sábado, 22 de agosto de 2020

Livro Todos os Poemas da página 1152 até página 1185

Antologia Todos os Poemas

Valdeck Almeida de Jesus

Parte 08

 

Versões atualizadas e outras nem tanto


 

REFLEXÃO

 

PROJETO 30 ANOS DE POESIA

 

Quem sou eu?

(Projeto Madio Editora)

 

O medo me assalta

Não o medo de morrer

Mas o do preconceito

O da discriminação.

 

Não estou ficando louco

Mas é muito pior que isto

Pois sinto na minha pele

E sofro conscientemente.

 

Não adianta fugir

Pois o tempo está passando

Neste relógio de areia.

 

Estou sumindo muito rápido

Morrendo e andando vivo

Fingindo o não sofrer.

 

06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas


 

CONTO

O rio tagarela

Houve, há muito tempo, em qualquer parte deste mundo, um riozinho muito tagarela. Quando chegou um pescador e começou a jogar o anzol na água e o rio começou a tagarelar.

- Bom dia, senhor pescador! Sinto-me feliz por servir ao senhor, dando um pouco dos peixes que vivem em meu leito para os seus filhos comerem. Já pegastes algum?

- Não, respondeu o pescador, chateado por ter ficado quase todo o dia sentado, imóvel, a espera que um infeliz peixe fosse fisgado no seu anzol.

- Isto não é problema para mim, nem para o senho!, falou, todo fanfarrão, o rio tagarela. Vou buscar os maiores peixes existentes no meu curso, e darei ao senhor, sem cobrar nada de especial. Só peço que não deixes que os homens sujem minhas águas, ok?

O riozinho tagarela pegou tantos peixes que até hoje o homem vende peixes e ainda não acabou seu estoque.

 

 

 

 

 

 

 


 

CONTO

O sapo

 

Eu gosto muito de sapos, quer sejam sapos enormes, quer sejam pequenos girinos, sapinhos ou sapões.

Todos são úteis ao homem, e especialmente ao meio em que vivem. É um ótimo comedor de insetos e de bichinhos que causam prejuízos à lavoura, à hortinha de fundo de quintal, aos jardins, etc.

O sapo não é muito bonito, disto ninguém tem dúvida. Mas o trabalho realizado por ele encobre todos os efeitos que porventura existirem nele. Não possui pescoço (ao contrário da girafa), anda pulando pra lá e pra cá. Tem uma língua compridíssima... gosta de lugares úmidos, brejos, lagoas, córregos, rios, etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CONTO

O sapo

 

Era uma vez, um sapo muito levado e muito sapeca. Brincalhão que só ele... Seu passatempo preferido era dar sustos em todos os que aparecessem em sua frente, quer fossem animais pequenos ou grandes, racionais ou irracionais.

Um certo dia, o nosso querido sapinho levou a pior. Estava ele, como sempre, sentado à beira do rio-lagoa-lar, a esperar que alguém passasse próximo a ele, para dar um tremendo susto e, após, soltar boas gargalhadas e pular na água, evitando, assim, que sua vítima o atacasse.

Coitado, aquele não era seu dia de sorte. Quem resolveu passar perto do sapo foi justamente uma cobra d’água. Ela veio, calmamente, por debaixo da água, cautelosamente - evitando ser vista por seu algoz - armou o bote em sua direção, pulou por sobre o sapinho. Agarrou o pobre sapo pelas perninhas finas e escorregadias. O sapinho foi sendo engolido devagar pela cobra. Antes de ser totalmente engolido, resolveu pregar uma peça na cobra:

- Dona cobra, cuidado! A senhora vai morrer. Eu bebi veneno há poucos minutos.

A cobra soltou o sapo rapidamente e correu para o lago para lavar a boca. Enquanto isto, o sapo corria em outra direção, gritando e sorrindo de tanta satisfação:

- Êh! Cobra boboca. Se eu tivesse bebido veneno há poucos minutos eu já teria morrido...

 

Jequié, 21 de junho de 1984


 

REFLEXÃO

O vazio que me preenche

(Projeto Madio Editora)

 

Vou lotar de força grande

Vou encher de energia

Pra evitar o sofrimento

Vou traçar o meu caminho

Reto, curvo ou inclinado

Mas vou trilhar cada passo

Tentando errar pra valer

Evitando os maus caminhos

E os buracos traiçoeiros

Tentarei ver quem passa

Ajudar a quem precisa

Se possível achar a paz

Ou a morte nesta trilha.

 

14 de setembro de 1991

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Os ‘cegos’ também veem

 

Eu vou contar esta história para todos vocês (que me leem), mas não quero que a mesma seja espalhada como aquelas fofocas de fundo de quintal... Quero que ela fique só entre nós três: Eu, Você e THE WORLD (será que eu escrevi certo? Se não, eu quis dizer o seguinte: Eu, Você e o Mundo.).

Aqueles três cegos estavam na porta do mercado (tinha que ser logo na porta do mercado?), sentados, e com as mãos estiradas, estendidas, a esperar que alguém (quem sabe se não era eu ou não era você este alguém?) lhes desse uma moeda ou uma cédula, para que eles pudessem comprar o que mais desejavam: um par de óculos!

Eu passei pela porta do mercado e vi que o cego mais conhecido na cidade (o mais alto) me olhava. Ou melhor, me seguia com o olhar (...).

Olhei para trás e percebi que o tal cego piscou para um moleque que estava defronte ao mercado e que este moleque disparou em minha direção e meu deu um “encontrão”, quase me derrubando o danado. Pediu desculpas, disse que sentia muito. Só não disse o que é que lhe tinha acontecido para sair em disparada em minha direção. Mais tarde percebi que meu dinheiro tinha sumido do bolso. Aquele moleque tinha me roubado durante o tombo que me deu. Imediatamente fui à delegacia mais próxima e registrei uma queixa. Somente assim eu poderia reivindicar minha carteira, que também tinha sido surrupiada. Imediatamente após o registro da queixa, fui ao mercado, tentar pegar o ‘cego’, que, para minha surpresa, ainda se encontrava sentado no mesmo local onde o tinha visto pela manhã. Mas ele nada tinha que ver com o trombadinha. Não tinha piscado para o moleque, mas para uma garota que passava nas proximidades. Descobri que, além de não ser cego coisa alguma, era um propagandista de uma ótica que era instalada dentro do mercado...


 

LOUCOS

Os Comentários no SPC são de que o Acórdão Engasgado no BARdeBOSA aMOREIRA não foi pago, em razão do que seu nome está sujo na PRAÇA.

 

 

Se a REVISTA não foi recebida, não há por que continuar pagando sua assinatura.

 

 

Se o preJUÍZO já está garantido, o “writ” perdeu seu objeto e até hoje ainda não o encontrou. Por isto, Sting o protesto sem enrugamento do débito.

 

Compre, porque o fumo é bom, Iuri!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Os Homens Hoje em Dia

Atualmente, a maioria dos homens são falsos para com os seus colegas. Em tudo procuram enganar aos colegas, amigos, parentes, irmãos, etc.

Não se pode confiar em mais ninguém, porque ninguém dá motivos para que tenhamos um pouco mais de confiança em pessoas. Se morarmos com alguma pessoa, temos que estarmos sempre de olho nesta pessoa, com medo de sermos traídos na confiança e roubados na consciência.

Em qualquer trabalho em que se entre, temos amigos e “amigos”, que nem sempre correspondem às expectativas nossas. E quando correspondem, é por muito pouco tempo.

Eu sei, de plena consciência que em todo local aonde se relacionam pessoas, temos que tomar várias precauções para não atingir quem nos cerca e, se isto acontecer, tentar dos mais variados modos, convencer aos feridos que não era de nossa intenção fazer tal coisa. Temos que viver sempre nos desculpando por tudo o que fazemos e nem sempre estamos com saco para aturar tal fato. Mas eu não me encho facilmente, não. Sempre tenho um pouco de energia reservada para empregar em casos mais difíceis de resolver.

As pessoas que têm ou não bom relacionamento com outras, não podem nem há permissão minha para que me atinjam, pois estou sempre alerta para o que der e vier.

Jequié, 22 de junho de 1986

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Ouço rádio

(Projeto Madio Editora)

 

leio revista

escrevo poemas

penso e repenso

É dia

É claro

É cheiro de higiene

Não preciso gritar

Não preciso chorar

Estou inteiro:

Física e Psicológica

Mas aos lados,

detrás das paredes,

em cima e embaixo

dores e risos

choros e prazeres

reinam.

 

Clínica São Vicente, 1º de agosto de 1991

 

 


 

REFLEXÃO

Ouvindo o som do Universo

(Projeto Madio Editora)

 

Que brande forte e supremo

Fico todo arrepiado

Entrego-me a esta força

Abraço-me à energia

Sinto-me todo nas nuvens

Segurando a tua mão

Recebendo a tua força

E toda a tua alegria

Fico largo e fico estreito

Fico alegre e fico triste

Não querendo mais voltar

Para o mundo desumano

Que me torce e me sufoca

Por isto faço mil planos

De sempre estar aí contigo

Mergulhando nesta força

Que impregna o meu ser

E me faz enlouquecer

Ébrio e tonto de amor.

 

14 de setembro de 1991


 

CRÔNICA

Para promoção da FM Itapoan. Enviada dia 07.08.96

 

Dia dos Pais

 

Ao Meu Querido papai, que hoje mora no céu:

 

Pai, faz  muito tempo que você viajou, para muito longe. Mamãe sempre dizia para mim que você voltaria logo. Toda tarde, todo final de semana, todo dia e toda hora, eu esperava que você chegasse, cansado, cheirando a suor, com as mãos trêmulas, a roupa empoeirada, aos mãos calejadas, meio triste com o pouco dinheiro que conseguia trabalhando honestamente; Esperava eu, na minha inocência, que você chegasse, como sempre fizera - até o dia em que viajou e não voltou mais - com o bolso cheio de bombom, com um saco de pães na mão; Esperava eu, na minha ingenuidade, que você retornasse do trabalho  ou da viagem - sempre do mesmo jeito, sempre cansado, sempre triste, fingindo alegria, para não me deixar conhecer a crueldade da vida. Mas você não vem...

Tantos “Dia dos Pais” se passaram: Eu comprei um presente para você! Está guardado até hoje. Vai estragar. Você não volta nunca! Mamãe disse que um dia eu vou viajar e me encontrar com você, papai. Mas ela nunca diz quando vou te ver...

Somente agora, passados muitos anos, minha mãe abriu o jogo: você não voltará, jamais; que é eterna a sua viagem... Mas teu presente continua aqui, te esperando. Chorei muito após saber que você não voltará nunca mais. Chorei, não por causa dos bombons, mas por causa de você; por causa de seu carinho. Chorei, e continuo a chorar, também, porque todos os meus amiguinhos podem dar um presente a seus pais. E eu, nunca mais vou poder te ver. Nunca mais vou poder te abraçar...

Mas, mesmo assim, te desejo o MAIOR DIA DOS PAIS DE TODO O MUNDO: Onde você estiver, papai, não se esqueça que sempre estarei aqui, na porta, esperando por você...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

HOMENAGEM

Para Valdeck (Por Cleyde Galvão)

 

Sou um velho jovem

Jovem em ações, sentimentos

Jovem em vontades, pensamentos

Jovem das alegrias e tormentos

Jovem no tempo e sem tempo

Jovem, velho, na vida que sustento

Penso que sou jovem levando vida de velho

Penso que sou velho mas claro que sou jovem

O tempo, o sentimento, o tormento, o sustento

Me tornam um jovem velho e um velho jovem

Entre as circunstâncias que enfrento.

 

UESB, 21 de maio de 1991, às 21:30 horas

 

 

 

 


 

AMOR

 

Poesia à minha mãe

(19 de maio de 1991)

 

fim...

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Poesia da Tristeza

(Projeto Madio Editora)

 

Hoje recebi uma notícia

Que me deixou muito triste

Pois mexeu com minha saúde

E me deixou muito triste:

 

O Doutor Paulo Sobreira

Examinou-me e disse

Que eu preciso me operar

Se da vida eu gostar

E se quiser viver um pouco mais.

 

Revelou meu problema

Sem medo da reação

Falou que tenho um tumor

Que me levará ao caixão.

 

Tenho que deixar emprego

E qualquer preocupação

Viajar para uma Capital

E tratar da operação.

 

Deu-me no máximo um mês

Se eu quiser ter esperanças

Pois é um tumor no intestino

Ou no grosso ou no fino.

 

Eu fiquei desesperado

Por causa desta notícia

Mas Deus me ajudará

Que me recuperarei.

 

Jequié, 02 de fevereiro de 1990, às 17:43 horas


 

CONTO

Pombo-Correio

 

Eu conheço um pombo-correio que se chama Atauro. Ele é simpático, esperto, forte, encantador... Nunca erra o caminho. Carrega dezenas de cartas por semana, para os mais diversos recantos do país...

Hoje ele chegou em casa de meu pai - só vem aqui a serviço - para entregar-me uma carta enviada por um velho conhecido meu: o senhor Paulo. O conheci há alguns anos, quando passou por minha casa vendendo pombos-correio. Só existe um pombocorreio que não vende por preço nenhum: Atauro. Atauro já faz parte da vida do meu amigo Paulo. E da minha também. Atauro já carregou muitas confidências minhas... Meu amigo Paulo sempre escreve para saber se eu estou necessitando de alguma coisa, ou se estou interessado em comprar algum pombocorreio. Mas logo desiste de me propor comprar pombocorreio, pois só quero comprar se for o Atauro.

Jequié, 24 de julho de 1984

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

PRECISO DE MOVIMENTO (I NEED MOVIMENT):

 

PULSAR: VIVO/MORTO

LUZ/BREU

 

VIVO: Correndo, subindo, escorregando, caindo...

 

MORTO: uma estrela um ASTRO (Ou uma ASTRA = ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO, OU A MARCA DA TAMPA DO VASO SANITÁRIO DE MINHA CASA).

 

PULSAR: brilho morto de um astro que jamais ocupará o mesmo espaço que outra pessoa ocupa ao teu lado.

 

Salvador, 21 de dezembro de 1994


 

REFLEXÃO

Quero andar, mas não consigo

Minha perna está quebrada

Só espero que seja breve

Pois tô cheio de deitar

Quero sair desta máscara

Pra viver sendo o que sou

Mostrando para mim mesmo

O monstro que se esconde

Atrás do riso forçado

E do gesto de amizade.

Quero ser completamente

E não apenas um quinto

Não quero ser iceberg

Não quero ser avestruz

Mas como ser eu inteiro

Depois desta carapaça

Depois deste capuz

Depois de tanta maquiagem

Depois de tanto disfarce?

Fugir pra longe não basta

Ficar aqui não compensa

Só me resta a morte certa

Sem viver e sem morrer

Sem sofrer e sem sorrir

Apenas uma água morna

Apenas uma penumbra

Que não permita enxergar

Nem tampouco caminhar

Só me resta passos falsos

Só me resta riso forçado

E um viver na escuridão

Abafando o sentimento

E me tornando uma pedra

Sem sentido e sem destino.

Jequié, 03 de setembro de 1991, às 12:25 horas

 

 

 

 

 

 

 


 

AMOR

Quero você.

Quero a mim.

Quero a mim mais que a você.

Escolho você e me perco.

Me perco em você.

Mas quando encontro você,

Percebo que estou em você,

Sou você.

Então me amo.

UESB, 17 de julho de 1991, às 20:50 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

HOMENAGEM

Redação. Tema: Dia do Soldado.

 

O Dia do Soldado é muito conhecido, pois é o Soldado quem protege a nossa Pátria, quem impõe ordem e segurança a todos.

Igual a todas as outras pessoas, devemos respeitá-lo muito mais por ser um ser humano.

O Dia do Soldado aqui no Brasil é comemorado no dia 25 de agosto. Este dia lembra muito as guerras, mas também lebre muita paz, pois é o Soldado quem une e pacifica o País.

O Soldado está sujeito a muitos Perigos, mas mesmo assim não deixa de trabalhar com honestidade e boa vontade.

O Soldado é muito valente, pois os perigos aos quais está sujeito não vale a pena o que ganha como salário.

O Duque de Caxias (Patrono do Exército Brasileiro), foi um grande homem que lutou por causas brasileira e que mereceu o título de Patrono.

 

Esta redação foi feita por Valdeck Almeida de Jesus no dia 25 de agosto de 1982, quando cursava a 5ª série no Ginásio Municipal Dr. Celi de Freitas. Esta redação foi solicitada pela professora de português, Eunália S. Alves.


 

REFLEXÃO

Reflexões

 

Hoje à noite estou sentado numa carteira escolar no Ginásio Municipal Dr. Celi de Freitas, observando o que ocorre ao meu redor.

Vejo a que estado chegou a civilização brasileira: 43 colegas de estudo, inclusive eu, todos sentados e desinteressados na aula de Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa, que a Professora Marly Silveira leciona nesta hora. Muitos alunos fazendo ‘gracinhas’, piadas, tititis, etc. Nas salas de aula refletemse toda a falta de educação que existe no país, em peso. A falta de caráter é tão intensa que pode ser comprovada sem muito esforço, bastando para isto que se observe as pessoas por um breve espaço de tempo.

Dou razão àqueles ditadores implacáveis que apoderamse de governos mal feitos, sem forças, para fazer muitas mudanças com ajuda da força bruta, da estupidez.

Nenhum governo jamais deu tudo o que um povo idiota almeja e, se por um mero acaso isto acontecer, este povo não compreenderá o que receberam e serão capazes até de depor os governantes, somente bastando para isto que alguém diga que o que o governo deu não é o que lhe pediram.

Jequié, 23 de abril de 1985

 

 

 

 

 

 


 

HOMENAGEM

 

SALVADOR

 

Calorenta, Suarenta, Violenta, Conturbada,

Agitada, Congestionada, Nojenta, Suburbana,

Destruída, Desnutrida, Empobrecida,

Turística, Absurda, Caótica,

Mas sob outra ótica,

Aprazível, Paradisíaca, Demoníaca,

Estupidamente indecente

Coerentemente louca.

 

Salvador, 04 de junho de 1994.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Salvador, 09 de abril de 1993

Sexo, Droga e Rock’n Roll

Curtição, Diversão, Prostituição (não exatamente nesta ordem). Resumo: o tempo voa, te arrastando para a morte. E daí? Do que adiantou tanta arrogância, tanta ganância, tanta predominância? Do que adiantou ser subalterno ou estar no comando? Do que adiantou “correr” ou “caminhar”? Um conselho: Faça, não importa se devagar ou rápido, mas faça muito bem feito, pois só isto importa para a eternidade.

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Se eu tivesse outra chance

(Projeto Madio Editora)

 

Não sei o que faria

Acho que já cumpri

Minha missão nesta vida.

 

Só o que me amedronta

É o medo de sofrer

Sofrer antes da morte

E não o medo de morrer.

 

Não morri com o Baygon

Não morri com o apendicite

Pois não tinha chegado a hora.

 

Dois acidentes de moto

Não foram suficientes

Mas desta vez não escaparei...

 

06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas

 

Se quisermos encontrar paz e progresso, temos que plantar amor e sinceridade.

Jequié, rua Manoel Vitorino, 83 (24 de junho de 1991, às 16:55 horas)


 

AMOR

Se te vejo, te quero

(Projeto Madio Editora)

 

Mas se não vejo, quero

Se fujo, te procuro

Se não procuro, procuro.

 

Te desejo todo, todo

Te quero todinho meu

Te desejo todo, todo

A beijar os lábios meus.

 

Eu te quero todo, todo

Todo, todo para mim

Para mim te quero todo.

 

Nunca, nunca pense em mim

Te quero todo pra ti

E te quero todo aqui.

Biblioteca Municipal de Jequié, 03 de maio de 1991, às 08:50 horas

 

 

 

 


 

AMOR

Sei que estás aí

(Projeto Madio Editora)

 

Em algum lugar do mundo

Esperando a minha carta

Meu carinho e meu abraço

Pra te dar mais alegria

E motivo pra viver

Mas as linhas não se cruzam

As estradas se divergem

Nossa mente se distrai

Nos cegando o caminho

Nos levando para longe

Destruindo o destino

Evitando o encontro

Que pra nós é essencial

Nos deixando a sofrer

Sem permitir um sossego

Ou um minuto de paz.

 

12 de setembro de 1991


 

AMOR

Senti o sangue ferver

(Projeto Madio Editora)

 

E meu coração disparar

Quando ao teu lado fiquei

E pude te abraçar.

Ao sentir a tua pele

Ao sentir o teu calor

Percebi que tudo aquilo

Era o mais puro amor.

Guardei você em mim

Com muita emoção

Coloquei você guardado

Dentro do meu coração.

21 de abril de 1991, às 22:30 horas

 

 

Será que meus poemas valem menos que os hieróglifos da Idade da Pedra, ou equivalem-se, mútua, reciproca e concomitantemente?

Jequié, 08 de agosto de 1992

 

 

 

 

 


 

HOMENAGEM

Sete de Setembro

 

Dia da Independência

Dia da Liberdade

Mas estou chorando

Porque estou doente

Minha perna está quebrada

Não posso caminhar.

Vão ver o desfile

E eu aqui deitado.

Todos se arrumando

E eu aqui deitado,

Feito um aleijado:

Sem poder andar.

Fico triste e choro

Com esta situação.

E sabedor que sou

Que não sou apenas eu,

Ainda não me conformo

Com esta fase difícil

Que hora me apavora.

Minhas lágrimas caem

Quentes como brasa

Queimando os meus olhos

E o meu coração.

Meu nariz entope

Meu coração entorpece

Minha mente morre

Matando meu sonhar.

São dias e dias sentado

Sem andar e sem correr

Mas tenho fé no meu Deus

Que breve estarei de pé.

07 de setembro de 1991, às 08:20 horas

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Sofri muito pela vida

Mas consegui vencer

Passei fome muito tempo

E hoje tenho o que comer.

 

Depois de tanto sacrifício

De desperdício de vida

Quando tinha que “gozar”

Alguém me corta o barato.

 

Tenho que interromper tudo

E partir para o incerto

Antes mesmo de “viver”

 

Mas se a vida quer assim

E não há mesmo solução

Vou partir daqui em breve...

 

06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO – AUTO CONHECIMENTO

Sou um poeta

(Projeto Madio Editora)

 

Sou um fingidor

Só não sabia disto:

Sou um mal poeta

Mas um ótimo fingidor.

 

Penso que me engano

Mas só consigo fingir

Mal finjo que me engano

E engano-me: fingi.

 

Escrevo pouco e confuso

Mas amo como desejo:

Faço tudo o que sonho.

 

Não sou louco mas desejo

Encontrar o meu destino

Que seja um coração-menino.

 

13 de fevereiro de 1992

 


 

REFLEXÃO

Sou um velho

(Projeto Madio Editora)

 

Meus pensamentos são arcaicos

Meus posicionamentos são incoerentes

Meus desejos são atrasados

Meus pontos de vista são contraditórios

Meus ideais são não-objetivos

Minhas colocações são não-conclusivas

Minhas lutas são sem futuro

Meu futuro é a morte intelectual...

UESB, 21 de maio de 1991, às 21:30 horas

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Te encontrar, para me encontrar

(Projeto Madio Editora)

 

Sei teu telefone

Mas não te ligo

O número da tua casa

Mas não te escrevo

Sei onde tu estás

Mas não te procuro

Sei onde tu andas

Mas não cruzo o teu caminho

Tenho as armas para te prender

Mas tenho medo do que faria

Sei que quero esta forma de amar

Mas permaneço preso ao curral...

UESB, 16 de julho de 1991

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

AMOR

Te planejo

(Projeto Madio Editora)

 

te idealizo

te sonho

te procuro

te fantasio

te almejo

te aspiro

te imagino

te pinto

te rascunho

te projeto

te busco

te invento

te componho

te crio

te mentalizo

te abstraio

te devaneio

te visualizo

te antevejo

te antecipo

te (...)

Mas não me preparo para corresponder ao alto grau de perfeição que espero (ou exijo) de você.

Clínica São Vicente, 06 de agosto de 1991, às 08:35 horas


 

AMOR - REFLEXÃO

Tem muita gente sozinha na Terra

gente sozinha e sem amigo

por isto procuro um solitário

para ser um só ser comigo

 

Não precisa ser feio

burro e mal vestido

só desejo que seja sincero

leal e fiel a mim.

 

Periperi, 09 de outubro de 1994

 

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Trabalho (Pessoal) de Religião sobre “Se você fosse um enviado de Deus para modificar o mundo, o que você faria e como seria o seu mundo?”.

 

Todos nós somos enviados de Deus para modificar o mundo, para darlhe um aspecto que não existe. Darlhe um aspecto de amor, paz, alegria, resignação, aceitação, etc.

Mesmo sabendo que sou um enviado de Deus eu não estou fazendo nada o que ele me designou para fazer. Não me esforço para satisfazer Sua vontade mas acho que, por Ele ser misericordioso, terei perdão para esta minha falta e também para meus milhares de pecados.

Jequié, 24 de novembro de 1986

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Trabalho (Pessoal) de Religião, sobre “Se você fosse um enviado de Deus para modificar o mundo, o que você mudaria e como seria o ‘seu’ mundo?”

 

Em primeiro lugar eu tentaria convencer a maior parte possível de pessoas de que eu REALMENTE tinha sido enviado dos Céus por Deus. Depois, exporia a todos, convencidos ou não, o Verdadeiro Plano de Deus para o Mundo e o que o mundo ganharia caso fizesse a Vontade de Deus.

Então, caso eu tivesse Autoridade e Poder para Modificar o mundo, realizaria, em todas as partes que eu desejasse mudar, eleições para saber que a Vontade do Povo. Se eles optassem por coisas erradas (do ponto de vista Divino), eu tentaria tirálos do caminho errado e convencêlos de que, o que realmente estava certo seria fazer a Vontade de Deus e os ensinaria a sentir prazer nas Coisas de Deus (tanto nas alegrias quanto nas tristezas por que passassem nas suas vidas).

Com aqueles que aceitassem e descobrissem o que eu estava dizendo ou fazendo era a verdade e, principalmente, agissem como Deus tivesse designado, eu faria algum tipo de pacto. E com aqueles que não entendessem as Verdades Divinas, eu pediria ajuda a Deus para convencêlos. Se nem assim eles se ‘tocassem’, eu os entregaria para que Deus fizesse o que achasse necessário.;

Meu mundo seria sem guerras, sem brigas, sem intrigas, sem falsidades, sem nada de ruim...

Jequié, 24 de novembro de 1986

 

 

 


 

REFLEXÃO

Trancar minha cabeça

 

Estou pensando seriamente

Em trancar a Faculdade

Pois estou desanimado

De estudar aqui deitado

Sem colegas e professor

Aqui num canto deitado

É uma posição incômoda

Que tem me incomodado

Me fazendo ficar farto

De tudo isto aqui

Sem vontade de estudar

De resolver exercícios.

Mas depois me arrependo

E fico pensando muito

Calculando a minha perda

Se assim eu proceder.

E não sei mais o que faço

Se prossigo ou se desisto

Será que tô sendo fraco

Ou isto não tem valor?

O que importa é ficar bem

Ficar bem comigo mesmo.

E não estou relaxado

Nem tampouco integrado

Deste jeito não se estuda

E tampouco se aprende

Por isto vou dar um tempo

Vou fazer igual a Cleyde Barros

Retornarei quando puder

(E com toda energia (?)

Pra concluir a contento

Este curso importante

Que por hora não consigo

Continuar frequentando.

09 de setembro de 1991, às 08:40 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

UESB, 26.06.1991

 

 

A verdade é linda

mas mentir é necessário

Amar é benéfico

mas odiar é essencial

Viver é maravilhoso

mas morrer é imprescindível

para continuar a viver.

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Um corpo é apenas um corpo

(Projeto Madio Editora)

 

Um corpo não é apenas um corpo

Toda atração física é apenas física

Toda atração física não é apenas física

Fico atraído por corpo e por alma

Sou atraído apenas pelo corpo

Sou atraído apenas pela alma

Não gosto de corpo nem de alma

Amo o espírito e odeio o corpo

Amo o corpo e odeio o espírito

Sou fogo e sou água

Sou água e sou fogo

Não gosto de sexo, mas gosto de amor

Não gosto de amor, mas gosto de sexo

Sexo pelo sexo não eleva o espírito

Sexo pelo sexo eleva o espírito

Odeio a falsidade e amo a sinceridade

Amo a falsidade e odeio a sinceridade

Sou tudo e sou nada

Sou o alfa e o ômega; o princípio e o fim;

Sou Deus e demônio. Sou eu e não sou eu.

09 de agosto de 1990, às 09:56 horas

 


 

CRÔNICA

 

Um dia chuvoso

 

Em certa cidadezinha do interior brasileiro, numa rua nem muito larga nem muito estreita, onde existe um tão enorme quanto lindo jardim, a pequena Marta estava a molhar as plantas: delicadas roseiras, espetaculares girassóis... pois os mesmos estavam quase murchos por falta de água.

De repente, porém, começou a cair uma chuva torrencialmente. E foi aquela correria no centro e na periferia da cidade: pessoas se embrulhando em capas que saíram ninguém sabe de onde, pondo livros e guardachuvas sobre as cabeças, etc. Marta também não perdeu tempo: correu para dentro de casa, pegou o guarda chuva de sua mãe e voltou para o jardim e recomeçou a regar as plantinhas...

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Um homem, numa byke ‘feminina’, ‘cor-de-rosa’ ou rosa choque, passeando com otro hombre, montado numa bicicleta ‘Caloi 10” (ou 50...) tradicionalmente masculina, numa praça central duma city interiorana (nordeste). Nada a declarar

A-B-S-O-L-U-T-A-M-E-N-T-E  N-O-R-M-A-L nos dias d’oje. Ninguña suspeita. ABSURDAMENTE ACEITÁVEL.

13 de outubro de 1992, “Bom Gosto”, Praça Rui Barbosa, Jequié/BA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

Uma história

 

Hoje vou contar uma história que nunca se passou comigo nem espero que se passe contigo. Tomara!

Estava eu a descansar debaixo de uma árvore do jardim, depois de ter almoçado, quando aconteceu o que eu menos esperava: chegaram perto de mim dois vagabundos, amarramme e fugiram em seguida. Agora estava eu ali, sem poder me livrar daquelas amarras, para fugir não sei de que - talvez algum animal feroz quisesse me devorar ali mesmo...

Cheguei ali às 14:00 horas e passouse a tarde toda sem que ninguém chegasse para me salvar. Quando começou a escurecer, fiquei com o maior medo. Ainda por cima, fazia muito frio...

Percebi, às altas horas da noite, que um leopardo de grande estatura aproximavase... Chegou perto, armou o pulo e caiu em cima de mim, dando gritos e ganidos. Quando suas presas afiadas chegaram bem perto do meu pescoço, eu fiquei desesperado. Não havia motivo para isto, mas eu fiquei muito desesperado mesmo.

 

Fim.

 

Por que não havia motivo? Ah! Esqueci de contar, não foi mesmo? É porque eu estava deitado na minha cama e somente pela manhã é que descobri que tudo não tinha passado de um SONHO...

 

 

 

 


 

REFLEXÃO - HOMO

Uma mulher faz um homem feliz?

Um homem faz um homem feliz?

Respostas: podem e de não fazer um homem feliz. Mas se a felicidade conquistar espaços entre eles será muito proveitoso. Fui feliz de todas as maneiras. Mesmo nos piores momentos de minha vida, vi lições que transmito para todos que tocam na minha energia...

Fui feliz no amor e no ódio.

Fui feliz na água e na mágoa.

Fui feliz na dor e na paz.

Fui feliz na vida e na morte.

Sobrevivi a tudo. Não permiti que a vida se aproveitasse de mim em nenhum momento. Fui nu e fui cru. Fui cruel e infiel.

Lutei e venci a tudo. Só não consegui vencer ao meu destino: morrer afogado na minha própria paixão, corrompido pela ferrugem do amor ao sexo sem fronteiras.

Jequié, 03 de janeiro de 1992, às 21:55 horas

 

“Só uma palavra me devora: aquela que o coração não diz”.

Alguém.


 

REFLEXÃO

Utopia Consciente

(Projeto Madio Editora)

 

Setenta anos de revolução

E ainda sou Radical.

Sonho, fantasio, idealizo

Mas não sou capaz de me fazer feliz.

Não consigo fazer alguém feliz

Nem sei amparar àquele que cai

Sou cientista e sei tudo

Só não sei porque estou aqui.

Neste momento não consigo dormir

Pois estou numa cama gostosa e ouvindo som;

Mas sei que alguém agora dorme

Sob jornais e sobre o chão frio.

Estou triste porque tenho tudo

Ou quase tudo o que necessito;

Enquanto alguém ri e dorme feliz

Sustentado apenas por uma promessa vã...

Deliro e choro por não ser igual a todos

Comum e humano como um qualquer

Mas sei que para o crescimento espiritual

É necessário o sofrimento e o desprazer.

Algo me consola e me conforta

Ao mesmo tempo que me atordoa

Então fico a girar como um louco

Parado, inerte, sem poder impedir.


 

CRÔNICA

Valdeck  Almeida de Jesus, brasileiro, solteiro, RG nº 02.769.00596, funcionário público, Assistente Administrativo, residente e domiciliado na Rua Dr. José Joaquim Seabra, 458, Edifício Crescenciano dos Santos, aptº 916, Sete Portas, Salvador/BA, vem propor RECLAMAÇÃO TRABALHISTA contra o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, pelos motivos a seguir expostos:

Em 25.01.1990, o autor foi contratado, pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho, para exercer a função de Auxiliar Operacional de Serviços Diversos, ficando lotado, inicialmente, na JCJ de Jequié, percebendo um salário mensal de NCZ$ 2.000.590,09.

Sua jornada de trabalho era das 07:11 às 11:45 e das 12:59 às 19:03, de segunda a sábado, inclusive feriados. Tinha uma folga a cada noventa dias de trabalho, pela qual não recebia absolutamente nada de Adicional Noturno.

Requer o seguinte:

Que a reclamada seja condenada a pagar ao reclamante os salários de Juiz Togado, pelo exercício de função gratificada, código DAS-50, nos dias santificados e feriados nacionais.

 

Adicional no turno vespertino.

 

Horas extras e sua integração ao pressuposto de admissibilidade.

 

Inclusão de seus trinta e oito dependentes, para efeito de salário família e dedução de imposto de renda.

 

Custas pela reclamada e pelo reclamante, no importe de R$ 12.000,09, relativo ao processo principal e ao cálculo relativo ao tropeço sindical da consubstanciação relativa à Constituição Federal e à Carta Magna.

 

No tocante ao Seguro Desemprego, fica mantida a sentença prolatada pelo Juízo de 1º grau, condenandose o referido causídico a fazer o 2º grau e prestar vestibular. Somente após a liquidação do julgado, poderá esta instância superior apreciar o pedido de Adicional de Insatisfação Trabalhista e de Adicional de Constipação.

 

 

 

 

 

Valdeck, 23 anos, 1,70m, moreno claro, cabelo e olhos castanho-claro, pisciano, portador de deficiência mental irreversível, cursando a 4ª série do 1º grau, desempregado, infectado com o vírus da Aids, sem perspectiva de viver mais de um mês, procura uma jovem de até 80 anos, com alguma deficiência física e/ou mental, que esteja cursando a 3ª série primária ou que seja analfabeta, para relacionamento sério, com finalidade de casamento.

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Verso e reverso

(Projeto Madio Editora)

 

Moeda: cara e coroa

folha: página e verso

homem: emoção/fingir

mulher: querer/tanto faz

sexo: ativo/passivo

beleza: estética/preconceito

arte: sem sexo/sem nexo

sentimento: masculino/feminino

Tudo e nada

Ato e desato

vida e revida

quem sou?

Tudo: sou um cara

e tenho uma cara

que não descara

 

Jequié, 12 de julho de 1991


 

CRÔNICA

Viagem improdutiva

 

Nós já estávamos cansados de tanto ficar em casa... nunca mais tínhamos saído para estirar as pernas. Resolvemos dar uma caminhada até uma pedra que ficava a uns dez quilômetros de nossa casa. Preparamos tudo. Pela manhã, bem cedo, partimos. Éramos oito crianças ao todo: eu e meus três irmãos menores Paulo, Ângelo e Elberto; e meus colegas de rua Saulo, Roberto, Antônio, Rodolfo e Cláudio.

Caminhamos tanto, que quase desistimos. Ainda persistimos na caminhada, mas por mais que andássemos, por mais que nos esforçássemos, não conseguíamos chegar logo ao nosso objetivo. O dia já estava terminando, quando paramos para descansar. Meus irmãos, porém, prosseguiram na caminhada. Não sei de onde tiraram tanta disposição para andar, mesmo estando tão cansados quanto eu e meus colegas. Os desistentes voltamos para casa quase mortos de cansados. Mais tarde, chegaram meus irmãs. Disseram que foram até próximo à pedra, mas que estavam tão cansados que desistiram, também.

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CRÔNICA

 

Vida

Mesmo conhecendo alguns segredos da vida, me sinto constrangido e sem ânimo quando penso ocasionalmente na morte. Não estou totalmente preparado para aceitála, tampouco vencêla.

Preso às atividades cotidianas ou extra-horárias, me deparo com um pensamento que me persegue por todos os locais por onde: e se eu morrer agora?

As pequenas alegrias ficam desvalorizadas e impraticáveis quando confrontadas com a morte, ou a simples mudança do espírito, saindo de um corpo para alojarse em outro.

De que adianta beber um copo com água quando temos sede? de que adianta estarmos alegres agora se daqui a poucos instantes poderemos estar chorando? de que adianta andarmos com um prazer incrível se nossas pernas irão apodrecer e desfazerem-se em nada? de que vale o amor se tudo pode ser destruído com um simples ataque cardíaco? de que adianta a paz de espírito se tudo pode transformarse numa guerra sem fim em razão de segundos? de que vale eu poder escrever esta poesia, poder pensar, raciocinar, amar, correr, enxergar, ouvir, sentir, cheirar, se tudo não passa de uma grande besteira que terá fim?

Um ser superior poderia dar sentido a tudo isto.

Valdeck Almeida de Jesus, Jequié, 08 de junho de 1986

 


 

REFLEXÃO

 

Vida

- O que é vida?

- O que é viver?

- Não sei!

- Não tenho curiosidade...

- Só sei que tento viver sem fronteiras e sem medos. Mas com passos programados...

- Não sei onde chegarei, mas não sei se estou preparado para chegar lá...

 

30 de maio de 1992, “Restaurante Puçá”, Estrada Asfaltada da Barragem de Pedras, Jequié/BA

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Vida

(Projeto Madio Editora)

 

Viver eu tento,

Morrer não quero;

Sorrir desejo,

mas não consigo;

Me ver em ti,

procuro sempre;

Amar com garra

e com segurança

estou tentando

desde sempre.

Se não consigo

ser mais autêntico,

é porque sou humano

e por tal, falho.

 

Jequié, 02 de junho de 1992

 


 

IRÔNICA

Você é única

(Projeto Madio Editora)

 

Teus olhos são os mais lindos

tão belos quanto os outros milhares

tão lindos quando os de todas as outras.

 

Teu rosto é o mais belo e perfeito

mais belo que o rosto da mais bela mulher

mais perfeito e tão perfeito que o de todas.

 

Te amo como não amo a ninguém

te adoro como a uma deusa

pois você é única e igual a qualquer uma.

 

O que sinto por ti é tão grande

que não cabe dentro de mim

tão grande quanto um grão de mostarda.

 

Jequié, 25 de dezembro de 1994.

 

 

 

 


 

IRÔNICA

Você me satisfaz mas não me completa

É mais um em minha agenda repleta

Não me aquece como faz minha coberta

É apenas ópio para minha dor de hora incerta.

 

Te procuro e te encontro bem aí

Te carrego e te amo com paixão

Mas eu volto e tu ficas por aí

Sem ao certo saber o que é viver.

UESB, 03 de julho de 1991

 

 

 

 

 

 

 


 

AMOR

Você que procuro:

Tem que ter:

doçura

sinceridade

despreocupação

paciência

lealdade

desprendimento

autenticidade

loucura

energia

precaução

consciência

inexperiência

e amar com firmeza.

Clínica São Vicente, 06 de agosto de 1991

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

Vou embora para longe

(Projeto Madio Editora)

 

Para longe vou partir

Vou partir pra outro mundo

Pra outro mundo melhor.

 

Voltarei praqui de novo

Praqui terei que voltar

Terei que cumprir a missão

Cumprir a missão de viver.

 

Mas não serei mais o mesmo

O mesmo jamais serei

Jamais serei infeliz.

 

Serei pobre de espírito

Mas repleto de pureza

E muita sabedoria.

 

09 de janeiro de 1992, às 21:55 horas

 

 


 

REFLEXÃO

Vou pagar meus débitos

(Projeto Madio Editora)

 

Me livrar dos credores

Pra depois tomar um rumo

Que não sei qual é ainda.

 

Não quero o desespero

E espero suportar

Cada dia com paciência

E também com consciência.

 

Não quero sofrer aqui

Aos olhos de todos vós

Vou fugir para bem longe.

 

Mas sou parte deste solo

Tenho raízes aqui

Por isto estou indeciso.

 

06 de janeiro de 1992, às 22:10 horas

 

 


 

REFLEXÃO

 

ESTOU ENTRE

 

RAZÃO  -  INSANIDADE

RESPONSABILIDADE  -  INCONSEQUÊNCIA

 

HOMO

GENEIDADE

SEXUALIDADE

TERAPIA

LOGIA

NOMIA

 

 

SÃO TOMÉ DE PARIPE - 20 DE MAIO DE 1995

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

O dia da luz-treva

 

 

Meu dia se aproxima depressa

Como um lobo à cata da presa

Querendo fazer uma surpresa

Na hora mais incerta que houver.

 

E eu o espero ansioso

Esperando pra ver como é

Louco pra sentir na pele

O sabor doce/amargo da morte.

 

Nem minha cova fiz ainda

Mas estou ao lado dela

Esperando ser empurrado.

 

Quanto custará, não sei

Só sei que tenho que pagar

Por tudo o que deixei de fazer...

 

03 de março de 1992, às 22:50 horas

 


 

CRÔNICA

 

30.03.92 - A vida, por mais surpreendente e renovável, extraordinária e criativa, não passa de REPRISES de quadros já passados e do conhecimento de outros povos, outras pessoas. Nada para mim é surpreendente ou inovador. Tudo o que sinto ou que sentirei, já é do meu prévio conhecimento. Até nas piores emoções, ou nas melhores, vejo o rastro do cotidiano, do trivial, do monótono, do entedioso, da mesmice, do “feijãocomarroz”...

E o melhor disso tudo é que cada caminho cruza, um dia, com o caminho de cada vivente e/ou nãovivente do universo.

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

E a vida continua:

 

Monótona, repetitiva,

Entediosa, rotineira,

Sem novidades, presumível,

Costumeira, o mesmo “feijão com arroz”.

 

Nada é extraordinário, nada é espantoso,

nada é surpreendente, nada é impresumível...

 

Tudo é mera repetição de emoções já vividas,

se não por você, mas por outros seres...

 

30 de março de 1992, às 12:20 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

RECADO

 

Salvador, 29 de abril de 1992

Querido amigo Paulo,

Cheguei hoje de viagem e ainda tive tempo de para telefonar para você, não por falta de interesse, mas por falta absoluta de tempo, o que me deixa muito constrangido, devido ao fato de que sempre o tive como meu melhor amigo e ainda que prometi a você que te daria tudo o que pudesse para ajudar em tudo para deixálo em total e completo apoio.

Tendo em vista que não pude obter o encargo pretendido, na  14ª JCJ de Salvador, fico na impossibilidade de dar uma resposta definitiva sobre o assunto que falei para você. Por enquanto, fico no aguardo de resposta favorável para depois te falar melhor sobre o assunto.

Falando de Pauta Dupla, aqui na 14ª JCJ de Salvador não haverá. E por este motivo, não terei condições de ocupar a mesa de audiências, por enquanto. Assim, deixo ao ilustre colega a chance de vir a ocupar este honroso cargo, na Presidência da Exma. Sra. Dra. Juíza Maria da Conceição Manta Dantas Martinelli Braga.

 

 

REFLEXÃO

Cancelei minha ida para Ilhéus, pelo menos por enquanto, pois se eu fosse, lá seria, apenas, um simples ‘limpador de chão’ e não poderia, de forma alguma, trabalhar na Secretaria da Junta de Conciliação e Julgamento. Por isto, resolvi pedir ao Juiz Presidente do E. Tribunal Regional do Trabalho/5, para anular o ato de minha remoção. 323232

Jequié, 14 de junho de 1992


 

REFLEXÃO

A comunicação entre as pessoas, até mesmo de uma mesma língua, é uma mera utopia. pp. Para que houvesse o real entendimento, necessário farseia um completo entrosamento entre os seres, inclusive com contatos físicos entre as mentes (mundos individuais, etc, visão real e irreal do mundo, domínio total dos signos e dos códigos linguísticos, medição exata do momento psíquico e das influências que as emoções influíssem no momento da fala...) pp. Urge um estudo/análise sobre estes e outros tópicos, para se compreender a existência de conceitos de pensamentos, tantas religiões, tantos partidos políticos, etc. //Bíblias, etc.

19 de julho de 1992 323232

 

 

 

Será que meus poemas valem menos que os hieróglifos da Idade da Pedra, ou equivalem-se, mútua, recíproca e concomitantemente?

Jequié, 08 de agosto de 1992

 

 


 

AMOR

Jequié, 08 de agosto de 1992

Arte de amar

arte de viver

só com o passar do tempo

aprendemos a arte de amar

só com o passar do tempo

percebemos que a vida é tão boa

e que o tempo passa voando

Não me conformo

com o ‘passar’ do tempo

mas quero viver e amar.

Como viver e amar

se o tempo não passar?

Como parar o tempo

pra amar você mais tempo?

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

EU SOU MEU IRMÃO GÊMEO

(14 DE MAIO DE 1990)

 

Nasci de parto prematuro

Vivi na vala da amargura

Sofri pior que um Sofrer

Mas vivo estou pra me vingar.

 

Aqui estou na vida miserável

Que se vinga deste pobre sofredor

Não tive chance pra cobrar o que me devem

Nem tampouco terei a chance de voltar...

 

Não me importo com estas injustiças

Pois minha missão breve acabará

Já não sinto mais o mesmo medo

Nem tampouco línguas más me cortam...

 

Nasci gêmeo de mim mesmo

Me matei e estou só comigo

Não gosto de viver com este gêmeo

Mas aturo minha cara dia a dia.

 

Sofro diariamente minha cruz

Pego peso além de minhas forças

Procuro a cada dia um pouco de paz,

Mas o que encontro é dor e lamento.

 

Deus me abandona todo dia

Vive cada segundo junto a mim

Me segue e persegue para sempre

E ma dá liberdade de ação.

 

Tenho piedade deste pobre

Que se entrega ao sofrimento

Mas nada posso fazer por ele

Pois ele foge de ajuda. Eu lamento...

 

Algum dia terei paz em minha vida

Só então poderei sorrir para você

E neste dia talvez eu não exista

E esteja preso num inferno com você...

 

Valdeck Almeida de Jesus, 14 de maio de 1990, às 16:23 horas

 

 

 

 

 

 

 


 

CONTOS INFANTIS

 

Corrientes, Diego Monalez Y     1966 - Fuga Corriqueira - Diego Monalez Y Corrientes, Jequié/Ba, 1987

CONTOS INFANTIS

 

Jequié, 25 de agosto de 1982.

Redação. Tema: A criança. Solicitada pela professora Eunália S. Alves, de Português, no Ginásio Municipal Celi de Freitas.

A criança é a mais bela coisa que existe no mundo. Ela nos inspira paz, alegria, tranquilidade, amor, etc.

Todos nós fomos criança um dia. Nem todos iguais, mas fomos.

A criança merece toda a nossa atenção e carinho. Pois, apesar de ser a mais bela coisa do mundo e tudo o mais, ela também é bastante inocente, sendo necessário muito cuidado para que não sofra nenhum acidente.

Devemos educar as crianças e lhes ensinar tudo o que for preciso para assegurar-lhes um futuro que não seja de embaraços ou de dificuldades porque, a criança de hoje, será o homem do amanhã.

“Educai as crianças e não precisarás castigar os homens.”

 

 


 

HOMENAGEM

Treinamento Introdutório (Acróstico)

 

Treinamento Introdutório

Realizado em Salvador

Em 17, 18 e 19 de abril

Informando aos calouros

No início do trabalho

Ampliando o horizonte

Melhorando a cultura

E nos fazendo crescer

No trabalho que é digno

Trazendo paz e harmonia

Ouvindo Vanda e Moema.

 

Inicialmente nos apresentamos

Não gravamos todos os nomes

Talvez pelo nervosismo

Resultado do desconhecimento

Ou mesmo do pouco contato

De cada um com cada um.

Ultimando a apresentação

Todos falaram de todos.

Oportunidades teremos e,

Realizaremos um ótimo curso

Inclusive estamos com saudades

Outras vezes aqui estaremos.

17 de abril de 1990, às 10:06 horas.


 

REFLEXÃO

 

Grande Marca (Publicada no livro “Transcendental”)

 

Que marca deixarei na terra?

Que grande marca ou devastação?

Que avançado estudo ou recorde batido?

Que holocausto ou aberração?

 

Que marca deixarei na terra?

Que grande escândalo ou destruição?

Que grande acordo ou grande guerra?

Que grande amor ou traição?

 

Que grande marca deixarei na terra?

Que grande marca deixarei no chão?

Apenas a grande e anônima marca

De minha passagem por este mundo-cão.

 

Salvador, 21.09.1994

 

 

 

 

 

 

 

 


 

PARÓDIA

 

Jequié, 11 de agosto de 1992

 

Paródia do “jingle” TON LEGAL

 

TON LEGAL

 

Não adianta tanta grandeza

nem candidato de Malvadeza

pois o povo já escolheu

seu candidato com certeza

É TON, É TON LEGAL

O candidato que o povo tem fé

É TON, É TON LEGAL

Pra governar nossa Jequié

Ele é humano, inteligente,

dedicado ao seu povão

ninguém duvida por um instante

da grandeza do seu coração

É TON, É TON LEGAL

O candidato que o povo tem fé

É TON, É TON LEGAL

Pra governar nossa Jequié

 

 

 

paródia:

 

 

Não adianta tanta grandeza

porque quem ganha é Malvadeza

E o povo não esqueceu

de votar em Lomanto, com certeza

Lomanto é legal

O candidato que o povo já quer

Lomanto é legal

Pra governar nossa Jequié

Ele é humilde, como a gente

Até parece nosso irmão

Eu não duvido nenhum instante

que ele é o prefeito do povão

Lomanto é legal

O candidato que o povo já quer

Lomanto é legal

Pra governar nossa Jequié

 

 

 

 

 

 

 

 


 

SOCIAL - POLÍTICO

 

Melhoria Habitacional

 

O Governo Democrático

Tá botando pra quebrar

Trabalhando noite e dia

Para a tudo mudar

Tá até fazendo obras

Que não era de se esperar.

 

No bairro Jequiezinho

Na cidade de Jequié

Ele tá fazendo obras

Com homem e com mulher

Realizando mutirão

Pra consertar Jequié.

 

No comando do trabalho

Está uma grande senhora

É a dona Ana Rios

Que nos serve a qualquer hora

Mulher que ama o trabalho

E que a todos adora.

 

Ela trabalha com justiça

Ajudando a quem precisa

Consertando os casebres

Das pessoas que precisam

Essa mulher é inteligente

Só ajuda a quem precisa.

 

O Mutirão está formado

Por homem, menino e mulher

Por pessoas pobres e carentes

Que moram em Jequié

Todos unidos a Ana

Pra consertar Jequié.

 

E o povo se uniu

Pra consertarem suas casas

Ficaram muito contentes

Que até criaram asas

E voaram com dona Ana

Contentes com suas casas.

 

Dona Ana está fazendo

Um trabalho exemplar

Está auxiliando ao povo

Que jamais se esquecerá

Pois uma mão lava a outra

E o povo a lavará.

 

À dona Ana parabenizo

Por tudo o que está fazendo

Pelo auxílio ao povo humilde

Pois a tudo eu estou vendo

E o povo também vê

E não está se esquecendo.

 

Jequié, 04 de novembro de 1987


 

CRÔNICA

Rio de Janeiro, ex-cidade maravilhosa, agora povoada de mortes, assassínios, estupros, sequestros, roubos, assaltos, atropelamentos, afogamentos, estrangulamentos, linchamentos, incêndios, balas perdidas, e outras atrocidades...

Nunca mais cidade paraíso, cidade-luz, cidade-alegria, tampouco cidade-paz... Agora o horror impera em cada esquina. Em cada quarteirão espreita-se um delinquente juvenil ou um marginal adulto, na tocaia da próxima vítima, que pode ser você: basta você passar próximo dele (a).

A disputa acirrada pela sobrevivência chegou ao cúmulo de assaltar-se para tomar um simples par de tênis. É um absurdo tremendo. E as autoridades policiais e judiciais nada podem fazer para conter este rolo compressor, pois a corrupção grassa por suas fileiras, invade seus corredores, penetra nas suas consciências e deturpam o verdadeiro sentido do que é certo ou do que é errado. É um verdadeiro pandemônio. Ninguém sabe o que fazer. Chegou-se ao ridículo de convencionar-se uma ‘taxa’ imoral: deixar à vista em local de fácil acesso, mercadorias e até mesmo dinheiro ou outros objetos de valor, para que os ‘funcionários’ da Fazenda Marginal façam o recolhimento, taxa esta que funciona como uma espécie de ‘seguro contra assaltos’, estipulada pela corja de marginais que infestam todos os buracos imundos daquela cidade podre. Quem não estiver ‘em dia’ com o pagamento desta taxa arbitrária, automaticamente é assaltado ou corre até mesmo o perigo de perder a vida, pois a vida é o que menos vale para esta turma de vagabundos irrecuperáveis.

A solução seria matar todos os bandidos da cidade. Mas se correria o risco de ver a cidade desabitada e deserta.

Valdeck Almeida de Jesus, 03 de março de 1992, às 10:10 horas


 

CORDEL POLÍTICO

 

VOTE CERTO

 

Eleitores Jequieenses

Não façam besteiras não,

Pois seu voto é quem decide

Esta nova eleição.

 

Votem certo e conscientes

Para não se arrependerem

Porque voto é coisa séria

E não se pode perder.

 

Votem em quem tem

Muita capacidade

Para transformar

Este lixo em cidade.

 

Votem em Ana Rios

Esta mulher lutadora

Esta filha da cidade

Esta nossa protetora.

 

Ela é uma mulher

Uma mulher de renome

Porque luta e trabalha

Muito mais do que um homem.

 

Merece seu voto sério

E também sua confiança

Porque todos têm o dever

De APOSTAR NA ESPERANÇA.

 

Ela ajuda a quem precisa

Tem um coração grandão

Que cabe todos vocês

Dentro do seu coração.

 

Ela vai ser vereadora

Porque sei será eleita

E nas próximas eleições

Será a nossa PREFEITA.

 

Com uma mulher na Câmara

Jequié vai melhorar

Vai ter mais seriedade

Por isto vamos votar.

 

Vamos votar em Ana Rios

Vamos ganhar esta eleição

Vamos fazer justiça, gente

Justiça com as próprias mãos.

 

Vamos pegar a caneta

Vamos aprender a votar

Seu número é 15611

E é ela quem vai ganhar.

 

Não podemos esquecer

Do nosso amigo LEAL

E também nosso prefeito

O seu Luís Amaral.

 

Vamos todos nos unir

Pra mudar esta cidade

Pois não pode continuar

Com esta calamidade.

 

Temos que votar em Ana

A nossa vereadora

Aquela que conserta casa

A nossa vereadora.

 

É ela quem vai ganhar

Na Câmara, uma cadeira

Pra lutar pela cidade

Que já virou uma lixeira.

 

E com Luís na Prefeitura

Muita coisa vai mudar

Porque ele é um homem honesto

E não vai nos enganar.

 

A dupla certa para a Câmara

É Ana Rios e José Leal

E pra mandar na Prefeitura

É o nosso Luís Amaral.

 

24 de setembro de 1988

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

Eu (Sem Título)

 

Sou o poeta do proibido

Sou o pastor dos desvairados

Descaminho a quem me segue

E persigo a paz deste inferno.

 

Não me contento com tudo

Não me soberbo com o total

Tudo é pouco pra minha sede

A sede de tirar o sossego do mundo.

 

Sou pequeno na arte de amar

Mas sei odiar e destruir

Mas sei acabar com a paz.

 

Acabo de me suicidar nestas letras

Acabo de ver que não sou

Não sou tão pequeno assim.

 

03 de março de 1992, às 22:45 horas

 


 

REFLEXÃO

 

19 de maio de 1991, às 23:05 horas, meu quarto.

“Sem motivo, vou vivendo por aí, por viver...” Trecho de uma música de Roberto Carlos.

Tudo a ver comigo neste momento e em todos os momentos de minha vida, depois que te conheci...

Minha tristeza eu não posso dividir com ninguém; não posso falar do meu sentimento; tenho que esconder de todos que eu sou capaz de amar de corpo e alma outro ser humano. Tenho muitos amigos, mas estou sempre só, mesmo sozinho, mesmo quando estou com eles, pois não posso ser EU com naturalidade e sem medos e medos.

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

Jequié, 19 de maio de 1991, às 19:55 horas.

Meus amigos

Meu trabalho

Minha moto

Minha casa

Meu quarto

Minhas roupas

Meu videocassete

Tudo meu

Menos o seu amor

Sou um infeliz

 

 

 

 

 

 


 

LOUCO

 

Acordam do sono profundo

 

Recurso extra

Recorrente:

Recorrido:

Relator:

 

LÍDICE PENDÊNCIA. A lide pende tensa nos protelatórios pretórios proletários, segundo a prolação que se submete a erro material.

 

BRASILINO DE AQUIL O. ROXO, nos autos em que contende com a parte contrária, recorre da sentença que indeferiu reforma constitucional, aviso presidiário, desce no terceiro, férias injustificadas e abrigo recursal.

A Junta considerou impro sem dentes todos os presos, face deserção do recurso peticionário de fls. Sem número. Prolatouse o repúdio, consoante o teor do artigo 1 ½ da Carta Maior que as outras. A regra ‘incerta’ na ADCT e no ABCD da CF e no artigo 9 ½ da CLG, paragonado com o inciso 5% do SPC do CIC e do CPF inspira mas não expira o prazo de renúncia absoluta da configuração. A data está longa. Então “venia” que ainda dá tempo e será aceita... De acordo com o d’Enunciado 2.9 do TSS, o bem foi alienado. Se ele está “ali em Nado”, deixa ele lá. Um dia terá que voltar. Ademais, o recurso oposto não confere com o original, nem confere com o ‘o’ posto no final...

PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE, POR DESERÇÃO

resSUSCITO-a de ofício. O douto suscitou-a de bilhete, que não resolveu nada e perdeu-se no trânsito em julgado confuso desta cidade. O recorrente não depositou o cheque na conta corrente do recorrido. Quando suprida a cOMISSÃO do acórdão engasgado. Desta forma, é intempestivo. In “Casusa”, no seu mais recente compact disc renunciou ao mandato promovido pela Liga de Assistência, mesmo gozando das prerrogativas conferidas pelo “jus postulandi”. Assim, defere-se, consoante a norma do artigo e da vogal “B” da peça que prestou vestibular. Torno minhas as palavras PREFERIDAS pelo eminente Jurista Abreu a Porta e Saiu: “De acordo com o Relator”. (ERREÓ 90/94, Diário de Polícia, página da frente).

ALEX Legum também prolatou o processo sumário, acompanhado de citações de Osório Duque Estrada (Compêndio de Obras não Publicadas).

O remedium de Iuri já acabou. E, como o recurso é adesivo, tornouse impossível sua análise, “et por cause” da “data velha”, colou-se no verso do poema de Drummond. Se “petendi” recorrer novamente, faça. Mas lembrese de que o Conselho da Corte é: “Causae” aos autos o que não queres que causem a ti.

NEGO, PÕE CIMENTO, para que fique mais consistente.

NÃO CONHEÇO NEM QUERO CONHECER DO RECURSO.

 

Salvador, 1995

 

 


 

CRÔNICA

 

A Independência do Brasil

 

O nosso país, como todos os países que compõem este planeta maravilhoso, sempre foi e sempre será de um sentimento tal que procura não acorrentar os passos da humanidade rumo ao desenvolvimento. Então, levado por este sentimento de responsabilidade na condução dos destinos do mundo, nosso povo não poderia ficar sob o jugo de nenhuma nação, mesmo que esta tentasse de toda maneira não ferir nossa vontade. Iniciou-se, então, já a partir do primeiro contato com outros povos com nossa gente nativa, o nascimento de uma vontade só nossa, que exigia que pudéssemos caminhar com nossos próprios pés.

Aceitamos por muito tempo o auxílio de outras nações, a interferência de outros povos, até porque não saíamos como nos conduzir sozinhos, dada a falta de experiência. Absorvemos ensinamentos, aprendemos tudo o que nos seria útil e, no momento exato, disparamos contra nossos colonizadores os dardos que os atingiriam e, consequentemente, nos deixaria com capacidade, de, pelo menos, iniciar os primeiros passos sozinhos.

Esta decisão não foi fácil de ser tomada pois, além da nossa falta de experiência, aliava-se contra nós os grupos interessados em manter aquele estado de dependência, que era benéfico para poucos mas muito prejudicial ao povo brasileiro de um modo geral. No entanto, estes grupos interessados não conseguiram fazer com que tudo permanecesse inalterado indefinidamente. Finalmente, tudo foi modificado, inclusive influenciado pelo problema da dependência econômica que não nos permitia crescer, culminando com o rompimento com Portugal.

O Brasil se viu num momento de dar um basta às intervenções protecionista portuguesas que muito prejudicava nosso desenvolvimento e até comprometia nossa sobrevivência como povo, como nação. Não poderíamos continuar ouvido e obedecendo às regras ditadas por ‘chefes’ que nem ao e nos sabiam ara que lado ficavam as terras brasileiras; tampouco dividia conosco o sofrimento de viver num país isolado, sem infraestrutura para progredir e tomar um rumo que não poderia ser adiado. Nossa economia era controlada de acordo com os interesses imediatos da Corte, que pouco se importava se havia ou não outras formas de investimento e de desenvolvimento do longínquo país, que padecia cada dia de um mal incurável: inanição e atrofia dos meios de produção. Teríamos que tomar decisões muito difíceis naquele momento, se não quiséssemos retardar ainda mais o nosso nascimento como povo, como uma sociedade moderna e inserida no contexto mundial, caso contrário estaríamos condenados ao atraso político e social que teria consequências imperdoáveis.

Vivíamos sufocados pelos mandos e desmandos de Portugal, que impunha sua política sem piedade a fim de conseguir um máximo rendimento para o povo da colônia, que tinha altos interesses em manter tudo controlado para o bem estar deles, esquecendo-se que nós também tínhamos direito a uma vida digna, pois éramos os construtores de tanta riqueza. Nossa economia situava-se entre - se não as grandes - pelo menos as que mereciam ser consideradas, baseada na extração de madeira, exploração das riquezas naturais, etc. E nosso país sempre foi uma grande fonte de riquezas. Não poderíamos dispor do que era nosso: tínhamos que trabalhar arduamente para garantir aos nossos ‘superiores’ uma vida tranquila e repleta de fartura. Enfim, estávamos sendo surrupiados em todos os aspectos: político, social, econômico, etc.

Com o rompimento que se tornou imprescindível para a sobrevivência de um ideal de liberdade, passamos a enfrentar dificuldades diversas diante ao mundo desenvolvido, pois interesses de grandes países poderiam ser abalados a partir daquele momento. Procuramos manter uma política externa a princípio voltada para os interesses que a casta portuguesa praticava, até que nos fosse possível fazer concessões ou nos impor no mundo comercial. Houve uma certa resistência por parte de várias nações em reconhecer nossa independência pois as relações com Portugal não as deixava decidirem-se a favor de um País que na verdade não estava totalmente liberto. Nossa economia passou por um período de estagnação pois nossos principais consumidores eram os portugueses e devido à Independência rompemos relações comerciais com os mesmos.

Acredito que o país tenha passado por momentos difíceis em todos os aspectos de sua vida, no período pós rompimento com Portugal, mas que isto nos levou a repensar toda a estrutura político social, a fim de nos adaptarmos ao novo relacionamento que teríamos a partir dali com o resto do mundo, consequentemente aprendemos muito com esta experiência, Hoje nossa economia é muito diversificada e competitiva até certo ponto e devemos isto ao nosso empenho de sempre fazer o possível para desenvolver nosso potencial. Apesar de sermos independentes em relação a Portugal, do ponto de vista de que não devemos explicações para o que fazemos ou deixamos de fazer - até certo ponto - não estamos totalmente independentes de todo o mundo, pois nosso viver tem sempre que ser pautado dentro dos limites impostos pela consciência internacional de sempre crescer sem causar danos a ninguém pele a nenhuma coisa. Alcançamos nossa autossuficiência em muita áreas do conhecimento humano, dependemos em outras áreas, porém vivermos responsavelmente e em paz com Deus e o Mundo.

 

Jequié, 17 de agosto de 1989, às 15:56 horas

 

 


 

CRÔNICA

 

A Independência do Brasil [Flor do Oriente]

Depois de suportar a subjugação portuguesa, que nos impunha modos de pensar e de agir, modos estes que só fazia beneficiar a Corte, em detrimento de nossa autonomia político-social-econômico-financeira, enfim começamos, no porão podre do poder ditatorial e colonizador, roer as cordas que nos mantinha atrelados aos mandos e desmandos daqueles que nem ao menos conheciam nosso território mas que conheciam, em todos os detalhes, os meios de sugar nossas energias e nos manter dependentes a fim de perpetuar aquele estado miserável de mendicância que não nos possibilitava respirar por esforços próprios. Necessário e urgente se fazia que iniciássemos um processo de conscientização para, no prazo mais breve possível, desatrelarmo-nos daquele atraso... O processo foi iniciado por influência de fatores diversos e prolongou-se por um longo período que foi marcado por lutar e até por guerras. O resultado de tanta disputa foi nossa libertação, com valentia, dos laços que nos unia aos portugueses e nos fazia promotores de riquezas para eles e pobreza cada vez mais selvagens para nós.

Aquele estado de coisas era favorável para nós em muitos aspectos, pois possibilitava que tivéssemos um mercado vastíssimo para o escoamento de nossa produção que, apesar de rudimentar e primaríssima, era bastante desenvolvida.  Produzíamos muita pedra preciosa mas não tínhamos condições de lapidálas e por isto enviávamos tudo para a colônia, obrigatoriamente. Produzíamos muitas outras coisas mas não tínhamos um mercado preparado para consumir toda a nossa produção e Portugal era nosso principal comprador. Tudo o que era excedente aqui, tinha um mercado aberto e faminto, apesar de não pagar o devido preço pelos nossos produtos.

Nossa produção servia apenas para sustentar a colônia que a tudo gastava sem dó nem piedade dos que aqui estavam na miséria absoluta. Tínhamos cada vez menos chance de lucrarmos do nosso suor. Sofríamos constantemente de males diversos como doenças, fome, falta de infraestrutura básica para sobrevivência. Nossos ideais políticos de nada serviam pois não podíamos opinar em assuntos concernentes aos nossos próprios problemas e assim não poderia continuar.

Acho que nosso grito de Independência não soou tão forte como imaginamos e que por este motivo nossas relações com Portugal e com  resto do mundo ficou um pouco complicada para nós depois disto. Mas conseguimos impor nossa condição de novos participantes do mundo independente e enfim conquistamos nosso espaço. Hoje somos uma potência em franco desenvolvimento graças aos nossos gritos de ipirangas que se ecoam por muitos países e nos faz respeitados como pessoas.

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

Neste momento, atravesso mais uma “Corda bamba” da minha vida, mais uma série da cíclica e intermitente onda da altos e baixos, se bem que, desta feita, é de ‘baixo’. Assim, espero que, como sempre, amanhã ou depois eu entre noutra onda boa. Pacientemente, aguardo esta onda passar, e a outra onda vir.

Jequié, 14 de junho de 1992, meu quarto, à tarde.

 

 

 

REFLEXÃO

 

Neste momento, atravesso mais uma de minhas cíclicas e intermináveis ‘crises existenciais’, sendo agora ameaçado por um louco, de ser exposto ao ridículo: Ele ameaça contar para todo mundo o que todos já sabem sobre mim... E o pior disso tudo, é que eu não o conheço. Só ouvi sua voz duas vezes, ao telefone. E ele sabe quem sou, o que faço, onde moro, etc. Esta noite fiquei com insônia; dormi como nunca, preocupado com o que pode acontecer. Que se foda este imbecil. E a vida continua...

Jequié, meu quarto, 14 de junho de 1992

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

A emoção passa, mas a cicatriz é eterna companheira de quem amou.

Pelos caminhos da vida se conhece quão vão é o viver por viver e o curtir por curtir.

Triste é o homem que não sabe amar seu semelhante sem preconceito e sem distinção de cor, religião, sexo, etc. Um amigo de Basiléia, Suíça.

Um dia, todos terão o prazer de amar profundamente seu parceiro sem medo dos pensamentos maldosos da sociedade, pois a regra será “quem não ama o ser, independentemente de seu sexo, é imoral e antiDeus, antievoluçãodivina, antipazdeespírito”, e por isto, amargará eternamente o furor de todos os deuses e de todos os espíritos desenvolvidos que habitam esta galáxia”. 11.05.90, Moisés, Paris, 1864-1891

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

 

Salvador, 16 de setembro de 1996.

 

Meus Espíritos Protetores, meu Anjo Guardião, meus Mentores Espirituais, meus Guia de Luz, André Luiz, Petitinga, Bezerra de Menezes, João Alexandre de Jesus, todos os Espíritos de Luz, todos os Espíritos do Bem, todos os Espíritos de Bondade; Guias do planeta Terra, Mentores da cidade de Salvador, do Estado da Bahia, do país Brasil, do Continente Sul-americano, enfim, todos os bons Espíritos. Ajudem-me a encontrar Júlio, a ter um contato com ele. Guiem-no a encontrar minhas cartas, telefonemas, telegramas, etc., a fim de que possamos nos conhecer pessoalmente e passarmos a viver juntos. Tenho muito amor para dar a ele e sei que ele é capaz de me amar com toda a profundidade e a verdade de que necessito. Sei que vocês podem, se quiserem, ligar nossos destinos, nossos interesses. Sei que vocês podem, se quiserem, dar um final ou um começo feliz para este relacionamento. Imploro, de joelhos, a todos vocês, que me ajudem nesta empreitada. Que me ajudem, também, a tornar este relacionamento o único e o último, daqui por diante; que nossos interesses se interem, se integrem, se completem, numa comunhão jamais vista na face da Terra.

Peço-lhes que agilizem nosso encontro, nosso contato, para que possamos ser feliz por muito mais tempo. Daime a paciência, a sabedoria, a inteligência, o discernimento, o entendimento e tudo o mais que for necessário ao bom desenvolvimento e concretização deste sonho de amor.

Agradeço a todos vocês, por tudo o que já têm feito por mim, durante toda a minha existência, e por tudo o que, certamente, farão por mim e por Júlio, para que sejamos muito felizes, nesta e nas demais encarnações...

Até breve!


 

REFLEXÃO

 

11 de maio de 1990, mais ou menos às 18:40 horas

 

Escapei por poucos segundos e centímetros de ser atropelado por um Corcel branco, na esquina da Avenida Artur Moraes com a Rua Dr. João Braga. Devo ser mais cauteloso. A culpa do atropelamento seria mais do motorista no corcel do que minha. Mas isto não diminuiria meu sofrimento. Devo pensar mais um pouco em mim e ter mais prudência ao pilotar uma bicicleta por através deste trânsito louco.

11.05.90, às 19:00 horas. Itajubá Hotel/Coffee Shopp.

Deus me ajudará na conquista de maior entendimento e sabedoria.

 

 

 

 

 

 


 

REFLEXÃO

 

 

11:45 horas do dia 03 de dezembro de 1991

 

Agora é a hora. Não sinto medo. Não sinto revolta. Sinto pena de mim e dos que de mim dependem. Não sabem o que passo: o que sinto. Vou morrer jovem. Estou com o Atestado de Óbito e lá de fora a vida está brilhando. Para onde vou? O que farei para ocultar o meu sofrimento? Não tenho como impedir que me vejam. Não posso impedir que descubram minha chaga mortal: a coisa é visível e perceptível. O caminho e a proximidade da família nesta hora difícil é imprescindível. Mas preciso poupar-me e poupá-los de constrangimento. Vou viajar sem rumo. Vou me acabar longe de todos. Não quero ajuda nem palavra amiga perto de mim. Ninguém tem culpa pelo meu sofrimento, tampouco ninguém merece este castigo. Pegaram-me de surpresa e vão me matar. Eu já sinto a mão da morte me acariciando: meu peso cai a cada dia. Estou emagrecendo rapidamente. Estou feliz. Vou fazer muita loucura, ainda, antes de morrer. Deus ainda não ganhou esta parada.

 

I don’t want to died. Não quero morrer, droga! O que importa não é o fato de estar morrendo, ou vivendo. E sim o fato do ridículo, da perda do convívio e do abandono.

 

 

 

 

 

 


 

HOMENAGEM

1º de abril de 1989

 

Rosimary

 

Alguém dirá que você fez uma besteira; que agiu precipitadamente; não pensou duas vezes antes de tomar esta drástica e última decisão em sua vida... Quiçá terá razão... Mas somente você poderia dar explicação para este ato de desespero existencial. Só você sabe o que sentiu ao ser humilhada naquilo que sempre foi tua maior virtude: tua honestidade! Apesar de ter convivido pouco tempo contigo, consegui captar, através de teu sorriso inocente e através de teu olhar sincero, toda a capacidade e força espiritual de que sempre fora possuidora; consegui, ainda, descobrir que você foi sempre uma pessoa dedicada em tudo o que fazia e, acima de tudo, uma pessoa acima de qualquer suspeita.

Ai daqueles que te destruíram! Não confio na Justiça brasileira, tampouco na jequieense. Porém, sei que tudo o que acontece no mundo, não passará impune. Pois nosso Pai está atento a tudo. Ai da consciência daqueles que tentaram te destruir! (Será que dormem tranquilos?). Eles tentaram acabar contigo, mas o máximo que conseguiram foi mostrar ao povo deste país podre que ainda existe pessoas que merecem ser chamadas de humildes, honestas e santas.

 

Valdeck Almeida de Jesus, 1º de abril de 1989, em homenagem “post mortem” a Rosimary, ex-funcionária da Auto Viação Tiradentes Ltda e Supermercados Cardoso, quando da sua morte trágica: ateou fogo nas vestes embebidas com álcool, dentro do banheiro de sua própria casa, após haver um mal entendido no Caixa em que trabalhava no citado supermercado, onde, suponho, faltou dinheiro.


 

REFLEXÃO

 

30.03.92 - A vida, por mais surpreendente e renovável, extraordinária e criativa, não passa de REPRISES de quadros já passados e do conhecimento de outros povos, outras pessoas. Nada para mim é surpreendente ou inovador. Tudo o que sinto ou que sentirei, já é do meu prévio conhecimento. Até nas piores emoções, ou nas melhores, vejo o rastro do cotidiano, do trivial, do monótono, do entedioso, da mesmice, do “feijão com arroz”...

E o melhor disso tudo é que cada caminho cruza, um dia, com o caminho de cada vivente e/ou não vivente do universo.

 





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