Antologia
Todos os Poemas
Valdeck
Almeida de Jesus
Parte
18
Versões
atualizadas e outras nem tanto
Ninguém chega ao topo
sozinho
Mesmo que não
enxergue
Ou finja não ver
Ao longo do caminho
Ninguém chega ao topo
sozinho
Mesmo que não
enxergue
Diversidade de cores
E de bastidores
Ninguém chega ao topo
sozinho
Mas cair todos podem
Se achar que o poder
O mantém no caminho
Ninguém chega ao topo
sozinho
E nem lá se mantém
Sem ajuda de ninguém
E nem lá se mantém,
sozinho
Salvador, 27 de
novembro de 2013
Valdeck Almeida de
Jesus
HAI
KAI> O RAI não cai duas vezes no mesmo lugar. RAI que KAI.
Pedaladas. Cinco por
cento dos meus amigos não sabem andar de bicicleta. O restante tem artrose,
problema de coluna, osteoporose, preguiça, acorda tarde, mania de doença ou
recomendação médica para não fazer esforço.
Disciplina:
Obssessiva, metódica, chata, sistemática, compulsiva, organizada, adestrada.
Os dez mandamentos da
Lei de Deus são dois: não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
Colado atrás é
redundância. Cola é trazeiro.
Água em pó.
Invenção do milênio. O “químico” Valdeck Almeida de Jesus criou a água em
pó, que vai revolucionar o problema da seca e dos desertos. Para transportar é
fácil, armazenar, idem. Na hora de usar, basta usar um litro de água líquida
para cada quilo de água em pó para dissolver.
"Me curta que eu
te (a)longo". Valdeck A. Jesus
Carlos Alberto
Barreto Barreto, Marly Caldas e todos os amigos e amigas escritores(as), poetas
etc... Jorge Baptista Carrano, somos todos lados pares e ímpares das moedas
diversas dessa nossa arte/cultura/literatura. Cada um de nós todos, como pode e
como entende, cada um, como compreende e em sua medida, dá o máximo para este
processo coletivo. Diferenças nunca deixarão de existir, egos, ids e superegos,
idem; somos todos humano. O bonito de tudo isso é participar do processo.
Cento
e quarenta toques: enfileirados, cento e quarenta homens esperam o exame de
toque. Cento e quarenta dedos penetram, examinam: tudo ok.
Rua
da Palha
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
E também do barro
poeira e pó
de gente sem eira
nem beira
nem pena nem dó
Rua da palha
e da fome
que comia mulher
e comia homem
Rua da pobreza
da doença
da tristeza
rua sem pedra
nem pau
calçada com merda
e espinho
onde a morte
roía os ossos
dos pobres diabos
mulambos de gente
ô povo insistente
que teima em viver
quando a fome
e doença
a falta de crença
quer todos na terra
embaixo da terra
pra acabar com a
guerra
de não ter o que
comer...
Rua da palha
sem telha e sem calha
sem chuva nem água
nem para beber
terreno baldio
pra gente sem brio
pra pobre morrer
Ali a criança
brincava contente
com a pança vazia
sem mesmo saber
que a fome comia
a sua esperança
que o seu futuro
jogado em dadinhos
ia ser no monturo
Salvador, 03 de
dezembro de 2013
Minha Rua, Rua da
Palha, Jequié-BA
Poesia
no IML
Tanato
Internato
Eterna prisão
É tudo na vida
Preparo
Formol
Roupagem
Lençol
É pura ilusão
Viver sem morrer
Sem passamento
Perecimento
Esquecimento
Sobre ou sob
O frio cimento
Choros, velas
E lamentos
Falecimento
Deteriorar
Destituir
Apodrecimento
Tanato
Putrefato
Fim
IML, 04 de dezembro
de 2013
SOLILÓQUIO. Pasteurização. Tudo limpo, tudo esteticamente
maquiado para não chocar. Panorama com horizonte que não tem curvas nem pedras
no meio do caminho; nada fora do lugar, impecavelmente pensado, projetado,
desenhado; a estética do igual, massagem de egos, prateleiras numeradas, onde
não entra quem não tem a senha do bom-mocismo; navegantes desavisados são
expurgados, extirpados, afundados na maré baixa e afogados na maré cheia; não
se pode cuspir, não se pode sentir nada além da cara de paisagem e do falar
pausado; coloquialismos não entram; lapidação é sempre bem vinda, protegida,
colocada na torre de marfim; discursos são esvaziados de sentidos múltiplos,
todos devem falar a mesma língua. Amém ao Grande Mercado Cultural, Amém ao
Mundo das Aparências Polidas. Aqui não há lugar para divergência, dissidência.
O tapete é plano, asséptico...
Salvador, 04 de
dezembro de 2013
Sou um ex-eu; todo
dia renasço outro; em todo outro me encontro, eu.
Esta é minha praia.
Refletir sobre a vida, falar sobre coisas banais, viver estes pequenos
detalhes. Só me falta mais motivos para mergulhar de vez nas pequenas coisas da
vida.. olhar gente passando na rua, esperar a maré encher e vazar, observar o
copo suar e molhar a mesa, acompanhar pedacinhos de papel voando pelos ares...
Não sei escrever
sobre flores, não tive jardim.
Se você dever a Deus,
dê adeus à vida (dê a Deus a vida).
Valéria, Salvador-BA,
08.12.2013
Escutando
pardais chilrear... Eles voam, revoam, pulam por cima do muro e fazem a maior
algazarra... Parece que o telhado da casa vizinha é a morada ou o lugar
preferido deles. Ontem pela manhã a mesma festa. E amanhã, provavelmente. Só eu
que irei embora, para minhas rotinas soteropolitanas...
Vitória da
Conquista-BA, 26.12.2013
Um mundo de
out-doors; comerciais, chamadas auditivas e visuais; luzes piscando, mãos
balançando, rostos posando; frases conexas ou desconexas; sinais de todas as
formas e para todos os motivos; olhos, ouvidos e pele se cansam também...
exposição, mídia, o homem é o que se mostra.
Colhendo:
ansiedade, compulsão, vício, pouca construção...
Guarulho,
23.12.2013
Meus pêsames
pela sua morte.
A esperança é
a última que morre... Como os últimos serão os primeiros, ela se foi...
"Eu acho
legítimo que qualquer brasileiro se candidate a cargos eletivos. E a
Constituição Federal baliza este direito. Mas já vi gente caçando marajá,
caçando bruxas e caçando corruptos. É uma infalível plataforma midiática, que a
imprensa (des) e comprometida abraça. Depois, os brasileiros pagam a conta.
Como eu
gostaria que os demais eleitores pudessem refletir bem antes do próximo
pleito..."
Valdeck
Almeida De Jesus Lotado
Salvador, 06
de dezembro de 2013
Pedindo aos
céus que iluminem a todos e todas que precisam de luz; que acalentem a quem
necessita de um cafuné; que protejam às mentes daqueles que vivem em prol dos
impactos midiáticos; que neste Natal e Ano Novo todos os bons sonhos se renovem
e as pessoas se predisponham a caminhar um novo caminho...
Vitória da
Conquista-BA, 25.12.2013
Tripé da Inquietude
Se todos têm razão
Se cada um realiza
Não há por que
‘senão’
Não há por que baliza
Se todos têm razão
Não há ninguém errado
Não necessita carta
Tampouco jogo e dado
Tripé de duas pernas
Não pode se firmar
Então minha razão
Não pode ultrapassar
Não pode invadir
Nem pode sufocar
Câmara Municipal de
Vereadores de Salvador
22 de novembro de 2013
Eu sou aquele que não
é
poeta que não rima
baixo com cima
nem mina com macho
do absurdo
sou o previsível
da surpresa
sou o trivial
sou aquele que não é
nem mesmo será
porque a vida
é fugaz
lépida demais
para eu acompanhar
sou o despoeta
da falta
e do nada
que some no dia
e morre
sem ressuscitar
sem o lusco-fusco
e o vulto
que ilude e
se mostra como não é
porque ainda vou
ser o que não é
e não serei nunca
Sarau Erótico, 12 de
janeiro de 2014
(Museu Nacional da
Poesia)
Eu me pergunto com
quantos muros se faz uma universidade;
quantas teorias e
grupos de estudo;
me pergunto se um dia
tudo vai virar periferia,
onde a prática vale
mais que a filosofia;
me pergunto de
quantas vielas se faz um(a) universo (cidade);
e se meus pés pisarão
no chão que sustenta esta diver(sidade);
quantas teses serão
necessárias para pavimentar minha fome de conhecimento;
e quanto cimento
construirá um lugar em que se sonhe viver uma eternidade;
me pergunto, e não
espero um estudo teórico, uma autorização, uma diplomação; vou seguindo, por
fora dos muros, sobrevivendo, sem um arranhão".
Salvador, 12.01.2013
- Reflexão nos olhos de alguém não terei...
Meu novo suicídio
(Museu Nacional de
Poesia)
Desnecessitando
de aprovação
me pergunto
quantas vezes
preciso morrer
no trabalho
na família
entre
"artistas"
pela
incompatibilidade
com a Terra
ou dela comigo
me pergunto
quantas concessões
renúncias
desistências
para ser aprovado
no vestibular
da minha morte
da minha negação
Salvador, 09.01.2014
Cada um se movimenta
na direção do seu próprio desejo.
1 (mil) é pouco; 2
(mil) é bom; 3 (mil) é demais.
A vida só é boa na
contramão.
Chega um momento da
vida em que a solidão é a única companheira.
Destra. Adestrar. Não
sou enviesado nem sou adestrado.
Quem tiver língua
para ouvir, enxergue.
Transplante
de cérebro
Para pessoa que
querem,
mas não podem
gerar ideias
originais
em suas próprias
cabeças!
Valdeck Almeida de
Jesus
Salvador, 19.01.2014
Direito à Morte
- Qual seria o motivo
justo para uma pessoa escolher o dia de sua morte?
- Quando não
enxergasse, ou não pudesse andar, ou, ainda, fosse acometida de uma doença
incurável.
Numa festinha de
confraternização de final de ano alguém olhou para um gay e comentou baixinho,
é um ninjo.
Na hora dos brindes,
o gay tomou a palavra e perguntou a todos:
- Qual a coisa mais
importante entre as pessoas?, respondendo em seguida, o respeito. E completou:
A gente não precisa de religião pra respeitar; não precisa de Deus pra
respeitar.
É com muito pesar...
que vendo comida a quilo.
"Eu sou a pessoa ideal para quem procura a
pessoa ideal como eu". "Conheço todos os lugares do mundo que eu
conheço".
Estou disponível. Sem visto no passaporte nem
dinheiro no bolso.
Sala de Espera
Com ou sem internet, cada um pensando em si.
Alguns olhando a esmo para a TV, sem prestar atenção. Revistas empilhadas
aguardam mãos e olhos que não chegam. Uma paisagem linda pode ser vista pelas
frestas da persiana, mas ninguém se aproxima da janela. A espera pelo chamado
da médica deixa todos tensos.
Não preciso de ninguém
Descobri que sou inteiro
TOTAL
Poço de inteligência
Uma pessoa ESPECIAL
Não preciso de amigos
Parentes, filhos, irmãos
Pais, mães, desconhecidos
Me basto, sou todo coração
Sou humano, humilde
Inteligente, legal
Não preciso de ninguém
Pois tudo que preciso,
Está em mim,
Não em alguém
Estou inteiro, solteiro
Autossuficiente
Sou GENTE
Nem dinheiro nem bens
Nada me detém
Nada me prende
Nada me surpreende
Estou em êxtase por isso
Um homem solto
Sem compromisso
Nenhuma cultura
Sepultura
Nada me amedronta
Nada me afronta
O que sei me completa
Sou uma pessoa repleta
Plena, ecologicamente pronta
Porque tenho tudo
Em mim, dentro do peito
Sou um homem perfeito
Pois tenho cada um dos outros seres humanos
em mim
Vitória da Conquista, 23 de dezembro de 2013
Poesia
ou minha pica
Corri na Faixa de
Pedestre
E nem sei o que dizer
Enchi a cara de
cravinho
Bebi cerveja
E andei a pé no
Pelourinho
Fui pra casa andando
Não sei o que me deu
Mas suei pra porra
Cansei de andar
Minha idade não
permite
KKKKKKKKKK
Mas estou contra tudo
O que é convencional
Cheguei são e salvo
Alegre e sorridente
O álcool me ajudou
Para quem nasceu e
vive dentro daquilo que se convencionou de 'normal', 'natural' e outros 'als',
é difícil compreender, perceber, aceitar, conviver, conceber, imaginar,
compartilhar, entender que há outras formas de pensar, sentir, amar.
Para quem está no
conforto do estabelecido e do normatizado é complicado abrir os olhos e o
coração para as várias possibilidades. É bem mais fácil usar crenças, natureza,
e até deuses para justificar suas visões unilaterais.
Assim se justifica
toda forma de combate, discriminação, apartheid, violência, exterminação,
porque nada além do umbigo existe nem merece existir.
Salvador, 01.02.2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Natureza sendo
devastada, crianças morrendo de fome, pessoas atropeladas, enchentes,
analfabetismo etc acontece desde sempre e todo dia é dia para combater. Mas
também é todo dia e toda hora que se deve combater a indiferença, que gera
desrespeito, discriminação e
Todo mês é lugar de
ser perder...
Aqui é lugar nenhum,
sem ser lugar comum
Lembra Jamaica, New
York, Caracas, Genebra ou Madrid
Aqui é onde a África
mora, onde quem é cu doce cora
Com vista para a Baía
de Todos os Santos
e sob a bênção do
Senhor do Bonfim
este lugar me
refresca, é onde reponho energias
e me conecto com a
poesia
viva, latejante,
fervente e erótica
No ar, a energia, o
tesão, a inspiração
Aqui é o lugar, que
não sei onde começa ou termina
Nesse lugar a
inspiração transpira, inspira e respira
Pois é: esse é o meu
lugar.
Nesse canto se cria e
consome arte, arti-cu-lação
Lugar de fronteira
sem de-li-mi-ta-ção
Nesse ambiente, meus
poros me consomem,
seja você mulher,
transgênero ou homem
É aqui que a boca
fala
e lugar onde o falo,
também, tem vez,
Devagar, ou enviado
de vez.
Aqui é o Sarau
Erótico
Sarau Erótico,
01.02.2014
Minha nova paixão é
ficar em casa, sem saber o que acontece lá fora... Não escrevo, não penso, não
produzo nada. White-out total na mente.
Valdeck Almeida de
Jesus,
Salvador, 17.01.2014
Poema Barra
Quando poema
não expressa
quem sabe
um drama
policial
com direito
a lágrima
prisão
e perseguição
quando um poema
não expressa
melhor não falar
nem ouvir
quem sabe
desintegrar
sair da carne
virar espiritual
quando o poema
não exprime
mas só oprime
talvez uma grade
talvez uma fraude
se a palavra
não exprime
talvez a arma
seja uma grade
pois a vida
às vezes
é Barra...
Salvador, 11.02.2014
Mecenas de mim mesmo.
Para cada quilo de burocracia,
carimbos, ofícios, papeladas, formulários, autorizações, taxas, impostos,
contribuições, processos, pareceres, dossiês, decretos e publicações em
diários, eu escrevo várias tortuosas páginas, encaderno, editoro, imprimo,
espalho na internet, contamino mentes e almas, por aí a fora. Sigo fazendo o
que o rito não permitiria, não autorizaria.
Salvador-BA, 20.02.2014
Gastei tanto tempo
numa escola de datilografia...
Depois me vangloriava
em poder "digitar" no computador com os dez dedos... Sorria de quem
datilografava ou digitava com os dois dedos indicadores...
Agora, se eu quiser
ser 'moderno' e usar um Smartphone, I-Pad, I-Pod, terei que teclar com os dois
dedos polegares...
Salvador, 25 de
fevereiro de 2014
Estou cheio de gente
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Meu Facebook tá cheio
de gente que morreu
Cheio de gente com o
pé na cova
Cheio de gente nas
últimas
Cheio de gente mais
pra lá do que pra cá
Cheio de gente indo
pra terra de pé junto
Cheio de gente
fazendo a passagem
Cheio de gente
contando os dias...
Valdeck Almeida de
Jesus
22 de fevereiro de
2014
Volta pra tua
terra...
Você sai de carro,
vai à casa de tua amiga de reggae e espera uma hora e meia enquanto ela se
veste e, depois, encontre a chave da casa para sair. Desiste de dar rolé
dirigindo, volta pra casa com a regueira, deixa o carro perto de tua residência
e sai caminhando com ela pelo Centro Antigo de Salvador. Barbalho, Santo
Antônio Além do Carmo, Pelourinho, Bar do Cravinho. Depois de umas cervejas
geladas, segue caminhando até a Piedade, onde pega mais beers e o ônibus para
Conjunto Pirará I, que serve tanto pra ela quanto pra você, que descerá no Colégio
Icéia, dois pontos depois de tua colega.
O motorista do
veículo faz pequenas acelerações, “ameaçando” sair, para que os passageiros
subam no veículo. Você, brincando com tua companhia, apressa ela, e comenta que
tem que subir empurrando, pois Salvador é a cidade do empurra-empurra. O
passageiro da frente não gosta da conversa e se intromete.
- Volte pra sua
terra. Aqui é cidade de gente educada, ordeira.
- Só se eu for embora
e voltar de novo, pois minha “terra”, é aqui. E sou testemunha da desordem que
é esta província, você retruca.
Certamente o
indivíduo achou que sua colega era estrangeira, ou paulista, por causa da
aparência dela, branquinha, olhos azuis, cabelo aloirado. E, por isso, queria
mostrar uma Salvador da Alegria e dos bons modos, onde tudo funciona...
Enquanto você pagava as passagens, ele continuava a olhar para vocês,
certamente querendo levar a “conversa amistosa” adiante...
Você segue seu rumo,
procura um lugar bem distante do sujeito e fica perto da porta de saída,
estrategicamente, mesmo porque faltam apenas duas paradas pra vocês descerem do
veículo de “primeiro mundo”, sujo, apertado, chacoalhante e lotado feito uma
lata de sardinha. No percurso, conversa com sua amiga, lembrando a sujeira das
ruas, a desordem e o caos do trânsito, enfim, tudo o que é corriqueiro e
conhecido de quem mora na Cidade da Felicidade. No ponto do Colégio Severino
Vieira, a “estrangeira” desce e você segue por mais dois quarteirões; bate papo
com um passageiro, pegas os cartões de visita dele, ouve comentários diversos
sobre vários assuntos e desce no ponto do Icéia. A frase que fica na memória,
por muito tempo, é aquela de quando entrou no ônibus:
- Volta pra tua
terra...
Salvador, 26 de
fevereiro de 2014
LUTO
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
A gente sonha com um
filho
Roga a Deus que ele
venha
Saudável,
inteligente,
Trabalhador, honesto,
Que ame a liberdade
e que respeite o
próximo
Espera mais que nove
meses
o dia de ver seus
olhos
sentir a pele, o
calor do corpo
Se apaixona, sem
conhecer
e sonha, e imagina e
cria imagens
E vê crescer, falar a
primeira palavra,
a dar os primeiros
passos
Acompanha até a
escola,
Ensina a andar de
bicicleta,
respeitar as leis e a
vida
E vem um desconhecido
e muda tudo...
Antes de deixar de
sonhar
de novo, e insistir e
vencer,
EU LUTO...
Valdeck Almeida de
Jesus
Salvador, 18 de março
de 2014
Pontes
São construídas pau a
pau,
ferro a ferro, no
dia, na noite,
na vida
Produto pronto, liga
pronta, liga,
conecta.
Como não colocar mais
pedaços na ponte?
Como caminhar
pensando
em não construir?
Pontes Poéticas
Pontes Afetivas
Pontes...
Museu Rodin, 22 de
março de 2014
Deus e a Maconha
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Mestre é para ser
seguido
Não cegamente, mas
mas e mas... muitos
“más”
Ninguém é dono da
verdade
e teorias
academicistas
não substituem
nunca vão substituir
a vivência da rua
a poesia nua
a arte crua
e não me venham com
escala
com régua e
compasso
me dizer que o fazer
tem que ser
metrificado
que a estátua tem que
caber
dentro de um quadrado
Redondamente está
Equivocado
quem pensa que sabe
sem experimentar
apenas com títulos
diplomas, cadeiras
lustradas
das bundas de quem
não sai de gabinete
pra na arte pintar
e o que tem a ver
Deus com Maconha?
Não sei nem quero
teorizar...
Salvador, 23.03.2014
Férias de mim
São tantos carimbos
Formulários e senhas
Autorizações
Pedidos de licença
“Por favor, me
desculpe”
Indicativos
Regulamentos
Regras, sinalizações
Semáforos pra tudo
Cartões, até pro SUS
Números secretos
Documentos
Regimentos...
Pra nascer, um
registro
Pra viver, pra
morrer,
Pra sorrir, pra
chorar
Sempre um cartão
Um código, uma
autorização
São tantos carimbos
Formulários e senhas
Longe dos vinte anos
Beirando a morte
Nos quase cinquenta
Tem horas que nem
corpo
Nem cabeça
aguentam...
Salvador, 26 de março
de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Fortaleza
Ela se fazia
de forte,
que podia vencer,
mas não aguentava
e caía, nas
cartas da sorte
Era mandona
autossuficiente
debochava
até da morte
mas bastava
um afago
uma promessa
mesmo vaga
pra se revelar
incrivelmente
humana...
Salvador, 27 de março
de 2014
Eu
só uso drogas
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Não colaboro com
assassinatos
subornos
tráfico de armas
tráfico de
entorpecentes
lavagem de dinheiro
sangue derramado
morte de jovens
negros
morte de adolescentes
viciados em geral
aumento do crime
mentiras
lares destruídos
saúde debilitada
sequestros
choro e vela
lágrimas vertidas
tristezas
sufoco
roubos em geral
violência policial
guerra entre
quadrilhas
toque de recolher
famílias destroçadas
corrupção de menores
aliciamento para o
crime
eu só uso drogas
Salvador, 31 de março
de 2014
Disconected
Passion anymore
because my age
because my face
because my color
because my weakness
because my tireness
05.04.2014
Dor
de pai
De filho a gente não
se esconde
a dor devasta por
dentro
e vai além da
gestação,
do cordão umbilical
ou dos nove meses
a dor de pai
é não controlar o
destino,
não poder escolher
o melhor ou pior
para a menina ou
menino
a dor de pai
é não poder
determinar a rota
ou o trilho
é não poder doer, em
si
a dor do filho
a dor de pai
é não sentir a fome,
o choro
a alegria, o frio, a
agonia
é não poder
substituir
a dor do filho
dentro de si
Salvador, 09 de abril
de 2014
Se
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
você sentisse tesão
não aguentasse me ver
me agarrasse
comesse com os olhos
sonhasse comigo
me desejasse
Se
você perdesse o sono
sonhasse comigo
falasse de mim ao
vento
suspirasse fundo
fizesse de mim
o teu mundo
se você morresse
caso me perdesse
eu te amaria
mesmo sem amor
21 de abril de 2014
Nossas diferenças
me fortalece
daí
falamos o mesmo
sotaque
trajamos
igual
trejeitos
similares
gostos
e preferências
sabores
e detalhes
num sonho.
Só divergimos
nos olhares
22 de abril de 2014
Só Deus
te conforta
e liberta
dos medos
e da consciência
Só Deus te protege
preenche o vazio do
peito
te dá alegria
e esperança
Só Deus
te perdoa
e te aceita
só Ele caminha
contigo
te segue e te guarda
Só Deus
21 de abril de 2014
Toda a tua força,
beleza, coragem,
inteligência,
toda a tua conquista,
tua fé, fortaleza
toda a tua crença,
sabedoria, aparência,
tranquilidade,
equilíbrio,
liberdade,
perseverança,
toda a tua vida,
existência,
carnal, espiritual,
apatia ou construção,
toda a tua alma,
calma,
ciência ou intuição,
é tudo d’Ele
e tua ilusão.
Portanto, curva-te
diante da grandiosidade
percebe a ti como
insignificante
perante a eternidade.
Salvador, 22 de abril
de 2014
Vestibular
Depois do ENEM, só há
duas formas de ingresso em universidades. Para quem vence, o SISU,
para os últimos colocados, o SIFU.
06.01.2014
"Estou onde
estou. E onde estou, é aqui mesmo, onde me encontro".
Onde Estou, 28 de
fevereiro de 2014
Amigos e amigas,
A luz divina está em
minha vida. O primeiro passo para uma longa e abençoada jornada foi dado. Deus
está guiando cada instante desta jornada. Minha fé e meu amor pela divindade,
restabelecidos, me guia para a paz celestial.
Salvador, 17 de abril
de 2014
Lamento de mim
Não sei quanto
sofro por cada um
Meu filho que se foi
ou meu amigo que
voltou
pois nego o sofrer
por ambos
Um, porque não é meu
Outro, porque também,
não
Em ambos, um pouco do
afeto
daquilo que eu seria
se ambos fossem meus
quantos por cento
quantos por mil
ausência ou presença
ou lamento de mim
Não sei por quem
sofro
e por que é assim
Se sofro por ambos
ou se sofro por mim
Salvador, 19 de abril
de 2014
"Sou contra
todas as convenções, mas não vivo sem regras, inclusive a de não ter
nenhuma."
Valdeck Almeida de
Jesus
Minha Cultura?
Semear
Adubar
Cultivar
Colher
Espalhar
Recomeçar a semeadura
Eu tenho metade
da idade de Jequié
A rua onde nasci
ainda é de chão
batido
com esgoto escorrendo
a céu aberto.
Salvador, 08 de março
de 2014
No meio do caminho
tinha uma poesia
Refúgio
na Suíça
Esse sol de Genebra
em manhã de abril
com o frio e a luz
não me exige comprar
livro
nem me pede
explicação
numa língua que não
conheço
Esse sol de Genebra
que não vejo e nem
sinto
não me recrimina
quando (e se) minto
se (e quando) fujo de
encontros
e palestras e
recitais
em línguas que não
conheço
Esse sol de abril em
Genebra
não me angustia por
doença
nem por vício nem
saudade
Porque esse sol de
Genebra
me afasta da saudade
e da falta que sinto
daqueles
que não me querem...
Salvador, 28 de abril
de 2014
Brasileiro também é
preconceituoso (Ou: pra não dizer que não falei das
bananas)
Construímos prédios e edifícios com
entrada “de serviço”
Tribunais têm entradas e elevadores
exclusivos para excelências
Anúncios de emprego pedem pessoas de
“boa aparência”
Festas particulares exigem roupas
“esporte fino”
O Homem Aranha reina em festas de
aniversários, no lugar de possíveis Sacis Pererês, Curupiras, Mulas sem Cabeça
e outras personagens do “folclore popular”
Mulheres e homens alisam o cabelo para
entrar no “padrão”
Nos teatros há ingressos “vips”, mais
caros, na frente
Camarote é moda em festas populares,
para poucos
Reis e Rainhas do Axé não precisam ser
do gueto
O academicismo passa na frente da
sabedoria e cultura populares
Nos jornais de fim de semana os mortos
são pobres e pretos da periferia
Nosso Deus é branco, heterossexual,
loiro, de olhos azuis e brasileiro...
Salvador, 01 de maio de 2014 – Valdeck
Almeida de Jesus
Meu
Desestado
Meu ESTADO é
Descrença em Escola que só investe em muro, quadro, salário;
Meu Estado é
Descrença em Segurança que prioriza viatura, farda, salário;
Meu Estado é
acreditar que Transporte é apenas rua, ônibus, viaduto;
Só o Hip Hop Salva!
Viva a Poesia! Vida o Sarau da Paz!
Não sou um ser
social. Eu me submeto a certas regras por questão de sobrevivência.
Minhas horas são
infinitas no vício da internet, enviando e recebendo conversas idiotas, lixo,
spams e besteiras que não terminam nunca...
Meu Tempo não é ouro.
É para se perder, jogar conversa fora, sair sem rumo, bater perna, cair na
gandaia, dar um rolé, ficar de maresia...
Tento me curar do
vício de navegar na internet e nas Redes Sociais. Mas aonde eu chego as pessoas
me fazem comentários, piadas, falam de postagens e outras besteiradas que
fizeram, como se eu estivesse querendo saber...
16.05.2014 Valdeck
A de Vinho
“Quando a noite traz
a claridão que a tudo esconde
Vou ao dia escuro
buscar você aonde...”
Vergonha
de sentir solidão
Aprendeu a digladiar:
A vida, como um palco,
Deu fôlego para o
improviso.
Batente pela manhã,
Escola pela tarde,
Cursinho pela noite,
Rodeada de gente
Por todos os lados...
Finais de semana:
Frango e macarrão
Missa pra pagar
pecados.
Nunca foi uma ilha,
Nem sentia falta de
gente...
Mas tem horas
Que todos somem.
O que aprendeu
Pra ser
autossuficiente:
Descartou solidão
E em dias solitários
Resta fazer de conta
E esperar a
segunda-feira chegar...
1º domingo de junho
de 2014 (VAJ)
Tudo que eu disser
você repete e completa com “atrás de mim”
- Tem um elefante
- Tem um elefante
“atrás de mim”
- Tem um carro
- Tem um carro “atrás
de mim”
- Tem um furão
- Tem um furão “atrás
de mim”
Para aquela
solteirona em busca de namorado:
- Tem um partidão
atrás de você.
- É mesmo? Quem é?
- Você tem que prestar
atenção. Chega em casa, pega um espelho e olha para sua bunda. Tem um partidão
atrás de você.
Todo poeta é um
sonhador
Um dia se torna
imortal
Através da palavra
Pela ideia, pelo
sonho
Um poema, um filho
Uma árvore
“Tudo se resume a
isto: estar sempre bêbado”
Os séculos se
escorrem
E os poetas não se
cansam
De sonhar
Com os pés no chão
Com os pés nos ares
Com o coração na mão
Os poetas sonham.
Sebo Porto dos
Livros, Salvador, 04 de junho de 2014
O infinito antes e
depois
do grande Big Bang
me conforta e me diz
que a crença,
o ser, o estar, o
possuir
é apenas
uma encruzilhada
de circunstâncias;
O infinito
me ensina
que o turbilhão
não para
como não para
a roda da fortuna
e do infortúnio
e que minha chance
é sempre proporcional
e desproporcional
a tudo que sei
e a tudo que não sei
e que nada depende
ou independe
do meu querer
ou não (querer)
06 de junho de 2014
Flores
e espinhos
Os mandacarus sempre
foram
Miragem em minha
vida:
Dentro de cercas,
mangueiros,
Quintais alheios, no
horizonte.
A flor vermelha
O fruto doce,
Só sei de longe,
De ouvir falar
Espinhos, mesmo,
Estes eu conheci, de
perto:
A própria vida se
encarregou
De trazê-los,
cravá-los, no peito.
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Lembranças de Jequié
A
boiada passando
Era o que eu
acompanhava
Dia sim, dia não,
Na porta de casa.
A manada seguia,
solta no ar,
Tocada pelos
vaqueiros,
O aboio guiando a
ambos.
Eu, na soleira da
porta,
Seguia, também, com
os olhos
E com o coração.
O desejo era saber
onde iam,
Qual o destino,
parada final...
No meu imaginário, a
boiada
Seguia sempre, sem
parar.
Em meu quintal,
pedaços de bois
Apodreciam: ossos e
chifres.
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Lembranças de Jequié
A
cadeira de rodas
Levava minha mãe,
Pra pedir esmolas
A mão estendida,
O mesmo lamento,
Ensaiado ou
espontâneo:
- Me dá uma ajuda,
Tenho quatro filhos,
Todos crianças...
E o sol a pino,
Marcava meu lombo,
Fazia seus vincos.
A mão estendida
Era de minha mãe,
As minhas, agarradas,
Dirigiam a cena
E carregavam a
cadeira
Rua acima, rua
abaixo...
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Lembranças de Jequié
Sol
a pino
Suor escorrendo,
Roupinha maltrapilha,
Cortada e costurada
Por mãos que não
sabiam
Nem eram de
costureira
Caminho da escola,
Poeira no rosto
E o estômago a roncar
Na volta pra casa
No mesmo martírio
E o sonho de sempre:
Comer no jantar.
Mas o sol a pino
Matava plantação
Matava criação
Só não matava a minha
fome...
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Lembranças de Jequié
Mãe
de todos nós
Em datas festivas
Natal, Ano Novo,
Páscoa, São João,
ela sempre dava um
jeito
de comprar uma
roupinha
das mais simples,
igual pra todos os
filhos,
shortinho, camiseta,
e a festa estava
feita.
A alegria da espera,
o dia de vestir
os filhinhos
com roupa nova,
enchia minha mãe
de orgulho.
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Memória de quase
cinquenta anos
Meus
irmãos
A cada ano
Uma chegada
E uma alegria
Em seguida
A preocupação
Como alimentar
Mas uma boca
Como dividir
O que não tinha
Mais leite
Mais água
Mais roupa
E mais fome...
Salvador-BA, 21 de
junho de 2014
Memórias de quase
meio século
Cheiro
de Água
Pra quem apara chuva
Brinca na goteira
Põe as mãos
Pra molhar
Embaixo da telha...
Pra quem lava
Roupa na lagoa
Pesca no riacho
Bebe da cisterna
Ou da fonte...
Se vai pra cidade
E abre torneira
Logo vai sentir
O cheiro da água:
O cloro-veneno...
Salvador-BA, 22 de
junho de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
Meu
quintal
Banana do pé
Abóbora no chão
Galinha correndo
Na beira da casa
Sapo na lagoa
O medo de cobra
É o meu quintal
O galo que canta
O ovo no ninho
O leite quentinho
É o meu quintal
Manteiga, quiabo,
Pirão e vinagre
Requeijão na panela
O sonho encantado
Ficou na fazenda
Da minha cabeça
Lá na infância
Tá o meu quintal
De quando criança...
Salvador-BA, 22 de
junho de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
A
infância e a lápide
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Na beira do rio
Ou perto da lagoa
A fantasia reinava
Acreditava em fadas
Duendes e Saci Pererê
Após peraltices
No esconde-esconde
Na porta de casa
Ou na canção de ninar
Embalado pelo sonho
O sono me pegava
Na beira do rio
O tempo passou
E levou embora
Minha inocência
Na beira do rio
Perto da lagoa
A lápide engoliu
Meu pai e minha mãe
Comeu, também,
Meu imaginário
E apagou pra sempre
Todo o meu sonhar...
Salvador, 24 de junho
de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
Morada
Feliz
A casinha de taipa
Alugada
Paredes esburacadas
Fogão a lenha
Panelas de alumínio
Outras de barro
Caminha de lona
Lençóis floridos
Moringa de água
Picumã no telhado
E meu pai que chegava
Toda tardinha
Bolsos cheios de
bombons
Tudo era isso
Pra uma criança
Pedaços de vida
São felicidades
eternas
Memórias afetivas
Pra sentir saudade...
Salvador, 24 de junho
de 2014
Memórias de Quase
Cinquenta Anos
Minha
mãe no hospital
Qualquer ataque
qualquer doença
uma tosse forte
ou dor no peito
era o prenúncio
de solidão
Lá ia ela
pro hospital
e a filharada
se espalhando
na vizinhança
cada um
pra cada casa
E a solidão
e o choro forte
e o medo
de não ver mais
a mãe querida.
Salvador-BA, 25 de
junho de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
Café
sem pão
Café com pão
bolacha não
café sem pão
dia sim
e dia não
nem pão
nem café
com farinha
e sem farinha
dia sim
e dia também
um dia com
o outro sem
e a vida passou
não morreu ninguém
Salvador-BA, 25 de
junho de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
Passando
a chuva
Em dias de chuva
com temporal
o alagamento
era total
na casa toda
e no quintal
Mas o socorro
já era certo
corriam todos
pra ua casa perto
era dona Nêga
com quarto e sala
que dava abrigo
a dona Paula
mais oito filhos
passar a chuva
Salvador-Ba, 25 de
junho de 2014
Memórias de Quase
Meio Século
Lavando
a roupa suja
Lavar a roupa
era tormento
sem água em casa
era um lamento
mas dona Paula
toda aleijada
ia se arrastando
na vizinhança
lavava a roupa
e sua alma
Salvador-BA, 25 de
junho de 2014
Memórias de Quase Meio
Século
Sexo
Vouyer
Corno e suas
variantes
A três ou menage a
trois
Grupal
Troca de casais
Traição consentida
Relação aberta
Oral
Sem penetração
Coxinha
Frango assado
Cachorrinho
De quatro
De ladinho
Sexo ao ar livre
Sexo no quarto escuro
Com camisinha
Sem camisinha
Com animais
Com defuntos
Com crianças
Masoquista
Sadista
Assexuado
Com sentimento de
culpa – pecado – religiões
Para reprodução da
espécie
Para o puro prazer
Entre homens
Entre mulheres
Com creme, com cuspe
Sexo com boneco e
boneca inflável
Sexo virtual
Masturbação
Casamento
Prostituição
Com equipamentos
diversos (pênis de plástico, bolinhas, etc)
O cu ainda é tabu – a
última fronteira
TIRA O DEDO DO MEU CU
Beira do rio, lagoa
do Derba e a lápide gelada que engoliu meu pai, primeiro, e minha mãe, depois.
E, depois, perdi a inocência da infância e perdi o interesse por fantasias.
Tudo agora era urgência e pragmatismo.
Não era mais cavalo
de pau nem era Sítio do Pica Pau Amarelo.
Tudo se resumia a
cumprir cronograma, medir quanto comer, cronometrar o sono e os passos do
trabalho pra casa e de casa pra escola e da escola para casa. A infância tinha
sido enterrada com meus pais e eu não me permitia mais sorrir sem motivo,
brincar de esconde-esconde, nem pular sobre as nuvens. A seriedade se travestiu
em minha cara e a pressa e a urgência assumiram a culpa pela produção por
terminar.
Prestar atenção aos
sonhos. Descrever.
Exercício de criação
literária Funceb 2013
Oficina
de poesia
Pediram para
preencher
Vários formulários
Participar mais
Ir a conferências
Encontros
Palestras
Bate papos
Seminários
Mesas redondas
Saraus e feiras
Tentei de tudo
Repeti à exaustão
Não deu muito certo
Tudo o que eu queria
Era inspiração
Como ela não veio
Meu sonho se acabou
Pois só o que eu
queria
Era escrever
Uma bela poesia
Alagoinhas-BA, 30 de
junho de 2014
Defesa da Dissertação
de Mestrado de Vandelma Silva Santos
Tiro,
tiro, tiro...
(Publicado no livro Trilhos de minha
trilha – 2017)
Corri pra janela
olhei o movimento
e a gritaria
muitos rindo
outros lamentando...
Na cara de uns
a tristeza
a reprovação
o desespero;
Para outros
a chance
a vingança
já vai tarde...
Triste isso
alguém se divertir
enquanto
outro alguém
no momento insano
grita em desespero
- Tiro, tiro, tiro
tiro tudo e fico nu...
Salvador, 28 de junho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Maria morreu. Camila
está grávida. Araci tentou atendimento no hospital e não conseguiu. João caiu
de um ônibus. Severino perdeu a lavoura para a seca. Pedro tenta se aposentar
faz cinco anos. Uma cratera foi aberta por um cano de água que estourou na
praça central. Falta energia elétrica numa cidade do centro oeste. Fechado para
reforma, aeroporto ainda não tem condições de ser inaugurado. Incêndio
criminoso consome grande parte de reserva florestal. E eu, tenho que acordar 6
horas da manhã para mais uma jornada de trabalho.
Salvador, 10 de julho de 2014 - Valdeck Almeida de Jesus.
“Nos quatro cantos do
mundo agora tem as quatro curvas do globo”. Valdeck Almeida de Jesus
Meus melhores poemas ainda vou
escrever.
Valdeck Almeida de Jesus
21 de junho de 2014
Há bem que sempre
dure (O tempo presente) e mal que nunca se acabe (A saudade).
Jegue-Carro
Parei meu jegue-carro
no
poste-estacionamento
apeei/desci do mesmo
do belo carro-jumento
Dei capim e gasolina
amarrei-fechei a
porta
o vizinho toma conta
do meu carro e do meu
burro
vou à feira fazer
compras
tomar umas e papear
mais tarde volto pra
casa
panacum carregadinho
e o jegue-carro
descansa
no pasto e no
cimento.
Feira das Sete
Portas, sábado pela manhã
Tecendo
a vida
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Do alto da minha
ignorância
assisto à batalha
de intelectuais
gente sabida
bons faladores
ases na arte
da oratória;
Daqui
d’onde não sou ouvido
nem levado em conta
vejo calhamaços
teses, dissertações
estantes repletas
abraços,
condecorações
acordos, diplomas
assinaturas, votações
que não me acolhem
na minha lida
no fazer diário
dos meus garranchos
e dos fios
emaranhados
com os quais
eu teço a vida...
Salvador, 17 de julho
de 2014
Nasci transparente
sem berço nem chão
minha língua, a fome
meu povo, um não
Nasci transparente
sem sexo nem nexo
sem endereço, sem
direção
minha crença, nenhuma
minha história, coisa
alguma
Nasci transparente
nem bicho, nem gente
me ensinaram a falar
e a engatinhar
nem gato, nem cão
só imitação
Nasci transparente
sem berço nem chão
sem hino ou canção
a moeda de troca
fui só emoção
Nasci transparente
sem braço nem mão
e me ensinaram
a seguir a canção
e fui indo embora
enchendo a cachola
de sim e de não
negando e afirmando
enchendo o alforje
fazendo a história
pra dentro de mim
virando uma coisa
virando outra coisa
fazendo mudança
e transformação
eu fui transparente
mas hoje, sou não
Nasci transparente
e agora sou gente
com RG e CPF
me tornei opaco
e, como um cavaco
eu virei MAIS UM...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Da pose ao pó
Em pé
Com os dois pés
Em pio
Perto da pia
No fogão a sopa ferve
Posa em mim uma
borboleta
E ela ia se tornar
sapo
Enquanto eu, na pose,
Lhe digo: - Sai!
Ela morre e eu viro
pó!
Engolir sapos não
enlarguece a goela, afia a língua.
Em nome da mãe, da
filha e da espírita santa, amem!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
A
poesia está morta
Morta de vergonha
porque não renasce o
amor
nem floresce a
esperança
e a sociedade só
reclama
não vamos comemorar
sua morte
porque sem poesia
não há comemoração
a liberdade grita,
sufocada
a estátua da vitória
está sem rima
choros de dor e
agonia
no lugar da alegria
a poesia precisa
voltar
ser soberana da alma
precisamos fazer
poemas
os maiores e melhores
exaltar àqueles que
amam
para que a poesia
renasça
para dar fôlego a
quem quer respirar
e ela, a poesia, seja
dona da rima
e bailarina dos
versos,
viva a poesia!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Sei tudo do mundo
pouco sei do que sou
em busca de mim
estive sempre a
caminhar
a morte chegou de
súbito
eu não achei que era
o único
marginal nesse mundo
de ilusão...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Nunca quis ser o
primeiro
deixo todos irem
antes
se de lá não voltarem
nunca
deixo minha ida pra
depois
serei eu o
derradeiro, por fim...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Se hoje eu digo ai
Se amanhã eu digo ui
Não quero ouvir seu
“ei”
Porque quero é gozar,
ah!
Invejinha do meu
gozo, tá?
Quem desdenha, quer
comprar, vem!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Sou da terra o pior
Planto nada e nada
dou
Nada guardo e nada
tenho
Nada fui e nada
sou...
O
que fui hoje
Não matei a poesia
nem deixei me amarrar
fui seguindo a
intuição
sem destino onde
chegar
verso solto, verso
livre
sem sentir e sem
pensar
e também no seu
inverso
me deixando apaixonar
indo e vindo no
caminho
sem um rumo a me
guiar
mergulhei em um
caderno
naveguei pelas
palavras
textos meus e de
outras lavras
bailando pelo papel
nesse trote de um
corcel
embalando o meu ninar
fui criança e fui
saudade
joguei fora o meu
penar
fiz da tinta minha
espada
não matei a poesia
e nem deixei de rimar
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Ai, pisei onde não
devia...
Tá rindo do meu azar?
Ei, você, me diga aí,
Ah, tua hora vai
chegar
Quando tu me disser
“ui”
Quem tu chama pra
ajudar?
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Eu nada vou te contar
porque eu não sou é
nada
o que sou não vou
contar
não me encanta tua
moda
nada tenho pra te dar
não me guardo pra
ninguém
busco tudo e jogo
fora
não me importa o que
tem
nessa vida de
cachorro
pois não crio no que
há
vai de retro satanás
na vida não vou levar
se da vida nada tenho
se viver to nem aí
se morre não me
importo
não me importo com os
outros
busco tudo que eu
gosto
pois não rego e nem
planto
sou da terra o pior
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Amigo suporta e
acalenta, ouve e respeita, sem acusar. Você é um suplício, mas eu gosto de
você.
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Esse amor rasga o meu
coração,
mas eu gosto de falar
desse amor
que me alimenta a
alma e sucumbe à minha dor
ah, como esse amor me
faz sofrer!
Mas, vencedor, eu
sigo na luta, na labuta
e, apesar do
sofrimento, não lamento.
Noites perdidas e
amores roubados
não superam o amor
que sinto por ela,
pois ela é a tesoura
que rasga a minha paixão,
seguindo em glória
com esta canção.
Nesse sentimento
contraditório
e mesmo com esse
coração rasgado, ainda existe paixão!
O amor é tanto que
não consigo desabafar!
O buraco que se abriu
no meu coração,
esse espaço, é uma
boca que expele lava de vulcão,
acendendo ardente a
minha paixão!
São qualidades do
amor que eu mereço,
e o merecimento é um
começo sem solução...
Ah, esse meu coração,
repartido em milhões,
não tem mais salvação!
Ah, esse meu coração!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Esse ódio rasga o meu
coração,
mas eu gosto de falar
desse ódio
que me alimenta a
alma e sucumbe à minha dor
ah, como esse ódio me
faz sofrer!
Mas, vencedor, eu
sigo na luta, na labuta
e, apesar do
sofrimento, não lamento.
Noites perdidas e
ódioes roubados
não superam o ódio
que sinto por ela,
pois ela é a tesoura
que rasga a minha paixão,
seguindo em glória
com esta canção.
Nesse sentimento
contraditório
e mesmo com esse
coração rasgado, ainda existe paixão!
O ódio é tanto que
não consigo desabafar!
O buraco que se abriu
no meu coração,
esse espaço, é uma
boca que expele lava de vulcão,
acendendo ardente a
minha paixão!
São qualidades do
ódio que eu mereço,
e o merecimento é um
começo sem solução...
Ah, esse meu coração,
repartido em milhões,
não tem mais salvação!
Ah, esse meu coração!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Essa tristeza rasga o
meu coração,
mas eu gosto de falar
dessa tristeza
que me alimenta a
alma e sucumbe à minha dor
ah, como essa
tristeza me faz sofrer!
Mas, vencedor, eu
sigo na luta, na labuta
e, apesar do
sofrimento, não lamento.
Noites perdidas e
tristezas roubadas
não superam a
tristeza que sinto por ela,
pois ela é a tesoura
que rasga a minha paixão,
seguindo em glória
com esta canção.
Nesse sentimento
contraditório
e mesmo com esse
coração rasgado, ainda existe paixão!
A tristeza é tanto
que não consigo desabafar!
O buraco que se abriu
no meu coração,
esse espaço, é uma
boca que expele lava de vulcão,
acendendo ardente a
minha paixão!
São qualidades da
tristeza que eu mereço,
e o merecimento é um
começo sem solução...
Ah, esse meu coração,
repartido em milhões,
não tem mais salvação!
Ah, esse meu coração!
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Homenagem a João
Ubaldo Ribeiro
Já se foi ao outro
mundo
o grande escritor
baiano
autor de muitos
romances
ousado itaparicano
Um homem de muita
prosa
bom de escrita e bom
de briga
artista da própria
vida
levava tudo no lero
dono de forte opinião
outro dele nasce não
Rio de Janeiro o
abrigou
imigrante quase à
força
Bahia era sua terra
e também sua paixão
infelizmente não
acolhido
rumou pra longe do
seu torrão
onde jamais será
esquecido
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Andando em círculo eu
tento seguir sem cair para um lado ou pro outro, não troca as pernas nem ficar
bêbado ou tonto nem me repetir nem me atrapalhar...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
A César o que não lhe
pertence
Saí atrasado pra uma
reunião e me preocupava muito em achar vaga pra estacionar no centro da cidade.
Apesar da pressa, tomei o rumo mais longo e demorado, tentando não deixar a
ansiedade me dominar. Por incrível que pareça, não enfrentei engarrafamento nem
semáforo fechado. Na rua mais improvável, encontrei lugar pra deixar o carro,
com direito a flanelinha e tudo, bem embaixo de uma placa que indicava a
obrigatoriedade de portar cartão Zona Azul.
Sem pressa, fui à
reunião e voltei ao veículo, onde o guardador me esperava pra receber o
pagamento que deveria ser feito ao estado. A parte que caberia ao cidadão lhe
foi entregue, à vista, com juros, sem intermediários. Se o fiscal não cobrar,
alguém atravessa e leva as sobras.
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Queria ter uma doença
tomar um choque
saber que a morte
está prestes a me
encontrar
assim, eu ia correr
sonhar, viver
avidamente
desesperado,
alucinado,
com pressa,
querendo sorver tudo
aproveitar a vida
enquanto o tempo
estivesse contra mim
queria ter uma doença
que me matasse de
viver
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Sei, não, viu?
Barata Ribeiro
Copacabana
Xixi no poste
Zum, zum, zum...
Serpentina e alto som
Nessa muvuca,
descobri
Que minha gata era um
gato
E, encharcado pelo
álcool,
Eu comi gato por
lebre
Na semana seguinte,
enchi a cara de novo...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Com quantos pontos se
conta um conto, com quantas métricas se mede um poema, com quantos parágrafos
se faz uma crônica, um romance, que entonação, para onde olhar, ou é melhor se
calar, guardar a produção em caixa de sapato, na cabeça ou no futuro?...
Com quantas canetas,
folhas de papel, impressões, devaneios, regras, desprendimentos, negações, se
faz uma história, se desconstrói uma memória, um vício, ou uma mania?
Com quantas vírgulas
se projeta um sonho, se realiza um desejo, se acende a chama que alumia a
claridão?
Com quantas
convenções se desmancha um caminho, se enterra um vivo ou se desenterra um
morto?
Quantas vezes se
nasce, cresce, envelhece e morre?
Quantas vezes se pode
ressuscitar, virar santo, capeta, ser crucificado, se arrepender, desistir,
recuar, prosseguir:...
Com quantas oficinas
se faz um poeta, contista, cronista, crítico de arte, leitor de clássicos ou de
contemporâneos, produtor ou reprodutor de conceitos ou quebrador de
preconceitos?
Com quantas pedras se
quebra uma vidraça ou constrói uma muralha, e com quantas lágrimas se enche um
mar?...
Se viver é preciso,
navegar em mares nunca dantes navegados ou remar o mesmo remo com novo fôlego e
novo sonho também é preciso.
Quem souber o que é
preciso, o que é exato, deve navegar seus próprios mares com novo remo, novo
fôlego e se permitir impregnar, sem querer se bastar a si mesmo, se
ressignificando, se reciclando, e mais e mais para, depois disso, descobrir-se
único, indivisível, como eu fiz nessa oficina.
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Da pose ao pó
Da vida não engoli
sapos
Na vida quebrei
cristais
joguei pedra na
igreja
e cuspi na cara de
deus
Nada me redimiu
ou me salvou
quando eu não quis
entrar na cova
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Quanto mais eu tenho
Quando mais eu tenho
Qual mais eu tenho
Quem mais eu tenho
O que mais eu tenho
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Minha mente mente,
meus dois amigos me aqueceram, ambos tinham asas, mas não sabiam voar, falaram
a noite inteira, mas eu não pude escutar...
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Desabafo
Fascínio
Reaprender
Desapego
Trocar
Tudo é poesia
Tudo faz sentido
Quando vejo, sinto,
Pego, olho, cheiro,
intuo,
Inspiro, estimulo,
minto
E na troca, no
desapego,
Reaprendo, desabafo
E me refaço
Oficina de Criação
Literária – Boca de Brasa – Fundação Gregório de Matos
Ministrada por Jorge
Baptista Carrano, de 16 a 20 de julho de 2014
Indignação
poética
tenho duas mãos
apenas duas mãos
insuficientes
para arar a terra
dirigir o carro
dar boas garfadas
e escrevinhar
posso ser mais ágil
apenas na minha mente
vinte e quatro horas
não são suficientes
para a ansiedade
de escrever aos
montes
passar do horizonte
e também voar
somente no meu sono
posso levitar
Salvador, 24 de julho
de 2014
Danilo
e Breno
Eu não os conhecia
do Bairro da Paz
de outra Bahia
tão mal falada
pouco conhecida
Mas Danilo Lisboa
de sorriso largo
mente brilhante
fez sua parte
fez sua arte
Tirou o amigo
do mundo obscuro
para a poesia
Mais que falar
o bom é fazer
conhecer e somar.
Salvador, 26 de julho de 2014 - Sarau da Onça
Poesia
é investimento
(Publicado no livro Trilhos de minha
trilha – 2017)
É tão grande o lucro
não traduzido em cifras
mas em minúcias
quase invisíveis
internalizadas
em cidadãos-mirins
ou em adultos-prematuros
É tão pequeno o interesse
real interesse
de pessoas físicas
ou fictícias
institucionais
ou superficiais
que envergonham
o verso e o inverso também...
É tão grande o esforço
e a insistência
em resgatar sonhos
coletar fantasias
plantar utopias
que os poetas
não se apercebem
quão longo
e doloroso
é o caminho
Mas eles e elas
insistem
persistem
e resistem...
Salvador, 27 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Minha
decepção com o ser humano
Cada dia que vivo
sarau, grupo de poetas
cena montada
ou corrida de atleta
ensaio musical
bate papo ou recital
caminhada da paz
seminário nacional
em cada momento
choro e lamento
no trote ou no passo
com régua e compasso
eu vou caminhando
olhando, vivendo
tentando entender
por que tanta gente
insiste em dizer
voltar a insistir
pra não confiar...
Eu sonho e insisto
humano tem jeito
é só acreditar...
Salvador, 27 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
No meio do caminho
tinha um homem
Tinha um homem no
meio do caminho
No meio do homem
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no
meio do homem
Mas o que ninguém ali
percebia
É que, no meio da
pedra tinha uma poesia
Biblioteca Infantil
Monteiro Lobato
Salvador, 27 de julho
de 2014
A
culpa é da polícia
Se a escola não
funciona
Chame a polícia
Se o posto de saúde
quebra
Chame a polícia
Se o médico não
atende
Chame a polícia
Se o circo pega fogo
Chame a polícia
Se o operário faz uma
greve
Chame a polícia
Se o louco corre nu
Chame a polícia
Se tem um bicho na
árvore
Chame a polícia
Se a casa desabou
Chame a polícia
Se o cachorro se
soltou
Chame a polícia
Se o carro matou um
Chame a polícia
Se a droga se
alastrou
Chame a polícia
Se o respeito acabou
Chame a polícia
Se o governo não faz
nada
Chame a polícia
Preconceito racial
Chame a polícia
Violência contra a
mulher
Chame a polícia
Se a escola não
ensina
Chame a polícia
Se a família não
educa
Chame a polícia
Se a igreja não seduz
Chame a polícia
Tem criança
abandonada
Chame a polícia
Alguém agrediu um
idoso
Chame a polícia
Se a polícia não
resolve tudo sozinha
E eu, cidadão, não
faço minha parte
De quem é a culpa?
Polícia, socorro!!!
Biblioteca Infantil
Monteiro Lobato
Salvador, 27 de julho
de 2014
A
culpa é de São Pedro
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Faltou água na cidade
Rezo pra São Pedro
O desperdício tá
demais
Rezo pra São Pedro
Se jogo o esgoto no
rio
Rezo pra São Pedro
Se desmato nossas
matas
Rezo pra São Pedro
Poluição de rios e
lagos
Rezo pra São Pedro
Se destruo a mata
ciliar
Rezo pra São Pedro
Se sujo a atmosfera
Rezo pra São Pedro
Se entupo boca de
lobo
Rezo pra São Pedro
Quando jogo lixo na
rua
Rezo pra São Pedro
Se não reciclo o meu
lixo
Rezo pra São Pedro
Se desperdiço a minha
água
Rezo pra São Pedro
Se a chuva não quer
vir
Rezo pra São Pedro
Se não protejo as
nascentes
Rezo pra São Pedro
Se poluo rios e lagos
Rezo pra São Pedro
Se eu não faço minha parte
Rezo pra São Pedro...
Salvador, 29 de julho
de 2014
A
banana da doida
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Ela passava todo dia
na minha rua,
suada, cansada,
trouxa na cabeça,
falando sozinha:
- Tua mãe tá em casa?
- Posso entrar?
Entrava, sentava,
e a gente via logo
a penca de banana
bem pretinha
do sol ou do tempo...
E eu revezava
com minha irmã:
um distraía a doida
outro comia banana...
e enchia a pança
botando comida
em nossa barriga!
Doido era quem
ficasse com fome!
Salvador, 30 de julho
de 2014
Memórias de Quase
Cinquenta Anos
Comedor
de lixo
Era no monturo
que eu achava
carrinho sem roda
revista em quadrinho
faltando a página
com o final da
história
casca de melancia
e o sonho perdido
de um dia achar
cartão premiado
da loteria da vida...
Salvador, 31 de julho
de 2014
Memórias de Quase
Cinquenta Anos
Quem
está na cena
(Publicado no livro Trilhos de minha
trilha – 2017)
ou nos bastidores
sofre quedas
sente dores
deixa a mãe em casa
nas mãos de cuidadores
quem está na cena
quebra o salto
calça tênis
ensina poesia
a menores infratores
quem está na cena
não se aproveita
não fica como lobo
te serpenteando
à caça, à espreita...
quem está na cena
ensaia, cria, recria
tem mente fértil
coração em chamas
não é pessoa fria...
quem está na cena
bota a cara, denuncia,
não esconde em máscara
o que sente, o que fantasia...
Salvador, 04 de
agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
E em agradecimento a
Ivanilson Silva, Renata Rimet, Kátia Borges, Luiz Menezes de Miranda, Jorge
Baptista Carrano e outros...
Quem
me conhece sabe
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)
Não sou a aparência
sou dureza da vida
rude como o vento
aspereza, impaciência
Quem acha que sabe
não me conhece
lembra algo
e logo esquece
Não sou sonho
nem fantasia
na vida, sofri
mas guardei utopia
os melhores me seguem
os piores também
vou me lapidando
desaprendendo
selecionando
sendo excluído
difamado,
de forma sorrateira,
interesseira
mas perdoo
pois não se chuta
anjo torto
nem cachorro morto...
Salvador, 04 de
agosto de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Vestido
de poesia
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Procurando um amor
desesperadamente.
fui a becos e vielas
metrópoles e distritos
na polícia, no brega,
no matinho escuro...
fui a Nova York, Cuba,
Genève, Mônaco e Madrid,
Varei o Brasil inteiro
tentei comprar amor
com dinheiro;
quando desisti,
desiludido,
incapaz de ver
ao meu lado estavam
todas as pessoas
que sempre procurei
poetas, loucos,
sonhadores,
favela, centro,
perifa, academia,
cada um ao seu modo
sendo únicos,
individuais,
todos diferentes
e, ao mesmo tempo,
iguais...
me apaixonei por todos
poetas e poetisas
e da poesia
fiz minha camisa...
Salvador, 01 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Poesia não se escreve
com caneta e papel; poesia se escreve com sentimento.
Pé de barro pode ser limpo, coração de
pedra não dá pra amolecer...
Ré-Pulsa – repulsa – A ré pia (arrepia)
Raiz boa não sustenta árvore podre
A
fome batia na porta dele
e minhas tetas o alimentavam
leite, esperança, ouvido atento
meu colo quente o acolhia
o cafuné, a toalha limpa
e tudo o mais que o amor trazia
e de manhã, abastecido, de corpo e alma,
com a esperança nos olhos, ele partia
para mais duas noites ou semanas
enquanto eu enchia o peito
me orgulhava e queria
desejava que a fome chegasse
e que em sua porta batesse outra vez
e ela ia, e tudo se repetia
até a hora em que ele se fortaleceu
e as visitas se espaçavam
e ele não mais voltou...
Salvador, 06 de agosto de 2014
O Eu Lírico – VAJ
"Estou a mando;
estou: há amando; estou, ah! mando!; estou a mando de mim mesmo."
Essa cidade
(Salvador-BA) tem tanta lindeza nas pessoas que fico vesgo quando saio pelos
bairros, meu pescoço dá torcicolo, meus neurônios (poucos), se con(fundem)...
Ish, pensando alto demais!!!
Salvador, 19 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Quero
um gato
com olhos cor de mel
garras afiadas
dentes fortes
língua macia
cheiro alucinante
que seja reprodutor
que esteja aos meus pés
não me peça nada
coma na minha mão
não me pergunte aonde fui
me espere sempre
com um carinho
me aceite como sou
e, principalmente,
faça xixi
na caixinha de areia...
Salvador, 17 de agosto de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Receita para fazer
sucesso
a) pintar o cabelo de loiro
b) posar sem roupa numa revista nacional
c) apresentar um programa infantil
NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM
Salvador, 30 de julho de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Você
é o Estado
Reclamava de tudo:
O leitor não lia
O professor não ensinava
O livreiro não vendia
A livraria não
expunha
O distribuidor
não distribuía
O crítico não
criticava
O editor não editava
A poesia não
circulava
Mas o escritor
escrevia
e na gaveta guardava
culpava o Estado
e à cadeia produtiva
chamado ao debate
ele não participava
até que entendeu
que o Estado era ele
e ao estado de coisas
passou a influenciar
não mudou o mundo
todo
mas mudou sua cabeça
hoje ele prega a
todos:
se quer fazer, então
faça
não espere pelo outro
abra a boca e grite a
voz
todos juntos somos
nós
não deixe nada parado
porque você é o
Estado.
Santo Amaro, 31 de
agosto de 2014
União e Estado Paralelo da Poesia:
Ministros, Embaixadores, Delegados, Prefeitos, Distritos, Governadores,
Deputados, Senadores, Vereadores
Pedaços gostosos da vida: picolé,
chocolate
Quando me lembro de você, Meus olhos
transbordam de saudade
A
porta do medo
Nem sempre o dia
amanhece às seis
nem sempre o almoço
é comido às três
por isso o medo
do prédio dos pobres
por isso o receio
de perder o meu cobre
mas um dia
sem menos nem mais
a chuva ameaça
e é cai mas não cai
e a busca de abrigo
no prédio dos pobres
é lá que recai
e você percebe
a única porta aberta
e o que era medo
vira abrigo real
Salvador, 09 de
setembro de 2014
Fugindo da chuva do
meio dia...
Eu
sou o Estado da Poesia
Não importa se você
não entende minha
língua
minha saúde,
educação,
segurança, política,
leis, religião,
moeda, cultura,
economia,
sistema financeiro,
sexualidade
ou geografia.
Este é meu Estado
e nele eu sou
o supremo comandante,
não aceito
interferência,
opinião nem sugestão,
porque aqui
tenho autonomia...
Salvador, setembro de
2014
"Caminho numa estrada,
no rumo que eu escrevi, porém, a estrada, como é móvel, me leva para onde não
escolhi"...
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador, 09 de setembro de 2014
A lua me traiu. O
lua, também. Mas outros minguantes virão, marés vazantes, que enchem mares
alhures. Depois, se nova ou ou cheia, um dia ela volta, e, dessa vez, espero
que me (a)crescente uma outra dose de dormência, daquela que nos deixa (a)luado
e zonzo, pra amar sem saber o que está amando...
Valdeck Almeida de
Jesus
Salvador, 09 de
setembro de 2014
Da ponte pra cá
tudo é permitido
da ponte pra cá
nada é proibido
da ponte pra cá
libere sua libido
da ponte pra cá
senão tu tá fudido
da ponte pra cá
só para os sabidos
da ponte pra cá
não tem nada
escondido
da ponte pra cá
nada é proibido
da ponte pra cá
Lençóis-BA, 06 de
setembro de 2014
Vou rimar, vou rimar
e eu rimo só com
“onha”
Vou rimar, vou rimar
vou morder a tua
fronha
vou rimar, vou rimar
e eu rimo só com
“onha”
eu não fumo, eu não
bebo
mas me acabo numa
bronha
vou rimar, vou rimar
e eu rimo só com
“onha”
quando eu bato uma
punheta
eu só penso só em onha...
Lençóis-BA, 05 de
setembro de 2014
O
poeta do carimbo
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Pra rimar lé com cré
CARIMBO
Verso e reverso
Preciso carimbar
Pé quebrado
Verso livre
Mais um carimbo
Métrico ou
milimétrico
Meço com carimbo
Publicado ou na
gaveta
Só com carimbo
Na internet ou no
papel
É com carimbo de
madeira
Ou carimbo
cibernético
Matou o seu poema
com uma carimbada
carimbo feito de pau
depois matou a si
com uma carimbada
fatal!
Salvador, 10 de
setembro de 2014
No meio do caminho
havia um tapete
pensei que era pra
mim
porque o estendi
fui eu quem o teceu
em malha de carmim
mas logo percebi
o meu pé não lhe
servia
sapato de princesa
é só pra esperteza
e quem não sabe
andar...
aqui sou o peão
e ao rei protejo
tapete é para ele
tapete do vermelho
tapete cor carmim
foi feito para ele
e nunca para mim...
Salvador, 10 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Poeta
da migalha
Nasceu no lixo
Comeu podridão
Viveu de migalhas
Sofreu solidão
Acostumou-se:
sem voz
sem cama
sem comida
sem teto
sem opinião
Na vida passou
bem longe do poder
fugiu de palanques
e sua poesia
sem holofote
ficou abafada
não foi traduzida
para alemão
morreu apodrecida
num grande lixão...
Salvador, 10 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Vivo
de Renunciar
Aqui aprendi
que fazer vale menos
que aparecer na
televisão
Aqui é terra de
artista
que dá cambalhota
mas que se vende
por qualquer tostão
Mais vale um flash,
uma foto, um outdoor
que um abraço afetivo
um aconchego,
um amor
desinteressado
Quando precisei de
abrigo,
uma porta, um amigo
só encontrei
desprezo,
olhar enviesado
e castigo...
Segui meu instinto,
renunciei a tudo,
e quando me perguntam
eu minto...
Ainda tenho os anéis
pois os dedos já se
foram
a eles, também
renunciei...
Salvador, 10 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
É
de tais
É deles que fujo
e sou escorraçado
prêmios de raspadinha
figuras carimbadas
ou cartas marcadas
de quem se conhece
e se reconhece
em tortuosas linhas
é de tais que fujo
e sou escorraçado
porque disfarçados
de democráticos
abraçam a uns
e afastam os demais
tapinha nas costas
de quem você gosta
pode carimbar
o passaporte
mas não acolhe
àquele que faz
amigos, amigos,
projetos, à parte...
Salvador, 10 de
setembro de 2014
Não quero teus
troféus
Não quero tuas
mulheres
Não quero teus
diplomas
Não quero teus cargos
de confiança
Não quero tua ironia
Não quero tua Câmara
de Vereadores
Não quero os aplausos
que recebes
Não quero tuas
medalhas
Não quero tuas
condecorações
Não quero tua
sabedoria
Não quero dormir na
tua cama
Porque quem ama
Não precisa do teu
sexo
Nem da tua
repugnância
Tenho minha própria
mediocridade
Salvador, 14 de
setembro de 2014
Gira Girando,
caminhos indicados, mesmo que eu não os veja nem os escolha, os pés seguem...
Destino sendo guiado
por mãos invisíveis...
Morrer ou Viver?
Viagem feliz, se a missão se completa... Nada detém os atalhos, estradas,
trilhas, tessituras e tramas...
Tempo e Vento dominam
o horizonte, enquanto sonho e deliro com coisas terrenas. Me deixo levar, pois,
por sabedorias de além...
Plenitude é quando
estamos vazios, para pavimentar rodagens a outrem. Que se cumpra a profecia!
Salvador, 14 de
setembro de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus - A Uxe
O
poeta pessimista morreu
Ele achava escola
pública um horror, não acreditava que ali pudesse haver alegria, dança, teatro,
literatura e poesia. E logo ele, que tinha estudado em uma dessas, onde a
repressão era a ordem do dia. E logo ele, que viveu a fome de comida e a fome
de arte, tentando, como andorinha de verão, fazer sua parte.
Sonhava com o
coletivo, trabalho em grupo, atividade a mil mãos, mas, ao mesmo tempo, se
decepcionava com a falta de opção.
Aí, a convite de seu
amigo e poeta Patrick Lima, de Sussuarana, foi conhecer um tal de TAL – Tempos
de Arte Literária. Encontrou outro poeta, Mateus Paim, ambos do Sarau da Onça.
Ao chegar à Escola Parque da Caixa D’Água, não acreditou no que seus olhos
viram. Entrou, sentou, atraído pela amplidão do espaço, tamanho do teatro e
pelos talentos que ali se apresentavam: deficientes visuais cantando em coral,
poetas mirins, estudantes de todas as idades, declamando, recitando, lendo
poesias, olhinhos brilhantes, vozes infanto-juvenis, passos, compassos, todos
em uníssono em um canto que cala a voz da ditadura. Emocionado em descobrir que
os sonhos sonhados juntos se tornam realidade, o poeta pessimista chorou e
morreu. Dali saiu renovado, com novo ânimo, em busca de novos horizontes...
Valdeck Almeida de
Jesus
Salvador, 15 de
setembro de 2014
Sem jogo
O jogador de futebol
Antes de assistir à
palestra
sobre política
partidária
lhe conta que
trabalha
nos Correios
como estagiário
e vai ser gerente
um dia
Os colegas,
funcionários,
nunca foram
elogiados
mas ele, sim.
Ele gosta do que faz
e parou de jogar
diz que gosta
de jogar e estagiar
não joga mais
pois precisa
trabalhar
e vai ser gerente
e não joga mais...
Salvador, 16 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Palavras, palavras...
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Palavras gordas
negras, ríspidas,
polidas
vocábulos lapidados
congelados
cozidos, crus
palavras cortadas
recortadas, raladas
palavras com cheiro,
molhadas, queimadas
palavras coloridas,
afogadas,
assassinadas,
palavras
descoloridas,
incolores, com
sabores
palavras tímidas,
falantes, mudas
palavras loucas,
racistas, assassinas,
sem sina
palavras venenosas,
cortantes,
sentimentais...
são apenas palavras
sem vida,
com uso e abuso,
quando proferidas
quando intencionais
quando bem ditas
quando mal ditas
quando benditas
quando malditas
Oficina Escrita em
Trânsito com Marília Garcia
Salvador, 17 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Chuva
de crânios
(Publicado no livro Trilhos de minha trilha – 2017)
Crânio, crânio, 298 crânios...
Nenhum Ucraniano.
Crânios caindo do céu
Sonhos virando fel
Crânios em pedaços
Crânios canadenses
Holandeses
Americanos
Crânios crianças
Crânios adultos
Todos em forma de anjos
Voando pelos céus ucranianos
Crânios em chamas
Crânios em cinzas
Crânios cor de sumiço
Crânios calados pra sempre
Crânios que não farão crânios
Crânios que não verão crânios
Crânios cranianos que se tornarão
Massas cinzentas nos invernos ucranianos
Salvador, 18 de setembro de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Oficina de Escrita em Trânsito com Marília Garcia
(Postado no Galinha
Pulando)
Autorretrato
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
A cada dia ele é um
A cada dois dias
Ele é nenhum
E se perde
E se encontra
E se desencontra
No espelho da vida
Em sua lida
É poeta de manhã
E leitor à noite
Revisor na madrugada
Editor no dia
seguinte
Vendedor,
palestrante,
Ativista cultural,
Conselheiro,
Diagramador,
Cordelista,
Escrevista,
Crítico,
Declamador,
Ciclista,
Malabarista,
Apresentador...
Nessa roleta russa,
A vida passa
E ele não vê...
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Um cachorro vê os homens
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Não se olham
nem abanam o rabo
quando se encontram
saem em bandos
não têm donos
não descansam
não deitam no chão
nem rolam na grama
não relaxam
parece que buscam
a si mesmo
nos espelhos
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
Um cachorro vê os homens
Não se olham na rua
nem abanam o rabo
quando se encontram
evitam uns aos outros
mas se olham,
sempre, ao espelho,
pra não esquecerem
suas fisionomias;
saem em bandos
não têm donos
dormem pouco
não têm tempo
pra descanso
não deitam
de pernas pra cima,
não rolam na grama
não relaxam
não descansam
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Morto pelo décimo terceiro
Sentou-se
à beira
da estrada
e esperou
pacientemente
Após se jogar
na frente
do 13º carro
morreu
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Notícias
de copiar e colar
Janeiro (digitou):
“morto com cinco tiros, o corpo foi encontrado ao lado da rodovia,
aparentemente com 17 anos de idade, não tinha documentos”
Fevereiro: “morto com
dois tiros na nuca, corpo estava numa cisterna, tinha vinte anos de idade”
Março: “dois corpos
decapitados, ambos negros, com sinais de espancamento, devem ter entre 19 e 25
anos”
Abril: “corpo de
rapaz de estatura mediana, com sinais de queimadura a ferro quente, é
descoberto em lixão”
Maio: “copiou e
colou, mudou idade e local onde os mortos foram encontrados”
Junho: “Procura-se
digitador para jornal”
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Minha
autoimagem
Eu não me pareço com
meus avós
Nunca os conheci
Nem conheci quem os
conhecessem
Não me pareço com
minha mãe
Não sou tagarela
Não me pareço com meu
pai
Não trabalho até
morrer
Não me pareço com
meus irmãos
Não casei nem fiz
filhos
Não me pareço comigo
Não tenho espelho em
casa
Sou parecido com o que
dizem de mim
Às vezes sou
diferente do que dizem de mim
Sou mais parecido com
o que não dizem de mim
Oficina de Escrita
Criativa com Marília Garcia
Salvador, 18 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Quem vê CARAS não vê corações.
- Fecha as pernas, menina!
Ouviu tanto essa
advertência que nunca conseguiu concluir a faculdade de obstetrícia.
Minha história de vida está nas ruas, nos lixos, na
mão estendida pedindo esmolas em Jequié-BA; está nos ouvidos moucos de quem não
queria ouvir (e até hoje, mesmo com os testemunhos, se negam a acreditar). A
rua onde nasci, após quase 50 anos, ainda escorre seus dejetos, lixos humanos,
para que a falta de memória não apague o passado... Meu medo, não é o de perder
tudo, porque nunca tive nada. Meu medo é ser crucificado, vivo, sob o escárnio
de quem não tem sensibilidade...
Memória de Quase
Cinquenta Anos
Salvador, 20 de
setembro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Fora do ar por várias
horas... Desconectado do mundo e de mim mesmo. Agora, já em Belo
Horizonte, ressuscitei... Daqui a pouco partirei para o infinito céu que liga
Minas a São Paulo. Rezando para o dono dos ventos... Amém!
BH, 21.08.2014
Estou
num poço sem fundo
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Entre tantos
bochichos
Conversas de pé de
ouvido
Disse que disse
E disse que não disse
Desditos e
(dez)dicências
(Bem)dicências
E todas as
(mal)e(dicências)
Conheço e desconheço
Me afundo nesse mar
de gente
E me perco a cada dia
Engolido pelo
turbilhão
De pessoas, palavras,
Letras, insinuação,
Metáfora, sentimento,
Rima, trova, pé
quebrado,
Verso e reverso,
Que situação!
E me apaixono mais,
Meu peito aberto,
Inflando o coração,
Aonde chegarei, não
sei,
Com tanta ânsia,
vontade,
Desejo de abrigar a
todos e todas
Artistas da palavra,
Que burilam,
cozinham,
Fundem e combinam
Alquimia de sentidos
Nesse poço que não se
enche
Onde mais se põe
poesia,
Mais fundo ele fica,
E me embriaga,
Me apaixono, nem
sei...
Se por palavras ou
pessoas,
E vou fundo, fundo,
fundo...
Salvador, 29 de
setembro de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
(Postado no Galinha
Pulando)
Primeiro ano do Sarau
Erótico...
Digno de estar em qualquer lugar do mundo; a língua é portuguesa, a batida é
internacional.
O sentimento, o clima, o ambiente, a energia,
tão local quanto globalizada.
É um gueto, uma nação.
Estilos de vida, de roupa, cabelo,
sonoridades de grife.
É centro e periferia
em total sinergia
com odor e alma de angelitude,
aplausos de aniversário
e a reverência, no erótico e no sensual,
regido pelo maestro
do DÓ-RÉ-MI:
Zezé Ifatola Olapetun Olukemi...
Restaurante Rango Vegan, Rua do Passo, 62 - Centro Histórico
Salvador-BA, 28 de setembro de 2014
Olhos de tigre
Em outra sintonia
e em mundo diverso
mas de uma energia
que quebra meu verso
e sonho, acordado
de olho fechado, ou aberto
é de mim o espelho
que não reflete meu inverso
se me atrai, se se retrai
se meu mundo,
aos seus pés, cai
me resta o sonho
no frio desse outono
onde permaneço
ainda, sem dono...
Salvador, 09 de outubro de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
(Postado no Galinha Pulando)
O que não me faz
parar de fazer poesia:
O sonho, a utopia de
um mundo mais humano e que respeite a diversidade, os indivíduos com seus
defeitos e qualidades.
Desafio a quem
aceite:
A partir de dezembro
de 2014
por uma semana
ou dois dias, no
mínimo,
quem sabe, um mês,
INTERCAMBIAR
comigo, com amigos
que vão se
oferecer...
morar, em condições
reais,
um na casa do outro.
Destinos em Salvador:
Nazaré, Ladeira dos
Bandeirantes,
Brotas, Pelourinho,
Sussuarana, Bairro da
Paz,
Constituinte, Fazenda
Coutos,
Boca do Rio, Alto do
Coqueirinho.
Depois, podem falar o
que quiserem,
mas, antes, conheçam,
a realidade.
Salvador-BA, 26 de
outubro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Meu amor é híbrido
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
É pedra, é alma
Meu amor é híbrido
Certo, errado,
De cima, de lado
Sem sexo, sem convexo
Meu amor é híbrido
Meu amor é fogo
É poeira, é água
Meu amor é hídrico
Meu amor é tudo
Que me excita
Ou me irrita
Meu amor
É desamor
É ódio
É paz e guerra
É céu e terra
Primeira Parada do
Livro da Bahia
24 de outubro de 2014
(Postado no Galinha
Pulando)
Tem os
Efêmeros
Emâcheros
Híbridos
Múltiplos
Cósmicos
Ásperos
Lânguidos
Insensíveis
Ácaros
Ácidos
Úlceros
02 de novembro de
2014
Esquinas do Rio
Vermelho – Bahvna Espaço Cultural
Não amo
Senão minha falta
Pra me satisfazer
Minha fome
Meu pesar
Ouço o que me apraz
Amo o que me satisfaz
Ego, Id, Superego
Tudo é em mim
Só o que sinto
É o que me satisfaz!
02 de novembro de
2014
Esquinas do Rio
Vermelho – Bahvna Espaço Cultural
(Postado no Galinha
Pulando)
Passou a fome
passou o sono
passou o homem
passou o nome
a árvore secou
o filho se foi
o livro esgotou
as nuvens levaram
o sonho pro além
e nem a lembrança
a mim me sobrou
Amém!
Salvador, 10.11.2014
(postado no Galinha
Pulando)
Twittada
Cento e quarenta
toques: enfileirados,
cento e quarenta
homens esperam o
exame de toque. Cento
e
quarenta dedos
penetram, examinam:
tudo ok.
Valdeck Almeida de
Jesus
(Postado no Galinha
Pulando)
Tons de cinza
Achava tudo feio
Meio sem graça
Ruas escuras
Casas mal caiadas
Cores desbotadas
Caras lavadas
Nada estava bem
Nada lhe agradava
A cidade era um tormento
Vivia num só lamento
Meio distraído
Todo sofrimento
Indo pro trabalho
Meio que mecânico
Atravessou a rua
Sem observar
Fez do dia um mangue
Pintou o preto asfalto
De vermelho sangue
Salvador, 18 de novembro de 2014
Valdeck Almeida de Jesus
Tem uma onça dentro de mim
Desde que conheci os filhotes
Descendentes
Ancestrais
Manos, irmãos, e muito mais...
Que sinto saudade de todos
Das poesias, dos festivais
Sinto saudade das onças
Dos filhos, das mães e dos pais
Oncinhas, onçonas, são demais!
Defendem a família, o gueto,
A frente da casa e os quintais
Fazem pedagogia,
Rezam todas as crenças
São diversos, não dispersos,
Unidos, num só grito,
Que explode no peito:
Respeito!
Salvador, 20 de novembro de 2014
Dia da Consciência de que o Ano tem 365
dias
Valdeck Almeida de Jesus
Ode
a Tina
Amo a América Latina
E a língua neolatina
Minha terra
nordestina
Chapada Diamantina
Cidade de Correntina
Mas pra sair da
rotina
Farei viagem
repentina
Com confete e
serpentina
Rasgarei minha batina
Fugirei de sabatina
Cuspirei a nicotina
E não farei jogatina
Na cabeça brilhantina
Pra fugir da
guilhotina
Comerei mais gelatina
E se a mente desatina
Não serei tão
libertina
Nem tampouco cafetina
Farei cara de platina
E vou viver na
Argentina
Tomarei uma atitude
Me tornarei plenitude
Vou virar uma Tina
Tude
Salvador, 28 de
novembro de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Pra todos e todas
Quem me conhece
Que não me conhece
Que diz que me conhece
Quem me desconhece
Quem finge que me ama
Quem me ama escondido
Quem me quer e não diz
Quem me diz e não quer...
Àqueles que nunca vi
Aos que vejo e não enxergo
Aos que enxergo e não vejo
A quem vai nascer
A quem já morreu
A quem nasceu morto
A quem morreu e voltou
A quem nunca existirá
A quem quer que seja...
Salvador, 29 de novembro de 2014
Queda
acidental
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Puxei para um lado
Ela não veio
Puxei para o outro
lado
E ela, irredutível,
Impassível, imóvel
Eu, apressado,
Respirei fundo,
Contei até dez
E recomecei
Devagar,
Com carinho
Depois, irritado,
Dei um solavanco
E nada...
Insisti,
Dei vários puxões
Até que ela despencou
Janela abaixo
Morri de susto
Contei os segundos
E ela descendo
Na queda vertiginosa
Até beijar o asfalto
E eu estupefato
Com todo desgosto
Perdi minha querida
Toalha de rosto
Salvador, 28 de
novembro de 2014
Amor
Verdadeiro
Sabe quando é
amor? Sabe quando é verdadeiro? Quando você enfia a mão no pacote de salgadinho
e come, sem medo, sem pensar em nada, confiando que é "limpeza"! Sabe
quando é amor, quando é verdadeiro? Quando alguém do grupo de amizade pede teu como
de refrigerante e bebe, sem medo, sem receio... Sabe quando é amor, quando é
verdadeiro, é quando o outro sai do lugar dele, fica na frente do palco, só pra
te abraçar e te fazer um carinho, demonstração de saudade, de afeto... Sabe
quando é amor, quando é verdadeiro, é quando um simples comentário, que poderia
muito bem passar batido, te enche os olhos de lágrimas e você se arrepia...
Sabe quando é amor, quando é verdadeiro? É quando o desejo de estar junto, de
ouvir, de sentir a pele e de ver na plateia não necessariamente significa
deitar junto e fazer sexo. Quer saber quando é amor? Quer saber quando é
verdadeiro? Abrace a galera do Sarau da Onça...
Comentário de
Mateus Silva
Saco de
Salgados de William Silva
Copo de Refri,
meu, que Larissa Oliveira pegou
Abraço de
Jones Miranda
E os outros
não citados, estão em todas as entrelinhas e nas linhas não escritas...
Salvador, 30 de
novembro de 2014
Caminhada da
Consciência Negra e Sarau Sensual – Sarau da Onça
Nos descaminhos
Da geografia
De Santo Amaro
De Ipitanga
Sempre me pergo
E me encontro
No final, tudo
Dá certo
Quanto o caminho
É incerto
Santo Amaro de
Ipitanga e/ou Lauro de Freitas
02 de dezembro de
2014
Joguei o cachorro
Do sétimo andar
Não quero latidos
No meu ouvido
Vou ser processado
Crucificado
Esquartejado
Mas joguei
O cachorro
Do sétimo andar
Boteco de Vilas,
02.12.2014
O poeta do pedestal
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Canta, encanta
E se afasta
Se tranca em
Uma casta
Some, em poeira
E, mesmo
Sem eira nem beira
Se “acha”
E perde
A chance
De viver
A poesia
A lida
A vida
Festa Literária
Internacional de Cachoeira
Cachoeira-BA, 24 de
outubro de 2014
O que eu quero para
2015? É preciso querer alguma coisa? Isso muda alguma coisa? Quero sombra e
água fresca. Não sou o responsável pela evolução da humanidade. Tenho direito a
não lutar, não ter objetivos, não querer nada além do dia a dia comum, com
comida, cama e chuveiro.
Salvador, 31 de
dezembro de 2014 (antecipado para 09 de dezembro de 2014)
Se as plantas são
fagulhas de Deus, então eu converso com Ele quando dialogo com elas.
Viver é aceitar a
fatalidade da vida.
Direito à vida. Quem
decide o que eu faço com a minha?
Je veux un français pour
moi. Parfum? Du vin? Passeport? Peu Importe!
Salvador,
10.12.2014
Valdeck
Almeida de Jesus
Para quem pode
bancar uma universidade, com pais pagando livros, transporte, roupa etc etc, é
fácil ser contra às políticas de Cotas Sociais e Raciais de Reparação, Inclusão
e Divisão da Renda Nacional. Para quem nunca andou pela Invasão da
Constituinte, Bairro da Paz, Fazenda Coutos I - II, Rio Sena, Ilha Amarela,
Ilha de São João, Vida Nova, Areia Branca, Estrada da Cocisa, Boiadeiro, Alto
do Cabrito etc etc é fácil falar contra políticas de inclusão... Voto no PT,
sim! Obrigado!
Noivado seguido de Divórcio
Este ano bati
o recorde
Todo dia um
amigo ou amiga
Me pergunta se
casei
Se tenho caso,
se estou namorando
Dizem que me
viram com fulano
Com fulana
Que estou
muito próximo de um
Muito ausente
de outra
Que casei, que
divorciei
Se estou
noivo, viúvo,
Fugindo de
marido enciumado
Ou se traí a
esposa com homem casado
São tantas as
conjeturas
As perguntas,
ditas e não ditas
Das quais sei
por línguas de recado,
Que nem sei se
estão falando,
Mesmo, de mim,
ou de algum folhetim,
Desses de
seriados, de televisão,
Ou estão
criando um texto de ficção,
Me colocando
como estrela,
Galã da
história
Ou gata
borralheira...
Salvador, 12
de outubro de 2014
Valdeck
Almeida de Jesus
Me perco nos olhos
Braços, abraços
Afetividades
Fico mareado
Entontecido
Desmascarado
Coração e corpo
Abalados
Cheiros, sensações,
Texturas,
tonalidades,
Peles e pelos,
Olhos, narizes,
Cabelos
Ouço vozes,
Penso coisas,
Viagens, sensações,
Grunhidos, rosnados,
Latidos, miados,
Gatos e gatas
Me cercam, me curram,
E esta paixão,
Avassaladora,
Me apequena
O coração,
Me faz menino,
menina,
Mutação...
Sonhar não custa
Sonhar não mata
Sonhar não maltrata
Por isso, a fantasia,
A utopia, que
importa,
Transporta e me
exporta
Para outro coração...
Grupo Ágape, Sarau da
Onça
Salvador, 13 de
dezembro de 2014
O ano se aproxima
Promessas
Dívidas
Arrependimentos
Planos
Tudo igual
Só o olhar do poeta
Enxerga tudo novo, de novo!
Salvador, véspera de 2015
Verdades são
subjetividades. O olhar de quem vê define o que é visto e traduz para seu
próprio campo de conhecimentos. Num sarau de poesias, em que os cicerones são
amados e conhecidos por todos os presentes, a poesia se faz, também, presente,
no olhar atento e na lente da câmara fotográfica e, com mais clareza, na retina
de meninas e meninos amantes da arte da palavra. Aí está uma imagem que se diz
sem tradução!
Salvador, 14 de
dezembro de 2014
Brilho de estrela
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Buscamos, como
mariposas, a luminosidade;
Aquele fulgor,
clarão, lampejo, cintilação...
Inebriados pela
resplandecência, pela luz,
Nem sempre damos em
contrapartida o talento,
Engenho, habilidade
ou lucidez necessários.
Construímos reputação
de algodão doce,
Fazemos renome,
viramos celebridade;
Nem que seja de um
grupo minúsculo e seleto.
Lustramos o verniz,
colocamos auto auréola,
E buscamos,
infinitamente, a claridade,
Como borboletas ao
sol: mais luminosidade,
Claridade, e
iluminação; mais cintilância, clarão,
Holofote e
manchete...
Vestimos a farda de
gênio, de mestre da sabedoria,
Detentor de valiosa
informação a que rotulamos cultura e erudição;
Conquistamos
sapiência, estudo, conhecimento, instrução,
Cozemos fardas
bordadas de diplomas, medalhas, homenagens,
Dignos de vultos,
célebres representantes da sabedoria,
Conquistamos
notoriedade, notabilidade, renome, glória,
Popularidade e
viramos celebridades...
No panteão da fama,
ocupamos prestígio, brasão, honra, títulos;
Construímos obras
para a posteridade.
Enfim, a
imortalidade. Efêmera, passageira...
A vida inteira
guardada em pastas, livros, cadernos, pranchetas...
E tudo passa, vira
poeira no rastro de outras estrelas...
Salvador, 17 de
dezembro de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Acendam uma vela pra
mim
Acabei de morrer,
Falecer, bater as
botas,
Passar dessa para uma
melhor,
Bater o pé na cerca,
ir pra terra de pés juntos,
Ir pro além, fui
comer capim pela raiz,
Abotoei o paletó,
descansei,
Empacotei, vesti o
paletó de madeira,
Estiquei as canelas,
fui a óbito,
Virei presunto, virei
defunto,
Amanhã eu volto...
Salvador, 19 e 20 de
dezembro de 2014
Valdeck Almeida de
Jesus
Se a realidade
é uma criação dos olhos, deixa eu sonhar com o mar transbordante de tua íris;
se posso enlouquecer e imaginar que você me deseja; se a realidade é o que
penso que seja, então permito-me te querer e acreditar que sou correspondido. E
a cada dia renovo meus desejos, olho para outra direção, vou sonhando com um
horizonte cada vez mais distante, para não acordar sem ilusão...
22.12.2014
Verdades
são subjetividades. O olhar de quem vê define o que é visto e traduz para seu
próprio campo de conhecimentos. Num sarau de poesias, em que os cicerones são
amados e conhecidos por todos os presentes, a poesia se faz, também, presente,
no olhar atento e na lente da câmara fotográfica e, com mais clareza, na retina
de meninas e meninos amantes da arte da palavra. Aí está uma imagem que se diz
sem tradução!
Oh, I would
love to hear your voice telling me I was the only one!
How I would
like to get to know you more!
Oh, how can I
say I really am in love, and waiting for the day you will say the same!
How I would
smile at nothing, when I could hear your mouth close to my ear saying, between
breath, my name!
Oh, how long
will I wait for your coming, breeze! - Valdeck, 14.12.2014
"Watch me tearing myself to pieces..."
O que fazer quando o simples ouvir um CD de A-ha te leva para janeiro de
1990, em Jequié-BA, pra casa de uma amiga que estava em viagem de negócios ao
Rio de Janeiro e você era o guardião da residência onde havia de tudo o que na
tua não existia? Aí vem o vinho, picles, o som rolando, irmãos e irmãs chegando
para aproveitar um pouco (pisar no chão, sentir o cheiro da riqueza, comer
milho em conserva, tomar água gelada, olhar as paredes branquinhas, ver os
móveis arrumados de uma forma inusitada)...
E aí vêm mais lembranças, de estripulias realizadas, de sonhos sonhados,
emoções que ficaram eternizadas ali e que jamais serão repetidas ou
revividas...
E aí vêm as escolhas todas nesses vinte e cinco anos, os caminhos e
descaminhos, profissão, amigos e amores, família perto e família longe, e o
olhar pra trás para um horizonte invertido, esse que se chama passado e que,
talvez, em vivências quânticas, possa ser percorrido novamente, quem sabe...
E aí vem o outro horizonte, à tua frente, ao qual você planeja, mas
desconhece onde pode chegar, e nem importa, pois outros horizontes internos e
externos, sempre te vão seduzir e entontecer e anestesiar...
E aí você percebe que não é dono de nada, nem de cultura, nem de
diplomas, nem de afetividades; apenas está no meio de um turbilhão de
acontecimentos que chegam e vão como enxurradas em chuvas de verão, e nem
adianta capa de chuva ou bota pra se prevenir, pois nada é certo e nada é
incerto...
A única certeza é o CD que gira e gira e gira e te leva e te traz para
onde você nem sabe e jamais saberá... Memórias são Caixas de Pandora às
avessas...
Salvador, 29 de dezembro de 2014 - Valdeck Almeida de Jesus
O cachorro não sabe
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Mas hoje é Ano Novo
E ele late e balança
o rabo
E faz festa e parece
que sorri...
O cachorro acordou
cedo
Como faz todos os
dias
E sujou o quintal
inteiro
E treme de frio
E quer se enroscar em
meu pé
E lambe minha mão
E parece que sorri
Ele não sabe que hoje
Exatamente hoje
Faz aniversário de
despedida
Do amor de minha vida
O cachorro não sabe e
sorri
E eu me alegro com o
sorriso dele
E ponho comida
E ponho água
E limpo tudo
E aceito o carinho
E retribuo
E fico feliz
E esqueço
Que hoje é Dia de Ano
Novo
Salvador, 01 de
janeiro de 2015
Valdeck Almeida de
Jesus
The
dog does not know
But
today is New Year
And
he barks and wags his tail
And
celebrates and looks smiling ...
The
dog woke early
How
do every day
And
messed the entire yard
And
shivers
And
it wants to curl up in my foot
And
licks my hand
And
it seems smiling
It
does not know today
just
today
Makes
farewell birthday
The
love of my life
The
dog does not know and smiles
And
I rejoice with its smile
And
put food
And
pour water
And
clean all
And
I accept the affection
And
reciprocate
And
I'm happy
And
forget
Today
is New Year's Day
Salvador,
January 1, 2015
Valdeck
Almeida de Jesus
Le
chien ne sait pas
Mais
aujourd'hui, c’est le Nouvel An
Et
il aboie et remue la queue
Et
célèbre et semble sourire ...
Le
chien s’est réveillé tôt
Comme
il le fait tous les jours
Et
il a sali le potager tout entier
Et
tremble de froid
Et
vient s’enrouler à mon pied
Et
lèche ma main
Et
semble sourire
Il
ne sait pas qu'aujourd'hui
Exactement
aujourd'hui
C’est
l’anniversaire d'adieu
de
l'amour de ma vie
Le
chien ne le sait pas pourtant il sourit
Et
je me réjouis avec son sourire
Et
je donne de la nourriture
Et
je donne de l'eau
Et
je nettoie tout
Et
j’accepte l'affection
et
je rends la pareille
Et
je suis heureux
et
j’oublie
Qu’aujourd'hui,
c’est le Nouvel An
Tradução:
De Vries Manson (Camerón)
Salvador
1 Janvier, 2015
Valdeck
Almeida de Jésus
Der
Hund weiß nicht,
Aber
heute ist Neujahr
Und
er bellt und wedelt mit dem Schwanz
Und
feiert und sieht lächelnd ...
Der
Hund wachte früh
Wie
jeden Tag
Und
versaut die ganze Hof
Und
Schauer
Und
Sie, in meinem Fuß machen Sie es sich wünschen
Und
leckt meine Hand
Und
es scheint, lächelnd
Er
weiß heute nicht,
gerade
heute
Macht
Abschieds Geburtstag
Die
Liebe meines Lebens
Der
Hund weiß nicht, und lächelt
Und
ich freue mich mit seinem Lächeln
Und
Essen
Und
gießen Wasser
Und
das alles zu reinigen
Und
ich akzeptiere die Zuneigung
und
hin und her bewegen
Und
ich bin froh,
und
vergessen
Heute
ist der Tag des neuen Jahres
Salvador,
1. Januar 2015
Valdeck
Almeida de Jesus
El
perro no sabe
Pero
hoy és el Año Nuevo
Y
ladra y mueve la cola
Y
celebra y mira sonriente ...
El
perro se despertó temprano
Cómo
hace todos los días
Y
ensuciado todo el patio
Y
escalofríos
Y
desea acurrucarse en mi pie
Y
lame la mano
Y
parece que sonríe
Él
no sabe hoy
Precisamente
hoy
Hace
despedida cumpleaños
El
amor de mi vida
El
perro no sabe y sonrisas
Y
me alegro con su sonrisa
Y
pongo comida
Y
vierto agua
Y
limpio todo
Y
acepto el afecto
y
reciproco todo
Y
estoy feliz
y
olvido
Hoy
és el Día de Año Nuevo
Salvador,
01 de enero 2015
Valdeck
Almeida de Jesús
Собака не знает,
Но сегодня Новый год
И он лает и виляет хвостом
И празднует и смотрит , улыбаясь ...
Собака проснулся рано
Как сделать каждый день
И испортил весь двор
И дрожит
И вы хотите , чтобы свернуться калачиком в ноге
И лижет мою руку
И, кажется, улыбается
Он не знает, сегодня
Только сегодня
Делает прощальный день рождения
Любовь всей моей жизни
Собака не знает и улыбки
И я радуюсь своей улыбкой
И положить еду
И залить водой
Очистите все
И я принимаю любовь
И взаимностью
И я счастлив,
И забыть
Сегодня первый день Нового Года
Сальвадор ,
1 января 2015
Valdeck Алмейда де Хесус
Sobaka ne znayet,
No segodnya Novyy god
I on layet i vilyayet
khvostom
I prazdnuyet i
smotrit, ulybayas' ...
Sobaka prosnulsya
rano
Kak sdelat' kazhdyy
den'
I isportil ves' dvor
I drozhit
I vy khotite, chtoby
svernut'sya kalachikom v noge
I lizhet moyu ruku
I, kazhetsya,
ulybayetsya
On ne znayet,
segodnya
Tol'ko segodnya
Delayet proshchal'nyy
den' rozhdeniya
Lyubov' vsey moyey
zhizni
Sobaka ne znayet i
ulybki
I ya raduyus' svoyey
ulybkoy
I polozhit' yedu
I zalit' vodoy
Ochistite vse
I ya prinimayu
lyubov'
I vzaimnost'yu
I ya schastliv,
I zabyt'
Segodnya pervyy den'
Novogo Goda
Salvador , 1 yanvarya
2015
Valdeck Almeyda de
Khesus
Milagres
existem
Se eu fosse aquele
senhor que tentou pongar na porta central do ônibus e caiu e teve escoriações
severas nas duas pernas e ficou uma eternidade estendido no asfalto quente nas
imediações do Solar Boa Vista de Brotas esperando o socorro sob os olhos
curiosos penosos vingativos contemplativos de transeuntes parentes amigos
desconhecidos poetas bêbados e que foi levado com vida para o hospital e do
qual não obtive mais informações...
Se eu fosse aquele
rapazinho franzino de olhos expressivos caído no asfalto quente da Avenida
Ogunjá como é conhecida popularmente a Avenida Graça Lessa o qual tinha sido
baleado por um segurança de um posto segundo populares e que esperava o socorro
que demorou de chegar e levou o rapaz para o hospital mas que não resistiu aos
ferimentos e faleceu segundo nota publicada num jornal diário da cidade...
Se eu fosse aquele
rapaz que morreu baleado em Mirantes de Periperi na parte alta do bairro e que
eu ouvi os estampidos quando passava de carro e percebi pessoas correndo para
se proteger e não sei de onde vieram os tiros e muito menos as motivações do
crime e do qual não li nem ouvi em nenhum noticiário jornalístico...
Se eu fosse aquele
rapaz que corria de outro que estava armado no fim de linha de São Tomé de
Paripe e eu dentro do ônibus esperando a hora programada para o motorista ligar
o carro e sair e de cujo fujão não sei se era culpado ou inocente nem o que
ocorreu após aquela passagem dele em frente à janela do veículo...
Se eu fosse o dono
daquela cabeça que rolou numa praça de uma praia suburbana segundo relatos de
pessoas que falavam sobre o crime que possivelmente estava relacionado a
vingança por coisas insignificantes mas que ceifou a vida de um jovem que bem
poderia chegar a altos cargos desta nação ou se tornar parte da legião de
eleitores...
Se eu fosse aquele
corpo encontrado afogado em uma praia qualquer do litoral dessa cidade onde
reina a felicidade mas que ceifa a oportunidade de seus cidadãos de terem
esperança e futuro e ninguém reconheceu o corpo e acharam que ele veio passear
e acabou se empolgando com a beleza natural e com o sabor da bebida e com a
paisagem e com a temperatura da água e acabou se esquecendo de se proteger e
entrou no mar onde não havia salva-vidas...
Se eu fosse o corpo
de onde emanava aquele cheiro de carne que sentiram vários e várias ao visitar
uma amiga numa biblioteca que fica muito próxima ao local adequado onde são
armazenados os mortos para serem reconhecidos por alguém ou deixados lá até que
o prazo seja avaliado e decidido o que fazer com os não reconhecidos...
Se eu fosse um
daqueles perambulantes ou moradores daquele banco de mármore na praça onde
morreram assassinados quatro heróis de um levante popular e onde agora morrem
esperanças de velhos e perspectivas de crianças e jovens filhos desses anciões
e de senhores e de senhoras que disputam um copo ou uma concha de mingau ou
sopa ou um pedaço de pão ou um gole de suco ou um cobertor ou um sapato que não
cabe no pé...
Se eu fosse um desses
milhares de seres humanos de todas as idades que diariamente catam café nas
fazendas ou que podam pés de cacau ou que limpam sapatos pelas ruas das cidades
ou que chafurdam no lixo em busca de restolhos e de tudo o que não serve para
humanos e humanas e que comem dejetos e que não são vistos por ninguém que
passa ao lado ou ao largo ou por ninguém que não quer ver...
Se eu fosse um desses
vermes imundos que comem carne podre de cadáveres jogados às margens das
rodovias e nos pontos de desovas ou que morrem antes de chegarem aos hospitais
ou que morrem depois que são atendidos ou que morrem nas mesas de cirurgia ou
que não morrem mas ficam mutilados ou que morrem antes de nascer ou que morrem
e não morrem e vegetam em alguma unidade de terapia de alguma unidade de
saúde...
Se eu fosse um
daqueles corpos carbonizados em veículos que se acidentam ou eu fosse um
daqueles cujos corpos desaparecem pra sempre no fundo do mar após quedas ou
derrubadas de aviões de passageiros...
Se eu fosse um
daqueles que são explodidos em trens metrôs ou praças ou estabelecimentos
comerciais por homens bombas ou por bombas jogadas de aviões que combatem a
violência mas que causam tantas mortes quanto quem guerreia no chão contra seus
próprios semelhantes...
Quando finda um ano e
estou ainda aqui a esperar por uma vaga no mercado de trabalho ou se já tenho
garantido meu emprego ou se continuarei trabalhando onde acho uma chatice ou se
estou estudando e tentando minha primeira colocação ou se vivo dependente de
alguém ou se sou ambulante ou se sou empresário ou se sou político delegado
eleitor vereador músico poeta ou cantador de viola...
Aí sinto que posso
sonhar por mais um dia e agradecer por mais um monte de oxigênio que eu gasto
desse universo...
Salvador, 05 de
janeiro de 2015
Je
suis eu mesmo
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Procura-se espaço na
mídia
Vale colocar gel
tóxico na bunda
Sugar a gordura da
barriga
Correr sem roupa nas
ruas
Comer até desmaiar
Desfigurar a cara ou
o corpo
Inventar uma grande
mentira
Publicar um livro,
fazer um filho e planar uma árvore
Pendurar uma melancia
no pescoço...
Mas o maior destaque
Que se pode ter
É viver a vida
inteira
Como mera pessoa
anônima
Salvador, 15 de
janeiro de 2015
Valdeck Almeida de
Jesus
Poema
para Amanda
(Publicado no livro
Trilhos de minha trilha – 2017)
Quando nasci
Tudo foi natural
Corpo, alma, olhos,
Braços e abraços
Gestos manifestos
E o tempo passou
E com ele
Não aprendi a falar
Olhar, sentir o
coração,
Soltar um sorriso
E algo faltava em mim
O tempo passou
Atrofiou o meu corpo
Truncou minha fala
E minha compreensão
de mundo
Só comi e bebi com
ajuda
E o tempo decorreu
Com ele, perdi
mobilidade,
E fui chamada à
eternidade
No astral, sou eu
mesma
Minha alma sorri e
flutua
Inteira, integral
Aqui, meu coração é
total...
SAC Barra, Salvador,
21 de janeiro de 2015
Tem hora pra quase
tudo...
Tem hora que nem a poesia é suporte
Nem a beleza do dia a dia evita a morte
Tem hora em que tudo é maresia
Mesmo quando o mar não habita em mim
E se alguém me diz que tenho sorte
Aviso aos marinheiros: içem as velas
Acendam quantas puderem
Ninguém nesse mundo é forte
Quando o vento sopra no sentido contrário...
Meus "ais" não são os piores
Mas meus calos doem, ah, doem!
Salvador, 13.01.2015 – Valdeck
Todos nós somos
sozinhos, no amor ou na dor, no meio da multidão ou num beco escuro, somos
apenas nós, nós, muitos nós...
Salvador, 19 de
janeiro de 2015
Valdeck Almeida de
Jesus
Esperando um sinal
qualquer
pra pular do trampolim
e me afogar
no mar dos teus
olhos...
Salvador, 30.12.2014
- Valdeck
Ponte de areia
E quando o tesão
Não mais
Me atrair
A mim e a ti
Que energia
Vai nos ligar
Nos unir?
O deserto
De toda emoção
Vai criar ponte
Entre o teu
E o meu
Coração?
Salvador, 25 de
janeiro de 2015
Garanta estourada
Gripe querendo
Me derrubar
Eu resisto
Me encosto na parede
Estou ficando verde
Olhos mostram tudo
Cansaço, moleza
Ou tristeza
Eu resisto
Hoje a poesia cria
asas
E eu voo com o Grupo
Ágape
Lançamento do livro
“A poesia cria asas”, do Grupo Ágape
Salvador, 13 de
dezembro de 2014
O cansaço tenta me
vencer
Mas a energia se
renova
A cada olhar, abraço,
Aí eu tento me
convencer
Que o que faço
Merece continuar
Pois a poesia
Não me reprova
Ao contrário
Me reanima,
Me põe pra cima
E demonstra
Por si só
Que aqueles
Que têm utopia
Serão sempre poesia
E jamais ficarão
sós...
Sarau da Onça,
lançamento do livro “A poesia cria asas”, do Grupo Ágape
Salvador, 13 de
dezembro de 2014
Rodas de filosofia e
poesia
Gente estranha
Desajeitados
Desengonçados
Desmazelados
Quando se ajeitam
Viram rappers
MC’s, DJ’s, VJ’s e
outros tais
Pensar atrofia o
corpo
E a aparência (!)
Burro inchado
Sapo imprensado
Gabinete Português de
Leitura
16 de dezembro de
2014
Minha mesa tem vasos
sanitários ao redor, sentamos em pinicos na sala e na cozinha panela de pressão
e penico têm o mesmo formato
---
Você foge dos meus
olhos
Mas não do meu desejo
Evita minha presença
Mas não impede meu
sofrimento
Te desejo ao cubo,
total
E não preciso que
saiba
Pois só de saber de
você
Sinto como se me
pertencesse
Inteiramente, real.
Salvador, 27 de
janeiro de 2015
Te imaginando sumir
no corredor
Amar é bom
Dá saudade
Dá frio na barriga
Ajuda a viver
Sorrir e sofrer
Amar é bom
Passa o tempo
Faz a vida valer
Mas tem o ciúme
E tem a pirraça
E tem a dor
Amar é bom
Quando não se tem
Um grande amor.
Salvador, 07 de
fevereiro de 2015
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