial de qualquer coisa. Isso tudo é
um atraso de vida. Até me imaginei abraçando pessoas de verdade, ouvindo suas
queixas e caminhando junto, para aprender e passar experiência, mas logo me
curei dessa insanidade. Onde já se viu um ser iluminado descer a tão baixo
degrau que não leva a lugar algum. Quero mesmo é aparecer, ficar famoso, e que
se danem os ideais, as regras de boa convivência, a ética. Quero meu espaço na
mídia, mesmo que seja por quinze minutos. Depois, será o depois. Não existe
ostracismo nem vida fora da mídia. Quero viver, quero ter muitos fãs e viver de
aplausos. Afinal, viver a vida real não é para seres humanos.
No escurinho do cinema
(antes do filme começar)
Você ‘tá’ muito barrigudo. No
começo do nosso namoro você não era assim.
É porque quando eu ia conversar
contigo eu murchava a barriga. E também porque eu ‘tava’ apaixonado pela minha
ex, sofrendo, perdi peso.
Era melhor você continuar
apaixonado por ela, porque dinheiro não é tudo. Tem que se cuidar.
Outra coisa: você precisa tirar
férias. Você ‘tá’ muito nervoso, eu vi como tratou a empregada ontem.
Mas quem vai tomar conta da
empresa? Você? Aquela empregada maluca?
Não precisa ser agressivo. Você
pode contratar outra pessoa, mas não tão bonitinha como Márcia. É concurso de
beleza, é?
Não. Mas outra vez contratei uma
feia que também não dava conta do recado. E mulher tinha duas presas enormes e
um cabelão, parecia uma leoa. Mas nem um arroz sabia fazer...
SYD (Título abaixo: Dividido
entre dois amores)
Torn between two lovers
Dividido entre dois amores
I love life and love you as well
Eu Amo a vida e amo você também
It's imposible to hold both (life
and you)
É impossível ter os dois (vida e
você)
But I want to live each one
Mas eu quero liver ambos
And, as strange as it could be
E por mais estranho que possa parecer
I'd rather prefer to leave life
(or die)
Eu preferiria deixar a vida (ou
morrer)
If it would be imposible to love
you
Se fosse impossível te amar
Drinking Wine
Writing Poetry
And thinking of You
Bebendo vinho
Escrevendo poesia
e pensando em você.
1º de agosto de 2013, Pós Lida,
Praia Sebo dos Livros, Barra, Salvador, BA
Minha
Equação
Dividido entre dois amores
Eu Amo a vida e amo você
É impossível ter os dois (vida e
você)
Mas eu quero viver ambos
E, por mais estranho que
possa parecer,
Eu preferiria deixar a vida (ou
morrer)
Se fosse
impossível lhe amar,
Bebendo vinho
Escrevendo poesia
e pensando em você.
(Corrigido
por Márcia)
Último pedido de quem sofria de
labirintite: carimbar no meu caixão “Transportar na vertical”.
Zarabatana de ti, sinto ânsia de
vômito azul e meu coração se alegra com tua saudade.
Um matiz de azul me lembra teu
casado e causa disritmia na minha alma.
Disritmia de mim, disritmia de
ti, disritmia de nós: zarabatana azul no coração.
ÀS NO VOLANTE
Cortou, costurou, xingou
motoristas, perdeu o senso e a direção. Depois, se espalhou em pedaços no
asfalto.
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
A pomba-gira girou, girou, girou,
girou e pousou na cabeça de Maria, que ficou grávida.
REPULSA
Veio em minha direção, não sabia
quem era nem perguntei. Vi nos olhos uma pergunta e um receio. Ele viu nos meus
um medo. Ambos trazíamos na alma preconceito e discriminação e nos afastamos
sem nos conhecer.
Cansado de ser vegetariano
comprei um peixe carnívoro. Alimentei ele com plantinhas, caí no erro e fui
devorado pela comida que comprei pra ‘mim’ comer.
Arrependido de matar um leão por
dia pra matar a minha fome, um dia comprei um leão pra ‘mim’ comer.
Conheci minha mãe. Conheci meu
pai. Conheci minha mãe e meu pai. Conheci minha irmã mais velha e meu irmão
mais novo. Perdi minha mãe. Perdi meu pai. Perdi meus irmãos. Conheci meu
filho. Me perdi de eu filho. Não conheci o avô de meu pai. Não conheci o avô de
minha mãe. Não conheci a avó de meu pai. Não conheci a avó de minha mãe. Não
conheci os avós dos avós nem os avôs dos avôs, de meu pai e de minha mãe.
Não me conheci.
PASTA
Na frente, atrás, em cima,
embaixo, entra e sai, cospe, enxágua, dente escovado.
"No meio do caminho tinha um
metrô. Tinha um metrô no meio do caminho. E eu queria passar, circular pela
cidade, conhecer o subúrbio e o centro, mas tinha um metrô no meio do
caminho."
Sabe aquele dia que você está
querendo falar com qualquer pessoa na rua, na madrugada fria, escura e
perigosa? Qualquer copo de cachaça é conforto, qualquer trago de cigarro é
aconchego...
São Paulo, 15 de agosto de 2013
Valdeck Almeida de Jesus
SYD
Acostumei-me com tuas
manias, bafo, humor, gostos, sonhos, planos, traumas de
infância. Chorei junto, sorri, aplaudi, senti falta, procurei no meio
da multidão, fiquei com raiva, pedi perdão, conversei todos os dias, dormi
esperando você chegar a qualquer momento. Fiz poesia,
ouvi lamentos, vibrei com tuas vitórias, torci pelo êxito de tua
vida, ajudei-te nas horas difíceis, estive presente quando
necessário. Terminei tudo, reatei. Neguei tua existência em mim e a
minha em ti. Só não pude te prender nem te soltar, pois ainda não te
conheci.
Valdeck Almeida de Jesus,
10.08.2013
(Corrigido
por Márcia)
...e se entregou à primeira que
encontrou. Amou e se sentiu amado. Ao fim da noite desejou eternizar o momento.
Foi-se embora, não perguntou o nome e pagou o programa.
Deitado no chão da praça
Em frente à igreja,
Eu ouvia um canto sagrado
Na boca de pessoas comuns
Enquanto os coqueiros
Bailavam nas paredes
E o cachorro se espreguiçava
Com o carinho de Diego
E a noite passava
E a vida passava
E eu seguia sonhando
Que o mundo é pequeno
E fácil de entender
Cartagena de Indias
17 de agosto de 2013, 01h da
madrugada
Restaurante
Kokoriko
Restaurando minhas forças
Pra aguentar a cirurgia
Que vai me separar da Colômbia
Morri ao sair de Cartagena
Vou morrer de novo
Ao partir de Bogotá
Ao menos levo na barriga
E também no coração
Um pedaço desta terra
A beleza de seu povo
O sabor de sua comida
O álcool da cerveja
O gosto da galinha
O cheiro desta terra
Ao menos levo isso
E assim posso lembrar
Aeroporto de Bogotá, 18 de agosto
de 2013, ouvindo A-há: Cry Woolf. “I’ll be gone, in a day or two...”
Saída de
Emergência
Não há caminhos
Nem passagens secretas
Todas as portas e janelas
Se fecham
Atrás de mim
Não há passaporte
Nem visto especial
Não há convite
Nem saída de emergência
A saída é seguir
Não se apegar
Esquecer o caminho
Pois retorno não há
Não posso fugir
Nem posso ficar
Nem choro nem vela
Vão me segurar
Nem mesmo qu’eu queira
Não posso parar.
Bogotá, 18 de agosto de 2013,
Aeroporto Internacional
Troco conquistas
Por uma vida pacata
Numa vila qualquer
Perdida no mato
Ao pé d’ua montanha
Sem luz e TV
Aonde se possa
Ouvir cachoeira
Silvar de uma cobra
O mato crescer
A noite chegando
E o amanhecer
Os sons do universo
Trazendo você.
Bogotá, 18 de agosto de 2013,
aterrizando de volta de Cartagena
De Jequié a Tunja
Se fosse possível mudar de país,
aprender uma nova língua, conhecer outra história, viver uma outra vida, sobreviver
a uma guerra, sentir novas emoções, abrir o peito e plantar sentimentos
diversos; se fosse possível morar nas ruas, esperar o tempo e a incerteza do
amanhã; se fosse possível acordar com a chuva no rosto, proteger as roupas e
documentos e sorrir da fome; se fosse possível quebrar laços com a família e
amigos, abandonar o trabalho e os planos; se fosse possível ter vinte anos de
novo e sonhar com um futuro, desabar todo dia e se levantar esperançoso,
brincar de chutar bolas de pedra, recolher cachorrinhos órfãos e tomar
emprestado mochila e pente; se fosse possível tocar flauta na rua pra ganhar
uns trocados incertos; se fosse possível fumar maconha pra passar a dor de
cabeça e mandar à merda as convenções e tudo o que me disse o Padre; se fosse
possível esperar por alguém que não vai chegar nunca mas esperar assim mesmo;
se fosse possível não ficar triste ou raivoso quando não tiver o que comer; se
fosse possível falar com todos os estranhos como se fossem velhos conhecidos;
se fosse possível tudo isso, nem assim eu seria outro, pois para fazer mudanças
não se pode ser covarde.
Bogotá, 18 de agosto de 2013
Chegar e partir
Não dá pra medir
Qual situação
É mais sofrida
Se na chegada
Com o medo
Do encontro
Ou na partida
Com medo de perder
Chegar e trazer
Emoções vazias
Ficar e preencher
Tuas noites e dias
E depois se afastar
Com o corpo pesado
Alma repleta
Sem querer separar
Sem querer se partir
Para Diego, Cartagena, 18 de
agosto de 2013, 13:30h, taxiando
Caminhar em Cartagena
Só faz sentido, só faz sentir
Se for contigo, sem entender tua
língua
Andar em círculo
Perguntando ao povo
Qual meu destino
Sem mapa, sem referência
Sem te conhecer
Mas com a certeza
Que posso confiar
No caminho de um estranho
Ser guiado por aí
Sem saber pra onde
Caminhar em Cartagena
Só faz sentido
Se houver entrega
Esquecer o tempo
E se não souber
Para onde ir
Sem saber a hora
Sem saber a rua
Se vou ver de novo
Se vou me perder
Se vou me achar
Para Diego, Cartagena, 18 de
agosto de 2013, da janela do 6º andar procurando teus rastros
Menino Poeta
Vejo uma criança de vinte anos
pulando pelos planetas
como se fossem bolas
enfileiradas ao redor
da Praça de Bolívar
em Cartagena de las Indias
Vejo um menino
brincando na chuva
para se proteger
da noite fria
que se aproxima
Vejo que as lágrimas
que choro por dentro
molham o chão e a rua
inundando meu ser
Vejo os acordes
de uma flauta indígena
cortando meu peito
e me dando adeus
Vejo a chuva parar
e a flauta agora
atrai os ouvidos
de todos ao redor
E me despeço
do menino-poeta
que voa pra longe
pois este menino
nasceu pra voar...
Cartagena de las Indias, 17 de agosto de 2013
Para Diego. Noite úmida e chuvosa
No puedo creer
Que la vida sea tan rápida,
Que três dias se pasen
Como un segundo
Que antes que abra los ojos
La luz haya cambiado al oscuro
otra vez
No puedo crer
Que la puerda del pasado
Se cierre tan veloz
Que parte de mi si quede aquí
Y que la outra mitad se vaya
contigo
No puedo crer
Que los dioses sean tan malos
Que si divirtan veendo
Que yo y tú seamos apartados
Para que yo mi encuentre en
Salvador
Y tú te encuentres en Tunja
Cartagena, 17 de agosto de 2013
Para Camilo Zambrano
Desapegar é
morrer aos poucos
(Publicado no Galinha Pulando)
Talvez seja o mais dolorido dos
exercícios, porque rasga e sangra a alma. Passamos a vida nos acostumando com o
nascer e o pôr do sol, os dias se repetindo e as emoções se amalgamando umas
sobre as outras. A cada novo encontro, uma nova conexão e um outro apego se
plasma.
À medida que a vida avança, o
tempo se encarrega de marcar nossa alma com tatuagens de emoções e lembranças.
As más experiências nos acompanham, assim como os melhores momentos vividos.
Ambos se aprofundam em nossa memória e nos preserva e adverte para escolher
melhor os caminhos a seguir.
Esquecer ou tentar esquecer é, também,
esquecer e tentar esquecer de si mesmo, querer mudar o passado, se uma outra
pessoa. E como ser uma outra pessoa no mesmo corpo, com o mesmo cérebro, com as
mesmas recordações? Parar de pensar, encher a mente com novas experiências e
outras imagens, seguir caminhos incertos, buscar novos destinos ou morrer aos
poucos, apagar os rastros da caminhada.
E quando acordar desta jornada,
não se reconhecer mais no espelho, perder os laços afetivos que nos tornam
humanos e descobrir que o desapego doeu mas te deixou, também, um pouco
insensível e um tanto perdido.
Cartagena, 17 de agosto de 2013
Cual pajaro ciego
Vuelo na oscuridad
De tus ojos
Em busca de mí alma
Encuentro árboles
Cortadas, camiños destruídos
Esperanzas perdidas
Corazón cerrado
Mientras recorro
Tu cuerpo
Tu cierra los ojos
Y me hace prisonero
Ahora estoy ciego
Y perdido de amor
São Paulo, 19 de agosto de 2013,
05:00h, aterrissando de volta de Bogotá.
Assim como
A neve se derrete
E se converte em rio
Para não morrer
Eu me converto
Em lágrimas
Para molhar este chão
E regar uma planta
Que pode nascer
De minha emoção
Ao menos um sonho
Uma esperança
Eu posso deixar
Bogotá, 18 de agosto de 2013
Morri hoje
E ressuscitei ontem
Hoje cheguei
Ao Brasil
Ontem estava
Em Bogotá.
Salvador-BA, 19 de agosto de 2013
Hoy, habíto la calle...
No es la primera vez que lo hago
Ni tampoco creo que sea la
última.
No es tan malo pasar la noche en
vela,
en calles desconocidas donde
parece
Sólo suelen rondar mosquitos de
afiladas trampas
y molestos serpenteos.
No, no es tan malo como parece,
aunque estos de a poco succionen
mi piel
y me impidan estar quieto.
No es tan malo vigilar que de
noche,
entre el aire estancado, el tempo
plasme su recorrido sin afanes,
no, no es tan malo como parece.
No hay razón para lamentarse de
algo
cuando las causas de dicho evento
son intenciones de si mesmo,
conscientes e inconscientes.
No hay derecho de escribir al
revez
esta situación que no acongoja
pero que se vuelve extenuante.
No hay revez que brinde algún
derecho.
De todas formas, no puedo evitar
el miedo
que congela mi pecho aún en
calorosos escenarios
y lo que no logro saber es el
motivo de ese miedo,
la cura que lo mece con tanto
amor.
Hoje, hábito a rua ...
Não é a primeira vez que eu faço
Nem eu acredito que seja a última.
Não é tão ruim passar a noite
acordado,
em ruas desconhecidas, onde
parece
que só rondam mosquito de garras
afiadas
e voos irritantes.
Não, não é tão ruim quanto
parece,
embora eles pouco a pouco piquem
minha pele
e me impeçam de ficar parado.
Não é tão ruim perceber que de
noite,
entre o ar estagnado o tempo
plasme o seu curso sem cuidados,
não, não é tão ruim quanto
parece.
Não há razão para reclamar de
nada
quando as causas disso tudo
são intencionais em si mesmas,
consciente e inconsciente.
Não tenho direito de descrever ao
oposto
esta situação que me aflige
mas isto já está tão cansativo.
Não há como mudar o incômodo em
algo tranquilo.
De qualquer forma, eu não posso
evitar o medo
congelando meu peito, ainda que
eu esteja numa cidade calorenta
e o que eu não posso saber é a
razão desse medo,
desse berço que tão amorosamente
me embala.
Miguel Anjel Alba
Réu Primeiro
Quero matar o meu
Seja faca ou seja tiro
Assassino eu não sou
Mas matar tenho direito
Quero matar o meu
Eliminar outro corpo
Mas não vou para prisão
Não quero ser preso não
Se matar somente um
Pra cadeia eu não vou
Sou primário iniciante
Matar dois é secundário
Matar um só é primário
Quero matar o meu
Mas não quero matar vário
Salvador, 22 de agosto de 2013
Nada sobra
Sobre a mesa
Sobre a sobra
É sem nome
Sobre a mesa
Sobre a fome
Comem tudo
E me comem
Oficina de poesia com Paulo
Henriques Britto
Salvador, 22 de agosto de 2013
Sob o sol da meia noite
Minha pele se enrijece
Minha alma se evapora
Coração se entristece
Sob o gelo sentimento
Sob a pele que me aquece
Não há roupa que me esquente
Nem polícia que me ‘impece’
Não há muro nem verão
Não há vaga nem há vão
Não há sobe nem há desce
Sob o sol da meia noite
Minha pele enrijece
Oficina de poesia com Paulo
Henriques Britto
Salvador, 23 de agosto de 2013
DesercarnaCÃO
Quanto mais fujo do inferno
Mais acordo em Salvador.
No meio da pedra
Tinha um homem
No meio do homem
Tinha uma pedra
Nem pedra
Nem homem
No meio da pedra
Não tinha nada
No meio do nada
Não tinha homem
No meio do homem
Não tinha nada
Tudo era uma imagem
Oficina de poesia com Paulo
Henriques Britto
Salvador, 23 de agosto de 2013
...e
em silêncios e teclas
te respiro
imagino o encontro
e suspiro
e adiamos
mais seis anos
em tela e plasma
te desenho
na memória
e em cheiros
e em sons
te imagino
e em sonhos
eu te vejo
e te sonho
e amanhã
à mesma hora
na internet
reencontro-te
entre silêncios e teclas...
Para SYD
Oficina de poesia com Paulo
Henriques Britto
Salvador, 23 de agosto de 2013
(Corrigido
por Márcia)
O meu perfil no Facebook é meu.
Aqui eu posto o que quiser e
corro riscos.
Não posto nada no perfil alheio.
Não proíbo que postem no meu.
Quando não gosto, excluo.
Se não gostarem, excluam.
Meu direito termina onde começa o
seu.
E a recíproca é verdadeira.
Sábio Chinês - Ano 13 depois de
Mim.
Não tenho medo de cubanos
Quanto mais misturar, pensadores,
filósofos, médicos, escritores, pintores, escultores, melhor. O mundo é
globalizado e as sempre quiseram isso. Agora que a oportunidade de intercâmbio,
real, chega, parece que as pessoas estão com saudades dos muros de berlins, dos
muros das palestinas, querem muros de coréias separando os atlânticos e os
pacíficos... o ar que respiro não sei de onde vem..
E, complementando, o brasileiro
médio (do analfabeto ao grande intelectual pós-doutorado nas diversas
sourbonnes da vida) possuem o mesmo quilate de auto-depreciação. Na minha
opinião, somos gênios, mas não acreditamos nisso.
Não sei porque tanto medo de
cubanos ou espanhóis, se a gente está cercado de carros alemães, sanduíches
americanos, perfumes franceses, telefônicas itálias móbiles, aprendemos inglês
nas escolas, usamos calças jeans, veículos japoneses etc. etc. É um
contrassenso proibir UNS, enquanto OUTROS já invadiram nosso território há
muitos e muitos anos, inclusive com direitos que eram restritos a brasileiros.
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador-BA, 31 de agosto de 2013
Já violei os dez mandamentos e
não me aconteceu nada.
Vou fazer a tábua dos meus
mandamentos e os violarei também.
Não vou para o céu, pois não
tenho asas.
Não vou para o inferno, pois não
sei cavar buraco.
Não vou flutuar, pois não sou tão
leve assim.
Não vou desaparecer no ar, pois
tenho pedras nos rins.
Valdeck Almeida de Jesus
30 de agosto de 2013
"Fazer Poesia e Ficção na
Bahia", título do evento gratuito promovido pela Fundação Cultural do
Estado da Bahia, aconteceu hoje às 20hs, no Teatro Solar Boa Vista. Na mesa,
Fábio Mandingo, Karina Rabinovitz e Livia Natália. Nelson MAca Maca também,
representado pelo seu trabalho. Mesa mediada pela professora Denise Carrascosa.
Karina, nascida e criada em
apartamento, conheceu a rua e fez dela o seu livro aberto, onde publica,
escreve, posta sua poesia; Lívia viveu os bons tempos de Itapuã, com suas
lagoas, dunas e mistérios; e Fábio migrou da rua para a universidade. Caminhos
diversos, convergentes para o fazer poético. Da água negra aos sonhos de pedra
ou blocos de gelo ladeira acima, a poesia resiste e se faz bela, como as lições
de tataravós. Parabéns a todos os participantes pelo belo exemplo de vida e por
insistir tirando poesia das pedras, das águas, dos golpes da vida.
Parabéns Milena Brito por nos
proporcionar encontros mágicos como este.
“Valdeck é um guerrilheiro das
letras”. Franklin Maxado
Mais que um tesão, um desejo
Mais que um prazer, uma devoção
Mais que um orgasmo, um filho
Mais que um momento, uma vida
Mais que uma realidade, um sonho
Mais que uma vida, uma eternidade
07 de setembro de 2013
Garçom sóbrio
Quem bebe, não serve. Quem serve,
não bebe.
Metade de mim é você
Metade de ti está em mim
Noves fora
Não há soma ou subtração
Que resolva esta equação.
Fortaleza-CE, 2012
Me apaixono em cada rosto
Me apaixono em cada esquina
Me apaixono em cada posto
Onde vende gasolina
Seja homem ou mulher
Moço, jovem ou coroa
Basta me olhar com carinho
Que fico logo de boa
-----
Me lembro que você comprou
tecidos para a festa de Orixá. Depois sumiu. Eu achava que você estava
recolhido e não falei pra tua mãe. Foi angustiante.
29 de setembro de 2912 – Edf.
Crescenciano dos Santos
Poesias são
bobas bobagens
para fingir
a vida
mas ninguém se engana
27 de setembro de 2012
Tudo é um tédio
Absoluto
Quando não tenho
Porque estar aqui.
27 de setembro de 2012
Oficina de Criação Literária –
Joca Terron
Setembro de 2013
Os sapos da pequena lagoa lhe
avisavam a hora de dormir. Quando era verão e a água secava, ele sonhava com o
inverno e ia cedo pra cama.
“Tanto busquei o anonimato que
ele chegou e me senti muito só”
Quando ela fechou os olhos pela
última vez eu não estava lá. E não pude contar minha viagem para Madri nem
entregar o ímã de geladeira com a inscrição “Te quiero Mama”.
O dia amanhecia as vacas e o
vaqueiro. Eu rezava para outra noite e outra manhã e outro copo de leite
quente.
A memória que tinha da infância
era a memória de ontem e dos quarenta anos.
A cada noite ele fechava uma
janela do passado e a cada manhã acordava mais anônimo.
Em cada manhã ele apaga um
passado e luta contra a memória e contra a saudade.
Toda vez que o telefone tocava
lhe invadia uma sensação de notícia ruim. Nunca mais esqueceu a ligação do
cunhado avisando que sua mãe acabara de morrer.
A morte sempre foi motivo de
riso, chacota, piada. Até o dia em que viu pela última vez o caixão simples que
levou para o fundo da Terra sua querida mamãe.
Nunca se apegou a amigos,
familiares, lugares ou coisas. Talvez fosse o reflexo de jamais ter tido casa
ou outros bens materiais.
Ela falava sem parar como minha
mãe. Como à minha mãe eu não quis ouvi-la.
Marrom
Inédito
sem casa
ou dinheiro
conhecia pouco
do mundo
corpo pequeno
ossos frágeis
nada sexy
sob a pele
havia
um coração
12 de setembro de 2013
Em cada esquina ele sopra poeira
nos olhos de quem passa. Flores se dobram e roupas balançam nos varais. Leva e
traz pepésis, folhas e pensamentos. Enquanto isso eu congelo na escuridão do
meu quarto.
Fronteiriço
Pensando em espanhol
amando em espalho
sonhando em espanho
desejando em espanhol
imaginando em espanhol
querendo em espanhol
mas estou em português...
não tenho independência...
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador, 07 de setembro de 2013
Os discursos em OFF são sempre
mais inflamados e comprometidos que posicionamentos públicos.
O Facebook e outras redes sociais
espelham muito bem quem diz e quem faz; quem diz que faz; quem faz de conta;
quem se alinha por conveniência; quem pisa em ovos; quem é beneficiado por
editais e verbas públicas sem concorrência pública; enfim.
A luta continua, solitária e
ingrata!
Valdeck Almeida de Jesus
18 de setembro de 2013
Sol e chuva
Se abatem
Em meu peito
Sombra, neve
Vento leve
Brisa, pedra
Cinza, furacão
Maremoto
Poeira, fogo
Granizo
E tufão
E eu
Em busca
De equilíbrio
Despedaço-me
Despenhadeiro
Busco refúgio
Tudo em vão
Espero
A primavera
Inverno, outono
Meia-lua
E verão
E durmo, e sonho
Com medo
Do amanhecer
Vir me trazer
Alguma ilusão
Salvador, 24 de setembro de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Estou frágil
Terra fértil
Qualquer planta
Aqui floresce
Qualquer grito
Que me chame
Sigo a esmo
Sem pensar
Estou frágil
Sigo em frente
Pensamento
Ou chamado
Sem pensar
Quem quiser
É só chamar
Para SYD
Valdeck Almeida de Jesus
24 de setembro de 2013
(Corrigido
por Márcia)
(Inscrito no Varal do Brasil
2014)
Sol e chuva
Se abatem
Em meu peito
Sombra, neve
Vento leve
Brisa, pedra
Cinza, furacão
Maremoto
Poeira, fogo
Granizo
E tufão
E eu
Em busca
De equilíbrio
Me despedaço
Despenhadeiro
Busco refúgio
Tudo em vão
Espero
A primavera
Inverno, outono
Meia lua
E verão
E durmo e sonho
Com medo
Do amanhecer
Me trazer
Alguma ilusão
Para SYD
Salvador, 24 de setembro de 2013
Parece impossível
Mas meu limite é feito pelo vento
Enquanto há vida, tento
Não há dor que me segure
Para SYD
Valdeck Almeida de Jesus
23 de setembro de 2013
Esperando o carteiro, que nunca
traz tua mensagem...
Brigando com o Gmail, que oculta
teus pensamentos...
Abrindo caixas de mensagens
imaginárias, na tentativa de receber um “sim”...
Dormindo pra tentar ver teu rosto
entre nuvens...
E esperando eternamente pelo teu
amor...
Para SYD
22 de setembro de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Para SYD
Procurando um rumo na vida...
2014 vai me levar pra caminhos que estão me esperando. Muitos sentirão vontade
de seguir junto, mas o destino é cruel com quem não se deixa levar...
Salvador, 27 de setembro de 2013
Estou com muita saudade... e não
sei até quando aguentarei muito...
Somos humanos, bichos humanos, e
precisamos dos contatos ou da falta deles e do fingimento de que somos algo
mais que quilos de carne...
Salvador, 27 de setembro de 2013
Valdeck Almeida de Jesus
(Corrigido
por Márcia)
Sou um pássaro sem asas,
buscando o equilíbrio
nos galhos secos
das árvores.
Não posso me agarrar a eles.
Preciso voar.
Não sou anjo,
não sou águia.
O horizonte me espera,
o destino marcou um encontro
comigo.
Se eu cair, não mais poderei
tentar outra vez.
É uma única chance:
voar ou cair no despenhadeiro.
(Corrigido
por Márcia)
Soy un pájaro sin alas, buscando
el equilibrio en las ramas secas de árboles. No puedo aferrarme a ellos. Tengo
que volar. No soy un ángel, no soy un águila. El horizonte que me espera, el
destino arregló una reunión conmigo. Si me caigo, no puede más volver a
intentarlo. Es una oportunidad única: volar o caer en el precipicio.
Tenho várias
personalidades
A cada dia
hora ou minuto
em casa, no trabalho
em espaços largos
ou diminutos
encontro becos
saídas
esconderijos
em minhas
vindas e idas
assumo, sim
sou múltiplo
enquanto houver
vida e livros
eu me encanto
eu me LIVRO em tantos
Salvador, 15.09.2013
Valdeck ALmeida de Jesus
(Corrigido
por Márcia)
“Alô, alô... I just called to say
I miss you”.
26 de setembro de 2013 ICBA
Não quero nenhum lugar no
universo da literatura. Tudo o que deveria ser dito ou escrito já foi
realizado. A luta é insana e torturante, requer esforço sobre-humano para se
manter visível e consumível.
Há muita cacofonia no mundo.
Quero parar de ouvir, ver e sentir, me concentrar no nada, no ócio não
criativo.
ICBA, 26 de setembro de 2013
(Corrigido
por Márcia)
(Inscrito no Varal do Brasil
2014)
Sigo...
Plantando flores em jardins
imaginários
Ouvindo pássaros
Seguindo trilhas de nuvens
Olhando pra trás
E enxergando portais
Sigo a caminhada
Rumo ao tudo e ao nada
Ao impossível e ao tangível
Esperando que o dia amanheça
E que a noite me embale
Em mais e mais sonhos...
Valdeck Almeida de Jesus.
07 de outubro de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Minha Religião:
Transecumenismo Universal do
Reino de Tudo o que existe.
Valdeck Almeida de Jesus
30 de setembro de 2013
Ficando cansado de tudo
E não gosto disso
Da última vez
Abandonei tudo
Quase 30 anos
E não voltei atrás
Espero que isso
Não aconteça de novo
Valdeck Almeida de Jesus
05 de outubro de 2013(Inscrito no
Varal do Brasil 2014)
Procurei Ele na cruz
e o mito se desfez
me achei só
em busca
e sem companhia
Busquei no ar
mas o vento
tinha ido
respirar alguém
Tentei as plantas
que caíram
pela natureza
Apeguei-me à fé
mas a realidade
da vida
me desbotou
Voltei à cruz
e me crucifiquei
em sacrifício
ao mito
que acreditei.
Salvador, 10 de outubro de 2013.
3º Encontro de Escritores Independentes e posse da diretoria da União Baiana de
Escritores – UBESC. Texto produzido durante palestra da professora Zilda
Freitas sobre Fernando Pessoa e o poema Ulysses.
Vou processar quem não fizer
minha biografia não autorizada
quero que devassem
mexam, invadam
vasculhem, futuquem
investiguem, fucem
bisbilhotem
remexam
cisquem
pesquisem
fuxiquem
fofoquem
exponham
espiem
procurem
escarafunchem
e achem tudo...
Valdeck Almeida de Jesus
18 de outubro de 2013
Este mar me lava os olhos e eu
também sinto frio, desse esperar eterno, dessa dedicação que aprisiona e
liberta ao mesmo tempo... Sinto frio de ter uma almofada que me acolha e me
sirva chá na beirada da via marginal, com mar moendo areia e sentimentos,
fluidificando sonhos e concretizando realidades...
20 de outubro de 2013 – Dia do
Poeta
Eles passarão; eu, voarei...
Sem asas,
sem pernas
sem avião
voarei sozinho
somente
na imaginação...
Valdeck 20.10.2013
Vivemos num país democrático,
federativo, republicano, guiado por Deus. A justiça é cega...E o capitalismo
usa lente de aumento.
19 de outubro de 2013
Sem vento
Não há estradas
Nem caminhos
Nem curvas
Nem retas
Sem vento não há
NADA
Somente o vento
Constrói, sopra,
Empurra, dinamiza,
Inspira, incentiva
Esse vento
Mesmo morno
Ou fraco, me eleva
Aos altos céus
Da inspiração
E me dá fôlego
Para longos voos
Até o próximo pouso
Num horizonte
Que se move
Sempre...
Salvador, 28 de outubro de 2013
Valdeck Almeida de Jesus – para
SYD
(Corrigido
por Márcia)
Você foi a luzinha de um sol
tímido no meio da tempestade... Daqui a pouco o céu da minha alma vai se abrir
e logo mais toda a escuridão vai fugir pra longe de mim...
Para SYD 03.11.2013
Chorar é
preciso
Fazia anos que ele não sabia mais
o que era chorar, deixar cair as lágrimas quentes e grossas rosto abaixo... Não
sentia vontade de morrer, nem de viver. Vivendo um tempo de anestesia, ou
demência, ou desapego, ou depressão... Não sabia, ao certo, o que era uma
emoção, fazia tempo... E seguia, carimbando, tracejando o mesmo percurso
de casa ao trabalho e vice-versa, para a casa de uns poucos
amigos e vice-versa.
Poesia, não mais recitava nem
ouvia. Música, somente em língua castelhana, num esforço desumano para
compreender as minúcias. O sonho, talvez, fosse viver um novo amor, outra
história, língua, país. E sentia saudade de tudo, da angústia, da fome, da
poeira que o gado fazia quando trotava em frente à sua casa, seguindo
para o matadouro, tangido por vaqueiros mágicos...
A moda, as manchetes
dos jornais, tomar o microfone e ser fotografado em eventos, e
de todo o canto da sereia na mídia, que alegrava aos demais, ele corria
para se esconder...
E andava, e dormia, e
sonhava, e dizia que amava, mas nenhuma resposta do outro
lado... E ele seguia, sem saber se ia ou se voltava. Mas nem o amor
nem o vento lhe davam alento. Sobravam tempestades de palavras, despedidas
inesperadas e a tela em branco esperando por uma mensagem qualquer, até mesmo
um adeus para sempre... Mas a agonia tinha que ser perpetuada. Afinal, sem
sonho, sem esperança, não adiantaria ligar o mundo na tomada no dia seguinte...
E depois tentou voar, mas caiu na
primeira e nas demais tentativas. Escondeu-se, mas sentiu vontade de
sair da toca. E as contradições humanas tomaram seu
coração. Teve vontade de matar, de fugir, de dizer impropérios a
todos e todas. E se negou a atender ao pedido da alma. Seguiu
mais um pouco, e se perdeu, e se encontrou...
Para um dia de chuva de verão,
meia janela aberta e uma música castelhana no ar.
Bom dia domingo, 03 de novembro
de 2013
(Corrigido
por Márcia)
Amo a mar e amo o mar. Amar,
Omar... sem pegadinha
Ah, se eu tivesse coragem de
falar no que estou pensando, FACEBOOK! São tantas pernas, braços, rostos,
cabelos, desfilando pra lá e pra cá... e eu só de "zoim
veeeeeeerde"...
Meu namorado não é um pênis
A sexualidade em mim
Só via um pênis duro
lindo, grande, grosso
entrando e saindo de mim
e foram vidas e vidas assim...
não imaginava
que um homem
podia ser apenas
um sentimento
uma alma
uma vontade
uma saudade
um querer estar junto
um desejo de amar
em você aprendi
a sublimar, sonhar
querer para além
sem que seja objeto
e mais amei
e mais desejei
e redescobri
uma nova sexualidade
em mim
Sarau da Onça, 03 de novembro de
2013
NOVA VERSÃO ABAIXO:
A sexualidade em mim
Só ansiava carne
e foram vidas e vidas assim...
não imaginava
que a vida
podia ser apenas
um sentimento
uma alma
uma vontade
uma saudade
um querer estar junto
um desejo de amar
em você aprendi
a sublimar, sonhar
a querer para além
de um ser objeto
e mais amei
e mais desejei
e redescobri
uma nova sexualidade
em mim
Sarau da Onça, 03 de novembro de
2013
(Corrigido
por Márcia)
Minha arte
é botar
asa em anjo
e depois
tentar
impedi-los
de voar,
inutilmente...
Valdeck, 22.10.2013
Para SYD
(Corrigido
por Márcia)
Tenho medo de teóricos
de gente de gabinete
tenho medo de pessoas
que vivem em gaiolas
nos mundo das ideias
tenho medo de teóricos
que não pisam na lama
que não saem da cama
que falam do que não vivem
e pregam caminhos
para quem não conhecem
tenho medo disso
das revoluções mentais
sem sal, sem açúcar
sem gosto de sangue
sem gosto de mangue
sem pé nem cabeça
Valdeck A. de Jesus
05 de novembro de 2013
Espírito de Porco
Se você não vê a postagem
ou não comenta nem curte
ou compartilha, você é
invejoso, despeitado,
ciumento;
Se você vê a postagem e
comenta, curte ou
compartilha, inclusive
citando o nome do
homenageado e/ou de quem
fez a homenagem (mesmo
que seja um amigo seu),
aí você é bajulador,
puxa-saco, adulador...
VALDECK ALMEIDA DE
JESUS: O POETA DA VERDADE
O XI
PARLAMENTO NACIONAL DE ESCRITORES
P arlamento
localizado na Colômbia convidou
O Valdeck
Almeida de Jesus por seus valores
E ste
polivalente e emérito baiano se destacou
T ambém
estarão neste evento outros autores
A plaudem
a Raúl Gomes Jatin que nos deixou
D iversos
paises participarão destas atividades
A li
se encontrarão consagradas personalidades
V aldeck
lerá “Memórias do Inferno Brasileiro”.
E ste
jornalista, funcionário público e escritor.
R evelará
ao mundo o seu talento verdadeiro
D este
grande poeta tenho ciência do seu valor
A Deus
peço que ilumine a sua ida e regresso
D efenda
nossa pátria com seu empenho e amor
E ste
encontro com certeza será um sucesso
José Carlos Gueta
- O POETA DO AB
Ele só tinha amigos
heterossexuais
e não sentia vergonha
de nenhum deles
um era ladrão
outro era bicheiro
um era falsário
o outro maconheiro
um traía a esposa
com o mundo inteiro
um era traficante
outro trambiqueiro
um burlava o Fisco
outro dono de puteiro
um traficava órgãos
outro corpo inteiro
um cobrava dízimo
outro fazia dinheiro
um garoto de progrma
outro baderneiro
um explorava puta
outro era cachaceiro
um era separado
outro era fofoqueiro
ele era amigo de todos
e todos eram falsos
com o amigo primeiro
XI Bienal Internacional do Livro
da Bahia
Livraria Leitura – 11 de novembro
de 2013
Às vezes é preciso abraçar quem
te machuca, se aproximar de quem te odeia, ressignifiicar sentimentos e seguir
a vida... pra ser feilz
Todos nós temos defeitos. E
estamos todos nos polindo um no outro. Acho que o mais importante de tudo é o
trabalho coletivo que estamos fazendo, filiados ou não à UBESC, de outras
editoras aliadas à UBESC, de escritores com livros publicados, de escritores
que só declamam textos de si ou de outros, de cordelistas, de leitores, de
amigos e amigas da literatura. O caminho está posto. Cada um dá um passo e
todos andam juntos nessa caminhada.
Medinho bom de se apaixonar...
Cada tombo, um aprendizado e a vontade de cair de novo. Ah, coração...
Rosana Paulo disse:
Valdeck sonhei com vc rsrsrsrs
caminhávamos pela praia e eu fazia uma poesia na areia em sua homenagem:
Lá vem Valdeck
Com alegria
Caminhando serelepe
Ele tem alma de menino
Sem ser moleque
Com garra mudou seu destino
A poesia é sua magia
Sagrada como uma prece
Palmas para este poeta
Que ele merece!
Salvador, 10.11.2013
Bairro da Paz é pura poesia e
coração
Conheci hoje uma das fronteiras desta cidade
desigual. Salvador é loteada, esfacelada, murada por todos os lados. A má
distribuição da renda nacional se reflete aqui de forma violenta. Enquanto
prédios de trinta, quarenta andares brilham ao nascer do sol, bairros inteiros
são apartados, escondidos pelos espigões. E com avenidas que mais parecem rios
envenenados, como definiu Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá quando de sua
visita à capital baiana, a cidade mais parece uma teia de aranha com becos,
vielas, ruas apertadas, e muito abandono.
O Bairro da Paz é um exemplo desse abandono. Nascido de movimentos de invasão,
a região é a cara de outras partes da capital, onde as pessoas vivem em
bairros-dormitórios, viajando, literalmente, todos os dias, para trabalhar e
estudar no centro e em outras localidades de Salvador. Mas o bairro não se
deixa isolar. Tem uma vida própria, com um comércio movimentado, igrejas de
todas as denominações, moto-táxi, restaurantes, supermercados, farmácias,
barzinhos e todo tipo de estabelecimento comercial. Possui linhas de ônibus,
mesmo precárias e um povo trabalhador, lutador no dia a dia desigual desta
cidade desigual.
Apesar da desigualdade que se nota sem fazer esforço, o bairro vive e sobrevive
como uma cidade dentro da cidade. Aliás, parece mesmo um outro lugar, uma outra
realidade. Caminhar pelas ruas ainda é possível, sem o barulho de trânsito e
sem a pressa da região central de Salvador, que parece caminhar sempre rumo ao
esmo, com rapidez e sem olhar para os lados. No Bairro da Paz, ao contrário, o
tempo dá para tudo, ainda bem. E tem muita arte ali.
Arte e educação, pessoas do lugar e de fora, que se juntam, se irmanam, em um
trabalho belíssimo, como é o exemplo do Espaço Avançar, onde se pode ler livros
de autores consagrados e novatos, tem oficina de música e de teatro, tem
orientação religiosa e educacional, tem poesia nas gavetas, mentes e bocas da
juventude.
Que tal participar do mais novo espaço poético de Salvador? Não passe a 80km por
hora na Paralela sem diminuir a marcha e conhecer o Bairro da Paz e o Sarau da
Paz, que breve gritará poemas para os céus de Salvador...
Salvador, 13 de novembro de 2013
Poesia não é pra qualquer um. O
poeta já nasce, tem um dom. Qualquer um pode escrever poema, porque se aprende,
mas poesia, já vem com os escolhidos, os iluminados...
Fonte: tema para debate, de
Francisco Serrano (1912 - 2013)
Mídia é agora o corpo do artista. Onde nasce a obra
e onde a obra se mostra. Nem precisa "ler" o que foi
escrito/desenhado/pintado/filmado/esculpido... basta a FACE, O FACE, do
criador (que é a própria criatura/obra). O rosto da obra é o próprio
rosto do artista. E esta 'fome' de estar na estampa não se sacia com a simples
exposição, aplauso. É necessário alimentar esta alma com doses e mais doses de
droga/notícia, todo dia, todo dia, todo dia...
Salvador, 17 de novembro de 2013
A arte da vida é engolir sapos
cada vez maiores, enlarguecer a goela.
Salvador, 19.11.2013
Valdeck A. Jesus
Fala demais. Promete, sugere,
critica, aponta. Aí pensamos que ajudará, com sua sabedoria e seus diplomas.
Após o pedido de ajuda, vai dando desculpas que "amanhã",
"depois", até que você esqueça. Falar e filosofar qualquer um faz, quero
ver é carregar pedra nas costas, arregaçar as mangas e partir pro trabalho
bruto...
Salvador, 19 de novembro de 2013
Valdeck Almeida de Jesus
O "lucro" que se espera
da arte e da cultura não pode ser o ingresso vendido, a
escultura/livro/quadro/pintura/obra vendida (apenas e tão somente); não pode
ser o retorno imediato e visível, mensurável; o verdadeiro lucro da arte e da
cultura, além da dimensão econômica, é, essencialmente, a dimensão cidadã e
simbólica. Com arte e cultura se transforma mentalidades e relações humanas, se
conquista êxito e vitória impossíveis de mensurar com moedas ou cédulas.
Fonte: O pensador brasiliano -
2013
"Não perguntam a ele se quer
ou precisa de ajuda. Não sabem como ele vive, sem doméstica ou sem
esposa/escrava. Não sabem que ele trabalha um turno de sete horas seguidas, sem
intervalo para almoço. Não querem saber se ele vai a um evento artístico à
tarde e outro à noite. Não perguntam se quer ajuda para carregar pedras. Não se
importam se ele tem bico de papagaio e hérnias de disco. Não se interessam em
quebrar pedra com ele, sob o sol escaldante. Não sabem que ele não recebe nada
para atuar em sua área, em prol de uma coletividade. Mas cobram, as criticam,
mas sugerem que poderia assim e assado, mas acham que o espaço é pequeno, é
quente, é insalubre, é frio, é largo demais, não tem segurança, não tem
clientela, não tem isso, não tem aquilo. Pensam num lucro imediato, mas
desejam um atalho, uma escora, um ombro amigo... Assim é que a caravana LADRA e
o cão passa".
Fonte: advinha?
Procura-se
poeta
Paga-se bem
Para carregar
caixas de livros
nas costas
tomar sol
em feiras e praças
sorrir e alegrar
a vida de
quem precisa
precisa-se
de poeta
que saiba rimar
amor com alegria
não reclame
do salário
não me deixe
solitário
e, se precisar
me ponha
pra dormir
com canção
de ninar
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador-BA, 25 de novembro de
2013
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