sábado, 22 de agosto de 2020

Livro Todos os Poemas da página 2519 até página 2618

Antologia Todos os Poemas

Valdeck Almeida de Jesus

Parte 18

 

Versões atualizadas e outras nem tanto


 

Ninguém chega ao topo sozinho

Mesmo que não enxergue

Ou finja não ver

Ao longo do caminho

 

Ninguém chega ao topo sozinho

Mesmo que não enxergue

Diversidade de cores

E de bastidores

 

Ninguém chega ao topo sozinho

Mas cair todos podem

Se achar que o poder

O mantém no caminho

 

Ninguém chega ao topo sozinho

E nem lá se mantém

Sem ajuda de ninguém

E nem lá se mantém, sozinho

 

Salvador, 27 de novembro de 2013

Valdeck Almeida de Jesus


 

HAI KAI> O RAI não cai duas vezes no mesmo lugar. RAI que KAI.

 

 

Pedaladas. Cinco por cento dos meus amigos não sabem andar de bicicleta. O restante tem artrose, problema de coluna, osteoporose, preguiça, acorda tarde, mania de doença ou recomendação médica para não fazer esforço.

 

Disciplina: Obssessiva, metódica, chata, sistemática, compulsiva, organizada, adestrada.

 

Os dez mandamentos da Lei de Deus são dois: não quero saber e tenho raiva de quem sabe.

 

Colado atrás é redundância. Cola é trazeiro.

 

Água em pó. Invenção do milênio. O “químico” Valdeck Almeida de Jesus criou a água em pó, que vai revolucionar o problema da seca e dos desertos. Para transportar é fácil, armazenar, idem. Na hora de usar, basta usar um litro de água líquida para cada quilo de água em pó para dissolver.

 

"Me curta que eu te (a)longo". Valdeck A. Jesus

 

Carlos Alberto Barreto Barreto, Marly Caldas e todos os amigos e amigas escritores(as), poetas etc... Jorge Baptista Carrano, somos todos lados pares e ímpares das moedas diversas dessa nossa arte/cultura/literatura. Cada um de nós todos, como pode e como entende, cada um, como compreende e em sua medida, dá o máximo para este processo coletivo. Diferenças nunca deixarão de existir, egos, ids e superegos, idem; somos todos humano. O bonito de tudo isso é participar do processo.

 

 


 

Cento e quarenta toques: enfileirados, cento e quarenta homens esperam o exame de toque. Cento e quarenta dedos penetram, examinam: tudo ok.


 

Rua da Palha

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

E também do barro

poeira e pó

de gente sem eira

nem beira

nem pena nem dó

Rua da palha

e da fome

que comia mulher

e comia homem

Rua da pobreza

da doença

da tristeza

rua sem pedra

nem pau

calçada com merda

e espinho

onde a morte

roía os ossos

dos pobres diabos

mulambos de gente

ô povo insistente

que teima em viver

quando a fome

e doença

a falta de crença

quer todos na terra

embaixo da terra

pra acabar com a guerra

de não ter o que comer...

 

Rua da palha

sem telha e sem calha

sem chuva nem água

nem para beber

terreno baldio

pra gente sem brio

pra pobre morrer

Ali a criança

brincava contente

com a pança vazia

sem mesmo saber

que a fome comia

a sua esperança

que o seu futuro

jogado em dadinhos

ia ser no monturo

 

Salvador, 03 de dezembro de 2013

Minha Rua, Rua da Palha, Jequié-BA


 

Poesia no IML

 

Tanato

Internato

Eterna prisão

É tudo na vida

Preparo

Formol

Roupagem

Lençol

É pura ilusão

Viver sem morrer

Sem passamento

Perecimento

Esquecimento

Sobre ou sob

O frio cimento

Choros, velas

E lamentos

Falecimento

Deteriorar

Destituir

Apodrecimento

Tanato

Putrefato

Fim

 

IML, 04 de dezembro de 2013


 

SOLILÓQUIO. Pasteurização. Tudo limpo, tudo esteticamente maquiado para não chocar. Panorama com horizonte que não tem curvas nem pedras no meio do caminho; nada fora do lugar, impecavelmente pensado, projetado, desenhado; a estética do igual, massagem de egos, prateleiras numeradas, onde não entra quem não tem a senha do bom-mocismo; navegantes desavisados são expurgados, extirpados, afundados na maré baixa e afogados na maré cheia; não se pode cuspir, não se pode sentir nada além da cara de paisagem e do falar pausado; coloquialismos não entram; lapidação é sempre bem vinda, protegida, colocada na torre de marfim; discursos são esvaziados de sentidos múltiplos, todos devem falar a mesma língua. Amém ao Grande Mercado Cultural, Amém ao Mundo das Aparências Polidas. Aqui não há lugar para divergência, dissidência. O tapete é plano, asséptico...

 

Salvador, 04 de dezembro de 2013


 

Sou um ex-eu; todo dia renasço outro; em todo outro me encontro, eu.

 

 

Esta é minha praia. Refletir sobre a vida, falar sobre coisas banais, viver estes pequenos detalhes. Só me falta mais motivos para mergulhar de vez nas pequenas coisas da vida.. olhar gente passando na rua, esperar a maré encher e vazar, observar o copo suar e molhar a mesa, acompanhar pedacinhos de papel voando pelos ares...

 

 

Não sei escrever sobre flores, não tive jardim.

 

 

Se você dever a Deus, dê adeus à vida (dê a Deus a vida).

Valéria, Salvador-BA, 08.12.2013

Escutando pardais chilrear... Eles voam, revoam, pulam por cima do muro e fazem a maior algazarra... Parece que o telhado da casa vizinha é a morada ou o lugar preferido deles. Ontem pela manhã a mesma festa. E amanhã, provavelmente. Só eu que irei embora, para minhas rotinas soteropolitanas...

 

Vitória da Conquista-BA, 26.12.2013

 

 


 

Um mundo de out-doors; comerciais, chamadas auditivas e visuais; luzes piscando, mãos balançando, rostos posando; frases conexas ou desconexas; sinais de todas as formas e para todos os motivos; olhos, ouvidos e pele se cansam também... exposição, mídia, o homem é o que se mostra.

Colhendo: ansiedade, compulsão, vício, pouca construção...

 

Guarulho, 23.12.2013

 

 

Meus pêsames pela sua morte.

A esperança é a última que morre... Como os últimos serão os primeiros, ela se foi...

 

 

"Eu acho legítimo que qualquer brasileiro se candidate a cargos eletivos. E a Constituição Federal baliza este direito. Mas já vi gente caçando marajá, caçando bruxas e caçando corruptos. É uma infalível plataforma midiática, que a imprensa (des) e comprometida abraça. Depois, os brasileiros pagam a conta.

Como eu gostaria que os demais eleitores pudessem refletir bem antes do próximo pleito..."

 

Valdeck Almeida De Jesus Lotado

Salvador, 06 de dezembro de 2013

 

 

Pedindo aos céus que iluminem a todos e todas que precisam de luz; que acalentem a quem necessita de um cafuné; que protejam às mentes daqueles que vivem em prol dos impactos midiáticos; que neste Natal e Ano Novo todos os bons sonhos se renovem e as pessoas se predisponham a caminhar um novo caminho...

 

Vitória da Conquista-BA, 25.12.2013

 

 


 

Tripé da Inquietude

 

Se todos têm razão

Se cada um realiza

Não há por que ‘senão’

Não há por que baliza

Se todos têm razão

Não há ninguém errado

Não necessita carta

Tampouco jogo e dado

Tripé de duas pernas

Não pode se firmar

Então minha razão

Não pode ultrapassar

Não pode invadir

Nem pode sufocar

 

Câmara Municipal de Vereadores de Salvador

22 de novembro de 2013


 

Eu sou aquele que não é

poeta que não rima

baixo com cima

nem mina com macho

do absurdo

sou o previsível

da surpresa

sou o trivial

sou aquele que não é

nem mesmo será

porque a vida

é fugaz

lépida demais

para eu acompanhar

sou o despoeta

da falta

e do nada

que some no dia

e morre

sem ressuscitar

sem o lusco-fusco

e o vulto

que ilude e

se mostra como não é

porque ainda vou

ser o que não é

e não serei nunca

 

Sarau Erótico, 12 de janeiro de 2014

(Museu Nacional da Poesia)


 

Eu me pergunto com quantos muros se faz uma universidade;

quantas teorias e grupos de estudo;

me pergunto se um dia tudo vai virar periferia,

onde a prática vale mais que a filosofia;

me pergunto de quantas vielas se faz um(a) universo (cidade);

e se meus pés pisarão no chão que sustenta esta diver(sidade);

quantas teses serão necessárias para pavimentar minha fome de conhecimento;

e quanto cimento construirá um lugar em que se sonhe viver uma eternidade;

me pergunto, e não espero um estudo teórico, uma autorização, uma diplomação; vou seguindo, por fora dos muros, sobrevivendo, sem um arranhão".

 

Salvador, 12.01.2013 - Reflexão nos olhos de alguém não terei...


 

Meu novo suicídio

(Museu Nacional de Poesia)

 

Desnecessitando

de aprovação

me pergunto

quantas vezes

preciso morrer

no trabalho

na família

entre "artistas"

pela incompatibilidade

com a Terra

ou dela comigo

me pergunto

quantas concessões

renúncias

desistências

para ser aprovado

no vestibular

da minha morte

da minha negação

 

Salvador, 09.01.2014

 


 

Cada um se movimenta na direção do seu próprio desejo.

 

1 (mil) é pouco; 2 (mil) é bom; 3 (mil) é demais.

 

A vida só é boa na contramão.

 

Chega um momento da vida em que a solidão é a única companheira.

 

Destra. Adestrar. Não sou enviesado nem sou adestrado.

 

Quem tiver língua para ouvir, enxergue.

 

 


 

Transplante de cérebro

 

Para pessoa que querem,

mas não podem

gerar ideias originais

em suas próprias cabeças!

 

Valdeck Almeida de Jesus

Salvador, 19.01.2014

Direito à Morte

 

- Qual seria o motivo justo para uma pessoa escolher o dia de sua morte?

- Quando não enxergasse, ou não pudesse andar, ou, ainda, fosse acometida de uma doença incurável.

 

 

Numa festinha de confraternização de final de ano alguém olhou para um gay e comentou baixinho, é um ninjo.

Na hora dos brindes, o gay tomou a palavra e perguntou a todos:

- Qual a coisa mais importante entre as pessoas?, respondendo em seguida, o respeito. E completou: A gente não precisa de religião pra respeitar; não precisa de Deus pra respeitar.

 

 

 

 


 

É com muito pesar...

que vendo comida a quilo.

 

"Eu sou a pessoa ideal para quem procura a pessoa ideal como eu". "Conheço todos os lugares do mundo que eu conheço".

 

 

Estou disponível. Sem visto no passaporte nem dinheiro no bolso.

 

 

Sala de Espera

Com ou sem internet, cada um pensando em si. Alguns olhando a esmo para a TV, sem prestar atenção. Revistas empilhadas aguardam mãos e olhos que não chegam. Uma paisagem linda pode ser vista pelas frestas da persiana, mas ninguém se aproxima da janela. A espera pelo chamado da médica deixa todos tensos.

 


 

Não preciso de ninguém

 

Descobri que sou inteiro

TOTAL

Poço de inteligência

Uma pessoa ESPECIAL

Não preciso de amigos

Parentes, filhos, irmãos

Pais, mães, desconhecidos

Me basto, sou todo coração

Sou humano, humilde

Inteligente, legal

Não preciso de ninguém

Pois tudo que preciso,

Está em mim,

Não em alguém

Estou inteiro, solteiro

Autossuficiente

Sou GENTE

Nem dinheiro nem bens

Nada me detém

Nada me prende

Nada me surpreende

Estou em êxtase por isso

Um homem solto

Sem compromisso

Nenhuma cultura

Sepultura

Nada me amedronta

Nada me afronta

O que sei me completa

Sou uma pessoa repleta

Plena, ecologicamente pronta

Porque tenho tudo

Em mim, dentro do peito

Sou um homem perfeito

Pois tenho cada um dos outros seres humanos

em mim

 

Vitória da Conquista, 23 de dezembro de 2013

 


 

Poesia ou minha pica

 

Corri na Faixa de Pedestre

E nem sei o que dizer

Enchi a cara de cravinho

Bebi cerveja

E andei a pé no Pelourinho

Fui pra casa andando

Não sei o que me deu

Mas suei pra porra

Cansei de andar

Minha idade não permite

KKKKKKKKKK

Mas estou contra tudo

O que é convencional

Cheguei são e salvo

Alegre e sorridente

O álcool me ajudou

 

 

 

Para quem nasceu e vive dentro daquilo que se convencionou de 'normal', 'natural' e outros 'als', é difícil compreender, perceber, aceitar, conviver, conceber, imaginar, compartilhar, entender que há outras formas de pensar, sentir, amar.

 

Para quem está no conforto do estabelecido e do normatizado é complicado abrir os olhos e o coração para as várias possibilidades. É bem mais fácil usar crenças, natureza, e até deuses para justificar suas visões unilaterais.

 

Assim se justifica toda forma de combate, discriminação, apartheid, violência, exterminação, porque nada além do umbigo existe nem merece existir.

 

Salvador, 01.02.2014

 

Valdeck Almeida de Jesus


 

Natureza sendo devastada, crianças morrendo de fome, pessoas atropeladas, enchentes, analfabetismo etc acontece desde sempre e todo dia é dia para combater. Mas também é todo dia e toda hora que se deve combater a indiferença, que gera desrespeito, discriminação e

 

 

 

 

 

 


 

Todo mês é lugar de ser perder...

 

Aqui é lugar nenhum, sem ser lugar comum

Lembra Jamaica, New York, Caracas, Genebra ou Madrid

Aqui é onde a África mora, onde quem é cu doce cora

Com vista para a Baía de Todos os Santos

e sob a bênção do Senhor do Bonfim

este lugar me refresca, é onde reponho energias

e me conecto com a poesia

viva, latejante, fervente e erótica

No ar, a energia, o tesão, a inspiração

Aqui é o lugar, que não sei onde começa ou termina

Nesse lugar a inspiração transpira, inspira e respira

Pois é: esse é o meu lugar.

Nesse canto se cria e consome arte, arti-cu-lação

Lugar de fronteira sem de-li-mi-ta-ção

Nesse ambiente, meus poros me consomem,

seja você mulher, transgênero ou homem

É aqui que a boca fala

e lugar onde o falo, também, tem vez,

Devagar, ou enviado de vez.

Aqui é o Sarau Erótico

 

 

Sarau Erótico, 01.02.2014

 

 

 

 

 

 

Minha nova paixão é ficar em casa, sem saber o que acontece lá fora... Não escrevo, não penso, não produzo nada. White-out total na mente.

 

Valdeck Almeida de Jesus,

Salvador, 17.01.2014


 

Poema Barra

 

Quando poema

não expressa

quem sabe

um drama

policial

com direito

a lágrima

prisão

e perseguição

quando um poema

não expressa

melhor não falar

nem ouvir

quem sabe

desintegrar

sair da carne

virar espiritual

quando o poema

não exprime

mas só oprime

talvez uma grade

talvez uma fraude

se a palavra

não exprime

talvez a arma

seja uma grade

pois a vida

às vezes

é Barra...

 

Salvador, 11.02.2014

 

 

 

 


 

Mecenas de mim mesmo.

Para cada quilo de burocracia, carimbos, ofícios, papeladas, formulários, autorizações, taxas, impostos, contribuições, processos, pareceres, dossiês, decretos e publicações em diários, eu escrevo várias tortuosas páginas, encaderno, editoro, imprimo, espalho na internet, contamino mentes e almas, por aí a fora. Sigo fazendo o que o rito não permitiria, não autorizaria.

 

Salvador-BA, 20.02.2014

 

 


 

Gastei tanto tempo numa escola de datilografia...

 

Depois me vangloriava em poder "digitar" no computador com os dez dedos... Sorria de quem datilografava ou digitava com os dois dedos indicadores...

 

Agora, se eu quiser ser 'moderno' e usar um Smartphone, I-Pad, I-Pod, terei que teclar com os dois dedos polegares...

 

Salvador, 25 de fevereiro de 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Estou cheio de gente

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Meu Facebook tá cheio de gente que morreu

Cheio de gente com o pé na cova

Cheio de gente nas últimas

Cheio de gente mais pra lá do que pra cá

Cheio de gente indo pra terra de pé junto

Cheio de gente fazendo a passagem

Cheio de gente contando os dias...

 

Valdeck Almeida de Jesus

22 de fevereiro de 2014


 

Volta pra tua terra...

 

Você sai de carro, vai à casa de tua amiga de reggae e espera uma hora e meia enquanto ela se veste e, depois, encontre a chave da casa para sair. Desiste de dar rolé dirigindo, volta pra casa com a regueira, deixa o carro perto de tua residência e sai caminhando com ela pelo Centro Antigo de Salvador. Barbalho, Santo Antônio Além do Carmo, Pelourinho, Bar do Cravinho. Depois de umas cervejas geladas, segue caminhando até a Piedade, onde pega mais beers e o ônibus para Conjunto Pirará I, que serve tanto pra ela quanto pra você, que descerá no Colégio Icéia, dois pontos depois de tua colega.

O motorista do veículo faz pequenas acelerações, “ameaçando” sair, para que os passageiros subam no veículo. Você, brincando com tua companhia, apressa ela, e comenta que tem que subir empurrando, pois Salvador é a cidade do empurra-empurra. O passageiro da frente não gosta da conversa e se intromete.

- Volte pra sua terra. Aqui é cidade de gente educada, ordeira.

- Só se eu for embora e voltar de novo, pois minha “terra”, é aqui. E sou testemunha da desordem que é esta província, você retruca.

Certamente o indivíduo achou que sua colega era estrangeira, ou paulista, por causa da aparência dela, branquinha, olhos azuis, cabelo aloirado. E, por isso, queria mostrar uma Salvador da Alegria e dos bons modos, onde tudo funciona... Enquanto você pagava as passagens, ele continuava a olhar para vocês, certamente querendo levar a “conversa amistosa” adiante...

Você segue seu rumo, procura um lugar bem distante do sujeito e fica perto da porta de saída, estrategicamente, mesmo porque faltam apenas duas paradas pra vocês descerem do veículo de “primeiro mundo”, sujo, apertado, chacoalhante e lotado feito uma lata de sardinha. No percurso, conversa com sua amiga, lembrando a sujeira das ruas, a desordem e o caos do trânsito, enfim, tudo o que é corriqueiro e conhecido de quem mora na Cidade da Felicidade. No ponto do Colégio Severino Vieira, a “estrangeira” desce e você segue por mais dois quarteirões; bate papo com um passageiro, pegas os cartões de visita dele, ouve comentários diversos sobre vários assuntos e desce no ponto do Icéia. A frase que fica na memória, por muito tempo, é aquela de quando entrou no ônibus:

- Volta pra tua terra...

 

Salvador, 26 de fevereiro de 2014

 


 

LUTO

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

A gente sonha com um filho

Roga a Deus que ele venha

Saudável, inteligente,

Trabalhador, honesto,

Que ame a liberdade

e que respeite o próximo

Espera mais que nove meses

o dia de ver seus olhos

sentir a pele, o calor do corpo

Se apaixona, sem conhecer

e sonha, e imagina e cria imagens

E vê crescer, falar a primeira palavra,

a dar os primeiros passos

Acompanha até a escola,

Ensina a andar de bicicleta,

respeitar as leis e a vida

E vem um desconhecido

e muda tudo...

Antes de deixar de sonhar

de novo, e insistir e vencer,

EU LUTO...

 

Valdeck Almeida de Jesus

Salvador, 18 de março de 2014


 

Pontes

 

São construídas pau a pau,

ferro a ferro, no dia, na noite,

na vida

Produto pronto, liga pronta, liga,

conecta.

Como não colocar mais

pedaços na ponte?

Como caminhar pensando

em não construir?

Pontes Poéticas

Pontes Afetivas

Pontes...

 

Museu Rodin, 22 de março de 2014


 

Deus e a Maconha

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Mestre é para ser seguido

Não cegamente, mas

mas e mas... muitos “más”

Ninguém é dono da verdade

e teorias academicistas

não substituem

nunca vão substituir

a vivência da rua

a poesia nua

a arte crua

e não me venham com escala

com  régua e compasso

me dizer que o fazer

tem que ser metrificado

que a estátua tem que caber

dentro de um quadrado

Redondamente está

Equivocado

quem pensa que sabe

sem experimentar

apenas com títulos

diplomas, cadeiras lustradas

das bundas de quem

não sai de gabinete

pra na arte pintar

e o que tem a ver

Deus com Maconha?

Não sei nem quero teorizar...

 

Salvador, 23.03.2014


 

Férias de mim

 

São tantos carimbos

Formulários e senhas

Autorizações

Pedidos de licença

“Por favor, me desculpe”

Indicativos

Regulamentos

Regras, sinalizações

Semáforos pra tudo

Cartões, até pro SUS

Números secretos

Documentos

Regimentos...

Pra nascer, um registro

Pra viver, pra morrer,

Pra sorrir, pra chorar

Sempre um cartão

Um código, uma autorização

São tantos carimbos

Formulários e senhas

Longe dos vinte anos

Beirando a morte

Nos quase cinquenta

Tem horas que nem corpo

Nem cabeça aguentam...

 

Salvador, 26 de março de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 


 

Fortaleza

 

Ela se fazia

de forte,

que podia vencer,

mas não aguentava

e caía, nas

cartas da sorte

Era mandona

autossuficiente

debochava

até da morte

mas bastava

um afago

uma promessa

mesmo vaga

pra se revelar

incrivelmente

humana...

 

Salvador, 27 de março de 2014

 


 

Eu só uso drogas

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Não colaboro com

assassinatos

subornos

tráfico de armas

tráfico de entorpecentes

lavagem de dinheiro

sangue derramado

morte de jovens negros

morte de adolescentes

viciados em geral

aumento do crime

mentiras

lares destruídos

saúde debilitada

sequestros

choro e vela

lágrimas vertidas

tristezas

sufoco

roubos em geral

violência policial

guerra entre quadrilhas

toque de recolher

famílias destroçadas

corrupção de menores

aliciamento para o crime

eu só uso drogas

 

 

Salvador, 31 de março de 2014

 

 


 

Disconected

 

Passion anymore

because my age

because my face

because my color

because my weakness

because my tireness

 

05.04.2014

 


 

Dor de pai

 

De filho a gente não se esconde

a dor devasta por dentro

e vai além da gestação,

do cordão umbilical

ou dos nove meses

a dor de pai

é não controlar o destino,

não poder escolher

o melhor ou pior

para a menina ou menino

a dor de pai

é não poder determinar a rota

ou o trilho

é não poder doer, em si

a dor do filho

a dor de pai

é não sentir a fome, o choro

a alegria, o frio, a agonia

é não poder substituir

a dor do filho

dentro de si

 

Salvador, 09 de abril de 2014

 

 


 

Se

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

você sentisse tesão

não aguentasse me ver

me agarrasse

comesse com os olhos

sonhasse comigo

me desejasse

Se

você perdesse o sono

sonhasse comigo

falasse de mim ao vento

suspirasse fundo

fizesse de mim

o teu mundo

se você morresse

caso me perdesse

eu te amaria

mesmo sem amor

 

21 de abril de 2014

 


 

Nossas diferenças

me fortalece

daí

falamos o mesmo

sotaque

trajamos

igual

trejeitos

similares

gostos

e preferências

sabores

e detalhes

num sonho.

Só divergimos

nos olhares

 

22 de abril de 2014

 


 

Só Deus

te conforta

e liberta

dos medos

e da consciência

Só Deus te protege

preenche o vazio do peito

te dá alegria

e esperança

Só Deus

te perdoa

e te aceita

só Ele caminha contigo

te segue e te guarda

Só Deus

 

21 de abril de 2014

 


 

Toda a tua força,

beleza, coragem,

inteligência,

toda a tua conquista,

tua fé, fortaleza

toda a tua crença,

sabedoria, aparência,

tranquilidade, equilíbrio,

liberdade, perseverança,

toda a tua vida, existência,

carnal, espiritual,

apatia ou construção,

toda a tua alma, calma,

ciência ou intuição,

é tudo d’Ele

e tua ilusão.

Portanto, curva-te

diante da grandiosidade

percebe a ti como

insignificante

perante a eternidade.

 

Salvador, 22 de abril de 2014

 

 

 

 

 


 

Vestibular

 

Depois do ENEM, só há duas formas de ingresso em universidades. Para quem vence, o SISU, para os últimos colocados, o SIFU.

 

06.01.2014

 

 

 

"Estou onde estou. E onde estou, é aqui mesmo, onde me encontro".

 

Onde Estou, 28 de fevereiro de 2014

 

 

 

 

Amigos e amigas,

 

A luz divina está em minha vida. O primeiro passo para uma longa e abençoada jornada foi dado. Deus está guiando cada instante desta jornada. Minha fé e meu amor pela divindade, restabelecidos, me guia para a paz celestial.

 

Salvador, 17 de abril de 2014

 

 


 

Lamento de mim

 

Não sei quanto

sofro por cada um

Meu filho que se foi

ou meu amigo que voltou

pois nego o sofrer

por ambos

Um, porque não é meu

Outro, porque também, não

Em ambos, um pouco do afeto

daquilo que eu seria

se ambos fossem meus

quantos por cento

quantos por mil

ausência ou presença

ou lamento de mim

Não sei por quem sofro

e por que é assim

Se sofro por ambos

ou se sofro por mim

 

Salvador, 19 de abril de 2014

 

 

 

"Sou contra todas as convenções, mas não vivo sem regras, inclusive a de não ter nenhuma."

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Minha Cultura?

Semear

Adubar

Cultivar

Colher

Espalhar

Recomeçar a semeadura

 

 

 

 


 

Eu tenho metade

da idade de Jequié

A rua onde nasci

ainda é de chão batido

com esgoto escorrendo

a céu aberto.

 

Salvador, 08 de março de 2014

 

 

 

 

No meio do caminho tinha uma poesia

 

 

 

 


 

Refúgio na Suíça

 

Esse sol de Genebra

em manhã de abril

com o frio e a luz

não me exige comprar livro

nem me pede explicação

numa língua que não conheço

Esse sol de Genebra

que não vejo e nem sinto

não me recrimina quando (e se) minto

se (e quando) fujo de encontros

e palestras e recitais

em línguas que não conheço

Esse sol de abril em Genebra

não me angustia por doença

nem por vício nem saudade

Porque esse sol de Genebra

me afasta da saudade

e da falta que sinto daqueles

que não me querem...

 

Salvador, 28 de abril de 2014

 


 

Brasileiro também é preconceituoso (Ou: pra não dizer que não falei das bananas)

 

Construímos prédios e edifícios com entrada “de serviço”

Tribunais têm entradas e elevadores exclusivos para excelências

Anúncios de emprego pedem pessoas de “boa aparência”

Festas particulares exigem roupas “esporte fino”

O Homem Aranha reina em festas de aniversários, no lugar de possíveis Sacis Pererês, Curupiras, Mulas sem Cabeça e outras personagens do “folclore popular”

Mulheres e homens alisam o cabelo para entrar no “padrão”

Nos teatros há ingressos “vips”, mais caros, na frente

Camarote é moda em festas populares, para poucos

Reis e Rainhas do Axé não precisam ser do gueto

O academicismo passa na frente da sabedoria e cultura populares

Nos jornais de fim de semana os mortos são pobres e pretos da periferia

Nosso Deus é branco, heterossexual, loiro, de olhos azuis e brasileiro...

 

Salvador, 01 de maio de 2014 – Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Meu Desestado

 

Meu ESTADO é Descrença em Escola que só investe em muro, quadro, salário;

Meu Estado é Descrença em Segurança que prioriza viatura, farda, salário;

Meu Estado é acreditar que Transporte é apenas rua, ônibus, viaduto;

Só o Hip Hop Salva! Viva a Poesia! Vida o Sarau da Paz!

 

Não sou um ser social. Eu me submeto a certas regras por questão de sobrevivência.

 

Minhas horas são infinitas no vício da internet, enviando e recebendo conversas idiotas, lixo, spams e besteiras que não terminam nunca...

 

Meu Tempo não é ouro. É para se perder, jogar conversa fora, sair sem rumo, bater perna, cair na gandaia, dar um rolé, ficar de maresia...

 

Tento me curar do vício de navegar na internet e nas Redes Sociais. Mas aonde eu chego as pessoas me fazem comentários, piadas, falam de postagens e outras besteiradas que fizeram, como se eu estivesse querendo saber...

 

16.05.2014 Valdeck

 

A de Vinho

 

 

 

“Quando a noite traz a claridão que a tudo esconde

Vou ao dia escuro buscar você aonde...”

 

 

 


 

Vergonha de sentir solidão

 

Aprendeu a digladiar:

A vida, como um palco,

Deu fôlego para o improviso.

Batente pela manhã,

Escola pela tarde,

Cursinho pela noite,

Rodeada de gente

Por todos os lados...

Finais de semana:

Frango e macarrão

Missa pra pagar pecados.

Nunca foi uma ilha,

Nem sentia falta de gente...

Mas tem horas

Que todos somem.

O que aprendeu

Pra ser autossuficiente:

Descartou solidão

E em dias solitários

Resta fazer de conta

E esperar a segunda-feira chegar...

 

1º domingo de junho de 2014 (VAJ)

 

 

 

 


 

Tudo que eu disser você repete e completa com “atrás de mim”

- Tem um elefante

- Tem um elefante “atrás de mim”

- Tem um carro

- Tem um carro “atrás de mim”

- Tem um furão

- Tem um furão “atrás de mim”

 

Para aquela solteirona em busca de namorado:

- Tem um partidão atrás de você.

- É mesmo? Quem é?

- Você tem que prestar atenção. Chega em casa, pega um espelho e olha para sua bunda. Tem um partidão atrás de você.

 

 


 

Todo poeta é um sonhador

Um dia se torna imortal

Através da palavra

Pela ideia, pelo sonho

Um poema, um filho

Uma árvore

“Tudo se resume a isto: estar sempre bêbado”

Os séculos se escorrem

E os poetas não se cansam

De sonhar

Com os pés no chão

Com os pés nos ares

Com o coração na mão

Os poetas sonham.

 

Sebo Porto dos Livros, Salvador, 04 de junho de 2014

 

 


 

O infinito antes e depois

do grande Big Bang

me conforta e me diz

que a crença,

o ser, o estar, o possuir

é apenas

uma encruzilhada

de circunstâncias;

O infinito

me ensina

que o turbilhão

não para

como não para

a roda da fortuna

e do infortúnio

e que minha chance

é sempre proporcional

e desproporcional

a tudo que sei

e a tudo que não sei

e que nada depende

ou independe

do meu querer

ou não (querer)

 

06 de junho de 2014

 

 

 


 

Flores e espinhos

 

Os mandacarus sempre foram

Miragem em minha vida:

Dentro de cercas, mangueiros,

Quintais alheios, no horizonte.

A flor vermelha

O fruto doce,

Só sei de longe,

De ouvir falar

Espinhos, mesmo,

Estes eu conheci, de perto:

A própria vida se encarregou

De trazê-los, cravá-los, no peito.

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Lembranças de Jequié

 

 

 

 


 

A boiada passando

 

Era o que eu acompanhava

Dia sim, dia não,

Na porta de casa.

A manada seguia, solta no ar,

Tocada pelos vaqueiros,

O aboio guiando a ambos.

Eu, na soleira da porta,

Seguia, também, com os olhos

E com o coração.

O desejo era saber onde iam,

Qual o destino, parada final...

No meu imaginário, a boiada

Seguia sempre, sem parar.

Em meu quintal, pedaços de bois

Apodreciam: ossos e chifres.

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Lembranças de Jequié

 

 


 

A cadeira de rodas

 

Levava minha mãe,

Pra pedir esmolas

A mão estendida,

O mesmo lamento,

Ensaiado ou espontâneo:

- Me dá uma ajuda,

Tenho quatro filhos,

Todos crianças...

E o sol a pino,

Marcava meu lombo,

Fazia seus vincos.

A mão estendida

Era de minha mãe,

As minhas, agarradas,

Dirigiam a cena

E carregavam a cadeira

Rua acima, rua abaixo...

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Lembranças de Jequié

 

 


 

Sol a pino

 

Suor escorrendo,

Roupinha maltrapilha,

Cortada e costurada

Por mãos que não sabiam

Nem eram de costureira

Caminho da escola,

Poeira no rosto

E o estômago a roncar

Na volta pra casa

No mesmo martírio

E o sonho de sempre:

Comer no jantar.

Mas o sol a pino

Matava plantação

Matava criação

Só não matava a minha fome...

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Lembranças de Jequié

 


 

Mãe de todos nós

 

Em datas festivas

Natal, Ano Novo,

Páscoa, São João,

ela sempre dava um jeito

de comprar uma roupinha

das mais simples,

igual pra todos os filhos,

shortinho, camiseta,

e a festa estava feita.

A alegria da espera,

o dia de vestir

os filhinhos

com roupa nova,

enchia minha mãe

de orgulho.

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Memória de quase cinquenta anos

 


 

Meus irmãos

 

A cada ano

Uma chegada

E uma alegria

Em seguida

A preocupação

Como alimentar

Mas uma boca

Como dividir

O que não tinha

Mais leite

Mais água

Mais roupa

E mais fome...

 

Salvador-BA, 21 de junho de 2014

Memórias de quase meio século

 


 

Cheiro de Água

 

Pra quem apara chuva

Brinca na goteira

Põe as mãos

Pra molhar

Embaixo da telha...

Pra quem lava

Roupa na lagoa

Pesca no riacho

Bebe da cisterna

Ou da fonte...

Se vai pra cidade

E abre torneira

Logo vai sentir

O cheiro da água:

O cloro-veneno...

 

Salvador-BA, 22 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 

 


 

Meu quintal

 

Banana do pé

Abóbora no chão

Galinha correndo

Na beira da casa

Sapo na lagoa

O medo de cobra

É o meu quintal

O galo que canta

O ovo no ninho

O leite quentinho

É o meu quintal

Manteiga, quiabo,

Pirão e vinagre

Requeijão na panela

O sonho encantado

Ficou na fazenda

Da minha cabeça

Lá na infância

Tá o meu quintal

De quando criança...

 

Salvador-BA, 22 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

A infância e a lápide

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Na beira do rio

Ou perto da lagoa

A fantasia reinava

Acreditava em fadas

Duendes e Saci Pererê

Após peraltices

No esconde-esconde

Na porta de casa

Ou na canção de ninar

Embalado pelo sonho

O sono me pegava

Na beira do rio

O tempo passou

E levou embora

Minha inocência

Na beira do rio

Perto da lagoa

A lápide engoliu

Meu pai e minha mãe

Comeu, também,

Meu imaginário

E apagou pra sempre

Todo o meu sonhar...

 

Salvador, 24 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

Morada Feliz

 

A casinha de taipa

Alugada

Paredes esburacadas

Fogão a lenha

Panelas de alumínio

Outras de barro

Caminha de lona

Lençóis floridos

Moringa de água

Picumã no telhado

E meu pai que chegava

Toda tardinha

Bolsos cheios de bombons

Tudo era isso

Pra uma criança

Pedaços de vida

São felicidades eternas

Memórias afetivas

Pra sentir saudade...

 

Salvador, 24 de junho de 2014

Memórias de Quase Cinquenta Anos

 


 

Minha mãe no hospital

 

Qualquer ataque

qualquer doença

uma tosse forte

ou dor no peito

era o prenúncio

de solidão

Lá ia ela

pro hospital

e a filharada

se espalhando

na vizinhança

cada um

pra cada casa

E a solidão

e o choro forte

e o medo

de não ver mais

a mãe querida.

 

Salvador-BA, 25 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

Café sem pão

 

Café com pão

bolacha não

café sem pão

dia sim

e dia não

nem pão

nem café

com farinha

e sem farinha

dia sim

e dia também

um dia com

o outro sem

e a vida passou

não morreu ninguém

 

Salvador-BA, 25 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

Passando a chuva

 

Em dias de chuva

com temporal

o alagamento

era total

na casa toda

e no quintal

Mas o socorro

já era certo

corriam todos

pra ua casa perto

era dona Nêga

com quarto e sala

que dava abrigo

a dona Paula

mais oito filhos

passar a chuva

 

Salvador-Ba, 25 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

Lavando a roupa suja

 

Lavar a roupa

era tormento

sem água em casa

era um lamento

mas dona Paula

toda aleijada

ia se arrastando

na vizinhança

lavava a roupa

e sua alma

 

Salvador-BA, 25 de junho de 2014

Memórias de Quase Meio Século

 


 

Sexo

 

Vouyer

Corno e suas variantes

A três ou menage a trois

Grupal

Troca de casais

Traição consentida

Relação aberta

Oral

Sem penetração

Coxinha

Frango assado

Cachorrinho

De quatro

De ladinho

Sexo ao ar livre

Sexo no quarto escuro

Com camisinha

Sem camisinha

Com animais

Com defuntos

Com crianças

Masoquista

Sadista

Assexuado

Com sentimento de culpa – pecado – religiões

Para reprodução da espécie

Para o puro prazer

Entre homens

Entre mulheres

Com creme, com cuspe

Sexo com boneco e boneca inflável

Sexo virtual

Masturbação

Casamento

Prostituição

Com equipamentos diversos (pênis de plástico, bolinhas, etc)

O cu ainda é tabu – a última fronteira

TIRA O DEDO DO MEU CU

 

Beira do rio, lagoa do Derba e a lápide gelada que engoliu meu pai, primeiro, e minha mãe, depois. E, depois, perdi a inocência da infância e perdi o interesse por fantasias. Tudo agora era urgência e pragmatismo.

Não era mais cavalo de pau nem era Sítio do Pica Pau Amarelo.

Tudo se resumia a cumprir cronograma, medir quanto comer, cronometrar o sono e os passos do trabalho pra casa e de casa pra escola e da escola para casa. A infância tinha sido enterrada com meus pais e eu não me permitia mais sorrir sem motivo, brincar de esconde-esconde, nem pular sobre as nuvens. A seriedade se travestiu em minha cara e a pressa e a urgência assumiram a culpa pela produção por terminar.

Prestar atenção aos sonhos. Descrever.

Exercício de criação literária Funceb 2013

 


 

Oficina de poesia

 

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Saraus e feiras

Tentei de tudo

Repeti à exaustão

Não deu muito certo

Tudo o que eu queria

Era inspiração

Como ela não veio

Meu sonho se acabou

Pois só o que eu queria

Era escrever

Uma bela poesia

 

Alagoinhas-BA, 30 de junho de 2014

Defesa da Dissertação de Mestrado de Vandelma Silva Santos

 


 

Tiro, tiro, tiro...
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)


Corri pra janela
olhei o movimento
e a gritaria
muitos rindo
outros lamentando...
Na cara de uns
a tristeza
a reprovação
o desespero;
Para outros
a chance
a vingança
já vai tarde...
Triste isso
alguém se divertir
enquanto
outro alguém
no momento insano
grita em desespero
- Tiro, tiro, tiro
tiro tudo e fico nu...

Salvador, 28 de junho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Maria morreu. Camila está grávida. Araci tentou atendimento no hospital e não conseguiu. João caiu de um ônibus. Severino perdeu a lavoura para a seca. Pedro tenta se aposentar faz cinco anos. Uma cratera foi aberta por um cano de água que estourou na praça central. Falta energia elétrica numa cidade do centro oeste. Fechado para reforma, aeroporto ainda não tem condições de ser inaugurado. Incêndio criminoso consome grande parte de reserva florestal. E eu, tenho que acordar 6 horas da manhã para mais uma jornada de trabalho.

Salvador, 10 de julho de 2014 - Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

 

 

 

“Nos quatro cantos do mundo agora tem as quatro curvas do globo”. Valdeck Almeida de Jesus

Meus melhores poemas ainda vou escrever.

Valdeck Almeida de Jesus

21 de junho de 2014

 

 

 

 

Há bem que sempre dure (O tempo presente) e mal que nunca se acabe (A saudade).


 

Jegue-Carro

 

Parei meu jegue-carro

no poste-estacionamento

apeei/desci do mesmo

do belo carro-jumento

Dei capim e gasolina

amarrei-fechei a porta

o vizinho toma conta

do meu carro e do meu burro

vou à feira fazer compras

tomar umas e papear

mais tarde volto pra casa

panacum carregadinho

e o jegue-carro descansa

no pasto e no cimento.

 

 

Feira das Sete Portas, sábado pela manhã

 


 

Tecendo a vida

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

Do alto da minha ignorância

assisto à batalha

de intelectuais

gente sabida

bons faladores

ases na arte

da oratória;

Daqui

d’onde não sou ouvido

nem levado em conta

vejo calhamaços

teses, dissertações

estantes repletas

abraços, condecorações

acordos, diplomas

assinaturas, votações

que não me acolhem

na minha lida

no fazer diário

dos meus garranchos

e dos fios emaranhados

com os quais

eu teço a vida...

 

Salvador, 17 de julho de 2014

 

 


 

Nasci transparente

sem berço nem chão

minha língua, a fome

meu povo, um não

Nasci transparente

sem sexo nem nexo

sem endereço, sem direção

minha crença, nenhuma

minha história, coisa alguma

Nasci transparente

nem bicho, nem gente

me ensinaram a falar

e a engatinhar

nem gato, nem cão

só imitação

Nasci transparente

sem berço nem chão

sem hino ou canção

a moeda de troca

fui só emoção

Nasci transparente

sem braço nem mão

e me ensinaram

a seguir a canção

e fui indo embora

enchendo a cachola

de sim e de não

negando e afirmando

enchendo o alforje

fazendo a história

pra dentro de mim

virando uma coisa

virando outra coisa

fazendo mudança

e transformação

eu fui transparente

mas hoje, sou não

Nasci transparente

e agora sou gente

com RG e CPF

me tornei opaco

e, como um cavaco

eu virei MAIS UM...

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Da pose ao pó

 

Em pé

Com os dois pés

Em pio

Perto da pia

No fogão a sopa ferve

Posa em mim uma borboleta

E ela ia se tornar sapo

Enquanto eu, na pose,

Lhe digo: - Sai!

Ela morre e eu viro pó!

 

 

 

 

 

 

 


 

Engolir sapos não enlarguece a goela, afia a língua.

 

Em nome da mãe, da filha e da espírita santa, amem!

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

A poesia está morta

 

Morta de vergonha

porque não renasce o amor

nem floresce a esperança

e a sociedade só reclama

não vamos comemorar sua morte

porque sem poesia

não há comemoração

a liberdade grita, sufocada

a estátua da vitória

está sem rima

choros de dor e agonia

no lugar da alegria

a poesia precisa voltar

ser soberana da alma

precisamos fazer poemas

os maiores e melhores

exaltar àqueles que amam

para que a poesia renasça

para dar fôlego a quem quer respirar

e ela, a poesia, seja dona da rima

e bailarina dos versos,

viva a poesia!

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Sei tudo do mundo

pouco sei do que sou

em busca de mim

estive sempre a caminhar

a morte chegou de súbito

eu não achei que era o único

marginal nesse mundo de ilusão...

 

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 

 

Nunca quis ser o primeiro

deixo todos irem antes

se de lá não voltarem nunca

deixo minha ida pra depois

serei eu o derradeiro, por fim...

 

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 

 


 

Se hoje eu digo ai

Se amanhã eu digo ui

Não quero ouvir seu “ei”

Porque quero é gozar, ah!

Invejinha do meu gozo, tá?

Quem desdenha, quer comprar, vem!

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 

Sou da terra o pior

Planto nada e nada dou

Nada guardo e nada tenho

Nada fui e nada sou...

 

 


 

O que fui hoje

 

Não matei a poesia

nem deixei me amarrar

fui seguindo a intuição

sem destino onde chegar

verso solto, verso livre

sem sentir e sem pensar

e também no seu inverso

me deixando apaixonar

indo e vindo no caminho

sem um rumo a me guiar

mergulhei em um caderno

naveguei pelas palavras

textos meus e de outras lavras

bailando pelo papel

nesse trote de um corcel

embalando o meu ninar

fui criança e fui saudade

joguei fora o meu penar

fiz da tinta minha espada

não matei a poesia

e nem deixei de rimar

 

 

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Ai, pisei onde não devia...

Tá rindo do meu azar?

Ei, você, me diga aí,

Ah, tua hora vai chegar

Quando tu me disser “ui”

Quem tu chama pra ajudar?

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Eu nada vou te contar

porque eu não sou é nada

o que sou não vou contar

não me encanta tua moda

nada tenho pra te dar

não me guardo pra ninguém

busco tudo e jogo fora

não me importa o que tem

nessa vida de cachorro

pois não crio no que há

vai de retro satanás

na vida não vou levar

se da vida nada tenho

se viver to nem aí

se morre não me importo

não me importo com os outros

busco tudo que eu gosto

pois não rego e nem planto

sou da terra o pior

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Amigo suporta e acalenta, ouve e respeita, sem acusar. Você é um suplício, mas eu gosto de você.

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Esse amor rasga o meu coração,

mas eu gosto de falar desse amor

que me alimenta a alma e sucumbe à minha dor

ah, como esse amor me faz sofrer!

Mas, vencedor, eu sigo na luta, na labuta

e, apesar do sofrimento, não lamento.

Noites perdidas e amores roubados

não superam o amor que sinto por ela,

pois ela é a tesoura que rasga a minha paixão,

seguindo em glória com esta canção.

Nesse sentimento contraditório

e mesmo com esse coração rasgado, ainda existe paixão!

O amor é tanto que não consigo desabafar!

O buraco que se abriu no meu coração,

esse espaço, é uma boca que expele lava de vulcão,

acendendo ardente a minha paixão!

São qualidades do amor que eu mereço,

e o merecimento é um começo sem solução...

Ah, esse meu coração,

repartido em milhões, não tem mais salvação!

Ah, esse meu coração!

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Esse ódio rasga o meu coração,

mas eu gosto de falar desse ódio

que me alimenta a alma e sucumbe à minha dor

ah, como esse ódio me faz sofrer!

Mas, vencedor, eu sigo na luta, na labuta

e, apesar do sofrimento, não lamento.

Noites perdidas e ódioes roubados

não superam o ódio que sinto por ela,

pois ela é a tesoura que rasga a minha paixão,

seguindo em glória com esta canção.

Nesse sentimento contraditório

e mesmo com esse coração rasgado, ainda existe paixão!

O ódio é tanto que não consigo desabafar!

O buraco que se abriu no meu coração,

esse espaço, é uma boca que expele lava de vulcão,

acendendo ardente a minha paixão!

São qualidades do ódio que eu mereço,

e o merecimento é um começo sem solução...

Ah, esse meu coração,

repartido em milhões, não tem mais salvação!

Ah, esse meu coração!

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Essa tristeza rasga o meu coração,

mas eu gosto de falar dessa tristeza

que me alimenta a alma e sucumbe à minha dor

ah, como essa tristeza me faz sofrer!

Mas, vencedor, eu sigo na luta, na labuta

e, apesar do sofrimento, não lamento.

Noites perdidas e tristezas roubadas

não superam a tristeza que sinto por ela,

pois ela é a tesoura que rasga a minha paixão,

seguindo em glória com esta canção.

Nesse sentimento contraditório

e mesmo com esse coração rasgado, ainda existe paixão!

A tristeza é tanto que não consigo desabafar!

O buraco que se abriu no meu coração,

esse espaço, é uma boca que expele lava de vulcão,

acendendo ardente a minha paixão!

São qualidades da tristeza que eu mereço,

e o merecimento é um começo sem solução...

Ah, esse meu coração,

repartido em milhões, não tem mais salvação!

Ah, esse meu coração!

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Homenagem a João Ubaldo Ribeiro

 

Já se foi ao outro mundo

o grande escritor baiano

autor de muitos romances

ousado itaparicano

 

Um homem de muita prosa

bom de escrita e bom de briga

artista da própria vida

levava tudo no lero

dono de forte opinião

outro dele nasce não

 

Rio de Janeiro o abrigou

imigrante quase à força

Bahia era sua terra

e também sua paixão

infelizmente não acolhido

rumou pra longe do seu torrão

onde jamais será esquecido

 

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Andando em círculo eu tento seguir sem cair para um lado ou pro outro, não troca as pernas nem ficar bêbado ou tonto nem me repetir nem me atrapalhar...

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

A César o que não lhe pertence

 

Saí atrasado pra uma reunião e me preocupava muito em achar vaga pra estacionar no centro da cidade. Apesar da pressa, tomei o rumo mais longo e demorado, tentando não deixar a ansiedade me dominar. Por incrível que pareça, não enfrentei engarrafamento nem semáforo fechado. Na rua mais improvável, encontrei lugar pra deixar o carro, com direito a flanelinha e tudo, bem embaixo de uma placa que indicava a obrigatoriedade de portar cartão Zona Azul.

Sem pressa, fui à reunião e voltei ao veículo, onde o guardador me esperava pra receber o pagamento que deveria ser feito ao estado. A parte que caberia ao cidadão lhe foi entregue, à vista, com juros, sem intermediários. Se o fiscal não cobrar, alguém atravessa e leva as sobras.

 

 

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Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Queria ter uma doença

tomar um choque

saber que a morte

está prestes a me encontrar

assim, eu ia correr

sonhar, viver

avidamente

desesperado, alucinado,

com pressa,

querendo sorver tudo

aproveitar a vida

enquanto o tempo

estivesse contra mim

queria ter uma doença

que me matasse de viver

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Sei, não, viu?

Barata Ribeiro

Copacabana

Xixi no poste

Zum, zum, zum...

Serpentina e alto som

Nessa muvuca, descobri

Que minha gata era um gato

E, encharcado pelo álcool,

Eu comi gato por lebre

Na semana seguinte, enchi a cara de novo...

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 


 

Com quantos pontos se conta um conto, com quantas métricas se mede um poema, com quantos parágrafos se faz uma crônica, um romance, que entonação, para onde olhar, ou é melhor se calar, guardar a produção em caixa de sapato, na cabeça ou no futuro?...

Com quantas canetas, folhas de papel, impressões, devaneios, regras, desprendimentos, negações, se faz uma história, se desconstrói uma memória, um vício, ou uma mania?

Com quantas vírgulas se projeta um sonho, se realiza um desejo, se acende a chama que alumia a claridão?

Com quantas convenções se desmancha um caminho, se enterra um vivo ou se desenterra um morto?

Quantas vezes se nasce, cresce, envelhece e morre?

Quantas vezes se pode ressuscitar, virar santo, capeta, ser crucificado, se arrepender, desistir, recuar, prosseguir:...

Com quantas oficinas se faz um poeta, contista, cronista, crítico de arte, leitor de clássicos ou de contemporâneos, produtor ou reprodutor de conceitos ou quebrador de preconceitos?

Com quantas pedras se quebra uma vidraça ou constrói uma muralha, e com quantas lágrimas se enche um mar?...

Se viver é preciso, navegar em mares nunca dantes navegados ou remar o mesmo remo com novo fôlego e novo sonho também é preciso.

Quem souber o que é preciso, o que é exato, deve navegar seus próprios mares com novo remo, novo fôlego e se permitir impregnar, sem querer se bastar a si mesmo, se ressignificando, se reciclando, e mais e mais para, depois disso, descobrir-se único, indivisível, como eu fiz nessa oficina.

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Da pose ao pó

 

Da vida não engoli sapos

Na vida quebrei cristais

joguei pedra na igreja

e cuspi na cara de deus

Nada me redimiu

ou me salvou

quando eu não quis

entrar na cova

 

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 

Quanto mais eu tenho

Quando mais eu tenho

Qual mais eu tenho

Quem mais eu tenho

O que mais eu tenho

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

Minha mente mente, meus dois amigos me aqueceram, ambos tinham asas, mas não sabiam voar, falaram a noite inteira, mas eu não pude escutar...

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 


 

Desabafo

Fascínio

Reaprender

Desapego

Trocar

 

Tudo é poesia

Tudo faz sentido

Quando vejo, sinto,

Pego, olho, cheiro, intuo,

Inspiro, estimulo, minto

E na troca, no desapego,

Reaprendo, desabafo

E me refaço

 

Oficina de Criação Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos

Ministrada por Jorge Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014

 

 

 


 

Indignação poética

 

tenho duas mãos

apenas duas mãos

insuficientes

para arar a terra

dirigir o carro

dar boas garfadas

e escrevinhar

posso ser mais ágil

apenas na minha mente

vinte e quatro horas

não são suficientes

para a ansiedade

de escrever aos montes

passar do horizonte

e também voar

somente no meu sono

posso levitar

 

Salvador, 24 de julho de 2014

 

 


 

Danilo e Breno

Eu não os conhecia
do Bairro da Paz
de outra Bahia
tão mal falada
pouco conhecida

Mas Danilo Lisboa
de sorriso largo
mente brilhante
fez sua parte
fez sua arte

Tirou o amigo
do mundo obscuro
para a poesia

Mais que falar
o bom é fazer
conhecer e somar.

Salvador, 26 de julho de 2014 - Sarau da Onça

 

 


 

Poesia é investimento
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)


É tão grande o lucro
não traduzido em cifras
mas em minúcias
quase invisíveis
internalizadas
em cidadãos-mirins
ou em adultos-prematuros

É tão pequeno o interesse
real interesse
de pessoas físicas
ou fictícias
institucionais
ou superficiais
que envergonham
o verso e o inverso também...

É tão grande o esforço
e a insistência
em resgatar sonhos
coletar fantasias
plantar utopias
que os poetas
não se apercebem
quão longo
e doloroso
é o caminho

Mas eles e elas
insistem
persistem
e resistem...

Salvador, 27 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Minha decepção com o ser humano

Cada dia que vivo
sarau, grupo de poetas
cena montada
ou corrida de atleta
ensaio musical
bate papo ou recital
caminhada da paz
seminário nacional
em cada momento
choro e lamento
no trote ou no passo
com régua e compasso
eu vou caminhando
olhando, vivendo
tentando entender
por que tanta gente
insiste em dizer
voltar a insistir
pra não confiar...
Eu sonho e insisto
humano tem jeito
é só acreditar...

Salvador, 27 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 

 


 

No meio do caminho tinha um homem

Tinha um homem no meio do caminho

No meio do homem tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do homem

Mas o que ninguém ali percebia

É que, no meio da pedra tinha uma poesia

 

Biblioteca Infantil Monteiro Lobato

Salvador, 27 de julho de 2014

 

 

 


 

A culpa é da polícia

 

Se a escola não funciona

Chame a polícia

Se o posto de saúde quebra

Chame a polícia

Se o médico não atende

Chame a polícia

Se o circo pega fogo

Chame a polícia

Se o operário faz uma greve

Chame a polícia

Se o louco corre nu

Chame a polícia

Se tem um bicho na árvore

Chame a polícia

Se a casa desabou

Chame a polícia

Se o cachorro se soltou

Chame a polícia

Se o carro matou um

Chame a polícia

Se a droga se alastrou

Chame a polícia

Se o respeito acabou

Chame a polícia

Se o governo não faz nada

Chame a polícia

Preconceito racial

Chame a polícia

Violência contra a mulher

Chame a polícia

Se a escola não ensina

Chame a polícia

Se a família não educa

Chame a polícia

Se a igreja não seduz

Chame a polícia

Tem criança abandonada

Chame a polícia

Alguém agrediu um idoso

Chame a polícia

Se a polícia não resolve tudo sozinha

E eu, cidadão, não faço minha parte

De quem é a culpa?

Polícia, socorro!!!

 

Biblioteca Infantil Monteiro Lobato

Salvador, 27 de julho de 2014

 


 

A culpa é de São Pedro

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Faltou água na cidade

Rezo pra São Pedro

O desperdício tá demais

Rezo pra São Pedro

Se jogo o esgoto no rio

Rezo pra São Pedro

Se desmato nossas matas

Rezo pra São Pedro

Poluição de rios e lagos

Rezo pra São Pedro

Se destruo a mata ciliar

Rezo pra São Pedro

Se sujo a atmosfera

Rezo pra São Pedro

Se entupo boca de lobo

Rezo pra São Pedro

Quando jogo lixo na rua

Rezo pra São Pedro

Se não reciclo o meu lixo

Rezo pra São Pedro

Se desperdiço a minha água

Rezo pra São Pedro

Se a chuva não quer vir

Rezo pra São Pedro

Se não protejo as nascentes

Rezo pra São Pedro

Se poluo rios e lagos

Rezo pra São Pedro

Se eu não faço minha parte

Rezo pra São Pedro...

 

Salvador, 29 de julho de 2014

 

 


 

A banana da doida

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Ela passava todo dia

na minha rua,

suada, cansada,

trouxa na cabeça,

falando sozinha:

- Tua mãe tá em casa?

- Posso entrar?

Entrava, sentava,

e a gente via logo

a penca de banana

bem pretinha

do sol ou do tempo...

E eu revezava

com minha irmã:

um distraía a doida

outro comia banana...

e enchia a pança

botando comida

em nossa barriga!

Doido era quem

ficasse com fome!

 

Salvador, 30 de julho de 2014

Memórias de Quase Cinquenta Anos

 


 

Comedor de lixo

 

Era no monturo

que eu achava

carrinho sem roda

revista em quadrinho

faltando a página

com o final da história

casca de melancia

e o sonho perdido

de um dia achar

cartão premiado

da loteria da vida...

 

Salvador, 31 de julho de 2014

Memórias de Quase Cinquenta Anos

 


 

Quem está na cena
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)


ou nos bastidores
sofre quedas
sente dores
deixa a mãe em casa
nas mãos de cuidadores
quem está na cena
quebra o salto
calça tênis
ensina poesia
a menores infratores
quem está na cena
não se aproveita
não fica como lobo
te serpenteando
à caça, à espreita...
quem está na cena
ensaia, cria, recria
tem mente fértil
coração em chamas
não é pessoa fria...
quem está na cena
bota a cara, denuncia,
não esconde em máscara
o que sente, o que fantasia...

Salvador, 04 de agosto de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

E em agradecimento a Ivanilson Silva, Renata Rimet, Kátia Borges, Luiz Menezes de Miranda, Jorge Baptista Carrano e outros...

 


 

Quem me conhece sabe
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)


Não sou a aparência
sou dureza da vida
rude como o vento
aspereza, impaciência
Quem acha que sabe
não me conhece
lembra algo
e logo esquece
Não sou sonho
nem fantasia
na vida, sofri
mas guardei utopia
os melhores me seguem
os piores também
vou me lapidando
desaprendendo
selecionando
sendo excluído
difamado, 
de forma sorrateira,
interesseira
mas perdoo
pois não se chuta
anjo torto
nem cachorro morto...

Salvador, 04 de agosto de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Vestido de poesia

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Procurando um amor
desesperadamente.
fui a becos e vielas
metrópoles e distritos
na polícia, no brega,
no matinho escuro...
fui a Nova York, Cuba,
Genève, Mônaco e Madrid,
Varei o Brasil inteiro
tentei comprar amor
com dinheiro;
quando desisti,
desiludido,
incapaz de ver
ao meu lado estavam
todas as pessoas
que sempre procurei
poetas, loucos,
sonhadores,
favela, centro,
perifa, academia,
cada um ao seu modo
sendo únicos,
individuais,
todos diferentes
e, ao mesmo tempo,
iguais...
me apaixonei por todos
poetas e poetisas
e da poesia
fiz minha camisa...

Salvador, 01 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Poesia não se escreve com caneta e papel; poesia se escreve com sentimento.

 

Pé de barro pode ser limpo, coração de pedra não dá pra amolecer...

 

Ré-Pulsa – repulsa – A ré pia (arrepia)

Raiz boa não sustenta árvore podre


 

A fome batia na porta dele

e minhas tetas o alimentavam
leite, esperança, ouvido atento
meu colo quente o acolhia
o cafuné, a toalha limpa
e tudo o mais que o amor trazia
e de manhã, abastecido, de corpo e alma,
com a esperança nos olhos, ele partia
para mais duas noites ou semanas
enquanto eu enchia o peito
me orgulhava e queria
desejava que a fome chegasse
e que em sua porta batesse outra vez
e ela ia, e tudo se repetia
até a hora em que ele se fortaleceu
e as visitas se espaçavam
e ele não mais voltou...

Salvador, 06 de agosto de 2014
O Eu Lírico – VAJ

 

 

 

 


 

"Estou a mando; estou: há amando; estou, ah! mando!; estou a mando de mim mesmo."

 

 

Essa cidade (Salvador-BA) tem tanta lindeza nas pessoas que fico vesgo quando saio pelos bairros, meu pescoço dá torcicolo, meus neurônios (poucos), se con(fundem)... Ish, pensando alto demais!!!

Salvador, 19 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 

 




 


 

Quero um gato
com olhos cor de mel
garras afiadas
dentes fortes
língua macia
cheiro alucinante
que seja reprodutor
que esteja aos meus pés
não me peça nada
coma na minha mão
não me pergunte aonde fui
me espere sempre
com um carinho
me aceite como sou
e, principalmente,
faça xixi
na caixinha de areia...

Salvador, 17 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

 


 

Receita para fazer sucesso

a) pintar o cabelo de loiro

b) posar sem roupa numa revista nacional

c) apresentar um programa infantil

NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM

Salvador, 30 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

 

 

 


 

Você é o Estado

 

Reclamava de tudo:

O leitor não lia

O professor não ensinava

O livreiro não vendia

A livraria não expunha

O distribuidor

não distribuía

O crítico não criticava

O editor não editava

A poesia não circulava

Mas o escritor escrevia

e na gaveta guardava

culpava o Estado

e à cadeia produtiva

chamado ao debate

ele não participava

até que entendeu

que o Estado era ele

e ao estado de coisas

passou a influenciar

não mudou o mundo todo

mas mudou sua cabeça

hoje ele prega a todos:

se quer fazer, então faça

não espere pelo outro

abra a boca e grite a voz

todos juntos somos nós

não deixe nada parado

porque você é o Estado.

 

Santo Amaro, 31 de agosto de 2014

 


 

União e Estado Paralelo da Poesia: Ministros, Embaixadores, Delegados, Prefeitos, Distritos, Governadores, Deputados, Senadores, Vereadores

Pedaços gostosos da vida: picolé, chocolate

Quando me lembro de você, Meus olhos transbordam de saudade

 

 

 

 


 

A porta do medo

 

Nem sempre o dia

amanhece às seis

nem sempre o almoço

é comido às três

por isso o medo

do prédio dos pobres

por isso o receio

de perder o meu cobre

mas um dia

sem menos nem mais

a chuva ameaça

e é cai mas não cai

e a busca de abrigo

no prédio dos pobres

é lá que recai

e você percebe

a única porta aberta

e o que era medo

vira abrigo real

 

Salvador, 09 de setembro de 2014

Fugindo da chuva do meio dia...

 


 

Eu sou o Estado da Poesia

 

Não importa se você

não entende minha língua

minha saúde, educação,

segurança, política,

leis, religião,

moeda, cultura, economia,

sistema financeiro,

sexualidade

ou geografia.

Este é meu Estado

e nele eu sou

o supremo comandante,

não aceito interferência,

opinião nem sugestão,

porque aqui

tenho autonomia...

 

Salvador, setembro de 2014

 


 

"Caminho numa estrada, no rumo que eu escrevi, porém, a estrada, como é móvel, me leva para onde não escolhi"...

Valdeck Almeida de Jesus
Salvador, 09 de setembro de 2014

 

 


 

A lua me traiu. O lua, também. Mas outros minguantes virão, marés vazantes, que enchem mares alhures. Depois, se nova ou ou cheia, um dia ela volta, e, dessa vez, espero que me (a)crescente uma outra dose de dormência, daquela que nos deixa (a)luado e zonzo, pra amar sem saber o que está amando...

Valdeck Almeida de Jesus

Salvador, 09 de setembro de 2014

 


 

Da ponte pra cá

tudo é permitido

da ponte pra cá

nada é proibido

da ponte pra cá

libere sua libido

da ponte pra cá

senão tu tá fudido

da ponte pra cá

só para os sabidos

da ponte pra cá

não tem nada escondido

da ponte pra cá

nada é proibido

da ponte pra cá

 

Lençóis-BA, 06 de setembro de 2014

 

 


 

Vou rimar, vou rimar

e eu rimo só com “onha”

Vou rimar, vou rimar

vou morder a tua fronha

vou rimar, vou rimar

e eu rimo só com “onha”

eu não fumo, eu não bebo

mas me acabo numa bronha

vou rimar, vou rimar

e eu rimo só com “onha”

quando eu bato uma punheta

eu só penso só em onha...

 

Lençóis-BA, 05 de setembro de 2014

 


 

O poeta do carimbo

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Pra rimar lé com cré

CARIMBO

Verso e reverso

Preciso carimbar

Pé quebrado

Verso livre

Mais um carimbo

Métrico ou milimétrico

Meço com carimbo

Publicado ou na gaveta

Só com carimbo

Na internet ou no papel

É com carimbo de madeira

Ou carimbo cibernético

Matou o seu poema

com uma carimbada

carimbo feito de pau

depois matou a si

com uma carimbada

fatal!

 

Salvador, 10 de setembro de 2014

 


 

No meio do caminho

havia um tapete

pensei que era pra mim

porque o estendi

fui eu quem o teceu

em malha de carmim

mas logo percebi

o meu pé não lhe servia

sapato de princesa

é só pra esperteza

e quem não sabe andar...

aqui sou o peão

e ao rei protejo

tapete é para ele

tapete do vermelho

tapete cor carmim

foi feito para ele

e nunca para mim...

 

Salvador, 10 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Poeta da migalha

 

Nasceu no lixo

Comeu podridão

Viveu de migalhas

Sofreu solidão

Acostumou-se:

sem voz

sem cama

sem comida

sem teto

sem opinião

Na vida passou

bem longe do poder

fugiu de palanques

e sua poesia

sem holofote

ficou abafada

não foi traduzida

para alemão

morreu apodrecida

num grande lixão...

 

Salvador, 10 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Vivo de Renunciar

 

Aqui aprendi

que fazer vale menos

que aparecer na televisão

 

Aqui é terra de artista

que dá cambalhota

mas que se vende

por qualquer tostão

 

Mais vale um flash,

uma foto, um outdoor

que um abraço afetivo

um aconchego,

um amor desinteressado

 

Quando precisei de abrigo,

uma porta, um amigo

só encontrei desprezo,

olhar enviesado

e castigo...

 

Segui meu instinto,

renunciei a tudo,

e quando me perguntam

eu minto...

 

Ainda tenho os anéis

pois os dedos já se foram

a eles, também renunciei...

 

Salvador, 10 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 


 

É de tais

 

É deles que fujo

e sou escorraçado

prêmios de raspadinha

figuras carimbadas

ou cartas marcadas

de quem se conhece

e se reconhece

em tortuosas linhas

é de tais que fujo

e sou escorraçado

porque disfarçados

de democráticos

abraçam a uns

e afastam os demais

tapinha nas costas

de quem você gosta

pode carimbar

o passaporte

mas não acolhe

àquele que faz

amigos, amigos,

projetos, à parte...

 

Salvador, 10 de setembro de 2014

 


 

Não quero teus troféus

Não quero tuas mulheres

Não quero teus diplomas

Não quero teus cargos de confiança

Não quero tua ironia

Não quero tua Câmara de Vereadores

Não quero os aplausos que recebes

Não quero tuas medalhas

Não quero tuas condecorações

Não quero tua sabedoria

Não quero dormir na tua cama

Porque quem ama

Não precisa do teu sexo

Nem da tua repugnância

Tenho minha própria mediocridade

 

Salvador, 14 de setembro de 2014

 


 

Gira Girando, caminhos indicados, mesmo que eu não os veja nem os escolha, os pés seguem...

 

Destino sendo guiado por mãos invisíveis...

 

Morrer ou Viver? Viagem feliz, se a missão se completa... Nada detém os atalhos, estradas, trilhas, tessituras e tramas...

 

Tempo e Vento dominam o horizonte, enquanto sonho e deliro com coisas terrenas. Me deixo levar, pois, por sabedorias de além...

 

Plenitude é quando estamos vazios, para pavimentar rodagens a outrem. Que se cumpra a profecia!

 

Salvador, 14 de setembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus - A Uxe

 

 


 

O poeta pessimista morreu

 

Ele achava escola pública um horror, não acreditava que ali pudesse haver alegria, dança, teatro, literatura e poesia. E logo ele, que tinha estudado em uma dessas, onde a repressão era a ordem do dia. E logo ele, que viveu a fome de comida e a fome de arte, tentando, como andorinha de verão, fazer sua parte.

 

Sonhava com o coletivo, trabalho em grupo, atividade a mil mãos, mas, ao mesmo tempo, se decepcionava com a falta de opção.

 

Aí, a convite de seu amigo e poeta Patrick Lima, de Sussuarana, foi conhecer um tal de TAL – Tempos de Arte Literária. Encontrou outro poeta, Mateus Paim, ambos do Sarau da Onça. Ao chegar à Escola Parque da Caixa D’Água, não acreditou no que seus olhos viram. Entrou, sentou, atraído pela amplidão do espaço, tamanho do teatro e pelos talentos que ali se apresentavam: deficientes visuais cantando em coral, poetas mirins, estudantes de todas as idades, declamando, recitando, lendo poesias, olhinhos brilhantes, vozes infanto-juvenis, passos, compassos, todos em uníssono em um canto que cala a voz da ditadura. Emocionado em descobrir que os sonhos sonhados juntos se tornam realidade, o poeta pessimista chorou e morreu. Dali saiu renovado, com novo ânimo, em busca de novos horizontes...

 

Valdeck Almeida de Jesus

Salvador, 15 de setembro de 2014

 


 

Sem jogo

 

O jogador de futebol

Antes de assistir à palestra

sobre política partidária

lhe conta que trabalha

nos Correios

como estagiário

e vai ser gerente

um dia

Os colegas,

funcionários,

nunca foram

elogiados

mas ele, sim.

Ele gosta do que faz

e parou de jogar

diz que gosta

de jogar e estagiar

não joga mais

pois precisa

trabalhar

e vai ser gerente

e não joga mais...

 

Salvador, 16 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Palavras, palavras...

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Palavras gordas

negras, ríspidas,

polidas

vocábulos lapidados

congelados

cozidos, crus

palavras cortadas

recortadas, raladas

palavras com cheiro,

molhadas, queimadas

palavras coloridas,

afogadas, assassinadas,

palavras descoloridas,

incolores, com sabores

palavras tímidas,

falantes, mudas

palavras loucas,

racistas, assassinas,

sem sina

palavras venenosas,

cortantes, sentimentais...

são apenas palavras

sem vida,

com uso e abuso,

quando proferidas

quando intencionais

quando bem ditas

quando mal ditas

quando benditas

quando malditas

 

Oficina Escrita em Trânsito com Marília Garcia

Salvador, 17 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Chuva de crânios
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)


Crânio, crânio, 298 crânios...
Nenhum Ucraniano.
Crânios caindo do céu
Sonhos virando fel
Crânios em pedaços
Crânios canadenses
Holandeses
Americanos
Crânios crianças
Crânios adultos
Todos em forma de anjos
Voando pelos céus ucranianos
Crânios em chamas
Crânios em cinzas
Crânios cor de sumiço
Crânios calados pra sempre
Crânios que não farão crânios
Crânios que não verão crânios
Crânios cranianos que se tornarão
Massas cinzentas nos invernos ucranianos

Salvador, 18 de setembro de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Oficina de Escrita em Trânsito com Marília Garcia

(Postado no Galinha Pulando)


 

Autorretrato

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

A cada dia ele é um

A cada dois dias

Ele é nenhum

E se perde

E se encontra

E se desencontra

No espelho da vida

Em sua lida

É poeta de manhã

E leitor à noite

Revisor na madrugada

Editor no dia seguinte

Vendedor, palestrante,

Ativista cultural,

Conselheiro,

Diagramador,

Cordelista,

Escrevista,

Crítico,

Declamador,

Ciclista,

Malabarista,

Apresentador...

Nessa roleta russa,

A vida passa

E ele não vê...

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Um cachorro vê os homens

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Não se olham

nem abanam o rabo

quando se encontram

saem em bandos

não têm donos

não descansam

não deitam no chão

nem rolam na grama

não relaxam

parece que buscam

a si mesmo

nos espelhos

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

 


 

Um cachorro vê os homens

 

Não se olham na rua

nem abanam o rabo

quando se encontram

evitam uns aos outros

mas se olham,

sempre, ao espelho,

pra não esquecerem

suas fisionomias;

saem em bandos

não têm donos

dormem pouco

não têm tempo

pra descanso

não deitam

de pernas pra cima,

não rolam na grama

não relaxam

não descansam

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Morto pelo décimo terceiro

 

Sentou-se

à beira

da estrada

e esperou

pacientemente

Após se jogar

na frente

do 13º carro

morreu

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 


 

Notícias de copiar e colar

 

Janeiro (digitou): “morto com cinco tiros, o corpo foi encontrado ao lado da rodovia, aparentemente com 17 anos de idade, não tinha documentos”

 

Fevereiro: “morto com dois tiros na nuca, corpo estava numa cisterna, tinha vinte anos de idade”

 

Março: “dois corpos decapitados, ambos negros, com sinais de espancamento, devem ter entre 19 e 25 anos”

 

Abril: “corpo de rapaz de estatura mediana, com sinais de queimadura a ferro quente, é descoberto em lixão”

 

Maio: “copiou e colou, mudou idade e local onde os mortos foram encontrados”

 

Junho: “Procura-se digitador para jornal”

 

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 


 

Minha autoimagem

 

Eu não me pareço com meus avós

Nunca os conheci

Nem conheci quem os conhecessem

Não me pareço com minha mãe

Não sou tagarela

Não me pareço com meu pai

Não trabalho até morrer

Não me pareço com meus irmãos

Não casei nem fiz filhos

Não me pareço comigo

Não tenho espelho em casa

Sou parecido com o que dizem de mim

Às vezes sou diferente do que dizem de mim

Sou mais parecido com o que não dizem de mim

 

 

Oficina de Escrita Criativa com Marília Garcia

Salvador, 18 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 

 


 

Quem vê CARAS não vê corações.


- Fecha as pernas, menina!

Ouviu tanto essa advertência que nunca conseguiu concluir a faculdade de obstetrícia.


 

 

 


 

Minha história de vida está nas ruas, nos lixos, na mão estendida pedindo esmolas em Jequié-BA; está nos ouvidos moucos de quem não queria ouvir (e até hoje, mesmo com os testemunhos, se negam a acreditar). A rua onde nasci, após quase 50 anos, ainda escorre seus dejetos, lixos humanos, para que a falta de memória não apague o passado... Meu medo, não é o de perder tudo, porque nunca tive nada. Meu medo é ser crucificado, vivo, sob o escárnio de quem não tem sensibilidade...

Memória de Quase Cinquenta Anos

Salvador, 20 de setembro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 

 

Fora do ar por várias horas... Desconectado do mundo e de mim mesmo. Agora, já em Belo Horizonte, ressuscitei... Daqui a pouco partirei para o infinito céu que liga Minas a São Paulo. Rezando para o dono dos ventos... Amém!

BH, 21.08.2014

 

 

 

 


 

Estou num poço sem fundo

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Entre tantos bochichos

Conversas de pé de ouvido

Disse que disse

E disse que não disse

Desditos e (dez)dicências

(Bem)dicências

E todas as (mal)e(dicências)

Conheço e desconheço

Me afundo nesse mar de gente

E me perco a cada dia

Engolido pelo turbilhão

De pessoas, palavras,

Letras, insinuação,

Metáfora, sentimento,

Rima, trova, pé quebrado,

Verso e reverso,

Que situação!

E me apaixono mais,

Meu peito aberto,

Inflando o coração,

Aonde chegarei, não sei,

Com tanta ânsia, vontade,

Desejo de abrigar a todos e todas

Artistas da palavra,

Que burilam, cozinham,

Fundem e combinam

Alquimia de sentidos

Nesse poço que não se enche

Onde mais se põe poesia,

Mais fundo ele fica,

E me embriaga,

Me apaixono, nem sei...

Se por palavras ou pessoas,

E vou fundo, fundo, fundo...

 

Salvador, 29 de setembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

(Postado no Galinha Pulando)


 

Primeiro ano do Sarau Erótico...

Digno de estar em qualquer lugar do mundo; a língua é portuguesa, a batida é internacional.
O sentimento, o clima, o ambiente, a energia,
tão local quanto globalizada.
É um gueto, uma nação.
Estilos de vida, de roupa, cabelo,
sonoridades de grife.
É centro e periferia
em total sinergia
com odor e alma de angelitude,
aplausos de aniversário
e a reverência, no erótico e no sensual,
regido pelo maestro
do DÓ-RÉ-MI:
Zezé Ifatola Olapetun Olukemi
... 

Restaurante Rango Vegan, Rua do Passo, 62 - Centro Histórico
Salvador-BA, 28 de setembro de 2014

 


 

Olhos de tigre

 

Em outra sintonia

e em mundo diverso

mas de uma energia

que quebra meu verso

e sonho, acordado

de olho fechado, ou aberto

é de mim o espelho

que não reflete meu inverso

se me atrai, se se retrai

se meu mundo,

aos seus pés, cai

me resta o sonho

no frio desse outono

onde permaneço

ainda, sem dono...

 

Salvador, 09 de outubro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

(Postado no Galinha Pulando)


 

O que não me faz parar de fazer poesia:

 

O sonho, a utopia de um mundo mais humano e que respeite a diversidade, os indivíduos com seus defeitos e qualidades.

 

 

Desafio a quem aceite:

 

A partir de dezembro de 2014

por uma semana

ou dois dias, no mínimo,

quem sabe, um mês,

INTERCAMBIAR

comigo, com amigos

que vão se oferecer...

morar, em condições reais,

um na casa do outro.

Destinos em Salvador:

Nazaré, Ladeira dos Bandeirantes,

Brotas, Pelourinho,

Sussuarana, Bairro da Paz,

Constituinte, Fazenda Coutos,

Boca do Rio, Alto do Coqueirinho.

Depois, podem falar o que quiserem,

mas, antes, conheçam, a realidade.

 

Salvador-BA, 26 de outubro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)

 


 

Meu amor é híbrido

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

É pedra, é alma

Meu amor é híbrido

Certo, errado,

De cima, de lado

Sem sexo, sem convexo

Meu amor é híbrido

Meu amor é fogo

É poeira, é água

Meu amor é hídrico

Meu amor é tudo

Que me excita

Ou me irrita

Meu amor

É desamor

É ódio

É paz e guerra

É céu e terra

 

Primeira Parada do Livro da Bahia

24 de outubro de 2014

(Postado no Galinha Pulando)


 

Tem os

Efêmeros

Emâcheros

Híbridos

Múltiplos

Cósmicos

Ásperos

Lânguidos

Insensíveis

Ácaros

Ácidos

Úlceros

 

02 de novembro de 2014

Esquinas do Rio Vermelho – Bahvna Espaço Cultural

 


 

Não amo

Senão minha falta

Pra me satisfazer

Minha fome

Meu pesar

Ouço o que me apraz

Amo o que me satisfaz

Ego, Id, Superego

Tudo é em mim

Só o que sinto

É o que me satisfaz!

 

02 de novembro de 2014

Esquinas do Rio Vermelho – Bahvna Espaço Cultural

(Postado no Galinha Pulando)


 

Passou a fome

 

passou o sono

 

passou o homem

 

passou o nome

 

a árvore secou

 

o filho se foi

 

o livro esgotou

 

as nuvens levaram

 

o sonho pro além

 

e nem a lembrança

 

a mim me sobrou

 

Amém!

 

 

Salvador, 10.11.2014

(postado no Galinha Pulando)


 

Twittada

 

Cento e quarenta

toques: enfileirados,

cento e quarenta

homens esperam o

exame de toque. Cento e

quarenta dedos

penetram, examinam:

tudo ok.

 

Valdeck Almeida de Jesus

(Postado no Galinha Pulando)

 




 

Tons de cinza

 

Achava tudo feio

Meio sem graça

Ruas escuras

Casas mal caiadas

Cores desbotadas

Caras lavadas

Nada estava bem

Nada lhe agradava

A cidade era um tormento

Vivia num só lamento

Meio distraído

Todo sofrimento

Indo pro trabalho

Meio que mecânico

Atravessou a rua

Sem observar

Fez do dia um mangue

Pintou o preto asfalto

De vermelho sangue

 

Salvador, 18 de novembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Tem uma onça dentro de mim

 

Desde que conheci os filhotes

Descendentes

Ancestrais

Manos, irmãos, e muito mais...

Que sinto saudade de todos

Das poesias, dos festivais

Sinto saudade das onças

Dos filhos, das mães e dos pais

Oncinhas, onçonas, são demais!

Defendem a família, o gueto,

A frente da casa e os quintais

Fazem pedagogia,

Rezam todas as crenças

São diversos, não dispersos,

Unidos, num só grito,

Que explode no peito:

Respeito!

 

Salvador, 20 de novembro de 2014

Dia da Consciência de que o Ano tem 365 dias

Valdeck Almeida de Jesus

 



 

 


 

Ode a Tina

 

Amo a América Latina

E a língua neolatina

Minha terra nordestina

Chapada Diamantina

Cidade de Correntina

Mas pra sair da rotina

Farei viagem repentina

Com confete e serpentina

Rasgarei minha batina

Fugirei de sabatina

Cuspirei a nicotina

E não farei jogatina

Na cabeça brilhantina

Pra fugir da guilhotina

Comerei mais gelatina

E se a mente desatina

Não serei tão libertina

Nem tampouco cafetina

Farei cara de platina

E vou viver na Argentina

Tomarei uma atitude

Me tornarei plenitude

Vou virar uma Tina Tude

 

Salvador, 28 de novembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Pra todos e todas

Quem me conhece

Que não me conhece

Que diz que me conhece

Quem me desconhece

Quem finge que me ama

Quem me ama escondido

Quem me quer e não diz

Quem me diz e não quer...

Àqueles que nunca vi

Aos que vejo e não enxergo

Aos que enxergo e não vejo

A quem vai nascer

A quem já morreu

A quem nasceu morto

A quem morreu e voltou

A quem nunca existirá

A quem quer que seja...

 

Salvador, 29 de novembro de 2014

 


 

Queda acidental

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Puxei para um lado

Ela não veio

Puxei para o outro lado

E ela, irredutível,

Impassível, imóvel

Eu, apressado,

Respirei fundo,

Contei até dez

E recomecei

Devagar,

Com carinho

Depois, irritado,

Dei um solavanco

E nada...

Insisti,

Dei vários puxões

Até que ela despencou

Janela abaixo

Morri de susto

Contei os segundos

E ela descendo

Na queda vertiginosa

Até beijar o asfalto

E eu estupefato

Com todo desgosto

Perdi minha querida

Toalha de rosto

 

Salvador, 28 de novembro de 2014

 


 

Amor Verdadeiro

 

Sabe quando é amor? Sabe quando é verdadeiro? Quando você enfia a mão no pacote de salgadinho e come, sem medo, sem pensar em nada, confiando que é "limpeza"! Sabe quando é amor, quando é verdadeiro? Quando alguém do grupo de amizade pede teu como de refrigerante e bebe, sem medo, sem receio... Sabe quando é amor, quando é verdadeiro, é quando o outro sai do lugar dele, fica na frente do palco, só pra te abraçar e te fazer um carinho, demonstração de saudade, de afeto... Sabe quando é amor, quando é verdadeiro, é quando um simples comentário, que poderia muito bem passar batido, te enche os olhos de lágrimas e você se arrepia... Sabe quando é amor, quando é verdadeiro? É quando o desejo de estar junto, de ouvir, de sentir a pele e de ver na plateia não necessariamente significa deitar junto e fazer sexo. Quer saber quando é amor? Quer saber quando é verdadeiro? Abrace a galera do Sarau da Onça...

 

Comentário de Mateus Silva

Saco de Salgados de William Silva

Copo de Refri, meu, que Larissa Oliveira pegou

Abraço de Jones Miranda

E os outros não citados, estão em todas as entrelinhas e nas linhas não escritas...

 

Salvador, 30 de novembro de 2014

Caminhada da Consciência Negra e Sarau Sensual – Sarau da Onça

 


 

Nos descaminhos

Da geografia

De Santo Amaro

De Ipitanga

Sempre me pergo

E me encontro

No final, tudo

Dá certo

Quanto o caminho

É incerto

 

Santo Amaro de Ipitanga e/ou Lauro de Freitas

02 de dezembro de 2014

 

 

 


 

Joguei o cachorro

Do sétimo andar

Não quero latidos

No meu ouvido

Vou ser processado

Crucificado

Esquartejado

Mas joguei

O cachorro

Do sétimo andar

 

Boteco de Vilas, 02.12.2014

 


 

O poeta do pedestal

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Canta, encanta

E se afasta

Se tranca em

Uma casta

Some, em poeira

E, mesmo

Sem eira nem beira

Se “acha”

E perde

A chance

De viver

A poesia

A lida

A vida

 

Festa Literária Internacional de Cachoeira

Cachoeira-BA, 24 de outubro de 2014

 


 

O que eu quero para 2015? É preciso querer alguma coisa? Isso muda alguma coisa? Quero sombra e água fresca. Não sou o responsável pela evolução da humanidade. Tenho direito a não lutar, não ter objetivos, não querer nada além do dia a dia comum, com comida, cama e chuveiro.

Salvador, 31 de dezembro de 2014 (antecipado para 09 de dezembro de 2014)

 

Se as plantas são fagulhas de Deus, então eu converso com Ele quando dialogo com elas.

 

Viver é aceitar a fatalidade da vida.

 

Direito à vida. Quem decide o que eu faço com a minha?

 

 

Je veux un français pour moi. Parfum? Du vin? Passeport? Peu Importe!

Salvador, 10.12.2014

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

 


 

Para quem pode bancar uma universidade, com pais pagando livros, transporte, roupa etc etc, é fácil ser contra às políticas de Cotas Sociais e Raciais de Reparação, Inclusão e Divisão da Renda Nacional. Para quem nunca andou pela Invasão da Constituinte, Bairro da Paz, Fazenda Coutos I - II, Rio Sena, Ilha Amarela, Ilha de São João, Vida Nova, Areia Branca, Estrada da Cocisa, Boiadeiro, Alto do Cabrito etc etc é fácil falar contra políticas de inclusão... Voto no PT, sim! Obrigado!


 

Noivado seguido de Divórcio

 

Este ano bati o recorde

Todo dia um amigo ou amiga

Me pergunta se casei

Se tenho caso, se estou namorando

Dizem que me viram com fulano

Com fulana

Que estou muito próximo de um

Muito ausente de outra

Que casei, que divorciei

Se estou noivo, viúvo,

Fugindo de marido enciumado

Ou se traí a esposa com homem casado

São tantas as conjeturas

As perguntas, ditas e não ditas

Das quais sei por línguas de recado,

Que nem sei se estão falando,

Mesmo, de mim, ou de algum folhetim,

Desses de seriados, de televisão,

Ou estão criando um texto de ficção,

Me colocando como estrela,

Galã da história

Ou gata borralheira...

 

Salvador, 12 de outubro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Me perco nos olhos

Braços, abraços

Afetividades

Fico mareado

Entontecido

Desmascarado

Coração e corpo

Abalados

Cheiros, sensações,

Texturas, tonalidades,

Peles e pelos,

Olhos, narizes,

Cabelos

Ouço vozes,

Penso coisas,

Viagens, sensações,

Grunhidos, rosnados,

Latidos, miados,

Gatos e gatas

Me cercam, me curram,

E esta paixão,

Avassaladora,

Me apequena

O coração,

Me faz menino, menina,

Mutação...

Sonhar não custa

Sonhar não mata

Sonhar não maltrata

Por isso, a fantasia,

A utopia, que importa,

Transporta e me exporta

Para outro coração...

 

Grupo Ágape, Sarau da Onça

Salvador, 13 de dezembro de 2014

 


 

O ano se aproxima

Promessas

Dívidas

Arrependimentos

Planos

Tudo igual

Só o olhar do poeta

Enxerga tudo novo, de novo!

Salvador, véspera de 2015

 


 

Verdades são subjetividades. O olhar de quem vê define o que é visto e traduz para seu próprio campo de conhecimentos. Num sarau de poesias, em que os cicerones são amados e conhecidos por todos os presentes, a poesia se faz, também, presente, no olhar atento e na lente da câmara fotográfica e, com mais clareza, na retina de meninas e meninos amantes da arte da palavra. Aí está uma imagem que se diz sem tradução!




Salvador, 14 de dezembro de 2014

 


 

Brilho de estrela

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Buscamos, como mariposas, a luminosidade;

Aquele fulgor, clarão, lampejo, cintilação...

Inebriados pela resplandecência, pela luz,

Nem sempre damos em contrapartida o talento,

Engenho, habilidade ou lucidez necessários.

Construímos reputação de algodão doce,

Fazemos renome, viramos celebridade;

Nem que seja de um grupo minúsculo e seleto.

Lustramos o verniz, colocamos auto auréola,

E buscamos, infinitamente, a claridade,

Como borboletas ao sol: mais luminosidade,

Claridade, e iluminação; mais cintilância, clarão,

Holofote e manchete...

Vestimos a farda de gênio, de mestre da sabedoria,

Detentor de valiosa informação a que rotulamos cultura e erudição;

Conquistamos sapiência, estudo, conhecimento, instrução,

Cozemos fardas bordadas de diplomas, medalhas, homenagens,

Dignos de vultos, célebres representantes da sabedoria,

Conquistamos notoriedade, notabilidade, renome, glória,

Popularidade e viramos celebridades...

No panteão da fama, ocupamos prestígio, brasão, honra, títulos;

Construímos obras para a posteridade.

Enfim, a imortalidade. Efêmera, passageira...

A vida inteira guardada em pastas, livros, cadernos, pranchetas...

E tudo passa, vira poeira no rastro de outras estrelas...

 

Salvador, 17 de dezembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Acendam uma vela pra mim

 

Acabei de morrer,

Falecer, bater as botas,

Passar dessa para uma melhor,

Bater o pé na cerca, ir pra terra de pés juntos,

Ir pro além, fui comer capim pela raiz,

Abotoei o paletó, descansei,

Empacotei, vesti o paletó de madeira,

Estiquei as canelas, fui a óbito,

Virei presunto, virei defunto,

Amanhã eu volto...

 

Salvador, 19 e 20 de dezembro de 2014

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 


 

Se a realidade é uma criação dos olhos, deixa eu sonhar com o mar transbordante de tua íris; se posso enlouquecer e imaginar que você me deseja; se a realidade é o que penso que seja, então permito-me te querer e acreditar que sou correspondido. E a cada dia renovo meus desejos, olho para outra direção, vou sonhando com um horizonte cada vez mais distante, para não acordar sem ilusão...

22.12.2014

 

 

 

Verdades são subjetividades. O olhar de quem vê define o que é visto e traduz para seu próprio campo de conhecimentos. Num sarau de poesias, em que os cicerones são amados e conhecidos por todos os presentes, a poesia se faz, também, presente, no olhar atento e na lente da câmara fotográfica e, com mais clareza, na retina de meninas e meninos amantes da arte da palavra. Aí está uma imagem que se diz sem tradução!

 

 

Oh, I would love to hear your voice telling me I was the only one!

 

How I would like to get to know you more!

 

Oh, how can I say I really am in love, and waiting for the day you will say the same!

 

How I would smile at nothing, when I could hear your mouth close to my ear saying, between breath, my name!

 

Oh, how long will I wait for your coming, breeze! - Valdeck, 14.12.2014

 


 

"Watch me tearing myself to pieces..."

 

O que fazer quando o simples ouvir um CD de A-ha te leva para janeiro de 1990, em Jequié-BA, pra casa de uma amiga que estava em viagem de negócios ao Rio de Janeiro e você era o guardião da residência onde havia de tudo o que na tua não existia? Aí vem o vinho, picles, o som rolando, irmãos e irmãs chegando para aproveitar um pouco (pisar no chão, sentir o cheiro da riqueza, comer milho em conserva, tomar água gelada, olhar as paredes branquinhas, ver os móveis arrumados de uma forma inusitada)...

 

E aí vêm mais lembranças, de estripulias realizadas, de sonhos sonhados, emoções que ficaram eternizadas ali e que jamais serão repetidas ou revividas...

 

E aí vêm as escolhas todas nesses vinte e cinco anos, os caminhos e descaminhos, profissão, amigos e amores, família perto e família longe, e o olhar pra trás para um horizonte invertido, esse que se chama passado e que, talvez, em vivências quânticas, possa ser percorrido novamente, quem sabe...

 

E aí vem o outro horizonte, à tua frente, ao qual você planeja, mas desconhece onde pode chegar, e nem importa, pois outros horizontes internos e externos, sempre te vão seduzir e entontecer e anestesiar...

 

E aí você percebe que não é dono de nada, nem de cultura, nem de diplomas, nem de afetividades; apenas está no meio de um turbilhão de acontecimentos que chegam e vão como enxurradas em chuvas de verão, e nem adianta capa de chuva ou bota pra se prevenir, pois nada é certo e nada é incerto...

 

A única certeza é o CD que gira e gira e gira e te leva e te traz para onde você nem sabe e jamais saberá... Memórias são Caixas de Pandora às avessas...

Salvador, 29 de dezembro de 2014 - Valdeck Almeida de Jesus

O cachorro não sabe

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Mas hoje é Ano Novo

E ele late e balança o rabo

E faz festa e parece que sorri...

O cachorro acordou cedo

Como faz todos os dias

E sujou o quintal inteiro

E treme de frio

E quer se enroscar em meu pé

E lambe minha mão

E parece que sorri

Ele não sabe que hoje

Exatamente hoje

Faz aniversário de despedida

Do amor de minha vida

O cachorro não sabe e sorri

E eu me alegro com o sorriso dele

E ponho comida

E ponho água

E limpo tudo

E aceito o carinho

E retribuo

E fico feliz

E esqueço

Que hoje é Dia de Ano Novo

 

Salvador, 01 de janeiro de 2015

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

 

 

 


 

The dog does not know

But today is New Year

And he barks and wags his tail

And celebrates and looks smiling ...

The dog woke early

How do every day

And messed the entire yard

And shivers

And it wants to curl up in my foot

And licks my hand

And it seems smiling

It does not know today

just today

Makes farewell birthday

The love of my life

The dog does not know and smiles

And I rejoice with its smile

And put food

And pour water

And clean all

And I accept the affection

And reciprocate

And I'm happy

And forget

Today is New Year's Day

 

Salvador, January 1, 2015

Valdeck Almeida de Jesus

 

 


 

Le chien ne sait pas


Mais aujourd'hui, c’est le Nouvel An


Et il aboie et remue la queue


Et célèbre et semble sourire ...


Le chien s’est réveillé tôt


Comme il le fait tous les jours


Et il a sali le potager tout entier


Et tremble de froid


Et vient s’enrouler à mon pied


Et lèche ma main


Et semble sourire


Il ne sait pas qu'aujourd'hui


Exactement aujourd'hui


C’est l’anniversaire d'adieu


de l'amour de ma vie


Le chien ne le sait pas pourtant il sourit


Et je me réjouis avec son sourire


Et je donne de la nourriture


Et je donne de l'eau


Et je nettoie tout


Et j’accepte l'affection


et je rends la pareille


Et je suis heureux


et j’oublie


Qu’aujourd'hui, c’est le Nouvel An

 

Tradução: De Vries Manson (Camerón)

 

Salvador 1 Janvier, 2015

Valdeck Almeida de Jésus

 


 

Der Hund weiß nicht,

Aber heute ist Neujahr

Und er bellt und wedelt mit dem Schwanz

Und feiert und sieht lächelnd ...

Der Hund wachte früh

Wie jeden Tag

Und versaut die ganze Hof

Und Schauer

Und Sie, in meinem Fuß machen Sie es sich wünschen

Und leckt meine Hand

Und es scheint, lächelnd

Er weiß heute nicht,

gerade heute

Macht Abschieds Geburtstag

Die Liebe meines Lebens

Der Hund weiß nicht, und lächelt

Und ich freue mich mit seinem Lächeln

Und Essen

Und gießen Wasser

Und das alles zu reinigen

Und ich akzeptiere die Zuneigung

und hin und her bewegen

Und ich bin froh,

und vergessen

Heute ist der Tag des neuen Jahres

 

Salvador, 1. Januar 2015

Valdeck Almeida de Jesus

 

 


 

El perro no sabe

Pero hoy és el Año Nuevo

Y ladra y mueve la cola

Y celebra y mira sonriente ...

El perro se despertó temprano

Cómo hace todos los días

Y ensuciado todo el patio

Y escalofríos

Y desea acurrucarse en mi pie

Y lame la mano

Y parece que sonríe

Él no sabe hoy

Precisamente hoy

Hace despedida cumpleaños

El amor de mi vida

El perro no sabe y sonrisas

Y me alegro con su sonrisa

Y pongo comida

Y vierto agua

Y limpio todo

Y acepto el afecto

y reciproco todo

Y estoy feliz

y olvido

Hoy és el Día de Año Nuevo

 

Salvador, 01 de enero 2015

Valdeck Almeida de Jesús

 

 


 

Собака не знает,

Но сегодня Новый год

И он лает и виляет хвостом

И празднует и смотрит , улыбаясь ...

Собака проснулся рано

Как сделать каждый день

И испортил весь двор

И дрожит

И вы хотите , чтобы свернуться калачиком в ноге

И лижет мою руку

И, кажется, улыбается

Он не знает, сегодня

Только сегодня

Делает прощальный день рождения

Любовь всей моей жизни

Собака не знает и улыбки

И я радуюсь своей улыбкой

И положить еду

И залить водой

Очистите все

И я принимаю любовь

И взаимностью

И я счастлив,

И забыть

Сегодня первый день Нового Года

 

Сальвадор , 1 января 2015

Valdeck Алмейда де Хесус

Sobaka ne znayet,

No segodnya Novyy god

I on layet i vilyayet khvostom

I prazdnuyet i smotrit, ulybayas' ...

Sobaka prosnulsya rano

Kak sdelat' kazhdyy den'

I isportil ves' dvor

I drozhit

I vy khotite, chtoby svernut'sya kalachikom v noge

I lizhet moyu ruku

I, kazhetsya, ulybayetsya

On ne znayet, segodnya

Tol'ko segodnya

Delayet proshchal'nyy den' rozhdeniya

Lyubov' vsey moyey zhizni

Sobaka ne znayet i ulybki

I ya raduyus' svoyey ulybkoy

I polozhit' yedu

I zalit' vodoy

Ochistite vse

I ya prinimayu lyubov'

I vzaimnost'yu

I ya schastliv,

I zabyt'

Segodnya pervyy den' Novogo Goda

 

Salvador , 1 yanvarya 2015

Valdeck Almeyda de Khesus

 

 


 

Milagres existem

 

Se eu fosse aquele senhor que tentou pongar na porta central do ônibus e caiu e teve escoriações severas nas duas pernas e ficou uma eternidade estendido no asfalto quente nas imediações do Solar Boa Vista de Brotas esperando o socorro sob os olhos curiosos penosos vingativos contemplativos de transeuntes parentes amigos desconhecidos poetas bêbados e que foi levado com vida para o hospital e do qual não obtive mais informações...

 

Se eu fosse aquele rapazinho franzino de olhos expressivos caído no asfalto quente da Avenida Ogunjá como é conhecida popularmente a Avenida Graça Lessa o qual tinha sido baleado por um segurança de um posto segundo populares e que esperava o socorro que demorou de chegar e levou o rapaz para o hospital mas que não resistiu aos ferimentos e faleceu segundo nota publicada num jornal diário da cidade...

 

Se eu fosse aquele rapaz que morreu baleado em Mirantes de Periperi na parte alta do bairro e que eu ouvi os estampidos quando passava de carro e percebi pessoas correndo para se proteger e não sei de onde vieram os tiros e muito menos as motivações do crime e do qual não li nem ouvi em nenhum noticiário jornalístico...

 

Se eu fosse aquele rapaz que corria de outro que estava armado no fim de linha de São Tomé de Paripe e eu dentro do ônibus esperando a hora programada para o motorista ligar o carro e sair e de cujo fujão não sei se era culpado ou inocente nem o que ocorreu após aquela passagem dele em frente à janela do veículo...

 

Se eu fosse o dono daquela cabeça que rolou numa praça de uma praia suburbana segundo relatos de pessoas que falavam sobre o crime que possivelmente estava relacionado a vingança por coisas insignificantes mas que ceifou a vida de um jovem que bem poderia chegar a altos cargos desta nação ou se tornar parte da legião de eleitores...

 

Se eu fosse aquele corpo encontrado afogado em uma praia qualquer do litoral dessa cidade onde reina a felicidade mas que ceifa a oportunidade de seus cidadãos de terem esperança e futuro e ninguém reconheceu o corpo e acharam que ele veio passear e acabou se empolgando com a beleza natural e com o sabor da bebida e com a paisagem e com a temperatura da água e acabou se esquecendo de se proteger e entrou no mar onde não havia salva-vidas...

 

Se eu fosse o corpo de onde emanava aquele cheiro de carne que sentiram vários e várias ao visitar uma amiga numa biblioteca que fica muito próxima ao local adequado onde são armazenados os mortos para serem reconhecidos por alguém ou deixados lá até que o prazo seja avaliado e decidido o que fazer com os não reconhecidos...

 

Se eu fosse um daqueles perambulantes ou moradores daquele banco de mármore na praça onde morreram assassinados quatro heróis de um levante popular e onde agora morrem esperanças de velhos e perspectivas de crianças e jovens filhos desses anciões e de senhores e de senhoras que disputam um copo ou uma concha de mingau ou sopa ou um pedaço de pão ou um gole de suco ou um cobertor ou um sapato que não cabe no pé...

 

Se eu fosse um desses milhares de seres humanos de todas as idades que diariamente catam café nas fazendas ou que podam pés de cacau ou que limpam sapatos pelas ruas das cidades ou que chafurdam no lixo em busca de restolhos e de tudo o que não serve para humanos e humanas e que comem dejetos e que não são vistos por ninguém que passa ao lado ou ao largo ou por ninguém que não quer ver...

 

Se eu fosse um desses vermes imundos que comem carne podre de cadáveres jogados às margens das rodovias e nos pontos de desovas ou que morrem antes de chegarem aos hospitais ou que morrem depois que são atendidos ou que morrem nas mesas de cirurgia ou que não morrem mas ficam mutilados ou que morrem antes de nascer ou que morrem e não morrem e vegetam em alguma unidade de terapia de alguma unidade de saúde...

 

Se eu fosse um daqueles corpos carbonizados em veículos que se acidentam ou eu fosse um daqueles cujos corpos desaparecem pra sempre no fundo do mar após quedas ou derrubadas de aviões de passageiros...

 

Se eu fosse um daqueles que são explodidos em trens metrôs ou praças ou estabelecimentos comerciais por homens bombas ou por bombas jogadas de aviões que combatem a violência mas que causam tantas mortes quanto quem guerreia no chão contra seus próprios semelhantes...

 

Quando finda um ano e estou ainda aqui a esperar por uma vaga no mercado de trabalho ou se já tenho garantido meu emprego ou se continuarei trabalhando onde acho uma chatice ou se estou estudando e tentando minha primeira colocação ou se vivo dependente de alguém ou se sou ambulante ou se sou empresário ou se sou político delegado eleitor vereador músico poeta ou cantador de viola...

 

Aí sinto que posso sonhar por mais um dia e agradecer por mais um monte de oxigênio que eu gasto desse universo...

 

Salvador, 05 de janeiro de 2015

 


 

Je suis eu mesmo

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Procura-se espaço na mídia

Vale colocar gel tóxico na bunda

Sugar a gordura da barriga

Correr sem roupa nas ruas

Comer até desmaiar

Desfigurar a cara ou o corpo

Inventar uma grande mentira

Publicar um livro, fazer um filho e planar uma árvore

Pendurar uma melancia no pescoço...

Mas o maior destaque

Que se pode ter

É viver a vida inteira

Como mera pessoa anônima

 

Salvador, 15 de janeiro de 2015

Valdeck Almeida de Jesus

 


 

Poema para Amanda

(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)

 

Quando nasci

Tudo foi natural

Corpo, alma, olhos,

Braços e abraços

Gestos manifestos

E o tempo passou

E com ele

Não aprendi a falar

Olhar, sentir o coração,

Soltar um sorriso

E algo faltava em mim

O tempo passou

Atrofiou o meu corpo

Truncou minha fala

E minha compreensão de mundo

Só comi e bebi com ajuda

E o tempo decorreu

Com ele, perdi mobilidade,

E fui chamada à eternidade

No astral, sou eu mesma

Minha alma sorri e flutua

Inteira, integral

Aqui, meu coração é total...

 

SAC Barra, Salvador, 21 de janeiro de 2015

 

 


 

Tem hora pra quase tudo...

Tem hora que nem a poesia é suporte
Nem a beleza do dia a dia evita a morte
Tem hora em que tudo é maresia
Mesmo quando o mar não habita em mim
E se alguém me diz que tenho sorte
Aviso aos marinheiros: içem as velas
Acendam quantas puderem
Ninguém nesse mundo é forte
Quando o vento sopra no sentido contrário...
Meus "ais" não são os piores
Mas meus calos doem, ah, doem!

Salvador, 13.01.2015 – Valdeck

 

 

 

 

Todos nós somos sozinhos, no amor ou na dor, no meio da multidão ou num beco escuro, somos apenas nós, nós, muitos nós...

 

 

Salvador, 19 de janeiro de 2015

 

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

Esperando um sinal qualquer

pra pular do trampolim

e me afogar

no mar dos teus olhos...

 

 

Salvador, 30.12.2014 - Valdeck

 


 

Ponte de areia

 

E quando o tesão

Não mais

Me atrair

A mim e a ti

Que energia

Vai nos ligar

Nos unir?

O deserto

De toda emoção

Vai criar ponte

Entre o teu

E o meu

Coração?

 

Salvador, 25 de janeiro de 2015

 


 

Garanta estourada

Gripe querendo

Me derrubar

Eu resisto

Me encosto na parede

Estou ficando verde

Olhos mostram tudo

Cansaço, moleza

Ou tristeza

Eu resisto

Hoje a poesia cria asas

E eu voo com o Grupo Ágape

 

Lançamento do livro “A poesia cria asas”, do Grupo Ágape

Salvador, 13 de dezembro de 2014

 

 


 

O cansaço tenta me vencer

Mas a energia se renova

A cada olhar, abraço,

Aí eu tento me convencer

Que o que faço

Merece continuar

Pois a poesia

Não me reprova

Ao contrário

Me reanima,

Me põe pra cima

E demonstra

Por si só

Que aqueles

Que têm utopia

Serão sempre poesia

E jamais ficarão sós...

 

Sarau da Onça, lançamento do livro “A poesia cria asas”, do Grupo Ágape

Salvador, 13 de dezembro de 2014

 


 

Rodas de filosofia e poesia

Gente estranha

Desajeitados

Desengonçados

Desmazelados

Quando se ajeitam

Viram rappers

MC’s, DJ’s, VJ’s e outros tais

Pensar atrofia o corpo

E a aparência (!)

Burro inchado

Sapo imprensado

 

Gabinete Português de Leitura

16 de dezembro de 2014

 

 

 

 

 

Minha mesa tem vasos sanitários ao redor, sentamos em pinicos na sala e na cozinha panela de pressão e penico têm o mesmo formato

 

 

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Você foge dos meus olhos

Mas não do meu desejo

Evita minha presença

Mas não impede meu sofrimento

Te desejo ao cubo, total

E não preciso que saiba

Pois só de saber de você

Sinto como se me pertencesse

Inteiramente, real.

 

Salvador, 27 de janeiro de 2015

Te imaginando sumir no corredor

 


 

Amar é bom

Dá saudade

Dá frio na barriga

Ajuda a viver

Sorrir e sofrer

Amar é bom

Passa o tempo

Faz a vida valer

Mas tem o ciúme

E tem a pirraça

E tem a dor

Amar é bom

Quando não se tem

Um grande amor.

 

Salvador, 07 de fevereiro de 2015

 

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