sábado, 22 de agosto de 2020

Livro Todos os Poemas da página 2318 até página 2412

Antologia Todos os Poemas

Valdeck Almeida de Jesus

Parte 16

 

Versões atualizadas e outras nem tanto


 

Borboletas sem asas

Me sustentam

Na tua presença

E não me deixam

Cair do voo cego

Que me guia.

 

Parque Pituaçu, 29 de setembro de 2012

 

 

Antes de tudo eu era e fui e seria. Depois de tudo eu não soube mais.

27 de setembro de 2012

 

Estou feliz... Vi um passarinho verde voando, voando, voando...

01 de outubro de 2012... Salvador-BA

 

Só pra dizer que pensei em você desde ontem. Estou no TCA vendo uma palestra.

02 de outubro de 2012

 

Embarcações levam e trazem emoções, histórias de vida, sonhos, projetos, amores e saudades. Nelas eu embalo minhas mais profundas aflições, choros, risos, lembranças de dias e noites mal compreendidas, jamais repetidas, pois o tempo não volta, como as marés...

 

Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, 06 de outubro de 2012, lembrando de Angra dos Reis...


 

Copa do Mundo em Salvador

Para além dos conceitos, pré-conceitos, valores locais ou universais, o acarajé, apesar de ser Patrimônio Cultural da Bahia, não pode concorrer com o interesse do capital internacional. Afinal, doa a quem doer, o Big Mac patrocina e dá visibilidade internacional... O que eu pergunto é: onde estão os articuladores brasileiros, publicitários, gestores, defensores da cultura afro, nacionalistas, bairristas e todos os outros istas que não entram com reclamação nos órgãos/entidades competentes para assegurar o direito de comercializar/vender nosso acarajé? Para isso existem todas as instâncias jurídicas e os organismos internacionais. Esse tratamento vai ser o mesmo com o acarajé, o picolé, o churrasco etc etc etc... Se a gente não se articular, não se organizar, não se registrar, não se rebelar, seremos engolidos pelos pasteurizados, pelos enlatados, pelos empacotados...

 

 

São Paulo visto do céu

Mar de prédios... poesia concreta. Voo sem asas, consciência leve. O horizonte é tudo o que temos. E quanto mais voamos, mais distante ele fica...

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

"As horas mortas me arrastam; sem resistência, sem rumo, sem prumo, me deixo levar, querendo ficar. Enquanto isso, as horas sorrisos me esperam num lampejo, mísero segundo, que passa e nem vejo".

 

 

"Vivemos a Ditadura do Politicamente Correto. As pessoas te admiram, te aplaudem, te apoiam, desde que você não opine, não diga o que pensa. Tem que ficar o tempo todo sorrindo, dando beijinhos, abraços e apertos de mão. Na hora que você fala ou escreve, começam a te apedrejar e a se esquivar"... Valdeck Almeida de Jesus

 

Não mais que um segundo, ou terceiro.

Quem sabe, um primeiro...

Num segundo te acho o primeiro e,

No segundo seguinte você volta a ser o primeiro.

 

Primeira, Castelo Branco, 05 de outubro de 2012

 

 

Sem saída

Nada faz a vida

Mudar de rumo;

Pro mais que se empurre, force...

 

10 de outubro de 2012

 

 

Sem inspiração

Eu canto a morte

Espanto a sorte

Me faço forte.

 

10 de outubro de 2012

 


 

Enquanto você engole sapo eu cuspo fogo.

Com o olhar te rogo, imploro uma volúpia.

Quando o jogo termina vou para o vestiário.

E, você, se preparar e se arruma para o segundo tempo

No campo do adversário.

 

10 de outubro de 2012

 

 

 

Que fronteira separa o ser do ser?

Que magia atrai o ter do ter?

Quando o que seduz é o que reduz

O daqui do dali?

 

10 de outubro de 2012

 

 

ENTRETER

ENTRE TER

ENTRE TER

ENTRE TER

ESTOU NA CONTRAMÃO

DO CAMINHO, ONDE

NÃO TEM UMA PEDRA.

 

10 de outubro de 2012


 

Poemas não enchem barrica, mas enchem os olhos de quem lê.

10 de outubro de 2012

 

Paixão, cega.

Equilíbrio, não dá ar.

Mas o trem chega ao destino

Se segue na linha.

10 de outubro de 2012

 

 

Emoção dá tempero à vida

E pode durar muito;

Paixão queima e vira cinza.

10 de outubro de 2012

 

 

A bola corre

O jogo segue

Aqui, meu passo para,

Meu coração diz: para!

Não obedeço

E ele dispara.

Torcida, torcida, torcida

Enquanto a cerveja esquenta.

10 de outubro de 2012

 


 

Nudez...

Me tire a pele

Arranque minha alma

Me desnude por inteiro

E me condene depois.

 

Mas não fale

Não julgue

Não imagine

Nem desconfie.

 

Estou pronto ao martírio

A ser crucificado

Morto e sepultado

Após você me conhecer.

 

17 de outubro de 2012

 

"Tudo posso naquele que me patrocina" (Cartão Internacional, não tem preço)

 

"Os intelectuais, sabichões e donos da verdade afirmam que o povo não sabe votar, o povo não sabe o que é cultura, o povo não sabe nada. Seria interessante e proveitoso que, ao invés de falar merda, esses deuses fossem às favelas, becos e vielas ensinar o que eles sabem. Certamente aprenderiam muito mais com o povo.

Valdeck Almeida de Jesus"


 

 

Fila é uma instituição humana. Mas os elefantes também andam em fila.

 

Sorria, você está sendo manipulado.

 

Cada um por si e Deus por Ele mesmo.

 

Vou vender minha cidadania... Quem quer comprar? Não tenho vergonha de ser brasileiro, tampouco de ser nordestino, baiano e jequieense. Mas não aguento mais o lenga-lenga de conterrâneos que nunca fizeram nada pelo outro e fica enchendo o saco fazendo campanha para "A", "B", "C"... como se o futuro da Nação-Estado-Cidade fosse uma questão esportiva em que, após a partida, a vida se resumisse em pegar o transporte, ir pra casa e esperar o próximo jogo, eternamente...

 

Não aceito choro nem vela quando eu morrer. Não espero condecorações, medalhas, matérias em blogs, jornais etc. Prefiro a pobreza de afeto, carinho e atenção em vida. Depois de morto, mande pra porra qualquer lembrança!

 

Interessante como as pessoas admiram quem é alienado, abilolado, abestalhado, sem noção. Na hora que abrimos a boca e emitimos opinião, falamos o que pensamos, cada um vai fingindo que não viu nem ouviu, calam e se afastam de fininho...

 

Estou vivo, para a alegria de alguns. Para outros, sou um estorvo, uma presença indesejável. Não posso agradar a todos, principalmente quando não sei a quem ou como incomodo, perturbo. Não mudaria para ser politicamente correto, entretanto.


 

O Brasil é um celeiro de talentos

Dança, música, literatura, teatro, cinema, televisão, comida e coração. Não dá para separar expressão artística de emoção. Talvez seja por isso que nossa cultura é tão carismática, tão inventiva. O brasileiro é um povo de alma e coração abertos, cuja maior expressão não se traduz em simples definições técnicas; é preciso ver, ouvir, tocar, saborear, cheirar. Sim, pois nossa cultura impregna os cinco sentidos, penetra na alma, encanta a gregos e troianos.

Seja através de um gingado, um batuque, um tempero na comida, um acorde musical, um passo de dança, expressões literárias, nossa cultura faz um show e marca presença. Não é por menos que o mundo olha para o Brasil, faz intercâmbio e se aproxima cada vez mais do continente que abraça a todos, de qualquer nação, língua ou origem.

Viva o Brasil e sinta na pela o que é ser feliz...

Valdeck Almeida de Jesus

Em 27 de outubro de 2012  Para Ronald Muzzangue

 

Passo a vida correndo atrás dele. Não o vejo passar. Quando penso que já o alcancei, o tempo passa e eu vejo que envelheci.

 

Estou num mundo encantado... Lugar onde as coisas são mágicas... Aqui a fantasia impera, pessoas voam e prédios flutuam... Magic Land. Estou na Terra de Pinóquio: Brasília.  Ass. Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

A vida não é uma equação. Qualquer resultado está correto.

 


 

Teus olhos

 

Me apaixonei

Não sei nome, idade

Profissão, situação,

Endereço, cidade

 

Vi teus olhos no escuro

Fiquei fascinado, apaixonado,

No momento, seguro;

Em seguida, confirmado.

 

Vi teus lábios, em formação

Apaixonantes, delirantes

Que dizer ao coração?

 

Que não conheço,

Não serei amante?

Que fazer dessa paixão?

 

 

Sem consciência, novembro de 2012

 


 

Felipe

 

Cuatro años

 

En otro país

Mas lo siento como

El tempo no tenga passado

Las mismas necesidades

Los mismos sentimientos

Como en la primera vez

Que yo te he visto

Cuatro años atrás.

 

 

For Years

 

Far away from me

It seems to the time didn’t pass

The same needs, the same feelings

As the first time I saw you

Four years ago.

 

13 de novembro de 2012

For a da arte não há salvação.

 

 

Eu também adoro sombra, e nunca plantei uma árvore sequer... e talvez nunca plante...


 

O facebook, o orkut e outras bostas nos proporcionam instantaneidade, imediatismo... Por um lado, bom. Mas muitas vezes a gente vai repetindo, 'curtindo' e compartilhando as coisas por osmose, sem parar para dar uma olhada, uma criticada... 
Se criticar, analisar e olhar direito é azedume, então estou eternamente azedo.
Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

 

 

Tem gente que te conhece só para pedir favor: leia meu texto, faz uma crítica, manda uma resenha, divulga meu trabalho, visita minha sogra, segure aqui pra mim... Na hora que você pede algo, por mais simples que seja, acreditando que a pessoa é sua amiga, ela simplesmente inventa que a mãe morreu, está ocupadíssima com um trabalho super complexo e urgente, não entende do assunto, faz de conta que não viu, te ignora ou simplesmente fica OFF. Não dá para agradar a todos nem ficar sorrindo o tempo todo, mas a gente sente quando é sacanagem o que fizeram... Valdeck Almeida de Jesus


 

Poema Politicamente Incorreto

(Galinha Pulando)

 

Sou preto, pobre e aleijado

Nasci na favela e comi lixo

Igual ao homem do poema

Confundido com o um bicho.

 

Pai maluco e mãe paraplégica

Passei fome e humilhação

E o politicamente correto

Não mudou meu aleijão.

 

Descaso de autoridades

Fui pisado pelo povo

Com desdém da sociedade.

 

Não quero penalidade

Eu quero reparação

Eu quero dignidade.

 

Salvador, 20 de novembro de 2012

 


 

Pós Lida

 

Queremos ir

Queremos ir

Queremos vir

Come with me

Dear sir.

 

22.11.2012 Praia Sebo dos Livros

 

 

I can’t hear yoy

But I’ll clap

When the people do that

For sure!

 

22.11.2012 Praia Sebo dos Livros


 

Meu

Verso

Não tem

Movimento

Nem rima;

Meu verso morreu

Na cronologia

Da legitimação;

Não é tradição

Nem inovação.

Não rompe com o “status quo”

Nem propõe caminhos;

Só pedras

E pedras.

 

22.11.2012 Praia Sebo dos Livros

Não tem aranha

Não tem manha

Nem amanhã

Nem há manhã

Nem amanhã

 

Mas o agora

Absoluto

Sem noção,

Me recompensa.

 

22.11.2012 Praia Sebo dos Livros


 

Letras

 

O que a língua pode

Fragmentos do pensar

Exercícios de pensamentos

Imagens desconexas

Sem resolução

Sem conexão

Pois sou muito novo/imitação

Somente 80 anos.

Meu álibi é esse

A língua fode

A língua pode

Em preto

Em branco

Fala e simetria.

Meu falo não pode

A coxinha apaga o tesão

Que a língua

Não exprime.

 

22.11.2012 Praia Sebo dos Livros

 


 

Carne fresca

(Galinha Pulando)

 

Adoro carne fresca

Assada, cozida, crua,

Tostada, queimadinha,

Estendida na cama, nua.

 

Carne jovem, morena,

Carinhosa, saborosa,

Macia, quente, suculenta,

Marrom, vermelha, rosa.

 

Tatuada ou toda limpa,

Lisa, crespa, enrugada;

Mas que seja bem amada.

 

Fatiada ou peça inteira,

Peças pequenas ou postas;

Seja de frente ou de costas.

 

23 de novembro de 2012


 

Sem Consciência

 

Entre telas e teclados

Olhos negros, poéticos, me olham;

Sem óculos, sem íris, sem roupa.

 

Olhos nus, despidos de maldade,

Apenas me sorriem, me empolgam;

Segundos, milésimos, duram...

 

Suspiros, pensamentos, emoção...

Sangue nos olhos, no corpo, no coração.

Duração eterna, entre teclas e teclados...

 

Para Luís Ricardo S.

21.11.2012

 

 


 

O individualismo é anterior a qualquer sistema político ou econômico, pois é a base da sobrevivência. O homem não é um ser social. Tudo é construção de ideólogos.

 

Quanto mais eu conheço os baianos, mais eu amo os mineiros.

BH, 08.12.2012

 

Eu com frio, sono, fome, sentado numa mesa de lanchonete de esquina, em Belo Horizonte, querendo desaparecer. Meus amigos, animados, embarcam numa sessão nostalgia, lembrando dos desenhos animados dos anos sessenta; da falta de censura na TV; precocidade das relações afetivas de crianças, jovens e adolescentes.

Tampo os ouvidos e finjo prestar a atenção a tudo. De vez em quando, um meneio de cabeça, concordando com não sei o que.

BH, 09.12.2012

Quem é dono de empresa de sopa não pode dar sopa.

 

Gmail > Verbo gemer no afirmativo imperativo: Gemei-o.

 

 

Antes de colocar policiais nas ruas precisamos dar condições de sobrevivência à população... Sem comida, sem habitação, sem saúde, sem escola, eu iria para o crime, eu seria um dos números das estatísticas que a polícia e a justiça, juntamente com a imprensa, divulgam: mais um morto na favela. Sem pistas dos assassinos, mas a suspeita é que o morto tinha envolvimento com o tráfico de drogas.

Com alguém: prisão

Sozinho: angústia

Solteiro ou casado

Sinto-me entre grades.

 

02.09.2011. Voo Gol 1853

 

 


 

Equação difícil de resolver:

Sexo

Amor

Tesão

Prazer

Fidelidade

 

06.11.2012, 12:48h


 

Abre a Boca, Calabar

Caros amigos. Este é um trabalho que dá muito prazer, pois, ver o olhar dessas crianças, tão atentas, tão interessadas em poesia, só nos enche de alegria... Esta é uma sensação que divido com todos vocês, que, de forma direta ou indireta, colaboram para a formação do meu ser... Muito obrigado.

 

Eu tento fazer minha parte, mesmo que de forma simples... com ou sem recursos. Este já é o terceiro ano do projeto, com encontros esporádicos, mas de aproximação, sedução e compartilhamento de poesia... Juntos, podemos muito mais... E há outras tantas crianças, em tantos outros bairros, favelas, becos e vielas esperando por poetas... Cada uma com uma fome, um lamento, um choro. Quem chegar primeiro pode seduzir um ser especial desse para sempre. Antes que chegue a droga, a arma, antes que sejam cooptadas para o tráfico de drogas, roubo a ônibus, antes de tudo, deve chegar um poeta com um poema. O futuro é agora!

Eu sou o desconforto que te acolhe; a língua que te maldiz. Sou o sono que te entorpece e os olhos que te cegam.

 

No meu trevo de quatro folhas você é a quarta folha, inexistente.

(Facebook)

 


 

Masmorra Divina

 

Quebrou a cruz

Cuspiu na cara de Deus

Perdoou Pedro três vezes

E matou os outros profetas.

Depois se trancou no Mosteiro.

19.12.2012

 

 


 

Amor Circular

 

Aprendeu latim

Falou latim na faculdade

Escreveu um livro em latim

Fez um poema em latim

Botou um anúncio em latim

Encontrou um amor em latim

Amou em latim

Se entediou em latim

E se matou, como o latim.

 

19.12.2012


 

As Flores de Irajuba

 

Irajuba está na contramão

De onde você vier

Cuidado com o caminhão.

A ponte, que liga,

Pode ser a destruição.

Sobreviver em Irajuba,

Sem comércio, sem turismo,

Sem lavoura, sem indústria,

Pode ser difícil ou não.

Sobreviver em Irajuba,

Só por acidente, é fato:

Mais um caminhão se espatifa

No asfalto.

 

18.12.2012


 

Hoje é Natal

Comemoração

Lembranças

Reencontros

Missa do Galo

Abraços e Presentes

O cágado dando voltas no quintal

Bolo, refrigerante,

Alguém morreu, alguém nasceu

Festa na rua de baixo

Amanhã é dia de trabalhar

E o cágado dando voltas no quintal

Trocas de amenidades

Amigo Secreto

Abraços e presentes

E o cágado dando voltas no quintal

Hoje é Natal

 

Santo Amaro-BA, 25 de dezembro de 2012

 

 

 


 

Descarrilando

(Facebook)

Estou longe de todas as estradas, fugindo de todos os caminhos, evitando setas e indicações. Não quero rumo nem quero salvação. Prefiro o risco das apostas, becos furtivos, sombrios e perigosos. A vida é urgente, não tenho tempo para pensar, nem escolher, vou indo, na enxurrada, no lixo, na podridão. Afinal, qualquer que seja o destino vou virar banquete dos vermes!  Valdeck Almeida de Jesus.


 

Mundo encantado

(Galinha Pulando)

 

Faz de conta que o amor existe

Faz de conta que a paz existe

Faz de conta que fadas existem

Faz de conta que solidariedade,

Piedade, remorso, traição, mentira,

Abandono, fidelidade, Deus,

Fim dos tempos, democracia,

Neutralidade, duendes, Papai Noel existem.

Faz de conta que faz de conta existe

E viva, viva, viva,

Fazendo de conta que o faz de conta

É só um faz de conta.

 

Jequié-BA, 30.12.2012


 

Imagem e Semelhança

(Galinha Pulando)

 

Porco tem deus com focinho

Galinha tem deus com pé de galinha

Burro tem deus com rabo

Boi tem deus com chifre

Elefante tem deus com tromba

Gambá tem deus fedorento

Zebra tem deus listrado

Jegue tem deus bem dotado

Siri tem deus que anda de lado

Cobra tem deus rastejante

Homem tem o deus que quiser

Mas prefere à imagem e semelhança

Resolvi acabar com a festinha

Quebrei o espelho.

 

Jequié-BA, 01.01.2013


 

Está agonizando, em seus últimos dias, morre não morre, com um pé na cova, já batendo o pé na cerca, indo comer capim pela raiz, o ano 2012.

 

A realidade não é apenas o que o jornal diz, o que a TV diz, nem o que foi 'abençoado' por quem compilou livros 'sagrados'. A realidade é bem maior, apócrifa ou não. Valdeck Almeida de Jesus.


 

Agonia Só

(Galinha Pulando)

 

Vivi, vivi, vivi, vivi
Festa, solidão, alegria, tristeza,
Alegria, alegria,
Bebi, bebi, bebi, bebi,
Procurei Jesus,
Sofri, sofri, sofri, sofri,
Tudo o que fiz, me arrependi,
Sofri, sofri, sofri, sofri,
Fiz de novo, fritei ovo,
Comi jaca, sofri de novo,
Vivi, vivi, vivi, vivi
Casado, dormi.
Sofri, vivi, sorri, de novo.
Procurei Ele, e nada,
Só pedrada, sorri.
Que nada, vida é viver
Vivi, vivi, vivi, vivi,
Nada de arrependimento,
Nada de sofrimento,
Amanhã me confesso, confesso.
Depois, resta-me o universo,
Viverei, sofrerei, chorarei, e nada,
Sexo, sexo, sexo, sexo
Dez, vinte, duzentos,
Até quanto não sei se aguento,
Mil, cinco mil, de novo, de novo,
Ai, que bom. Viver é que é bom.

É Natal.

Poema Erótico

Me, Teu

Me, Teu

Me, Teu

Me, Teu

Me, Teu

Me, Teu

Me, Teu.

Te, Meu

Te, Meu

Te, Meu

Te, Meu

Te, Meu

Te, Meu

Te, Meu

Tell ME,

Foi bom pra você?

(Postado no Facebook)

 


 

Com pedras no meio do caminho, com pedras à beira da estrada, com pedras sendo atiradas de todos os lados, com pedras na cabeça, pedras nos rins, pedras alimentando nossa fome de poesia, com pedras de sal das estátuas de quem olhou para trás, com pedras, sem medo das perdas, seguindo o caminho, em círculo em linha reta, vamos todos, nessa caminhada, chutando o balde, quebrando as pedras, seguindo, cantando e caminhando, caminhando e cantando, pois sem pedras e sem perdas, o caminho não teria graça... Valdeck Almeida de Jesus, 21.12.2012, no meio do fim.

(Postado no Facebook)

 


 

Resolvi adotar uma causa

Objetivamente, lutei por tudo e por todos

Quebrei muros, levantei paredes

Fiz amigos e inimigos

Escrevi obras magníficas

Filosofei feito uma égua no cio

Abri caminhos, fechei estradas

Dei murro na cara de covardes

E criei problemas onde andei

Pacifiquei tensões

Busquei respostas para as dores

Fugi de brigas e refiz caminhos

Fui uma puta, certinha, que não bebia,

Nunca cheirei cola, nem bebia Coca-Cola

Perdi a chance de fumar maconha

Desperdicei minha vez de me drogar de vez

Ao menos eu teria sabido

A morte, o céu da porra que me ensinaram

Nada me ajuda, a porra toda foi não viver.

Carros encalhados no meio da rua

medo de andar de navio

balanço do mar

encalhar, naufragar

afundar no mar

 


 

A vida é assim: em cada esquina, uma interrogação; em cada conquista, uma decepção...

Caminhar, entretanto, é vital. E não adianta se esquivar das responsabilidades. Cada passo, um tropeço; cada topada, uma dor.

E, passo a passo, nosso coração sente que nada valeu a pena, pois as emoções varrem tudo e deixam rastros.

O caminho, ele, sozinho, é que fica, sozinho... E ninguém ouvirá os suspiros, ninguém lamentará a dor, ninguém se lembrará de nada...

 

 

 

 

Filosofar é impreciso, viver, indefinível...


 

Eu e o amor

Eh, comigo não tem barreiras mesmo. E isso as vezes nem eh bom, pois fico 'viajando' o tempo todo, feito um barco à deriva, tentando atracar num porto, noutro.. e vou sendo empurrado pela maré, pra bem longe da costa...

 

 

2013: cobrar para sorrir e para retribuir sorriso; cobrar para apertar mão e por mão apertada; cobrar por bom dia dado e pagar pelos recebidos; cobrar por afeto e pagar por cada sentimento recebido de volta; cobrar por tudo; transformar relações em comércio; cada foto, cada afago, cada suspiro mais profundo ou mesmo raso;


 

Vim fechar o bar

 

Menos emprego

Menos bebida

Tira-gostos

Sorrisos

Som, mesas

Garçom e freguesia

Fechei o bar

Perdi o endereço

E a comanda

Não pedi cerveja

Nem um beijo

Entornei o caldo

E fiquei órfão

Fechei o bar.

 

Jequié-BA, 29 e 30.11.2012

 

 


 

Nas esquinas curvas de Minas,

Perco-me e me encontro.

Quanto mais conheço

A Bahia, mais amo

As Minas Gerais

Minha esquina é você.

 

Belo Horizonte, 08.12.2012

A boiada está tão amestrada que não dá para relaxar um segundo. Logo aparece um espírito de porco e acaba com a festa. Tudo tem que fazer sentido. Aff...

 

 

Da minha janela eu vejo o mundo passar.

 

 

Leitura e Escrita se aprende na prática. A teoria vem, depois, aparar arestas.

 

 

Antes dos 50 quero completar a quarta folha do trevo: já tenho filhos, já plantei árvores (que não vingaram) e escrevi livros (ruins, mas escrevi). Ficar rico não é minha meta, morar em Paris, também não (quem sabe, risos), mas cuidar do coração (emocional), é o principal. Inscrito na vida, com planos de eternidade. Antes dos 50 chego lá. Faltam só três anos.

 

 


 

"Alice não ama. Ela é viciada em adrenalina. Quando fantasia, quando imagina ou sonha com os namorados, o clima e o clímax são sempre muito perfeitos, plenos de emoções. Ao vivo, embaixo de um homem, as fantasias dão lugar a suor, cansaço, canseira, cheiros e sabores estranhos. Melhor, mesmo, é continuar sonhando, sozinha, num canto escuro da casa, imaginando magias entre corpos..." Trecho do próximo livro "Alice no País das Maravilhas", de Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

Minha escrita são incógnitas que nem eu mesmo entendo. Só vou escrevendo, vomitando palavras no papel... um dia alguém pode jogar tudo no lixo ou fazer outdoors pela cidade.

 

 

"Os cheiros da infância insistem em nos recordar tempos que não voltam. O Jeito é se deixar levar pelo vento, esse dono das emoções, e rodopiar ao som de uma orquestra de névoas e neblinas". Valdeck Almeida de Jesus.

(Postado no Facebook)


 

Tem dias

Que três milhões de habitantes

Não é bastante

Que 50km de praias

Não dizem nada

Que 5000 amigos no Facebook

Nem sabem de ti

E as ruas desertas

De uma enorme metrópole

Sinalizam tua solidão

Tem dias

 

Salvador, 13 de janeiro de 2013

(Postado no Facebook)

 


 

De tanto

Me proteger

Das intempéries

Me tornei terreno árido

Mas basta qualquer

Gota d’água

Pra brotar

Minha capacidade

De germinar.

 

30 de janeiro de 2013

(Postado no Facebook)

 


 

Estou pensando no futuro. Não no meu futuro, no futuro da nação, da água potável, da sustentabilidade do planeta. Estou pensando no futuro da próxima notícia e no que as pessoas dirão sobre ela. Ave, Mídia!

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

Sou o que sou, mas o vento pode espalhar imagens que não correspondem a mim. Eu sempre me esforcei para 'mostrar' o que sou, mas, de um tempo pra cá, deixo por conta do vento dizer de mim...

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

Estou de luto pela pelas pessoas que morrem todos os finais de semana nas periferias sociais. Não sei se há investigação pelos crimes, nem se os acusado (quando presos), são condenados e, nesse caso, se cumprem a pena. Estou de luto pela sentença prévia que cada vítima traz consigo quando nasce nas periferias.

 

 

Morri, nasci, morri, nasci, missa de vinte minutos, missa de uma hora, missa de um ano, missa de dois segundos, missa de dois terceiros, morri, nasci, morri, nasci, ressuscitei, vou ali...

Valdeck Almeida de Jesus

 

Pecado. Estou doido para passar pelo fundo de uma agulha. Quem pode me ajudar? Minha vaga na eternidade está à venda em suaves prestações.

...

 

Hoje pode ser o meu dia. Atropelo, assalto, comida estragada em restaurante, topada, batida da cabeça numa pedra, queda num abismo, afogamento, choque elétrico, bala perdida, acidente de carro, explosão de bueiro, pedrada, choque anafilático, pressão alta, pressão baixa, AVC, ataque cardíaco, emoção por encontrar um amor. A morte espreita em todo canto, poema, romance, rima. Hoje pode ser o meu dia.

Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

As pessoas poderiam ser apenas pessoas se vistas pelos quilos de carne e osso que carregam nas costas. Mas quando a olhamos com olhos de gente vemos pérolas.

 

Por que músicos morrem? Música é para se ouvir, embalar a alma. Música é para nos transportar a outra dimensão. Por que músico morre? Talvez eu não seja refinado nem faça parte de uma plateia refinada, mas sei quando sinto e quando não sinto a música me tocar. E hoje senti. Digitália 2013.

 

Só meninas virgens, ingênuas, órfãs, negras, pobres povoam o imaginário das mentes podres dos machos predadores.

 

Onde está a segurança? Andar armado, ter amigos, morar em um condomínio fechado, companhia de amigos, amante ou família; ter dinheiro. Isolamento, estudar. Não saber. Como conciliar desencanto com sonho?... Foram as perdas afetivas, familiares, amores, fome, materiais, espirituais? Necessidade afetiva, espiritual ou auto-punição? O que desencadeia o surto? Já existe uma psicose? Isso é preexistente ou apenas uma predisposição? O isolamento, a solidão, a velhice podem ser fatores que inflam a possibilidade de sofrer?

(Postado no Facebook)

 

Olá, estou escrevendo para avisar sobre minha vida sentimental. Estou solteiro há três anos e meio, mas me enganando e fingindo que estou com alguém.

09 de julho de 2011

 

Patético ver lançamentos de livros em que o autor fica sozinho numa mesa, ou com outros autores em uma grande mesa, enfileirados, esperando ser visto, fotografado, que alguém lhe peça um autógrafo. Isso é vaidade, necessidade de ser visto, golpe? Ninguém lê o livro um do outro. Escrever talvez seja uma terapia, um desabafo, delírio, vício, cobrança de amigos, passatempo, hobby, obrigação, pressão social, mercado, sonho, ilusão, uma tentativa de ser escutado...

 

 

Estou escrevendo um livro sagrado. Nele, não há lugar para sectarismo, separatismo, apartheid, preconceito, discriminação, olhar enviesado, abuso de autoridade, ódio, implicância, prejulgamento, xenofobismo, cisma... Estou escrevendo um livro sagrado.

 

 

 

 

 


 

A orla marítima de Salvador vai ser leiloada

Em viagens pelo Brasil, sempre notei que nas praias há barracas na areia. Cito alguns exemplos: Fortaleza, Aracaju, Maceió, Porto Seguro, Ilhéus, Canavieiras.

Fiquei pensando qual seria o motivo de Salvador não ter barracas de praia. Será que tem a ver com o PDDU e a nova ocupação de prédios na orla? Será que tem a ver com a ganância da indústria de construção civil em 'lotear' nosso litoral? Será que tem a ver com empresários do setor de diversão e alimentação que pretendem transformar as áreas próximas ao mar em novas "SESMARIAS"?

 

 

 


 

A Família Pey

Contam os mais velhos que uma família chinesa se instalou numa cidade do interior, onde os moradores eram muito pobres, em sua maioria. A família investiu muito dinheiro e se instalou no comércio local, empregando muita gente. Mesmo assim alguns habitantes continuaram na miséria e sempre pediam esmolas na porta dos Pey. Para não passarem por esnobes ou mão de vaca, os Pey sempre faziam caridade. Os Pey davam esmolar e isso virou tradição. Até hoje os Pey dão ajuda a quem precisa. Está precisando de ajuda? Vai lá que os Pey dão.

 

 

Pertenço a um mundo à parte, onde não cabe barulho, poluição, movimentos etc. Só reflexão e descanso. Penso igual a todo mundo mas diferente de todo mundo.


 

Me rendo, me vendo

(Postado no Facebook)

 

Qualquer preço

Abraço ou olhar feio

Reclamação

Queixa ou resmungo

Me rendo, me vendo

Esquina fria

Banho de bacia

Com fome de amar

De qualquer mundo

Me rendo, me vendo

Me vendo no espelho

Me rendo: estou bem melhor

Sem os medos do espelho

 

Valdeck Almeida de Jesus

(Postado no Facebook)


 

Ilações, deduções, suposições, invenções. E o conto vira crônica, que vira romance, que vira tragédia, que vira outro conto. E o que eu conto, é, agora, lateralidade; o que eu digo, é, agora, supérfluo. E o que eu digo não é o que eu digo, e o que conto não é o que conta. Vai entender. Eta vida besta, meu Deus!


 

Odeio a vida

Amo a vida

Odeio Facebook e Orkut e Redes Sociais

Amo Facebook e Orkut e Redes Sociais

Odeio a Rede Globo, SBT, Record e outrais tais

Amo a Rede Globo, SBT, Record e outras mais

Obeio BBB, Faustão, Luciano Huck e Silvio Santos

Amo BBB, Faustão, Luciano Huck e Silvio Santos

Odeio música brega, axé, MPB, arrocha, rock, samba...

Amo música brega, axé, MPB, arrocha, rock, samba...

Não gosto de música clássica, cachaça, faculdade

Amo música clássica, cachaça, faculdade

Odeio cultura popular, gente que não tem diploma

Amo cultura popular, gente que não tem diploma

Sou contra política, luta pela vida, democracia

Sou a favor de política, luta pela vida, democracia

Não sou o que gosto nem o que odeio

Não sou o que odeio nem o que gosto

Minha máscara social não muda o mundo

O mundo não muda minha máscara social

Vou morcegar por aí. Se eu cair, me deixe apodrecer. Se eu der frutos, cortem pela raiz.

 

 


 

Aceito doações em dinheiro, bens móveis e imóveis. Aceito ações, royalties, ser incluído em inventários e testamentos. Aceito promoções, publicidades, divulgações. Aceito tudo. Junto com o que você doar, aceito quem administre tudo e me preste contas de vez em quando. Aceito representações e quem me defenda perante a vida, olho gordo e tribunais. Estou de braços abertos, aceitando tudo que vier de bem.

 

 

O fim do mundo está próximo. Ontem eu vi um duende no quintal de minha casa e ele me disse, através de mímica, que deste ano a terra não passa.

 

 

Vou aprendendo e desaprendendo, todos os dias... Limpo a memória e começo tudo de novo.

 

 

 


 

Paz Eterna

A Funerária Viagem Sem Volta, também conhecida como Viagem Final e Sem Direito a Retorno está vendendo caixões em sistema de consórcio. Uma prima minha deu a maior sorte da vida. Comprou um carnê e no dia que venceria a primeira prestação saiu desesperada para pagar, com medo de perder o direito a bônus (caixão para criança) e as regalias de um bom enterro. No meio do caminho foi sorteada, nem precisou pagar mais nada. A família ficou super feliz, pois não gastaria com a cerimônia fúnebre. A prima querida recebeu um caixão forrado de veludo roxo, um pacote de velas brancas, dois pacotes de biscoito poça-zói, três quente-frio de café preto, uma coroa de flores e quatro velhas para chorar no enterro. Eta sorte!

 

 


 

Barragem de Café

Foi sugerido para uma instituição federal baixar um decreto proibindo o cafezinho para funcionário público. Com a medida seriam economizados 200ml de café por dia para cada funcionário. Pelas contas, cada pessoa gastaria, em uma semana, 1litro da bebida. Ao fim de um mês, quatro litros, e, ao final de uma no, 48 litros de café. Depois de 35 anos de serviço, seriam 1680 litros economizados, sem falar em açúcar + Energia/Gás + copo/xícara + salário cozinheira + água pra lavar xícaras, chaleira + Roças de Cana de Açúcar – Cafezais – Água nas barragens – transporte etc.

 

 

 


 

Engarrafamento

Há quem esqueça que o sistema de trens no Brasil foi desmantelado para dar lugar a fábricas de automóveis. Há quem defenda a vinda de mais fábricas de carros para o Brasil, para gerar emprego. Há quem não invista em transporte público de qualidade (rapidez, conforto, segurança). Há quem faça propaganda de carros na TV como o passaporte para um mundo mágico e valorizado. Há quem diga que shopping é lugar seguro e barato. Há quem diga que o problema é do cidadão e não do governo. Há quem diga que o problema é do governo e não do cidadão. E eu fico ouvindo o vai e vem das promessas de políticos; ouço o eleitor xingar o candidato que prometeu mundos e fundos. E eu vejo vinte anos passarem; quarenta anos passarem...

 

 

 

 


 

Encruzilhada

Se eu curtir, compartilhar e comentar, acham que estou querendo puxar o saco, 'cantar', 'ficar', namorar. Aí, logo postam uma foto ao lado da pessoa amada, para me tirar de tempo... Outros fingem que não viram a ‘curtida’, nem mesmo o comentário.

 

Se eu não curtir, compartilhar e comentar, acham que estou sendo esnobe, 'me achando', não dando a mínima...

 

 

 


 

Coletivo

Eu penso a literatura como uma corrente em que cada elo é importante. Tem elo, entretanto, que prefere ser estrela, soltar as mãos e mergulhar no oceano da ilusão individualista; tem elo que só se aproxima para os flashes; tem elo que fecha os olhos e não enxerga ninguém do lado; tem elo que se basta por si só... Nesse coletivo de individualidades e egos lustrados, de elos com mãos escorregadias, vou tentando não me afogar, querendo me encontrar no meio dos outros elos... Tento arrastar comigo os que quiserem vir, mas o trabalho de convencimento é duro e nem sempre com sucesso. Alguns caminham juntos, até onde lhes convém; outros vão chegando, chegando, e nunca colam de verdade; tem uns que olham de longe, têm medo de chegar. O elo mais importante, o leitor, é como um espelho em que todos querem se mirar. O espelho é pequeno, só pode refletir uma imagem de cada vez. Na briga para ficar na frente do espelho, nem todos se esforçam para seduzi-lo, querem apenas ser refletidos. Esquecem, até, de lustrar ao superfície plana do espelho...

Enquanto isso, a literatura se arrasta, gira em círculos, não sai da fronteira que amarra imaginações, sonhos, inspirações.

 

 


 

Involução

(Galinha Pulando)

 

Criança-essência: eu caçava quem me desse um sorriso, me puxasse pelo braço, me apertasse num abraço e me desse proteção e carinho.

 

Adoles-essência: eu caçava quem queria aventura, desabafo, adrenalina, descarregar tensão e aumentar o tesão dia e noite.

 

Juventude-essência: eu caçava quem já podia ir à balada, curtição e descarregar a tensão no fim da noite.

 

Adulto-essência: eu caçava quem queria conversar, ficar abraçado, fazer sexo uma vez por semana e espreguiçar o resto do tempo.

 

Envelhe-essência: eu caçava quem queria se deitar, sentar na poltrona, olhar o tempo e ver a lua.

 

Evolução: encontrei uma cova com sete palmos de fundura e um monte de capim plantado em cima de mim.

 

 


 

Salvador é uma cidade negra

 

Muita melanina

em todos os cantos

No Centro, homenagens:

Avenida Estados Unidos

Avenida da França

Praça da Inglaterra

Rua da Bélgica

Rua Chile

Rua da Suécia

Rua da Argentina

Rua da Polônia

Rua Portugal

Rua da Espanha

Largo de Roma

 

No subúrbio se esconde a origem:

Rua Guiné (Tancredo Neves)

Rua Moçambique (São Cristóvão)

Rua Angola (Coutos)

Rua Gana (não existe)

Rua Cabo Verde (Ribeira)

Rua dos Negões e das Negonas

Ou Rua dos Afrodescendentes

Não existem...


 

Vou turbinar os peitos... Vou colocar cinco litros de silicone em cada peito do pé...  Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

Mosca varejeira fareja quando algo está prestes a apodrecer. Ela se aproxima, põe o ovos, de onde nascem os 'bichos de moscas'. Eles, então, comem a coisa, depois de encapsulam e hibernam, esperando nascer. Nascem, viram moscas e voa, para farejar novas vítimas. Vivem de sugar energias.

 

 

 


 

Tem muros dentro de mim

(Antologia Mundo Cogito)

 

O mundo tem muros

Tem muros dentro dos meus olhos

Tem muros nos meus neurônios

Tem muros nos meus pés

Meus muros são cegos

Meus muros são surdos

Meus muros são insensíveis

Meus muros são feitos de carne

Meus muros não comem nem dormem

Meus muros são insones


 

Estou longe de mim, com saudade,

querendo me ver no espelho

ou no reflexo da janela do ônibus.

Estou longe de mim,

sem sentir ao menos o ataque cardíaco

que me espera na esquina.

 

Estou longe de mim,

sem saber se tenho fome,

dor, nostalgia ou vontade de aparecer.

 

Estou longe de mim,

sem saber pra que direção seguir,

que igreja entrar, que prostituta apedrejar.

 

Estou longe de mim,

sem dar a mão a quem precisa,

sem chutar o rabo de quem me enche o saco.

Vou ali, me procurar.

vacilo ambulante

o importante é ir nesse vacilo,

sempre, sem cair,

sem levantar,

sem flutuar,

sem pisar no chão

e sem voar.

 


 

Todo mundo se fazendo de surdo.

Quem ouve por 'engano', finge que o assunto é demasiado complexo para compreendê-lo.

Quem enxerga faz de conta que entrou um cisco no olho.

O pedido de socorro é ignorado. Mais um se vai. E o discurso da democracia se perpetua.

 

 

 

 

Tem gente que defende a morte de homossexuais, enquanto não se debela a seca do Nordeste; tem gente que prefere ver negros fora das universidades, enquanto não se atender todas as mulheres que precisam de pré-natal; tem gente que prefere que índios sejam massacrados, enquanto não se atender aos povos de rua. É, tem gente que não sabe o que significa Direitos Humanos.

 

 

 

Microconto

 

Vida é o caminho que nos leva à morte. (Ítalo)

 

Amalgamar

A mau gamou, a mau gamou, a mau gamou. Terminou ao mau gamado.

 

SEABRA

É a ong que orienta a abrir o próprio negócio.

 

 

 

Última vez

Não aguento mais ser cavalgado como se fosse uma vaca leiteira, uma galinha ou leitoa.

 

Atalho

Toda lonjura se aproxima quando eu chego perto.

 

Orgia

Se eu tivesse vinte anos eu poderia dar para vinte homens ao mesmo tempo.

 

Lei Seca

Faz tempo que está em vigor no nordeste. (Marcelino Freire)

 

Lei Seca

Vai uma? Não vou, bebê, vou dirigir.

 

Máscara

De tanto sorrir o mesmo sorriso sua expressão facial virou um só riso.

 

Memória Cabeluda

A primeira mulher barbada a gente nunca esquece.

 

Quase Cinco

Perdeu um dedo no corte de cana.

 

Des – Canso

Ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio, ócio. Dez – Cansei.

 

Amor-Tecendo

Amor-Teceu, Amor-Teceu, Amor-Teceu,

Enrolou, enrolou, enrolou

E não amou ninguém

 

Ciranda cirandinha

A música dançou com o circo, que brincou com o teatro, que leu o livro, que ouviu a música.

 

Poliglota itinerante

Aprendeu caminhos, línguas, manhas. Foi à Alemanha e aprendeu a ler mão.

 

Mutante

A cada dia pintava um rosto e a cada dia via outro rosto no espelho.

 

Literatura

Onde estiver dois ou três falando em meu nome, aí eu estarei.


 

Despedida ou Ressurreição

Primeira vez que não

sinto falta e nem

as paredes me esmagam

Primeira vez que não choro nem

quero voltar para ti, espelho

Primeira vez que a sombra da

ausência não parece fantasmas

nem me assusta com o fim.

Primeira vez que me

sinto inteiro

independente,

sozinho.

06 de abril de 2013

 

 

Partiu deitada e inerte; olhos vidrados, mãos postas, corpo gelado. Fui junto e enterrei minhas emoções quando morreu minha mãe.

 

A mão decepada me acariciou, mas eu não vi o corpo ao qual pertencia aquela mão.

 

 

Eu preciso de trinta e seis milhões de reais para comprar umas coisas pra mim, uma casa no exterior, editar todos os meus livros, comprar umas garrafas de vinho, dar umas gorjetas a quem precisa.

Interessados mandar mensagem privada que digo a conta e agência bancária. Obrigado.

 

 

 

São Paulo precisa de paus-de-araras para o povo fugir para o sertão.

 

 

 

 


 

(Antologia Mundo Cogito)

 

Vou me casar com uma porta

Abrirei e fecharei quando quiser

E não me incomodo com quem

Entra e não sai sai e não entra

Não me importa se ela fala

Se tem buraco de fechadura

Se tem falo se fica duro/dura

Vou me casar com uma porta

E não quero saber de entra e sai

Não quero saber de entradinha

Nem de vizinha, nem vizinho

Vou me casar com uma porta

Viva ou morta, ou morta-viva

Ela vai ser minha aorta

Meu sangue, minha menstruação

Não quero você por perto

Me dizendo que sou burro ou esperto

Vou me casar com uma morta

Vou me casar com uma porta

De madeira, vidro, vinho

Uma porta de passarinho

Uma viga, uma briga, uma bosta

Vou me casar com uma porta

E não quero lei nem regulamento

Não quero ouvir nem falar

Não quero ver nem cagar

Tudo o que quero é me casar

E ela, muda, surda, aleijada,

Lambida, polida, não importa

Vou me casar com uma porta.

 

Valdeck Almeida de Jesus

07 de abril de 2013

 

 


 

Manada

(Antologia Mundo Cogito)

 

O zumbido de sempre

Pra sempre

Não há mais lugar na cova

Mas todos querem entrar

De capacete, mãos no volante

Olhos vidrados

Não ouvem o ‘bom dia’

O trânsito para

Mas eles prosseguem

Surdos, cegos, fingidos

Nada os detém

Nem mesmo o

Engarrafamento

Mais um morto

Amém!

 

11 de abril de 2013


 

Chuva que chove tanto

(Antologia Mundo Cogito)

 

Molha a terra, inunda o canto

Sufoca o berro, o grito, o riso

Chuva que chove tanto

Tanto que chove que me cala

Me emudece e deixa triste

Chuva que chove tanto

Que podia regar, fazer crescer

Também mata, maltrata

Me deixa em pranto

Chuva que chove tanto

Chove, chora, pranteia

Me faz espanto

Chuva que chove tanto

Molha as mentes, rega os olhos

Faz lágrimas choverem também

Querendo os filhos de volta

Chuva que chove tanto

Apaga, enxuga, meu pranto

Me dá plantações

No lugar de inundações

Faz meu povo crescer

Ao invés de matar e morrer

Oh, chuva que chove tanto

Leva minha tristeza pra longe

Enche o mar e os rios com meu chorar

Derruba minha fome

Não come minha plantação

Não quebra minha casinha

Não mata minha cachorrinha

Oh chuva que chove tanto

Por que não lava a mente suja

De quem não cuida do meu país?

Lava, varre, enxagua e apaga

Toda a injustiça que me sufoca

Oh chuva que chove tanto

Vamos fazer um trato

Chove onde precisa

E deixa meu povo seguir

Feliz, contente, pra onde quiser.

 

Em homenagem ao povo de Moçambique vítima das cheias do Chibuto

idade mental e cronológica nem sempre combina com ser alegre, brincalhão ou ser sisudo, mal humorado e grosso. A tendência das pessoas é querer ENCAIXOTAR todo mundo. Velho, não pode brincar, se jogar no chão; criança, não pode ter responsabilidade nem é confiável etc etc... Vivemos o tempo todo querendo entrar num quadrado e esquecemos que a vida é muito maior que uma caixinha de regras idiotas...

 


 

Mensagem Cifrada

 

Todo mundo

Se finge de forte

Que sabe o sul

Que sabe o norte

Não teme a vida

Nem a morte

Azar ou sorte

Mas todo mundo

Para e olha

Quando a vida

Passa em gotas

Quando o tempo

Congela

Quando o óbvio

Se desvia

Do caminho

To mundo

Se acha forte

Até que a faca

Seu dedo corte

Sangue é vida

E também família

Seja mãe, seja filho

Seja pai ou seja irmão

O sangue desce

O pingo mancha

E todo mundo

Que era forte

Agora sofre

Encara e fala

Que a força toda

Era só falácia


 

Lá vem a patrulha

(Antologia Mundo Cogito)

 

Não posso dizer

De belo ou de dor

De samba, pagode

De paz nem de flor

De rock, balada

Favela ou baião

Lá vem a patrulha

De arma na mão

Cabeças e bocas

Vão me atacar

Não posso dizer

Não posso falar

De samba, pagode

Cabeça ou de flor

De manto, de prego

Nem de ditador

Se digo ou se calo

Um sim ou um não

La vem a patrulha

De arma na mão


 

Meu ouvido não é penico

(Antologia Mundo Cogito)

 

Tem gente que acha que devo saber de tudo. Tem gente que pensa que sou obrigado a opinar, ouvir, falar, saber o que disseram, quem morreu, quantos barcos afundaram, se o ônibus pegou fogo e se há sobreviventes. Tem gente que me obriga a ouvir o som que não quero, se samba ou bolero, tudo em nome da boa educação. Tem gente que me fala sobre árvores que caíram, lixo acumulado, floresta verdinha, cavalo atropelado. Tem gente que me diz do preço do gás, da alta do arroz, tomate e feijão. Tem gente que me conta o que viu na estrada, a vizinha doente, a outra descarada. Tem gente que me pede pra fazer oração, divulgar uma festa, ouvir uma canção. Tem gente que me chama no canto, me diz do seu pai, que a vida tá dura, que viver não quer mais. Tem gente que me liga, me manda torpedo, dizendo que a vida vai se acabar. Tem gente que acha que devo saber, de tudo na vida, de tudo do mundo. Tem gente que me chama e me diz que eu não me importo se o rio transbordou, se a casa caiu, se o bar já fechou. Mas eu não dou conta, nem mesmo de mim, nem quero saber de começo nem fim.


 

Todo brasileiro tem direito a sete palmos de terra

(Para Antologia Portugal Minerva 3)

 

Para famílias de poucos recursos financeiros, será lançado o Plano Vai Com Deus. Consiste num carnê mensal de pagamento dos serviços funerários, que inclui caixão, uma caixa de vela, dois quente-frios de café preto adoçado, uma coroa de flores artificiais reaproveitáveis, uma cruz de madeira, o caixão forrado de seda anil, tripés para o caixão e velas, um pacote de biscoito poca zói e a cova em cemitério popular. Um fotógrafo fará a cobertura e entregará as fotografias em álbum.

 

Para os mais abastados, serão lançados condomínios de luxo, com terreno preparado para enterro, totalmente arborizado, com mesas e cadeiras, espaço gourmet, capela e jardim de flores, ao lado da casa, cuja cova já estará pronta, coberta com uma tampa de cimento e gramado para disfarçar a abertura. Acompanha DVD com um religioso encomendando a alma do futuro defunto, para o caso de morte súbita e em feriados, dias em que é difícil encontrar alguém de plantão para fazer as recomendações finais. A cova ao lado da residência é prática e útil, principalmente em cidades com grandes engarrafamentos, para evitar que os parentes saiam no trânsito com o caixão recheado nas costas, sob sol ou chuva.

 

Para esta classe econômica, os acompanhamentos são frutas de época, banda contratada para tocar as músicas que a família desejar, atores para acompanhar o velório, vinhos, velas elétricas, flores naturais, caixão reciclável e ao final coquetel para os familiares e amigos íntimos. Todo o funeral será filmado e entregue à família.

 

 


 

Sonhei com minha mãe

 

Semana Santa de 2013, eu viajei para Jequié para passar uns dias com minha família. Sonhei que estava num lugar imenso, com vários espaços com reuniões. Minha mãe estava tranquila, serena, toda arrumada com um vestido azul bem claro, de pregas. Eu me distraí caminhando pelos vários ambientes, olhando as pessoas e prestando atenção ao que acontecia no lugar. Ao final do evento me lembrei de minha mãe e saí à procura dela. Quando a encontrei, ela estava bem pertinho de mim e eu não percebia. Ela falou “Val”, olhe eu aqui. E ficamos conversando, conversando.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário