Antologia
Todos os Poemas
Valdeck
Almeida de Jesus
Parte
16
Versões
atualizadas e outras nem tanto
Borboletas sem asas
Me sustentam
Na tua presença
E não me deixam
Cair do voo cego
Que me guia.
Parque Pituaçu, 29 de setembro de 2012
Antes de tudo eu era e fui e seria. Depois de tudo
eu não soube mais.
27 de setembro de 2012
Estou feliz... Vi um passarinho verde voando,
voando, voando...
01 de outubro de 2012... Salvador-BA
Só pra dizer que pensei em você desde ontem. Estou
no TCA vendo uma palestra.
02 de outubro de 2012
Embarcações levam e trazem emoções, histórias de vida, sonhos, projetos,
amores e saudades. Nelas eu embalo minhas mais profundas aflições, choros,
risos, lembranças de dias e noites mal compreendidas, jamais repetidas, pois o
tempo não volta, como as marés...
Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, 06 de outubro de 2012, lembrando de
Angra dos Reis...
Copa do Mundo em Salvador
Para além dos conceitos, pré-conceitos, valores locais ou universais, o
acarajé, apesar de ser Patrimônio Cultural da Bahia, não pode concorrer com o
interesse do capital internacional. Afinal, doa a quem doer, o Big Mac
patrocina e dá visibilidade internacional... O que eu pergunto é: onde estão os
articuladores brasileiros, publicitários, gestores, defensores da cultura afro,
nacionalistas, bairristas e todos os outros istas que não entram com reclamação
nos órgãos/entidades competentes para assegurar o direito de
comercializar/vender nosso acarajé? Para isso existem todas as instâncias
jurídicas e os organismos internacionais. Esse tratamento vai ser o mesmo com o
acarajé, o picolé, o churrasco etc etc etc... Se a gente não se articular, não
se organizar, não se registrar, não se rebelar, seremos engolidos pelos
pasteurizados, pelos enlatados, pelos empacotados...
São Paulo visto do céu
Mar de prédios... poesia concreta. Voo sem asas, consciência leve. O
horizonte é tudo o que temos. E quanto mais voamos, mais distante ele fica...
Valdeck Almeida de Jesus
"As horas mortas me arrastam; sem resistência, sem rumo, sem prumo,
me deixo levar, querendo ficar. Enquanto isso, as horas sorrisos me esperam num
lampejo, mísero segundo, que passa e nem vejo".
"Vivemos a Ditadura do Politicamente Correto.
As pessoas te admiram, te aplaudem, te apoiam, desde que você não opine, não
diga o que pensa. Tem que ficar o tempo todo sorrindo, dando beijinhos, abraços
e apertos de mão. Na hora que você fala ou escreve, começam a te apedrejar e a
se esquivar"... Valdeck Almeida de Jesus
Não mais que um segundo, ou terceiro.
Quem sabe, um primeiro...
Num segundo te acho o primeiro e,
No segundo seguinte você volta a ser o primeiro.
Primeira, Castelo Branco, 05 de outubro de 2012
Sem saída
Nada faz a vida
Mudar de rumo;
Pro mais que se empurre, force...
10 de outubro de 2012
Sem inspiração
Eu canto a morte
Espanto a sorte
Me faço forte.
10 de outubro de 2012
Enquanto você engole sapo eu cuspo fogo.
Com o olhar te rogo, imploro uma volúpia.
Quando o jogo termina vou para o vestiário.
E, você, se preparar e se arruma para o segundo
tempo
No campo do adversário.
10 de outubro de 2012
Que fronteira separa o ser do ser?
Que magia atrai o ter do ter?
Quando o que seduz é o que reduz
O daqui do dali?
10 de outubro de 2012
ENTRETER
ENTRE TER
ENTRE TER
ENTRE TER
ESTOU NA CONTRAMÃO
DO CAMINHO, ONDE
NÃO TEM UMA PEDRA.
10 de outubro de 2012
Poemas não enchem barrica, mas enchem os olhos de
quem lê.
10 de outubro de 2012
Paixão, cega.
Equilíbrio, não dá ar.
Mas o trem chega ao destino
Se segue na linha.
10 de outubro de 2012
Emoção dá tempero à vida
E pode durar muito;
Paixão queima e vira cinza.
10 de outubro de 2012
A bola corre
O jogo segue
Aqui, meu passo para,
Meu coração diz: para!
Não obedeço
E ele dispara.
Torcida, torcida, torcida
Enquanto a cerveja esquenta.
10 de outubro de 2012
Nudez...
Me tire a pele
Arranque minha alma
Me desnude por inteiro
E me condene depois.
Mas não fale
Não julgue
Não imagine
Nem desconfie.
Estou pronto ao martírio
A ser crucificado
Morto e sepultado
Após você me conhecer.
17 de outubro de 2012
"Tudo posso naquele que me patrocina"
(Cartão Internacional, não tem preço)
"Os intelectuais, sabichões e donos da verdade
afirmam que o povo não sabe votar, o povo não sabe o que é cultura, o povo não
sabe nada. Seria interessante e proveitoso que, ao invés de falar merda, esses
deuses fossem às favelas, becos e vielas ensinar o que eles sabem. Certamente
aprenderiam muito mais com o povo.
Valdeck Almeida de Jesus"
Fila é uma instituição humana. Mas os elefantes
também andam em fila.
Sorria, você está sendo manipulado.
Cada um por si e Deus por Ele mesmo.
Vou vender minha cidadania... Quem quer comprar? Não tenho vergonha de
ser brasileiro, tampouco de ser nordestino, baiano e jequieense. Mas não
aguento mais o lenga-lenga de conterrâneos que nunca fizeram nada pelo outro e
fica enchendo o saco fazendo campanha para "A", "B",
"C"... como se o futuro da Nação-Estado-Cidade fosse uma questão
esportiva em que, após a partida, a vida se resumisse em pegar o transporte, ir
pra casa e esperar o próximo jogo, eternamente...
Não aceito choro nem vela quando eu morrer. Não espero condecorações,
medalhas, matérias em blogs, jornais etc. Prefiro a pobreza de afeto, carinho e
atenção em vida. Depois de morto, mande pra porra qualquer lembrança!
Interessante como as pessoas admiram quem é alienado, abilolado,
abestalhado, sem noção. Na hora que abrimos a boca e emitimos opinião, falamos
o que pensamos, cada um vai fingindo que não viu nem ouviu, calam e se afastam
de fininho...
Estou vivo, para a alegria de alguns. Para outros, sou um estorvo, uma
presença indesejável. Não posso agradar a todos, principalmente quando não sei
a quem ou como incomodo, perturbo. Não mudaria para ser politicamente correto,
entretanto.
O Brasil é um celeiro de talentos
Dança, música, literatura, teatro, cinema, televisão, comida e coração.
Não dá para separar expressão artística de emoção. Talvez seja por isso que
nossa cultura é tão carismática, tão inventiva. O brasileiro é um povo de alma
e coração abertos, cuja maior expressão não se traduz em simples definições
técnicas; é preciso ver, ouvir, tocar, saborear, cheirar. Sim, pois nossa
cultura impregna os cinco sentidos, penetra na alma, encanta a gregos e
troianos.
Seja através de um gingado, um batuque, um tempero na comida, um acorde
musical, um passo de dança, expressões literárias, nossa cultura faz um show e
marca presença. Não é por menos que o mundo olha para o Brasil, faz intercâmbio
e se aproxima cada vez mais do continente que abraça a todos, de qualquer nação,
língua ou origem.
Viva o Brasil e sinta na pela o que é ser feliz...
Valdeck Almeida de Jesus
Em 27 de outubro de 2012 Para Ronald Muzzangue
Passo a vida correndo atrás dele. Não o vejo
passar. Quando penso que já o alcancei, o tempo passa e eu vejo que envelheci.
Estou num mundo encantado... Lugar onde as coisas
são mágicas... Aqui a fantasia impera, pessoas voam e prédios flutuam... Magic
Land. Estou na Terra de Pinóquio: Brasília. Ass. Valdeck Almeida de
Jesus.
A vida não é uma equação. Qualquer resultado está
correto.
Teus olhos
Me apaixonei
Não sei nome, idade
Profissão, situação,
Endereço, cidade
Vi teus olhos no escuro
Fiquei fascinado, apaixonado,
No momento, seguro;
Em seguida, confirmado.
Vi teus lábios, em formação
Apaixonantes, delirantes
Que dizer ao coração?
Que não conheço,
Não serei amante?
Que fazer dessa paixão?
Sem consciência, novembro de 2012
Felipe
Cuatro años
En otro país
Mas lo siento como
El tempo no tenga passado
Las mismas necesidades
Los mismos sentimientos
Como en la primera vez
Que yo te he visto
Cuatro años atrás.
For Years
Far away from me
It seems to the time didn’t pass
The same needs, the same feelings
As the first time I saw you
Four years ago.
13 de novembro de 2012
For a da arte não há salvação.
Eu também adoro sombra, e nunca plantei uma árvore sequer... e talvez
nunca plante...
O facebook, o orkut e outras bostas nos proporcionam instantaneidade,
imediatismo... Por um lado, bom. Mas muitas vezes a gente vai repetindo,
'curtindo' e compartilhando as coisas por osmose, sem parar para dar uma
olhada, uma criticada...
Se criticar, analisar e olhar direito é azedume, então estou eternamente azedo.
Valdeck Almeida de Jesus.
Tem gente que te conhece só para pedir favor: leia meu texto, faz uma crítica,
manda uma resenha, divulga meu trabalho, visita minha sogra, segure aqui pra
mim... Na hora que você pede algo, por mais simples que seja, acreditando que a
pessoa é sua amiga, ela simplesmente inventa que a mãe morreu, está
ocupadíssima com um trabalho super complexo e urgente, não entende do assunto,
faz de conta que não viu, te ignora ou simplesmente fica OFF. Não dá para
agradar a todos nem ficar sorrindo o tempo todo, mas a gente sente quando é
sacanagem o que fizeram... Valdeck Almeida de Jesus
Poema Politicamente Incorreto
(Galinha Pulando)
Sou preto, pobre e aleijado
Nasci na favela e comi lixo
Igual ao homem do poema
Confundido com o um bicho.
Pai maluco e mãe paraplégica
Passei fome e humilhação
E o politicamente correto
Não mudou meu aleijão.
Descaso de autoridades
Fui pisado pelo povo
Com desdém da sociedade.
Não quero penalidade
Eu quero reparação
Eu quero dignidade.
Salvador, 20 de novembro de 2012
Pós Lida
Queremos ir
Queremos ir
Queremos vir
Come with me
Dear sir.
22.11.2012 Praia Sebo dos Livros
I can’t hear yoy
But I’ll clap
When the people do that
For sure!
22.11.2012 Praia Sebo dos Livros
Meu
Verso
Não tem
Movimento
Nem rima;
Meu verso morreu
Na cronologia
Da legitimação;
Não é tradição
Nem inovação.
Não rompe com o “status quo”
Nem propõe caminhos;
Só pedras
E pedras.
22.11.2012 Praia Sebo dos Livros
Não tem aranha
Não tem manha
Nem amanhã
Nem há manhã
Nem amanhã
Mas o agora
Absoluto
Sem noção,
Me recompensa.
22.11.2012 Praia Sebo dos Livros
Letras
O que a língua pode
Fragmentos do pensar
Exercícios de pensamentos
Imagens desconexas
Sem resolução
Sem conexão
Pois sou muito novo/imitação
Somente 80 anos.
Meu álibi é esse
A língua fode
A língua pode
Em preto
Em branco
Fala e simetria.
Meu falo não pode
A coxinha apaga o tesão
Que a língua
Não exprime.
22.11.2012 Praia Sebo dos Livros
Carne fresca
(Galinha Pulando)
Adoro carne fresca
Assada, cozida, crua,
Tostada, queimadinha,
Estendida na cama, nua.
Carne jovem, morena,
Carinhosa, saborosa,
Macia, quente, suculenta,
Marrom, vermelha, rosa.
Tatuada ou toda limpa,
Lisa, crespa, enrugada;
Mas que seja bem amada.
Fatiada ou peça inteira,
Peças pequenas ou postas;
Seja de frente ou de costas.
23 de novembro de 2012
Sem Consciência
Entre telas e teclados
Olhos negros, poéticos, me olham;
Sem óculos, sem íris, sem roupa.
Olhos nus, despidos de maldade,
Apenas me sorriem, me empolgam;
Segundos, milésimos, duram...
Suspiros, pensamentos, emoção...
Sangue nos olhos, no corpo, no coração.
Duração eterna, entre teclas e teclados...
Para Luís Ricardo S.
21.11.2012
O individualismo é anterior a qualquer sistema
político ou econômico, pois é a base da sobrevivência. O homem não é um ser
social. Tudo é construção de ideólogos.
Quanto mais eu conheço os baianos, mais eu amo os
mineiros.
BH, 08.12.2012
Eu com frio, sono, fome, sentado numa mesa de
lanchonete de esquina, em Belo Horizonte, querendo desaparecer. Meus
amigos, animados, embarcam numa sessão nostalgia, lembrando dos desenhos
animados dos anos sessenta; da falta de censura na TV; precocidade das relações
afetivas de crianças, jovens e adolescentes.
Tampo os ouvidos e finjo prestar a atenção a tudo.
De vez em quando, um meneio de cabeça, concordando com não sei o que.
BH, 09.12.2012
Quem é dono de empresa de sopa não pode dar sopa.
Gmail > Verbo gemer no afirmativo imperativo:
Gemei-o.
Antes de colocar policiais nas ruas precisamos dar
condições de sobrevivência à população... Sem comida, sem habitação, sem saúde,
sem escola, eu iria para o crime, eu seria um dos números das estatísticas que
a polícia e a justiça, juntamente com a imprensa, divulgam: mais um morto na
favela. Sem pistas dos assassinos, mas a suspeita é que o morto tinha
envolvimento com o tráfico de drogas.
Com alguém: prisão
Sozinho: angústia
Solteiro ou casado
Sinto-me entre grades.
02.09.2011. Voo Gol 1853
Equação difícil de resolver:
Sexo
Amor
Tesão
Prazer
Fidelidade
06.11.2012, 12:48h
Abre a Boca, Calabar
Caros amigos. Este é um trabalho que dá muito
prazer, pois, ver o olhar dessas crianças, tão atentas, tão interessadas em
poesia, só nos enche de alegria... Esta é uma sensação que divido com todos
vocês, que, de forma direta ou indireta, colaboram para a formação do meu
ser... Muito obrigado.
Eu tento fazer minha parte, mesmo que de forma
simples... com ou sem recursos. Este já é o terceiro ano do projeto, com
encontros esporádicos, mas de aproximação, sedução e compartilhamento de
poesia... Juntos, podemos muito mais... E há outras tantas crianças, em tantos
outros bairros, favelas, becos e vielas esperando por poetas... Cada uma com
uma fome, um lamento, um choro. Quem chegar primeiro pode seduzir um ser
especial desse para sempre. Antes que chegue a droga, a arma, antes que sejam
cooptadas para o tráfico de drogas, roubo a ônibus, antes de tudo, deve chegar
um poeta com um poema. O futuro é agora!
Eu sou o desconforto que te acolhe; a língua que te
maldiz. Sou o sono que te entorpece e os olhos que te cegam.
No meu trevo de quatro folhas você é a quarta
folha, inexistente.
(Facebook)
Masmorra Divina
Quebrou a cruz
Cuspiu na cara de Deus
Perdoou Pedro três vezes
E matou os outros profetas.
Depois se trancou no Mosteiro.
19.12.2012
Amor Circular
Aprendeu latim
Falou latim na faculdade
Escreveu um livro em latim
Fez um poema em latim
Botou um anúncio em latim
Encontrou um amor em latim
Amou em latim
Se entediou em latim
E se matou, como o latim.
19.12.2012
As Flores de Irajuba
Irajuba está na contramão
De onde você vier
Cuidado com o caminhão.
A ponte, que liga,
Pode ser a destruição.
Sobreviver em Irajuba,
Sem comércio, sem turismo,
Sem lavoura, sem indústria,
Pode ser difícil ou não.
Sobreviver em Irajuba,
Só por acidente, é fato:
Mais um caminhão se espatifa
No asfalto.
18.12.2012
Hoje é Natal
Comemoração
Lembranças
Reencontros
Missa do Galo
Abraços e Presentes
O cágado dando voltas no quintal
Bolo, refrigerante,
Alguém morreu, alguém nasceu
Festa na rua de baixo
Amanhã é dia de trabalhar
E o cágado dando voltas no quintal
Trocas de amenidades
Amigo Secreto
Abraços e presentes
E o cágado dando voltas no quintal
Hoje é Natal
Santo Amaro-BA, 25 de dezembro de 2012
Descarrilando
(Facebook)
Estou longe de todas as estradas, fugindo de todos
os caminhos, evitando setas e indicações. Não quero rumo nem quero salvação.
Prefiro o risco das apostas, becos furtivos, sombrios e perigosos. A vida é
urgente, não tenho tempo para pensar, nem escolher, vou indo, na enxurrada, no
lixo, na podridão. Afinal, qualquer que seja o destino vou virar banquete dos
vermes! Valdeck Almeida de Jesus.
Mundo encantado
(Galinha Pulando)
Faz de conta que o amor existe
Faz de conta que a paz existe
Faz de conta que fadas existem
Faz de conta que solidariedade,
Piedade, remorso, traição, mentira,
Abandono, fidelidade, Deus,
Fim dos tempos, democracia,
Neutralidade, duendes, Papai Noel existem.
Faz de conta que faz de conta existe
E viva, viva, viva,
Fazendo de conta que o faz de conta
É só um faz de conta.
Jequié-BA, 30.12.2012
Imagem e Semelhança
(Galinha Pulando)
Porco tem deus com focinho
Galinha tem deus com pé de galinha
Burro tem deus com rabo
Boi tem deus com chifre
Elefante tem deus com tromba
Gambá tem deus fedorento
Zebra tem deus listrado
Jegue tem deus bem dotado
Siri tem deus que anda de lado
Cobra tem deus rastejante
Homem tem o deus que quiser
Mas prefere à imagem e semelhança
Resolvi acabar com a festinha
Quebrei o espelho.
Jequié-BA, 01.01.2013
Está agonizando, em seus últimos dias, morre não morre, com um pé na
cova, já batendo o pé na cerca, indo comer capim pela raiz, o ano 2012.
A realidade não é apenas o que o jornal diz, o que a TV diz, nem o que
foi 'abençoado' por quem compilou livros 'sagrados'. A realidade é bem maior,
apócrifa ou não. Valdeck Almeida de Jesus.
Agonia Só
(Galinha Pulando)
Vivi, vivi, vivi, vivi
Festa, solidão, alegria, tristeza,
Alegria, alegria,
Bebi, bebi, bebi, bebi,
Procurei Jesus,
Sofri, sofri, sofri, sofri,
Tudo o que fiz, me arrependi,
Sofri, sofri, sofri, sofri,
Fiz de novo, fritei ovo,
Comi jaca, sofri de novo,
Vivi, vivi, vivi, vivi
Casado, dormi.
Sofri, vivi, sorri, de novo.
Procurei Ele, e nada,
Só pedrada, sorri.
Que nada, vida é viver
Vivi, vivi, vivi, vivi,
Nada de arrependimento,
Nada de sofrimento,
Amanhã me confesso, confesso.
Depois, resta-me o universo,
Viverei, sofrerei, chorarei, e nada,
Sexo, sexo, sexo, sexo
Dez, vinte, duzentos,
Até quanto não sei se aguento,
Mil, cinco mil, de novo, de novo,
Ai, que bom. Viver é que é bom.
É Natal.
Poema Erótico
Me, Teu
Me, Teu
Me, Teu
Me, Teu
Me, Teu
Me, Teu
Me, Teu.
Te, Meu
Te, Meu
Te, Meu
Te, Meu
Te, Meu
Te, Meu
Te, Meu
Tell ME,
Foi bom pra você?
(Postado no Facebook)
Com pedras no meio do caminho, com pedras à beira da estrada, com pedras
sendo atiradas de todos os lados, com pedras na cabeça, pedras nos rins, pedras
alimentando nossa fome de poesia, com pedras de sal das estátuas de quem olhou
para trás, com pedras, sem medo das perdas, seguindo o caminho, em círculo em
linha reta, vamos todos, nessa caminhada, chutando o balde, quebrando as
pedras, seguindo, cantando e caminhando, caminhando e cantando, pois sem pedras
e sem perdas, o caminho não teria graça... Valdeck Almeida de Jesus,
21.12.2012, no meio do fim.
(Postado no Facebook)
Resolvi adotar uma causa
Objetivamente, lutei por tudo e por todos
Quebrei muros, levantei paredes
Fiz amigos e inimigos
Escrevi obras magníficas
Filosofei feito uma égua no cio
Abri caminhos, fechei estradas
Dei murro na cara de covardes
E criei problemas onde andei
Pacifiquei tensões
Busquei respostas para as dores
Fugi de brigas e refiz caminhos
Fui uma puta, certinha, que não bebia,
Nunca cheirei cola, nem bebia Coca-Cola
Perdi a chance de fumar maconha
Desperdicei minha vez de me drogar de vez
Ao menos eu teria sabido
A morte, o céu da porra que me ensinaram
Nada me ajuda, a porra toda foi não viver.
Carros encalhados no meio da rua
medo de andar de navio
balanço do mar
encalhar, naufragar
afundar no mar
A vida é assim: em cada esquina, uma interrogação; em cada conquista,
uma decepção...
Caminhar, entretanto, é vital. E não adianta se esquivar das
responsabilidades. Cada passo, um tropeço; cada topada, uma dor.
E, passo a passo, nosso coração sente que nada valeu a pena, pois as
emoções varrem tudo e deixam rastros.
O caminho, ele, sozinho, é que fica, sozinho... E ninguém ouvirá os
suspiros, ninguém lamentará a dor, ninguém se lembrará de nada...
Filosofar é impreciso, viver, indefinível...
Eu e o amor
Eh, comigo não tem barreiras mesmo. E isso as vezes nem eh bom, pois
fico 'viajando' o tempo todo, feito um barco à deriva, tentando atracar num
porto, noutro.. e vou sendo empurrado pela maré, pra bem longe da costa...
2013: cobrar para sorrir e para retribuir sorriso; cobrar para apertar
mão e por mão apertada; cobrar por bom dia dado e pagar pelos recebidos; cobrar
por afeto e pagar por cada sentimento recebido de volta; cobrar por tudo;
transformar relações em comércio; cada foto, cada afago, cada suspiro mais
profundo ou mesmo raso;
Vim fechar o bar
Menos emprego
Menos bebida
Tira-gostos
Sorrisos
Som, mesas
Garçom e freguesia
Fechei o bar
Perdi o endereço
E a comanda
Não pedi cerveja
Nem um beijo
Entornei o caldo
E fiquei órfão
Fechei o bar.
Jequié-BA, 29 e 30.11.2012
Nas esquinas curvas de Minas,
Perco-me e me encontro.
Quanto mais conheço
A Bahia, mais amo
As Minas Gerais
Minha esquina é você.
Belo Horizonte, 08.12.2012
A boiada está tão amestrada que não dá para relaxar
um segundo. Logo aparece um espírito de porco e acaba com a festa. Tudo tem que
fazer sentido. Aff...
Da minha janela eu vejo o mundo passar.
Leitura e Escrita se aprende na prática. A teoria
vem, depois, aparar arestas.
Antes dos 50 quero completar a quarta folha do
trevo: já tenho filhos, já plantei árvores (que não vingaram) e escrevi livros
(ruins, mas escrevi). Ficar rico não é minha meta, morar em Paris, também não
(quem sabe, risos), mas cuidar do coração (emocional), é o principal. Inscrito
na vida, com planos de eternidade. Antes dos 50 chego lá. Faltam só três anos.
"Alice não ama. Ela é viciada em
adrenalina. Quando fantasia, quando imagina ou sonha com os namorados, o
clima e o clímax são sempre muito perfeitos, plenos de emoções. Ao vivo,
embaixo de um homem, as fantasias dão lugar a suor, cansaço, canseira, cheiros
e sabores estranhos. Melhor, mesmo, é continuar sonhando, sozinha, num canto
escuro da casa, imaginando magias entre corpos..." Trecho do próximo livro
"Alice no País das Maravilhas", de Valdeck Almeida de Jesus.
Minha escrita são incógnitas que nem eu mesmo
entendo. Só vou escrevendo, vomitando palavras no papel... um dia alguém pode
jogar tudo no lixo ou fazer outdoors pela cidade.
"Os cheiros da infância insistem em nos
recordar tempos que não voltam. O Jeito é se deixar levar pelo vento, esse dono
das emoções, e rodopiar ao som de uma orquestra de névoas e neblinas".
Valdeck Almeida de Jesus.
(Postado no Facebook)
Tem dias
Que três milhões de habitantes
Não é bastante
Que 50km de praias
Não dizem nada
Que 5000 amigos no Facebook
Nem sabem de ti
E as ruas desertas
De uma enorme metrópole
Sinalizam tua solidão
Tem dias
Salvador, 13 de janeiro de 2013
(Postado no Facebook)
De tanto
Me proteger
Das intempéries
Me tornei terreno árido
Mas basta qualquer
Gota d’água
Pra brotar
Minha capacidade
De germinar.
30 de janeiro de 2013
(Postado no Facebook)
Estou pensando no futuro. Não no meu futuro, no
futuro da nação, da água potável, da sustentabilidade do planeta. Estou
pensando no futuro da próxima notícia e no que as pessoas dirão sobre ela. Ave,
Mídia!
Valdeck Almeida de Jesus
Sou o que sou, mas o vento pode espalhar imagens
que não correspondem a mim. Eu sempre me esforcei para 'mostrar' o que sou,
mas, de um tempo pra cá, deixo por conta do vento dizer de mim...
Valdeck Almeida de Jesus
Estou de luto pela pelas pessoas que morrem todos
os finais de semana nas periferias sociais. Não sei se há investigação pelos
crimes, nem se os acusado (quando presos), são condenados e, nesse caso, se
cumprem a pena. Estou de luto pela sentença prévia que cada vítima traz consigo
quando nasce nas periferias.
Morri, nasci, morri, nasci, missa de vinte minutos,
missa de uma hora, missa de um ano, missa de dois segundos, missa de dois
terceiros, morri, nasci, morri, nasci, ressuscitei, vou ali...
Valdeck Almeida de Jesus
Pecado. Estou doido para passar pelo fundo de uma agulha. Quem pode me
ajudar? Minha vaga na eternidade está à venda em suaves prestações.
...
Hoje pode ser o meu dia. Atropelo, assalto, comida estragada em
restaurante, topada, batida da cabeça numa pedra, queda num abismo, afogamento,
choque elétrico, bala perdida, acidente de carro, explosão de bueiro, pedrada,
choque anafilático, pressão alta, pressão baixa, AVC, ataque cardíaco, emoção
por encontrar um amor. A morte espreita em todo canto, poema, romance, rima.
Hoje pode ser o meu dia.
Valdeck Almeida de Jesus.
As pessoas poderiam ser apenas pessoas se vistas
pelos quilos de carne e osso que carregam nas costas. Mas quando a olhamos com
olhos de gente vemos pérolas.
Por que músicos morrem? Música é para se ouvir,
embalar a alma. Música é para nos transportar a outra dimensão. Por que músico
morre? Talvez eu não seja refinado nem faça parte de uma plateia refinada, mas
sei quando sinto e quando não sinto a música me tocar. E hoje senti. Digitália
2013.
Só meninas virgens, ingênuas, órfãs, negras, pobres
povoam o imaginário das mentes podres dos machos predadores.
Onde está a segurança? Andar armado, ter amigos,
morar em um condomínio fechado, companhia de amigos, amante ou família; ter
dinheiro. Isolamento, estudar. Não saber. Como conciliar desencanto com sonho?...
Foram as perdas afetivas, familiares, amores, fome, materiais, espirituais?
Necessidade afetiva, espiritual ou auto-punição? O que desencadeia o surto? Já
existe uma psicose? Isso é preexistente ou apenas uma predisposição? O
isolamento, a solidão, a velhice podem ser fatores que inflam a possibilidade
de sofrer?
(Postado no Facebook)
Olá, estou escrevendo para avisar sobre minha vida
sentimental. Estou solteiro há três anos e meio, mas me enganando e fingindo
que estou com alguém.
09 de julho de 2011
Patético ver lançamentos de livros em que o autor
fica sozinho numa mesa, ou com outros autores em uma grande mesa, enfileirados,
esperando ser visto, fotografado, que alguém lhe peça um autógrafo. Isso é
vaidade, necessidade de ser visto, golpe? Ninguém lê o livro um do outro.
Escrever talvez seja uma terapia, um desabafo, delírio, vício, cobrança de
amigos, passatempo, hobby, obrigação, pressão social, mercado, sonho, ilusão,
uma tentativa de ser escutado...
Estou escrevendo um livro sagrado. Nele, não há
lugar para sectarismo, separatismo, apartheid, preconceito, discriminação,
olhar enviesado, abuso de autoridade, ódio, implicância, prejulgamento,
xenofobismo, cisma... Estou escrevendo um livro sagrado.
A orla marítima de Salvador vai ser leiloada
Em viagens pelo Brasil, sempre notei que nas praias há barracas na
areia. Cito alguns exemplos: Fortaleza, Aracaju, Maceió, Porto Seguro, Ilhéus,
Canavieiras.
Fiquei pensando qual seria o motivo de Salvador não ter barracas de
praia. Será que tem a ver com o PDDU e a nova ocupação de prédios na orla? Será
que tem a ver com a ganância da indústria de construção civil em 'lotear' nosso
litoral? Será que tem a ver com empresários do setor de diversão e alimentação
que pretendem transformar as áreas próximas ao mar em novas
"SESMARIAS"?
A Família Pey
Contam os mais velhos que uma família chinesa se instalou numa cidade do
interior, onde os moradores eram muito pobres, em sua maioria. A família
investiu muito dinheiro e se instalou no comércio local, empregando muita
gente. Mesmo assim alguns habitantes continuaram na miséria e sempre pediam
esmolas na porta dos Pey. Para não passarem por esnobes ou mão de vaca, os Pey
sempre faziam caridade. Os Pey davam esmolar e isso virou tradição. Até hoje os
Pey dão ajuda a quem precisa. Está precisando de ajuda? Vai lá que os Pey dão.
Pertenço a um mundo à parte, onde não cabe barulho, poluição, movimentos
etc. Só reflexão e descanso. Penso igual a todo mundo mas diferente de todo
mundo.
Me rendo, me vendo
(Postado no Facebook)
Qualquer preço
Abraço ou olhar feio
Reclamação
Queixa ou resmungo
Me rendo, me vendo
Esquina fria
Banho de bacia
Com fome de amar
De qualquer mundo
Me rendo, me vendo
Me vendo no espelho
Me rendo: estou bem melhor
Sem os medos do espelho
Valdeck Almeida de Jesus
(Postado no Facebook)
Ilações, deduções, suposições, invenções. E o conto
vira crônica, que vira romance, que vira tragédia, que vira outro conto. E o
que eu conto, é, agora, lateralidade; o que eu digo, é, agora, supérfluo. E o
que eu digo não é o que eu digo, e o que conto não é o que conta. Vai entender.
Eta vida besta, meu Deus!
Odeio a vida
Amo a vida
Odeio Facebook e Orkut e Redes Sociais
Amo Facebook e Orkut e Redes Sociais
Odeio a Rede Globo, SBT, Record e outrais tais
Amo a Rede Globo, SBT, Record e outras mais
Obeio BBB, Faustão, Luciano Huck e Silvio Santos
Amo BBB, Faustão, Luciano Huck e Silvio Santos
Odeio música brega, axé, MPB, arrocha, rock,
samba...
Amo música brega, axé, MPB, arrocha, rock, samba...
Não gosto de música clássica, cachaça, faculdade
Amo música clássica, cachaça, faculdade
Odeio cultura popular, gente que não tem diploma
Amo cultura popular, gente que não tem diploma
Sou contra política, luta pela vida, democracia
Sou a favor de política, luta pela vida, democracia
Não sou o que gosto nem o que odeio
Não sou o que odeio nem o que gosto
Minha máscara social não muda o mundo
O mundo não muda minha máscara social
Vou morcegar por aí. Se eu cair, me deixe
apodrecer. Se eu der frutos, cortem pela raiz.
Aceito doações em dinheiro, bens móveis e imóveis.
Aceito ações, royalties, ser incluído em inventários e testamentos. Aceito
promoções, publicidades, divulgações. Aceito tudo. Junto com o que você doar,
aceito quem administre tudo e me preste contas de vez em quando.
Aceito representações e quem me defenda perante a vida, olho gordo e
tribunais. Estou de braços abertos, aceitando tudo que vier de bem.
O fim do mundo está próximo. Ontem eu vi um duende
no quintal de minha casa e ele me disse, através de mímica, que deste ano a
terra não passa.
Vou aprendendo e desaprendendo, todos os dias...
Limpo a memória e começo tudo de novo.
Paz Eterna
A Funerária Viagem Sem Volta, também conhecida como
Viagem Final e Sem Direito a Retorno está vendendo caixões em sistema de
consórcio. Uma prima minha deu a maior sorte da vida. Comprou um carnê e no dia
que venceria a primeira prestação saiu desesperada para pagar, com medo de
perder o direito a bônus (caixão para criança) e as regalias de um bom enterro.
No meio do caminho foi sorteada, nem precisou pagar mais nada. A família ficou
super feliz, pois não gastaria com a cerimônia fúnebre. A prima querida recebeu
um caixão forrado de veludo roxo, um pacote de velas brancas, dois pacotes de
biscoito poça-zói, três quente-frio de café preto, uma coroa de flores e quatro
velhas para chorar no enterro. Eta sorte!
Barragem de Café
Foi sugerido para uma instituição federal baixar um
decreto proibindo o cafezinho para funcionário público. Com a medida seriam economizados 200ml de café por
dia para cada funcionário. Pelas contas, cada pessoa gastaria, em uma semana,
1litro da bebida. Ao fim de um mês, quatro litros, e, ao final de uma
no, 48 litros de café. Depois de 35 anos de serviço, seriam 1680
litros economizados, sem falar em açúcar + Energia/Gás + copo/xícara +
salário cozinheira + água pra lavar xícaras, chaleira + Roças de Cana de Açúcar
– Cafezais – Água nas barragens – transporte etc.
Engarrafamento
Há quem esqueça que o sistema de trens no Brasil
foi desmantelado para dar lugar a fábricas de automóveis. Há quem defenda a
vinda de mais fábricas de carros para o Brasil, para gerar emprego. Há quem não
invista em transporte público de qualidade (rapidez, conforto, segurança). Há
quem faça propaganda de carros na TV como o passaporte para um mundo mágico e
valorizado. Há quem diga que shopping é lugar seguro e barato. Há quem diga que
o problema é do cidadão e não do governo. Há quem diga que o problema é do
governo e não do cidadão. E eu fico ouvindo o vai e vem das promessas de
políticos; ouço o eleitor xingar o candidato que prometeu mundos e fundos. E eu
vejo vinte anos passarem; quarenta anos passarem...
Encruzilhada
Se eu curtir, compartilhar e comentar, acham que
estou querendo puxar o saco, 'cantar', 'ficar', namorar. Aí, logo postam uma
foto ao lado da pessoa amada, para me tirar de tempo... Outros fingem que não
viram a ‘curtida’, nem mesmo o comentário.
Se eu não curtir, compartilhar e comentar, acham
que estou sendo esnobe, 'me achando', não dando a mínima...
Coletivo
Eu penso a literatura como uma corrente em que cada
elo é importante. Tem elo, entretanto, que prefere ser estrela, soltar as mãos
e mergulhar no oceano da ilusão individualista; tem elo que só se aproxima para
os flashes; tem elo que fecha os olhos e não enxerga ninguém do lado; tem elo
que se basta por si só... Nesse coletivo de individualidades e egos lustrados,
de elos com mãos escorregadias, vou tentando não me afogar, querendo me
encontrar no meio dos outros elos... Tento arrastar comigo os que quiserem vir,
mas o trabalho de convencimento é duro e nem sempre com sucesso. Alguns
caminham juntos, até onde lhes convém; outros vão chegando, chegando, e nunca
colam de verdade; tem uns que olham de longe, têm medo de chegar. O elo mais
importante, o leitor, é como um espelho em que todos querem se mirar. O espelho
é pequeno, só pode refletir uma imagem de cada vez. Na briga para ficar na
frente do espelho, nem todos se esforçam para seduzi-lo, querem apenas ser
refletidos. Esquecem, até, de lustrar ao superfície plana do espelho...
Enquanto isso, a literatura se arrasta, gira em
círculos, não sai da fronteira que amarra imaginações, sonhos, inspirações.
Involução
(Galinha Pulando)
Criança-essência: eu caçava quem me desse um
sorriso, me puxasse pelo braço, me apertasse num abraço e me desse proteção e
carinho.
Adoles-essência: eu caçava quem queria aventura,
desabafo, adrenalina, descarregar tensão e aumentar o tesão dia e noite.
Juventude-essência: eu caçava quem já podia ir à
balada, curtição e descarregar a tensão no fim da noite.
Adulto-essência: eu caçava quem queria conversar,
ficar abraçado, fazer sexo uma vez por semana e espreguiçar o resto do tempo.
Envelhe-essência: eu caçava quem queria se deitar,
sentar na poltrona, olhar o tempo e ver a lua.
Evolução: encontrei uma cova com sete palmos de
fundura e um monte de capim plantado em cima de mim.
Salvador é uma cidade negra
Muita melanina
em todos os cantos
No Centro, homenagens:
Avenida Estados Unidos
Avenida da França
Praça da Inglaterra
Rua da Bélgica
Rua Chile
Rua da Suécia
Rua da Argentina
Rua da Polônia
Rua Portugal
Rua da Espanha
Largo de Roma
No subúrbio se esconde a origem:
Rua Guiné (Tancredo Neves)
Rua Moçambique (São Cristóvão)
Rua Angola (Coutos)
Rua Gana (não existe)
Rua Cabo Verde (Ribeira)
Rua dos Negões e das Negonas
Ou Rua dos Afrodescendentes
Não existem...
Vou
turbinar os peitos... Vou colocar cinco litros de silicone em cada peito do
pé... Valdeck Almeida de Jesus
Mosca varejeira fareja quando algo está prestes a
apodrecer. Ela se aproxima, põe o ovos, de onde nascem os 'bichos de moscas'.
Eles, então, comem a coisa, depois de encapsulam e hibernam, esperando nascer.
Nascem, viram moscas e voa, para farejar novas vítimas. Vivem de sugar
energias.
Tem
muros dentro de mim
(Antologia Mundo
Cogito)
O mundo tem muros
Tem muros dentro dos meus olhos
Tem muros nos meus neurônios
Tem muros nos meus pés
Meus muros são cegos
Meus muros são surdos
Meus muros são insensíveis
Meus muros são feitos de carne
Meus muros não comem nem dormem
Meus muros são insones
Estou longe de mim,
com saudade,
querendo me ver no espelho
ou no reflexo da janela do ônibus.
Estou longe de mim,
sem sentir ao menos o ataque cardíaco
que me espera na esquina.
Estou longe de mim,
sem saber se tenho fome,
dor, nostalgia ou vontade de aparecer.
Estou longe de mim,
sem saber pra que direção seguir,
que igreja entrar, que prostituta apedrejar.
Estou longe de mim,
sem dar a mão a quem precisa,
sem chutar o rabo de quem me enche o saco.
Vou ali, me procurar.
vacilo ambulante
o importante é ir nesse vacilo,
sempre, sem cair,
sem levantar,
sem flutuar,
sem pisar no chão
e sem voar.
Todo mundo se fazendo de surdo.
Quem ouve por 'engano', finge que o assunto é
demasiado complexo para compreendê-lo.
Quem enxerga faz de conta que entrou um cisco no
olho.
O pedido de socorro é ignorado. Mais um se vai. E o
discurso da democracia se perpetua.
Tem gente que defende a morte de homossexuais,
enquanto não se debela a seca do Nordeste; tem gente que prefere ver negros
fora das universidades, enquanto não se atender todas as mulheres que precisam
de pré-natal; tem gente que prefere que índios sejam massacrados, enquanto não
se atender aos povos de rua. É, tem gente que não sabe o que significa Direitos
Humanos.
Microconto
Vida é o caminho que nos leva à morte. (Ítalo)
Amalgamar
A mau gamou, a mau gamou, a mau gamou. Terminou ao
mau gamado.
SEABRA
É a ong que orienta a abrir o próprio negócio.
Última vez
Não aguento mais ser cavalgado como se fosse uma
vaca leiteira, uma galinha ou leitoa.
Atalho
Toda lonjura se aproxima quando eu chego perto.
Orgia
Se eu tivesse vinte anos eu poderia dar para vinte
homens ao mesmo tempo.
Lei Seca
Faz tempo que está em vigor no nordeste. (Marcelino
Freire)
Lei Seca
Vai uma? Não vou, bebê, vou dirigir.
Máscara
De tanto sorrir o mesmo sorriso sua expressão
facial virou um só riso.
Memória Cabeluda
A primeira mulher barbada a gente nunca esquece.
Quase Cinco
Perdeu um dedo no corte de cana.
Des – Canso
Ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio,
ócio, ócio. Dez – Cansei.
Amor-Tecendo
Amor-Teceu, Amor-Teceu, Amor-Teceu,
Enrolou, enrolou, enrolou
E não amou ninguém
Ciranda cirandinha
A música dançou com o circo, que brincou com o
teatro, que leu o livro, que ouviu a música.
Poliglota
itinerante
Aprendeu caminhos,
línguas, manhas. Foi à Alemanha e aprendeu a ler mão.
Mutante
A cada dia pintava um
rosto e a cada dia via outro rosto no espelho.
Literatura
Onde estiver dois ou
três falando em meu nome, aí eu estarei.
Despedida ou
Ressurreição
Primeira vez que não
sinto falta e nem
as paredes me esmagam
Primeira vez que não
choro nem
quero voltar para ti,
espelho
Primeira vez que a
sombra da
ausência não parece
fantasmas
nem me assusta com o
fim.
Primeira vez que me
sinto inteiro
independente,
sozinho.
06 de abril de 2013
Partiu deitada e
inerte; olhos vidrados, mãos postas, corpo gelado. Fui junto e enterrei minhas
emoções quando morreu minha mãe.
A mão decepada me
acariciou, mas eu não vi o corpo ao qual pertencia aquela mão.
Eu preciso de trinta
e seis milhões de reais para comprar umas coisas pra mim, uma casa no exterior,
editar todos os meus livros, comprar umas garrafas de vinho, dar umas gorjetas
a quem precisa.
Interessados mandar
mensagem privada que digo a conta e agência bancária. Obrigado.
São Paulo precisa de
paus-de-araras para o povo fugir para o sertão.
(Antologia Mundo
Cogito)
Vou me casar com uma
porta
Abrirei e fecharei
quando quiser
E não me incomodo com
quem
Entra e não sai sai e
não entra
Não me importa se ela
fala
Se tem buraco de
fechadura
Se tem falo se fica
duro/dura
Vou me casar com uma
porta
E não quero saber de
entra e sai
Não quero saber de
entradinha
Nem de vizinha, nem
vizinho
Vou me casar com uma
porta
Viva ou morta, ou
morta-viva
Ela vai ser minha
aorta
Meu sangue, minha
menstruação
Não quero você por
perto
Me dizendo que sou
burro ou esperto
Vou me casar com uma
morta
Vou me casar com uma
porta
De madeira, vidro,
vinho
Uma porta de
passarinho
Uma viga, uma briga,
uma bosta
Vou me casar com uma
porta
E não quero lei nem
regulamento
Não quero ouvir nem
falar
Não quero ver nem
cagar
Tudo o que quero é me
casar
E ela, muda, surda,
aleijada,
Lambida, polida, não
importa
Vou me casar com uma
porta.
Valdeck Almeida de
Jesus
07 de abril de 2013
Manada
(Antologia Mundo
Cogito)
O zumbido de sempre
Pra sempre
Não há mais lugar na
cova
Mas todos querem
entrar
De capacete, mãos no
volante
Olhos vidrados
Não ouvem o ‘bom dia’
O trânsito para
Mas eles prosseguem
Surdos, cegos,
fingidos
Nada os detém
Nem mesmo o
Engarrafamento
Mais um morto
Amém!
11 de abril de 2013
Chuva que chove tanto
(Antologia Mundo
Cogito)
Molha a terra, inunda
o canto
Sufoca o berro, o
grito, o riso
Chuva que chove tanto
Tanto que chove que
me cala
Me emudece e deixa
triste
Chuva que chove tanto
Que podia regar,
fazer crescer
Também mata, maltrata
Me deixa em pranto
Chuva que chove tanto
Chove, chora,
pranteia
Me faz espanto
Chuva que chove tanto
Molha as mentes, rega
os olhos
Faz lágrimas choverem
também
Querendo os filhos de
volta
Chuva que chove tanto
Apaga, enxuga, meu
pranto
Me dá plantações
No lugar de
inundações
Faz meu povo crescer
Ao invés de matar e
morrer
Oh, chuva que chove
tanto
Leva minha tristeza
pra longe
Enche o mar e os rios
com meu chorar
Derruba minha fome
Não come minha
plantação
Não quebra minha
casinha
Não mata minha
cachorrinha
Oh chuva que chove
tanto
Por que não lava a
mente suja
De quem não cuida do
meu país?
Lava, varre, enxagua
e apaga
Toda a injustiça que
me sufoca
Oh chuva que chove
tanto
Vamos fazer um trato
Chove onde precisa
E deixa meu povo
seguir
Feliz, contente, pra
onde quiser.
Em homenagem ao povo
de Moçambique vítima das cheias do Chibuto
idade mental e
cronológica nem sempre combina com ser alegre, brincalhão ou ser sisudo, mal
humorado e grosso. A tendência das pessoas é querer ENCAIXOTAR todo mundo.
Velho, não pode brincar, se jogar no chão; criança, não pode ter
responsabilidade nem é confiável etc etc... Vivemos o tempo todo querendo
entrar num quadrado e esquecemos que a vida é muito maior que uma caixinha de
regras idiotas...
Mensagem Cifrada
Todo mundo
Se finge de forte
Que sabe o sul
Que sabe o norte
Não teme a vida
Nem a morte
Azar ou sorte
Mas todo mundo
Para e olha
Quando a vida
Passa em gotas
Quando o tempo
Congela
Quando o óbvio
Se desvia
Do caminho
To mundo
Se acha forte
Até que a faca
Seu dedo corte
Sangue é vida
E também família
Seja mãe, seja filho
Seja pai ou seja
irmão
O sangue desce
O pingo mancha
E todo mundo
Que era forte
Agora sofre
Encara e fala
Que a força toda
Era só falácia
Lá vem a patrulha
(Antologia Mundo
Cogito)
Não posso dizer
De belo ou de dor
De samba, pagode
De paz nem de flor
De rock, balada
Favela ou baião
Lá vem a patrulha
De arma na mão
Cabeças e bocas
Vão me atacar
Não posso dizer
Não posso falar
De samba, pagode
Cabeça ou de flor
De manto, de prego
Nem de ditador
Se digo ou se calo
Um sim ou um não
La vem a patrulha
De arma na mão
Meu ouvido não é
penico
(Antologia Mundo
Cogito)
Tem gente que acha
que devo saber de tudo. Tem gente que pensa que sou obrigado a opinar, ouvir,
falar, saber o que disseram, quem morreu, quantos barcos afundaram, se o ônibus
pegou fogo e se há sobreviventes. Tem gente que me obriga a ouvir o som que não
quero, se samba ou bolero, tudo em nome da boa educação. Tem gente que me fala
sobre árvores que caíram, lixo acumulado, floresta verdinha, cavalo atropelado.
Tem gente que me diz do preço do gás, da alta do arroz, tomate e feijão. Tem
gente que me conta o que viu na estrada, a vizinha doente, a outra descarada.
Tem gente que me pede pra fazer oração, divulgar uma festa, ouvir uma canção.
Tem gente que me chama no canto, me diz do seu pai, que a vida tá dura, que
viver não quer mais. Tem gente que me liga, me manda torpedo, dizendo que a
vida vai se acabar. Tem gente que acha que devo saber, de tudo na vida, de tudo
do mundo. Tem gente que me chama e me diz que eu não me importo se o rio
transbordou, se a casa caiu, se o bar já fechou. Mas eu não dou conta, nem mesmo
de mim, nem quero saber de começo nem fim.
Todo brasileiro tem
direito a sete palmos de terra
(Para
Antologia Portugal Minerva 3)
Para famílias de
poucos recursos financeiros, será lançado o Plano Vai Com Deus. Consiste num
carnê mensal de pagamento dos serviços funerários, que inclui caixão, uma caixa
de vela, dois quente-frios de café preto adoçado, uma coroa de flores
artificiais reaproveitáveis, uma cruz de madeira, o caixão forrado de seda
anil, tripés para o caixão e velas, um pacote de biscoito poca zói e a cova em
cemitério popular. Um fotógrafo fará a cobertura e entregará as fotografias em
álbum.
Para os mais
abastados, serão lançados condomínios de luxo, com terreno preparado para
enterro, totalmente arborizado, com mesas e cadeiras, espaço gourmet, capela e
jardim de flores, ao lado da casa, cuja cova já estará pronta, coberta com uma
tampa de cimento e gramado para disfarçar a abertura. Acompanha DVD com um
religioso encomendando a alma do futuro defunto, para o caso de morte súbita e
em feriados, dias em que é difícil encontrar alguém de plantão para fazer as
recomendações finais. A cova ao lado da residência é prática e útil,
principalmente em cidades com grandes engarrafamentos, para evitar que os
parentes saiam no trânsito com o caixão recheado nas costas, sob sol ou chuva.
Para esta classe
econômica, os acompanhamentos são frutas de época, banda contratada para tocar
as músicas que a família desejar, atores para acompanhar o velório, vinhos,
velas elétricas, flores naturais, caixão reciclável e ao final coquetel para os
familiares e amigos íntimos. Todo o funeral será filmado e entregue à família.
Sonhei com minha mãe
Semana Santa de 2013,
eu viajei para Jequié para passar uns dias com minha família. Sonhei que estava
num lugar imenso, com vários espaços com reuniões. Minha mãe estava tranquila,
serena, toda arrumada com um vestido azul bem claro, de pregas. Eu me distraí
caminhando pelos vários ambientes, olhando as pessoas e prestando atenção ao
que acontecia no lugar. Ao final do evento me lembrei de minha mãe e saí à
procura dela. Quando a encontrei, ela estava bem pertinho de mim e eu não
percebia. Ela falou “Val”, olhe eu aqui. E ficamos conversando, conversando.
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