REFLEXÃO
At this moment I’m very lonely.
In all moments I’m very lonely.
Solidão é questão de ponto de vista.
Segundo minha ótica, sou e estou sempre só.
Quando não estou só, comigo, estou só, com alguém:
Meus amigos, inimigos, pessoas em geral.
Mas é por minha causa: somente minha.
Só eu serei capaz de me ajudar.
Ninguém pode me fazer feliz se eu não deixar.
Além do mais, a felicidade também é relativa.
É utopia querer que tudo dê certo.
É loucura esperar que o mundo dará a volta por
cima.
A esta altura não há volta.
Por isto sei que não tenho jeito.
O jeito é esperar o desenrolar dos fatos.
Pois tudo chega a um fim.
E o meu não deve estar muito longe.
29 de dezembro de 1991, 11:45 horas
REFLEXÃO
Até onde posso
(Projeto Madio Editora)
Iludir-me e aos outros
Sem cair no erro
Do amor vazio?
Até quando irei
Viver solitário
Buscando a vida
Que nunca vivi?
Até encontrar coragem
Pra buscar teu colo
Te pegar no colo
E ser infeliz.
Daí te direi
Um ‘não’ radical
E te farei mal
Com meu eu tão vil...
UESB, 05 de junho de 1991, às 09:30 horas
REFLEXÃO
Até quando a morte será necessária
(Projeto Madio Editora)
Só pise em terreno firme
Pise firme neste chão
Não fantasie o real
Pois o tombo será fatal.
Não adiante pular
Pra chegar, antes, ao fim
Pois o fim só é de paz
Pra quem “viveu” o meio.
“Antes tarde do que nunca”
Há muito, prega o ditado
E isto é muito atual.
Aguarde sua vez na fila
Que breve alcançarás
O pódio que tanto almejas!
03 de março de 1992, às 22:40 horas
CRISTÃ
Auxílio do Céu
Espero do meu Senhor
Um auxílio especial
Para que eu fique calmo
Sabendo deste meu mal.
É uma doença perigosa
Que tem prazo para matar
Se eu não me submeter
O mais rápido a uma cirurgia.
Tenho que ir para São Paulo
Pra cuidar de minha saúde
Se eu quiser viver um pouco
E ter chance de melhora.
Terei que deixar o trabalho
Arduamente conquistado
Mas pra cuidar de minha saúde
O impossível tem que ser feito.
Desejo do meu Deus uma força
Pra que eu suporte esta mudança
Voltar de homem já feito
Pra viver como criança.
Não poder mais trabalhar
Enquanto durar o repouso
Pois é muito perigoso
Um operado trabalhar.
Será um fim em minha vida
Pior que o problema sexual
Pois é uma coisa orgânica
E que não tem cura por abstinência.
Jequié, 02 de fevereiro de 1990, 17:49 hs, JCJ de
Jequié
REFLEXÃO
Caminhando só
(Projeto Madio Editora)
Caminhamos sozinhos
E, às vezes, sós, com alguém.
Dividimos emoções, amor, paz
Crescemos juntos...
Depois chegase ao ponto final
Onde tudo é apenas um ponto
onde tudo se resume num túmulo
onde o amor e a razão nada são
onde cada um entra, na sua vez...
Meu quarto, 02 de setembro de 1992
CRÔNICA
Cão e Gato
Eram dois inimigos. Nunca tiveram conversando como
quaisquer amigos. Sempre que o gato avistava o infernal cãozinho, fugia à toda
e trepava numa árvore (a primeira que fosse avistada). O cãozinho sempre
corria atrás do pobre gatinho. Não podia vêlo, em qualquer lugar que fosse, que
logo corria atrás do coitado, sem dar nenhuma chance de escapar.
O gatinho não aguentava mais. Estava exausto de
tanto correr, todos os dias, para escapar das garras do ilustre canino. Pedia
conselhos aos seus parentes, aos seus familiares, aos seus amigos, mas as
respostas não lhe agradavam: “fuja para outras terras, “vá para o outro lado do
mundo”. Mas em outras terras não tinham cães, também? De que adiantaria fugir?
Para qualquer lugar onde fosse, não teria que estar fugindo, sempre? Mas,
coitado do gatinho! De tanto fugir, morreu sem ter conseguido escapar das
garras do cãozinho, que sempre lhe importunava.
Mas nem a morte lhe deu descanso, pois, ao chegar
ao cemitério, encontrou nada mais nada menos que vários espíritos de cães...
Jequié, 01 de julho de 1984
CRÔNICA ESPORTIVA
Caro Sardinha,
Como toda a população brasileira, estou sofrendo
muito a nossa desclassificação para esta Copa Mundial de Futebol - México 1986.
Por que aconteceu isto com o Brasil?
Ah! Vamos esquecer! Poderia ter acontecido com
qualquer outra Seleção! Poderia, é bem verdade. Mas não com um país que não
tivesse estas características:
-
Com participação na 13ª Copa Mundial de Futebol.
-
Lateral Direito, Josimar, nº 13.
-
Ônibus nº 13.
-
O grupo D, no qual o Brasil incluíase, fez, ao todo, a quantia
de treze gols.
-
Desses treze gols, dois foram feitos pelo nº 13 da
Seleção, Josimar.
-
O primeiro jogo do Brasil foi realizado no dia 31, que, invertido,
é igual a 13.
-
O último jogo do Brasil, na primeira fase, foi dia 13, quintafeira, treze dias
após a Copa ser inaugurada.
-
Pelo saldo de gols da primeira fase, só houve treze colocações.
-
Ao todo, foram 104 seleções, que é igual a 8 X 13, e 52 jogos, ou
seja, 4 X 13.
-
A soma das letras dos adversários do Brasil, menos a França, com as letras da
palavra Brasil, é igual a treze:
-
BRASIL
+
ESPANHA
= TREZE
- “ +
ARGÉLIA
=
“
- “ +
IRLANDA
=
“
- “ +
POLÔNIA
=
“
Se isto influenciou ou não, não sei. Sabe Sardinha,
após o final do 1º jogo Brasil X França, eu e meus familiares acendemos velas
para dar uma “força” para o Brasil. Sabe quais as cores das velas? Só depois é
que percebemos: AZUL, VERMELHA E BRANCA, justamente as cores da bandeira da
França. Incrível, não? Obrigado pela divulgação na rádio.
Jequié,
22 de junho de 1986
REFLEXÃO
Clínica São Vicente
(Projeto Madio Editora)
Quarto 20
Cama “A”
Aguardo ansioso
Algo (a) normal
Acontecer aqui
O mais antes possível.
Ficar em jejum
Para a cirurgia:
Não jejuo de ler e de pensar,
ouvir e enxergar
que a vida e/ou a morte
pode estar aqui
a me espreitar.
Clínica São Vicente, 1º de agosto de 1991, às 08:45
horas
REFLEXÃO
De sábio, não tenho nada
(Projeto Madio Editora)
De bobo, estou lotado
De rico, tenho a arrogância
De pobre, tenho a pobreza
Fui ao Ártico e me esquentei
Fui na Brahma e me embriaguei
E nunca mais retornei
Fiquei lá eternamente
E só voltei pra cá agora
Pra morar com minha nora.
14 de setembro de 1991
REFLEXÃO
Deus, quem é você?
Por que não conversa, fisicamente, como nós?
Fui salvo por você, das águas do mar de Itapuã, mas
não sei porque você fez isto. Sei que foi um gesto de amor e de carinho para
com um ser simples como eu, mas não sei o “por quê”.
Tenho uma missão a cumprir, sei, mas não sou
inteligente o bastante (ou não quero sêlo) para quedarme aos teus pés e fazêlo
feliz por uma boa ação minha.
Não deixe que eu me afunde em minha própria
arrogância e estupidez. Daime maior clareza no que devo fazer. E,
principalmente, me auxilie a encontrar (identificar) quem me fará feliz e com
quem eu seja uma só pessoa. Além disso, ajudaime a possibilitar (e a manter)
este encontro e a lapidar (não aos meus olhos, mas à melhor e mais
oportuna forma de viver e conviver - dinheiro, bebidas, festas, etc) este ser
que me completará. Predisponhame a esta lapidação, pois me acho imperfeito.
Salvador, 25 de abril de 1993, 22:54 horas.
REFLEXÃO
Deus:
(Projeto Madio Editora)
é homem ou mulher?
é bicho ou é bicha?
rapaz ou moça?
homossexual masculino ou feminino?
ou é bissexual ou hermafrodita?
não sei, pois não sei o que sou.
05 de julho de 1992, meu quarto, Jequié
HOMENAGEM
Dia 25 de janeiro
Eu comecei a trabalhar
Na Justiça do Trabalho
Para botar pra quebrar.
Fui apresentado ao pessoal
Que trabalha na referida
Gente bacana e legal
E muita gente querida.
Vou trabalhar na limpeza
Interna e externamente
Ajudando a dona Júlia
Que trabalha com a gente.
O Diretor desta Junta
Homem alegre e educado
É o senhor doutor Gileno
Que a todos tem agradado.
Na sub diretoria
Está a dona Edlene
Mulher alegre e simpática
Chamada de Edlene.
Tem a Ana e a Marcléia
Terezinha e Florisvaldo
João e Josué
Todos gente educada
E capazes em suas funções.
Muito alegre eu me encontro
De estar aqui agora
Trabalhando com colegas
Que eu adoro e que me adora!
Jequié, 07 de fevereiro de 1990, às 17:05 horas
CRÔNICA
Dia de São João
Hoje é véspera de São João. Amanhã, domingo, dia 24
de junho de 1984, será o grande dia.
Os moradores da rua onde moro atualmente, Rua
Rafael Pinto, nº 141, já enfeitaram tudo; colocaram bandeirolas de todas as
cores de um lado para o outro da rua, amarraram folhas de coqueiros nos
postes... Acho que neste ano, como nos demais, o São João será muito animado...
CRÔNICA
Dissertação. Tema: Liberdade
Liberdade para mim é tudo: desde o pequeno gesto de
servir ao semelhante, até a escolha de um grande e supremo Senhor para ser
nosso Salvador. Além do mais, acho que a liberdade deve estar presente em tudo
o que fazemos ou pensamos fazer: poder escolher entre o bem e o mal; poder
seguir uma religião, ou não; poder fazer o certo ou o errado. Mas, entre as
muitas coisas que são escolhidas pelas pessoas, pela liberdade de escolha,
poucas são aproveitáveis: o amor ao próximo, os atos dignos, etc...
...acho que a liberdade é tão infinita que não pode ser explicada em tão poucas
linhas...
Pequena dissertação solicitada pela professora
Sônia Silva Santos, de Geografia, no dia 22 de março de 1984, nos 2º e 3º
horários de aulas.
CONTO
Dona tartaruga
Era uma vez uma tartaruga preguiçosa e vagabunda -
como todas as outras, aliás - e que só gostava de ficar em casa dormindo e
comento o que suas parentas traziam para casa.
Lá um dia, todas as suas parentas saíram para
trabalhar e não voltaram nunca mais.
A tartaruga, que nunca saía de casa para nada desta
vida, resolveu dar uma voltinha para procurar comida. Já estava quase morta de
fome quando resolveu fazer isto. Procurou comida e não achou. Se esforçou muito
para pensar num meio de viver sem trabalhar. Encontrou a solução: iria escrever
uma carta para cada habitante da Terra, pedindo auxílio. Mas sua idéia não saiu
de sua cabeça para o papel: a preguiça foi tanta, que deitouse perto de sua
casa e até hoje está lá, deitada... Ainda está viva e isto talvez se explique
pela sua falta de coragem, que nem para morrer ela se esforça...
HOMENAGEM
Dona Zene
Dona Maria Zene Cruz
Vive lutando na vida
Mas tudo o que ela faz
É só pra comprar comida
Porque são poucos que fazem
Mas muitos comem comida.
Mora na Rua João Rosa
No bairro Jequiezinho
Com sua família toda
E com seu neto Nadinho
Filho de Barreto e Iara
Que é filha de bainho.
Dona Zene faz comida
Pra no “Matador” vender
E também vende café
Para o povo beber;
Vende fiado pra ficar
Esperando receber.
Faz feijoada boa
E vende tudo fiado
E depois fica correndo
Na feira dia de sábado
Correndo pra receber
O seu dinheiro trocado.
Vende cerveja em casa
Como todo mundo vê
Vende com boa vontade
Para quem quiser beber
Mas o povo não lhe paga
Quando ela quer receber.
Tem barraca na feirinha
Onde vende feijoada
Mas só vende a dinheiro
Pra não ficar apertada
Pois se confiar no povo
Nunca mais ela vê nada.
Já trabalhou no Frisuba
Vendendo comida também
Mas saiu quando fechou
Vontade de voltar não tem
Mesmo sabendo que melhora
Mais cedo ou mais tarde vem.
Paga tudo que ela compra
Mesmo que fique sem nada
Mas quem lhe deve não faz
O que ela faz com a moçada
Pagando tudo o que compra
Mesmo ficando apertada.
Vive triste com a vida
Pois ninguém quer lhe entender
Todos querem lhe acabar
Todos querem lhe bater
Querem vê-la derrotada
Antes dela morrer.
31 de julho de 1987
REFLEXÃO
DOR = PRAZER
Quando tu me feristes, sofri
Chorei, pranteei, enlouqueci...
Mas um consolo veio:
Sei que minha dor
seria um bálsamo para
um leproso, um aidético...
Shopping Barra, Salvador, 04 de dezembro de 1995
DESABAFO
Encontro com Ana
Cheguei hoje, dia 28 de julho de 1986 na Livraria
de Ana Rios para conversar com Ana sobre o meu livro de poesias “O Feitiço
contra o Feiticeiro” e ele nem me deu atenção.
Um rapaz que estava ao meu lado perguntou o que eu
queria e respondi que queria conversar com Ana Rios (Ana estava ao telefone).
Esperei durante mais ou menos trinta segundos e nada me disseram.
O rapaz falou com Ana: “Vê logo o que ele quer!” e
Ana respondeu “Você não está vendo que estou ao telefone?”. Aí eu entrei na
conversa e falei “É sobre o livro” e ela me respondeu “Você não está vendo isto
- e apontou para o braço - está todo suado. Não tomei nem banho ainda. Cheguei
agora mesmo. Agora não dá para lhe atender”. Eu saí desapontado e fez esta pequena
crítica:
Ana Rios
Hoje me desloquei da minha casa
Pra conversar com você
Sobre um livro de poesias
Que acabei de escrever.
Você pouco caso fez
De eu presente me fazer
Dizendo que não poderia
Àquela hora me atender.
Falou que estava cansada
Por causa da CONVENÇÃO
Que ainda estava suada
Só pra não me dar atenção.
Estava ao telefone
No telefone ficou
Eu saí da livraria
Você pouco se importou.
Muito obrigada pela atenção
Que a mim foi dispensada
Continue sempre assim
Que serás recompensada.
Jequié, 28 de julho de 1986
CRÔNICA
Encontro de amigos
O menino saiu, como sempre, em direção ao centro da
cidade, onde morava, para dar uma boa e longa passeada de bicicleta. Após longa
caminhada, encontrou alguns amigos que também moravam no mesmo bairro. Bateram
papo sobre o que tinha acontecido durante o tempo que não se viam, brincaram
muito pelos jardins, praça e ruas centrais, tomaram sorvete, etc.
Ao cansarem de tanto correr e brincar, foram ao
cinema pegar uma matinê: um filme de Walt Disney. Gostaram muito do filme e
repetiram quase tudo o que tinham visto na tela do cinema e tudo o que tinha
feito o mocinho. Depois começaram a brincadeira de que mais gostavam: correr
pelas ruas centrais, tomar sorvete, etc. Já no final da tarde, cansados de
tanto brincarem, enjoados de tudo o que tinham feito e refeito durante todo o
dia, cada um foi para seu lado, em busca do aconchego do lar, do descanso, para
outro dia retornarem ao mesmo ponto e repetirem tudo novamente.
REFLEXÃO
Esta é minha vida
Desejo, tesão, paixão,
Lamento, sofrimento, tormento,
Alegria, filosofia,
Correr, comer, lazer,
Trabalhar, vagar, pensar,
Viver, prazer, morrer.
Jequié, 12 de julho de 1991
AMOR
Este amor é proibido
(Projeto Madio Editora)
Mas o quero mesmo assim
Pois só ele me consola
E me tira da tristeza
Só ele me alivia
E me tira deste tédio.
Pra minha doença incurável
Somente ele é o remédio.
Vou à luta nesta busca
Que se torna imprescindível
Esbarrando em tanta coisa
Mas sabendo o que quero
E o que quero é somente
Ser feliz com seu amor
Aqui ou em outro mundo
Pois não tenho mais o medo
De amar o meu amor.
12 de setembro de 1991
AMOR
Estou te procurando
(Projeto Madio Editora)
Há milhares de anos
Querendo te encontrar
Para me dar a paz
Já fui à Ilha de Páscoa
Ao Triângulo das Bermudas
Em Cuzco e Machu-Picho
E ao lago “Loch-Ness”
Já fui também à Atlântida
Perdida no fundo do mar
Procurando por você
Para poder te amar.
Peço que ouça meu chamado
E venha me encontrar
Pois já não aguento mais
Encarnar e desencarnar
Tentando te encontrar.
13 de setembro de 1991
AMOR
Eu estou lúcido.
(Projeto Madio Editora)
Estou morrendo.
Estou consciente.
Mas com medo.
Ansioso e tremendo.
Temendo o futuro.
E se alguém descobrir
que estou morrendo?
O que direi?...
Ano Novo, 06 de janeiro de 1992, 22:45 hs.
AMOR
Eu me completo te fazendo feliz
(Projeto Madio Editora)
Alegro-me quando te motivo a rir
Entristeço-me se te deixo descontente
Frustro-me quando te faço sofrer.
Se me completo te fazendo feliz
Se me alegro quando te motivo a rir
Se me entristeço quando te deixo descontente
Se me frustro quando te faço sofrer,
Então sou um egoísta
Só penso no meu bem-estar
Só desejo satisfazer meu ego
E te desprezo e te ignoro
Como ser total e individual que és.
UESB, 03 de junho de 1991, às 22:00 horas.
AMOR
Eu trabalho, como, ando, busco, corro, estudo,
trabalho, trabalho, trabalho, estudo, como, durmo, acordo, durmo, acordo,
durmo, acordo...
E a vida continua sendo tão cotidiana, tão
surpresa...
Jequié, 12 de julho de 1991
Frase elegante: Esta frase tão elegante foi feita
por mim, num instante.
Jequié, 19 de junho de 1984
AMOR
Fuga do amor
(Projeto Madio Editora)
Só os loucos amam
Só os loucos são felizes
Só e somente só os loucos
Podem cometer ‘deslizes’.
Quando um lúcido escorrega
Mesmo que não caia, é pisado.
Cospem-lhe, empurram-lhe
Fazem tudo para vê-lo humilhado.
Já desci a escada do orgulho
Mas tenho que ir até o subsolo
Sei que isto é necessário
Mas mesmo assim não me consolo.
Quero teu peito para recostar
Quero ouvir tua voz me dizendo coisas banais
Desejo estar contigo numa falsa vida
Vivendo falsamente um amor “demais”.
Mas tudo isto me é proibido
Não sou digno de sonhar
Sonhar contigo é o que me permitem
Mas estar contigo, não poderei jamais.
Jequié, 06 de janeiro de 1991, às 22:45 horas
REFLEXÃO
Good day, may Great’s Spirits
Today I’m very happy. Happy, Happy, Happy!!!
If I died today, I would die happy.
But, I don’t want to die today.
I don’t want to die tomorrow...
I want to live, always..
Thank You.
Thanks for your help!
The live planet, April, 17, 1994
AMOR
Hoje é 10 de maio de 1994
Sei que nada é eterno, como você mesmo me lembrou.
Mas sei que, enquanto quisermos, poderemos viver este momento com intensidade e
dedicação.
Estou te amando (?)
HOMENAGEM
Informática (Treinamento)
O TRT da Bahia
Já está informatizado
Sendo modelo no Brasil
E sendo até copiado
Por outros TRTs
Que se encontram atrasados.
A Justiça Trabalhista
Com mais este recurso
Anda rápida e eficiente
Seguindo seu reto curso
Acabando com a demora
E diminuindo o “decurso”.
A capital e o interior
Já estão interligados
Acelerando o andamento
Dos processos registrados
Deletando a eficiência
Do serviço aqui prestado.
No treinamento recebido
Com explicações corretas
Os instrutores nos fornecem
As coordenadas mais certas
Pra operarmos sozinhos
Com novas perspectivas abertas.
Estamos tomando curso
Com eficientes instrutores
Que são muito pacientes
E ao mesmo tempo doutores
Nos guiando na Jornada
De nos tornarmos professores.
Já nos encontramos saudosos
Da presença de vocês
Pois na nossa convivência
Um dia parece um mês
Então aceitem um abraço
De todos nós pra vocês.
VADJ, 06 de outubro de 1990.
CORDEL
Jequié, 03 de agosto de 1989
A caída do Império
Foi devido à confusão
Que aqui se instalou
Por causa da abolição
E porque caíram os preços
Do açúcar, café e algodão.
A Questão Religiosa
Em muito contribuiu
Porque separou a Igreja
Do Império do Brasil
Devido a brigas entre bispos
E o chefe maçom do Brasil.
E com a Questão Militar
A situação se agravou:
Entre civis e oficiais
O caos se instalou
Dando força ao movimento
Que ao regime mudou.
Oficiais foram proibidos
De política debater
Principalmente na imprensa
Para não acontecer
Que se criasse consciência
Do que veio a ocorrer.
Deodoro e Pelotas
Assinaram um Manifesto
Que só fez contribuir
Para aumentar o protesto
Contra o regime imperialista
Que se tornou indigesto.
E nem a prosperidade
Que nos país floresceu
Conseguiu salvar o império
Que logo se enfraqueceu
E em meio ao crescimento
O velho regime morreu.
Sem morte e sem violência
E sem sangue derramado
O regime imperialista
Do Brasil foi transformado
Em novo tipo de governo
Que até hoje está implantado.
E o povo, indiferente,
De nada participou
Porque não tinha consciência
Do que aquilo representou
Para o futuro do Brasil
Quando ao império sepultou.
Então a Nova Constituição
Por Ruy Barbosa preparada
Pela Assembleia Constituinte
Foi aplaudida e aprovada
Se tornando a primeira
Da República instalada.
O modelo que foi seguido
Foi o norte-americano
Sendo adotado o federalismo
Como o norte-americano
E também o presidencialismo
Com Deodoro e Floriano.
O casamento civil
Ficou estabelecido
Sendo que o Estado e a Igreja,
Num trato controvertido
Desde então se separaram
Deixando muitos “mordidos”.
O primeiro Presidente
da República recém-nascida
Foi Deodoro da Fonseca
Com sua força destemida
Com sua fé e coragem
E experiência de vida.
Floriano Peixoto foi o vice
(Figura controvertida)
Homem muito autoritário
De conduta discutida
Mas seu nacionalismo
Balanceava sua vida.
No governo Floriano
Houve duas revoluções
Que com rigor foram sufocadas
Desfazendo as confusões
Que caso se alastrassem
Teriam grandes proporções.
Nessa fase inicial
Houve grande confusão
Não havia partido forte
Para dar sustentação
Ao novo regime implantado
Depois daquela revolução.
Deste modo os mandatários
Consultavam os Estados
Para elaborarem os rumos
A que deviam ser levados
Os assuntos nacionais
Pelo regime criados.
Como a força e o poder
Eram maiores no centro-sul
Tudo o que tinha importância
Era arrastado p’ro sul
Pela força dos Estados
Que comandavam do sul.
Com o passar dos anos
A sucessão virou problema
Pois havia combinação
Mas quem marcava a cena
Eram São Paulo e Minas
Que ganhavam sem problemas.
O povo não participava
E o problema aumentou.
O inconformismo gerado
A muitos atrapalhou
Levando o país à confusão
Que em cada canto estourou.
Houve revoltas populares
Lutando contra o governo,
Como a Coluna Prestes
Mostrando o desgoverno
A que o país tinha chegado
Desmascarando o governo.
Com a Revolução de 30
Mais uma página foi virada
Mas as brigas pelo poder
Se tornaram mais acirradas
Levando o país a discussões
Que culminou em luta armada.
E temendo-se que o povo
Fizesse sua revolução
O governo tomou a frente
Conduzindo com precisão
Toda a crise foi abafada
Para evitar mais confusão.
Duas tendências surgiram
Exigindo transformação:
Uns queriam reforma social
Para melhorar a situação
E outros queriam reformas políticas
Com a mesma intenção.
Com a eleição de Vargas
Muita coisa aconteceu:
Na política e na sociedade
Ele em tudo se meteu
Mas não agradou a ninguém
Mas em tudo ele mexeu.
Houve gente da esquerda
Que lutou contra o governo
E também os direitistas
Descontentes com o governo
Lutaram muito e sem sucesso
Pra derrubarem o governo.
Refletindo a situação
Que reinava internamente
O país entrou na guerra
Lutando externamente
Contra países que hoje
São aliados da gente.
E o tempo foi correndo
E se tornou urgente
Fazer com que tudo fosse
Conquistado pela gente
Então veio o progresso
Dar impulso para a frente.
Fábricas de automóveis
Foram aqui instaladas
Empurrando o nosso povo
Para construir estradas
Estradas estas que levariam
Nosso país ao tudo ou nada.
Revoluções foram feitas
Para assegurar a paz
Para que tudo de bom
Não voltasse para trás
E sim que caminhasse
Para a frente mais e mais.
Sempre na retaguarda
Do progresso social
Do crescimento político
E na busca do “ideal”
Estiveram os republicanos
Agradando ou fazendo mal.
Para garantir a conquista
Deste regime acertado
Muita coisa se tem feito
Muitos têm se esforçado
Para não deixar cair
Nosso troféu conquistado.
Alguns não têm honrado
O posto de responsabilidade
Talvez por pura incompetência
Por faltar habilidade
E assim maculam o sacro
Deturpam a finalidade.
Com um século de existência
Num país tão conturbado
É a prova definitiva
De que temos acertado
Na escolha do regime
Que ora está implantado.
Cabe agora a cada um
Imprimir nova visão
Deixando-lhe transparente
Flexível e com o pé no chão
Para ambientá-lo ao hoje
E nos auxiliar com sua mão.
Purificando-o com amor
E colaborando com a paz
Viveremos eternamente
E viveremos em paz
Adaptandoo aos nossos dias
Com a mão do amor e da paz.
AMOR
Jequié, 08 de agosto de 1992
Arte de amar
(Projeto Madio Editora)
arte de viver
só com o passar do tempo
aprendemos a arte de amar
só com o passar do tempo
percebemos que a vida é tão boa
e que o tempo passa voando
Não me conformo
com o ‘passar’ do tempo
mas quero viver e amar.
Como viver e amar
se o tempo não passar?
Como parar o tempo
pra amar você mais tempo?
Jequié, 08 de agosto de 1992
REFLEXÃO
Jequié, 09 de janeiro de 1992, às 21:55 horas
Meu ‘postal’ é o que vejo
(Projeto Madio Editora)
Meu turismo é em meu quarto
Vivo preso a mim mesmo
Sem querer sair daqui.
Morro de tanto querer
De querer fugir daqui
Mas adoro este calor
E a ingratidão deste terreno.
Sofro ficando aqui
Mas morro se abandonar
Pois sou parte desta terra.
Meu sangue corre no rio
Meu pulso pulsa no sol
Meu coração bate no chão.
Jequié, 09 de janeiro de 1992, às 21:55 horas
REFLEXÃO
Jequié, 09 de janeiro de 1992, às 22:40 horas.
Ando por caminhos que condenei
(Projeto Madio Editora)
Amo ao que repudiei
Vivo arriscando a vida
Por lugares jamais palmilhados.
Faço loucuras imperdoáveis
Sofro por ser irresponsável
Mas me arrependo de tudo
E desejaria ter jogado mais alto.
Minha imagem não merece sacrifício
Meu procedimento não me denuncia
Mas sofro por ser ignorante.
Desejaria estar numa toca
Hibernando e morrendo calado
Que enxergar e ter medo de encarar.
Jequié, 09 de janeiro de 1992, às 22:40 horas.
CRÔNICA CARTA
Jequié, 28 de dezembro de 1994
Preciso de um tempo. Um tempo para fugir de mim e
dos meus sentimentos. Não posso ficar parado na história, esperando que o mundo
corra ao meu lado. Tenho que por o pé na estrada e fazer meus próprios
caminhos. A vida é dos vencedores. E para vencer é preciso estar alerta a todos
os lances. É necessário que se entre na quadra ou se saia dela, na hora exata.
A hora “H” é definida pelas circunstâncias boas ou adversas que se formarem,
etérea ou materialmente.
Às vezes a mesma circunstância se repete para que
acordemos de alguma anestesia sentimental. E é aí que se deve pongar, a fim de
seguir outra trajetória, inclusive quando o destino do bonde é conhecido ou
previsível.
Mesmo nas estradas mais pedregosas, há centímetros
planos que permitem tomar fôlego antes da próxima afundada no semi-abismo.
Aliás, todo abismo é conhecido. Todos nós temos consciência perfeita de nossos
passos e para onde nossos pés nos conduzirão, mesmo porque eles obedecem a
ordens emanadas no nosso cérebro. Doloroso é olhar para trás e vislumbrar outro
caminho sem espinhos. Não é tão forte a dor de trocar um sapato que aperta um
dedo ou o pé inteiro: dor maior é aquela que dói por quem morreu. As outras
dores são minimizáveis e aguentáveis. Pior é um naufrágio no qual todos morrem
por não saberem que a praia estava a poucos metros.
Inspiração para este poema: O VAZIO EM QUE SE
TRANSFORMOU A MINHA VIDA QUANDO PAREI DE TOMAR CERVEJA (?), (?), (?), (?),
(...).
REFLEXÃO
Jequié, Itajubá Hotel (Coffee Shopp), 19 de junho
de 1991
Sou um simples calouro de faculdade.
(Projeto Madio Editora)
Um dia terei consciência da vida
Talvez este dia esteja longe
Ou aqui ao meu lado.
Gasto pouco e quero o mundo
Meu esforço é sempre menor
Mas quem sabe a ciência da vida
Não esteja em agir assim?
Voar é preciso
Viver é essencial
Mas a morte é inevitável.
Saber é necessário
Crescer é natural
Mas a morte é necessária.
Jequié, Itajubá Hotel (Coffee Shopp), 19 de junho
de 1991
REFLEXÃO
Jequié, Itajubá Hotel, Coffee Shopp, 19 de junho de
1991
Uma cerveja, e minha cabeça se abre
(Projeto Madio Editora)
Outra cerveja, e meu corpo se abre
Mas posso abrir a cabeça e o corpo
Mesmo sóbrio, ou ébrio de você.
Te sentir é melhor que viver
Te tocar é melhor que sonhar
Te amar é melhor que sofrer
Ter você é importante realizar;
Por que a distância é cruel?
Melhor aliança que pacto cruel...
De nunca mais nos ver...
Melhor sentir o calor
Melhor sentir o sabor
Que jamais libertar-se.
Jequié, Itajubá Hotel, Coffee Shopp, 19 de junho de
1991
REFLEXÃO
Lágrima
“Nunca faça florescer um sorriso, dizendo ‘eu te
amo’, para depois fazer correr uma lágrima dizendo ‘esqueça-me’. Porque o amor
é mais lindo do que uma ilusão e um dia tu poderás chorar a mesma lágrima que
alguém chorou por ti”. Rita, 31 de maio de 1990, SB-01 Noturno IERP (Escrito
encontrado no caderno de Valdecy).
REFLEXÃO
Lisboa, Madri, Roma, Nova York
(Projeto Madio Editora)
Vocês podem me dar a paz?
Vou procurá-las brevemente.
Embaixo de tuas pontes tem vaga
para mais um louco trovador?
Reserve um banco de jardim para mim
Deixem um pouco de poluição
Guardem um tiro de escopeta
Ou quem sabe uma bala de canhão.
Assegurem-me a incerteza de viver
Reservem um pouco de solidão
Guardem falta de esperança e de fé
Que serei teu terrorista predileto.
Explodirei pontes e edifícios
Matarei inocentes e desconhecidos
Somente se me derem o anonimato
Pra sofrer calado sem ser aborrecido.
John Lennon, Indira Ghandi e EU
Fomos grandes loucos pervertidos
Incapazes de sermos felizes
Apesar de doarmos paz aos loucos varridos.
Sou um grão perdido na imensidão
Que jamais será o primeiro ou o último
Pois estarei sempre pisado e cuspido
Como um verme louco e
06 de janeiro de 1991, 23:10 horas
REFLEXÃO
Louco sei que sou
(Projeto Madio Editora)
Mas só quero a paz
Só procuro o amor
E além, nada mais.
Por caminhos tortos
Procuro a verdade
Imploro ao supremo
Que me dê felicidade.
Não importa o preço
Porque já paguei
Agora quero vida
Pra amar demais.
14 de abril de 1991, às 00:55 horas
REFLEXÃO
Marcos, Ana, Sérgio, Márcia
(Projeto Madio Editora)
Todos são grãos de areia
Que entram em meu olho
sei que são de nuvem
Mas finjo não saber.
Ainda sou capaz
De sentir e de querer
Sou capaz de possuir
O que nunca pude ter.
Não tenho irmãos reais
Nem consigo conquistar
Porque ainda me procuro
E não consigo me encontrar.
Sumir não é o ideal
Morrer não é o caminho
Viver é uma tragédia
Então sofro sozinho.
Não quero te perder
Pois não tenho o teu pensar
Não tenho nada de ti
Nem sequer o teu olhar...
UESB, 06 de janeiro de 1991, às 23:01 horas
SOCIAL
Maria,
(Projeto Madio Editora)
Mulher
Negra,
Prostituta,
Analfabeta,
Menor de idade,
Pobre,
Sul-americana,
Nordestina (Brasil),
Feia,
Deficiente física:
CEMPRECONCEITOS.
Jequié, 20 de maio de 1992
REFLEXÃO
Marquei encontro com a morte
(Projeto Madio Editora)
Ela não apareceu
Daí pensei que tinha me esquecido...
Caminhei, despreocupado, sem medo,
Calmamente, sem medo de ser feliz.
Então, ela aproveitou-se de um momento de descuido
E armou uma cilada para mim.
Pôs queijo na ratoeira; pôs milho no anzol;
Fez de tudo.
Conseguiu.
Rondou, cercou, atraiu, me pegou de cheio.
Eu a desafiei, mas ela foi mais esperta.
Caí na armadilha.
Fim de um homem.
Fim de uma aventura.
Restaurante “Bom Gosto”, 14 de janeiro de 1992,
20:35 horas
REFLEXÃO
Mataram a vida
(Projeto Madio Editora)
A arte imita a vida
A vida imita a morte
E nesta loucura toda
Eu vivo a vida sem sorte.
Correndo pelas florestas
Voando dentro do chão
Encontro-me caído e morto
Apodrecido no chão.
Abro os olhos para a vida
E vejo a arte morrendo
E a história sendo distorcida
Enquanto eu vivo a vida correndo.
Jequié, 12 de abril de 1991
CRÔNICA
Menos
Eu não consigo gostar pela metade. Se eu
conseguisse, amaria várias pessoas ao mesmo tempo.
Desta forma, eu prefiro que esqueçamos tudo, a
partir de agora.
Prometo que não vou tirar tua paz e que, se você
quiser, nunca mais te procuro.
Não sei para quem escrevi isto, tampouco a data.
CRÔNICA
Meu amigo me contou
Meu amigo me contou que esta cidade, Jequié/BA, é
muito linda. Tem ruas largas, arborizadas, calçadas convenientemente... ...tem
muita coisa bonita; um rio, o de Contas, com suas águas que nos refrescam do
calor do verão... ...que aqui tem serras por todos os lados, que tudo é melhor
de se ver, que o ar é mais puro, que o céu é mais azul... que as estrelas
brilham mais para os jequieenses que para qualquer outro povo... ...que aqui
existe gente boa que, apesar de serem poucas, superam o mal causado pelas que
não são boas e todo o mal que existe no mundo... E contou também que tudo isto
é graças a um homem muito especial: Deus...
REFLEXÃO
Meu Ano Novo é de tristeza
(Projeto Madio Editora)
De sofrimento e de dor
Só não sei se suportarei
Esperar a morte natural.
Talvez eu antecipe
Meu sofrimento insano
Antecipando também
O sofrer dos familiares.
Só assim a dor acabará
E logo todos esquecerão
Que existi nesta família.
Sei a vergonha ou o orgulho
De tantos quanto me conheceram?
Só o futuro dirá...
06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas
REFLEXÃO
Meu armário
(Projeto Madio Editora)
Quando te abro
Vejo meu peito escancarado ao mundo:
Cartas, livros, poemas,
Tristezas e alegrias escondidas pelos cantos;
Fraquezas, grandezas, partes de mim;
Cheiro de mofo, perfume, ciúme;
Tudo o que compõe minha alma de contradições.
Me fecho e não deixo que te vejam,
Que te mexam, para não arriscar
Te tornar alvo dos menos esclarecidos
E para que não te machuquem.
UESB, 12 de junho de 1991, às 20:00 horas.
REFLEXÃO
Meu destino
Deus, Tu pôs em mim um sofrimento que não mais
posso suportar. Não tenho mais paciência para aguentar tudo isto sem dar um
imenso grito de BASTA!
Este sofrimento me consome todo, me deixa sem mais
força para lutar por outros objetivos, sem forças para continuar minha luta
pela sobrevivência. Não tenho nem vontade de comer, às vezes, por causa deste
sofrimento. Sei que devo e que tenho que pagar pelos meus pecados, mas desejo
que me seja enviada uma forma diferente de expiar por tudo de errado que fiz e
continuo fazendo. Não quero nunca e nunca mesmo, pegar esta porcaria pra fazer
parte de minha vida cotidiana.
Desejo que Tu me dê outro tipo de sofrimento, nem
que seja físico, mas que não espiritual, e, se for, que não seja este. Te peço
de todo o coração, não deixando que os sentimentos interfiram nesta escolha
decisiva para o meu destino eterno neste ou em outro mundo.
Este sofrimento é pior do que uma sarna, uma lepra,
um câncer, uma tuberculose, uma pneumonia, uma paralisia total dos membros do
corpo... É pior do que qualquer coisa da qual se possa ter medo, não gostar,
detestar na vida, etc. Desejo mil vezes o sofrimento que não conheço do que
esta pena indesejável por todos os viventes.
Fico muito revoltado comigo mesmo por causa deste
mal, que sei foi uma escolha consciente que fiz para pagar por meus pecados.
Jequié, 25 de fevereiro de 1986
REFLEXÃO
Meu Deus sou eu.
(Projeto Madio Editora)
- Deus meu, sou eu?
- Eu sou, meu Deus.
- Eu sou, meu Deus? (...)
Eu sou o A e o Z
Sou eu e sou o mundo
Sou um Capitalista-Socialista (vice-versa)
Sou o grafite e o diamante
Não me fite: sou DI-amante.
E também sou inconstante:
Revolucionário como o estático;
E rígido como o elástico;
Perpétuo como a nuvem;
Concreto como o sonho;
Abstrato como a pedra;
Sereno como o Rock;
Afônico como o trombone.
UESB, 17 de julho de 1991, às 21:30 horas
REFLEXÃO
Meu gostar
meu amar
meu sentir
meu viver
Não é meu verdadeiro gostar
amar
sentir
viver
Sou proibido pelo eu coletivo
preconceituoso
pelo eu individual
medroso
Mas procuro encontrar o caminho...
UESB, 16 de julho de 1991, às 21:55 horas
REFLEXÃO
Meu prazer é você, utopia.
Te procuro no nada
Te vejo na inércia
Te planejo no imaginário
Te percebo no inexistente
Te sonho no irreal
Te concretizo na solidão
Como terei a paz de fazer amor contigo?
UESB, 16 de julho de 1991, às 21:15 horas
CRÔNICA
Meu primeiro Amor
Lembro-me ainda da minha primeira namorada. Meu
primeiro amor. Seu nome é Jackeline. Foi no ano de 1978, quando eu tinha doze
anos de idade. O primeiro namoro firme.
Eu estava morando na Fazenda Turmalina, Município
de Itagibá/BA. Lá, cursei a 4ª série do 1º grau numa escola que não lembro o
nome, em 1977. Vim fazer a 5ª série do 1º grau aqui em Jequié, no ano de 1978.
Fiquei morando com uma senhora chamada Maria, na Avenida Dr. João Braga (em
frente à casa de nº 74). Lembro-me que a maior parte de meu tempo (antes
de conhecer Jackeline, é claro!) era gasta num passatempo considerado, por mim,
hoje, como simplesmente idiota: anotava o número de ordem dos ônibus que
passassem, para verificar quanto tempo o mesmo ônibus demorava para voltar a
passar.
Percebi que na casa defronte à que eu estava
‘hospedado’ tinha uma menina muito bonita e atraente. Eu era atraído pela
menina e ela por mim. Não sei como aconteceu o nosso primeiro encontro... Só
sei que a namorei durante um ano, quando minha família mudouse também para esta
cidade e eu tive que sair da casa onde estava, para ir morar com meus
familiares...
Jequié, 21 de junho de 1984
REFLEXÃO
MH/HM
(Projeto Madio Editora)
Arte/vida
Macho homem/Homo masculino
Tudo/nada
(...)zero/infinito
Beleza/você
Eu/universo
Cá/em lugar algum
Som/silêncio abísmico
Ritmo/(de) cadência
Dó/impiedade
Eu/eu
Só/sozinho
Ponto/galáxia
teu olhar me atrai
tua beleza me enlouquece
Estou triste por não te ter
sou artista mas sou cego
não te aplaudo, pois você merece mais que isto.
Quero ir embora ao mundo dos espíritos solitários
Ao mundo dos poetas solitários
Ao mundo solitário dos poetas loucos.
Te amo.
UESB, 03 de julho de 1991, 22:00 horas
REFLEXÃO
Minha ida (definitiva) para Salvador
(Projeto Madio Editora)
Estou impregnado com o sumo
Do sumo, do sumo de ti:
Teu suor é meu suor, teu sangue, corre em minhas
veias.
Tuas ruas, são quase minhas mãos.
Quero ser soteropolitano
Quero respirar teu ar poluído
Quero trocar fluídos
Viver tua energia
Morrer em teu colo.
Teu admirador 25.07.92 - Meu quarto.
REFLEXÃO
Minha vida é traiçoeira
Eu poderia remontar há muitos anos. Mas não o
farei. Começarei de poucos dias para cá.
Dia 04 de junho de 1986 eu viajei para Salvador, na
tentativa de poder conseguir um emprego no Ministério da Agricultura. Mas só
consegui gastar o meu dinheiro, dinheiro das férias, e nem consegui conversar
com a pessoa a quem fui procurar.
Antes de voltar das férias que terminariam dia 16
de junho de 1986, fiquei sabendo que o FRISUBA iria fechar, que tinha dado férias
coletivas para todos os seus funcionários.
Num jogo decisivo para o Brasil, contra a França,
quando quase esfacela as minhas emoções, veio a derrota por 5 X 4.
Antes mesmo de minha recuperação forçada, quando já
era manhã de domingo, recebo, ainda na cama, a notícia da morte do senhor
Cardoso, filho do dono do Supermercado Cardoso...
É demais! Assim não dá!...
Valdeck Almeida de Jesus, Jequié, 22 de junho de
1986
REFLEXÃO
Momento de Solidão
(Ouro Preto, Minas Gerais, 21 de dezembro de 1991,
às 19:35 horas)
(Projeto Madio Editora)
Todo homem é só
Nasce só, vive só, morre só
Todo homem é único
Ninguém o substitui
Nada o transforma
Só o acaso transforma
Só o acaso reforma.
Todo homem precisa de afeto
Todo homem precisa de carinho
Todo homem precisa de amor.
Estar só nem sempre significa estar sozinho;
Estar só é um estado de espírito;
Estar só é sofrer o drama de viver:
Dia a dia, no frio de um canto;
É não sentir o toque de alguém;
É não ter o momento do orgasmo dividido.
Todo homem precisa de amar
Amar todo homem sem medo ou terror
Amando um louco com muito amor.
(Ouro Preto, Minas Gerais, 21 de dezembro de 1991,
às 19:35 horas)
REFLEXÃO
MULHER - HOMEM
HOMEM - MULHER
O que importa é ser feliz.
“Bom Gosto”, 24.11.92, 23:15 horas
Na tentativa de acertar o alvo
(Projeto Madio Editora)
Atiro em todas as direções
Pra atingir corpos e almas
E pra atingir corações.
Desejo amar um ser humano
Com toda a minha força
Dando paz e alegria
Carinho e muito amor
Levando este ser humano
A sentir-se como Deus
Receber paz e carinho.
Eu também pretendo ter
Numa troca de energia
Que não possa me deter.
Semente dessa união
Não tem chance de sair
Por causa da Anatomia
Que não permite surgir.
Mas o que é importante
É a semente do amor
Que pode me contaminar
E tirar a minha dor.
Corpo podemos alugar
Ou adotar para sempre
Preenchendo o vazio
Que não pode continuar
Ou então seremos sós
Pra viver mais à vontade.
Só quero que me complete
Que preencha meu vazio
Não permitindo que morra
O que nascer entre nós
E que sejamos felizes
Separados ou a sós.
12 de setembro de 1991
REFLEXÃO
Não choro nem sofro
(Projeto Madio Editora)
Pra não dar o braço a torcer
Mas sofro dentro do peito
Cada hora e cada dia.
O trabalho me entorpece
Mas não tira a consciência
Não me anestesia de todo
Nem me livra da doença.
Dou risadas de alegria
Mas só eu sei o que sofro
Me encarando neste espelho.
Não sofro pela doença
Mas pela morte próxima
Antes de curtir um pouco...
Deus venceu esta jogada. Mas ainda não me matou.
Estou vivo ainda.
06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas
CRÔNICA
No parque
A criançada estava toda assanhada, porque iriam,
pela terceira vez no mês de outubro, ao Parque Infantil da cidade.
Ao chegarem lá, enfileiraramse para montarem na
escorregadeira. Apesar de existirem muitos brinquedos no parque, só queriam
brincar mesmo na escorregadeira.
Pedrinho, Lúcia e Rosa foram brincarem na gangorra.
Depois de cansarem de ‘gangorrear’, foram para a escorregadeira, onde a fila já
estava menor: somente três meninos brincavam naquela coisa, que atraía todas as
crianças do parque infantil...
LOUCA
Nossa vida cotidiana
Na labuta horripilante
De cada ser na labuta
Muitas dores são vividas
Destruindo nossas vidas
Nos preparando pra luta
Luta muito desigual
Do homem com seu sistema
Comendo fezes humanas
Escorregando em bananas
Votando em porcos safados
Escolhendo delegados
Que delegam para si
Que escorregam em carne boa
Que não dormem em garoa
Mas que pisam nesse povo
Alienado e descarado
Mal informado e sem comida
Para si ou pra seu filho
Esse homem inexistente
Ou oculto no sub mundo
Da pobreza e da tristeza
Esse homem que usa ônibus
Esse homem que vai à feira
Esse homem analfabeto
Desnutrido e sem afeto
Marginal levado a isto
Pelo homem do poder
Que lhe pisa e lhe obriga
A sofrer pelo social
E lhe obriga a viver mal
A comer somente restos
Destas sobras exportadas
Que não servem para nada
A não ser criar doenças
Que lhe mata sem piedade
Levando-lhe ao inferno
Sem ao menos um caderno
Pra seu nome assinar
E aprender a escrever.
Jequié, 26 de fevereiro de 1990
CRÔNICA
Nosso Gatinho
Nós temos um gatinho muito bonitinho. Tem um pelo
muito lindo e em duas cores que contrastam entre si: preto e branco.
É muito inteligente. Sempre que quer sair e que a porta está fechada,
arranhaa, miando até que alguém apareça e abra a mesma. É como se estivesse
dizendo: “Quero sair. Abram a porta!”.
Quando ele quer entrar e que a porta está fechada,
procede do mesmo modo que procede para sair: arranha a porta, miando, até que
alguém a abra.
Quando está com fome e alguém está comento qualquer
coisa, ele corre para perto desta pessoa e fica a miar desesperadamente. E
quando a pessoa joga a comida, ele fica a olhar até que a pessoa permita que
ele coma: como se fosse uma pessoa bem educada que, mesmo com a comida pronta e
posta na mesa, só começa a se servir após autorização do dono da casa.
Nosso gatinho adora o sol! Todos os dias ele corre
bem cedinho e se deita por cima do muro para esquentarse. Que gatinho
inteligente, não? O nome dele? É Bichano e/ou Pichane.
Jequié, 24 de julho de 1984
REFLEXÃO
Nunca me sinto cansado
(Projeto Madio Editora)
Nunca durmo durante o dia
Nunca fico sem comer
Nunca fico ansioso.
Mas a doença me muda
Transforma-me neste louco
Que chora e que ri ao mesmo tempo
De sua própria desgraça.
Não me sinto derrotado
Nem tampouco vencedor
Apenas vou “dar um tempo”.
Minha vez de ir embora
Está prestes a chegar
Mas não estou preparado.
06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas
REFLEXÃO
O dia da luz-treva
(Projeto Madio Editora)
Meu dia se aproxima depressa
Como um lobo à cata da presa
Querendo fazer uma surpresa
Na hora mais incerta que houver.
E eu o espero ansioso
Esperando pra ver como é
Louco pra sentir na pele
O sabor doce/amargo da morte.
Nem minha cova fiz ainda
Mas estou ao lado dela
Esperando ser empurrado.
Quanto custará, não sei
Só sei que tenho que pagar
Por tudo o que deixei de fazer...
03 de março de 1992, às 22:50 horas
CONTO
O gigante
Certa vez aconteceu um caso extraordinário perto do
sítio onde eu morava. Apareceu um gigante maior que grande, maior que enorme.
Era enormíssimo. Tão grande que, se eu fosse desenhálo em escala normal,
gastaria mais papel que uma redação de jornal em cem anos. Nunca vi um ser tão
grande em minha vida, tampouco verei novamente...
Mas vamos ao que interessa: ao ver aquele ser
monstruoso perto de minha casa (desculpe, perto da casa de meu tio), fiquei
pasmado e paralisado de medo. Fiquei estupefato e petrificado de medo ao mesmo
tempo. Nem fugi nem fiquei para ser atacado pelo ser enorme, que em minha
frente se encontrava. Acho que ele também ficou com um pouco de medo de mim,
por causa da cara feia que fiz. Sei que cada qual tomou uma direção em sentido
oposto e disparou a correr sem parar. Não nos vimos nunca mais, tampouco quero
vê-lo novamente...
O homem só é homem enquanto sua pica sobe. A partir
daí, ele não é mais nada. É pior que uma moça.
Um Espírito tarado.
Jequié, 19 de março de 1996
Avenida Rio Branco, bar “Parada Obrigatória” (Pra
variar).
O IDEAL: Uma utopia. Sonhamos, idealizamos,
projetamos, fantasiamos algo como sendo tudo. Quando atingimos esse ideal,
idealizamos outro ‘ideal’ e partimos, de novo, para realizá-lo.
Praia de Ondina, 04.04.93, 15:15 horas.
SOCIAL
O Leste Europeu
(Projeto Madio Editora)
O muro de Berlim
O Muro de berlim
O MURO DE BERLIM
o muro de berlim
Foi construído no meu peito
Hoje estou dividido
Entre o amor do Norte
E o Amor do Sul
Amor Oriental (ou emocional)
Amor Ocidental (ou racional)
Amor acidental (ou...)
Amor Fatal (ou trivial)
Sou um duelo entre eu e eu
Estou ansioso
aguardando você
para dar a primeira martelada
Neste muro indestrutível.
UESB, 04 de junho de 1991, às 19:30 horas.
Esta foi a forma que encontrei para falar da guerra
fria, ou seja, da divisão do mundo entre americanos e russos, capitalistas e
comunistas, que só serviu para aumentar ainda mais a distância entre ricos e
pobres e fomentar o ódio, a discriminação e o preconceito.
Felizmente o mundo sempre dá voltas, e estamos
agora, em 2009, com uma nova configuração política, em que os Estados Unidos
perdem força e outros países conseguem respirar e impor uma nova forma de
pensar e de agir.
A intolerância, a ganância, a transformação das
pessoas em máquinas de fazer dinheiro, tem destruído lares, sociedades
inteiras. Eu luto, diuturnamente, contra as etiquetas, as marcas que nos
“ferra” feito bois, e a favor da divisão da renda mundial. Enquanto poucos
países desfrutam de modernismos, África e outros continentes amargam a fome e a
miséria, a falta de investimento em educação e saúde, por exemplo. Cada pessoa
precisa ‘acordar’ para esta realidade. Ou mudamos a forma de tratar os seres
humanos, ou todos sucumbiremos à violência!
CRÔNICA
O mar
Eu nunca tinha visto o mar (pessoalmente). Só mesmo
através de televisão, postais, revistas, fotos, cartões, etc.
Quando o vi, fiquei deslumbrado! Que beleza! Que
imensidão de águas! Nunca vi coisas mais lindas do que aqueles montes de água
rolando por cima das areias, deslizando-se por cima de si próprios...
Foi em Salvador, capital da Bahia que eu, pela
primeira vez na vida, avistei um oceano, um mar, um rio enorme...
Tinha ido eu para a capital baiana em fins de 1981,
trabalhar para uma senhora muito amiga de minha família, Dona Luci Valverde
Magalhães...
...e fui convidado pela minha patroa para ir à
praia (da Pituba, bairro onde ela mora) levar umas oferendas para que fossem
jogadas ao mar...
Minha emoção foi tremendamente grande quando
avistei, do FIAT onde estava, aquela montanha de água com forma circular ao
longe... Como pode haver coisa tão linda? Senti, pela primeira vez, a areia
marinha (apesar de estar calçado). Vi, com meus próprios olhos, a água lamber a
praia com sua língua gigante. Foi maravilhoso...
Jequié, 21 de junho de 1984
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