CORDEL
“100 ANOS DA REPÚBLICA NA POESIA DE CORDEL”
Como a luz no fim do túnel
mostrando o fim da escuridão
surgiu a República no Brasil
Tirando-nos da confusão
que se alastrava pelo país
gerando insatisfação.
Interesses diversos
feridos por várias brigas
levaram todos à luta
pra não gerar mais intrigas
procurando para o problema
uma lista de saídas.
A saída principal
que foi muito aplaudida
tornando-se o objetivo
de nossa gente sofrida
foi derrubar o Império
que destruía nossas vidas.
Dia quinze de novembro
de oitocentos e oitenta e nove
a República foi proclamada
e ainda hoje se move
lançando seus tentáculos
quando faz sol ou quando chove.
Este grande passo foi dado
com a indiferença do povo
que a tudo assistia
não entendendo o novo
novo regime que nascia
como um pinto do ovo.
Rui Barbosa preparou
o apoio institucional
elaborando a Nova Carta
pra dar apoio legal
ao novo regime instalado
a segurança constitucional.
Seguindo a trilha do progresso
saindo do marasmo ocidental
o Brasil “pintou a cara”
ingressando-se total
numa caminhada difícil
fugindo do arcaísmo acidental.
Novos parâmetros tomados
nova consciência se formando
e o Brasil se abre ao futuro
ao mundo se integrando
Unindo-se ao Velho Mundo
e um novo palco se armando.
Deodoro da Fonseca
o primeiro Presidente
também foi protagonista
de ato sem precedente
expulsando do governo
Pedro II e sua gente.
Como não havia uma estrutura
para ao regime sustentar
houve muita controvérsia
que chegou a derrubar
a continuidade do processo
que chegou a se instalar.
Então houve revoluções
contrárias ao regime novo
por não entender o sentido
e que era melhor para o povo
e queriam voltar logo
ao “regime velho” de novo.
O poder se concentrava
nas mãos dos governadores
dos Estados mais centrais
onde estavam os “doutores”
que em tudo influenciavam
estes tais governadores.
Vai governo e vem governo
tentando seguir o caminho
que foi muito estudado
com muito amor e carinho
mas que homens sem caráter
o transforma em seus ninhos.
Com força, garra e coragem
muitos homens têm lutado
pra preservar os ideais
que a muitos tem contagiado
ideais justos e sinceros
de amar e de ser amado.
Ditadores populistas
pessoas sem coração
e também agitadores
aproveitando a situação
se alojam em suas fileiras
deturpando a devoção.
Pessoas de boa índole
lutando por democracia
entregando suas vidas
para obter mais melhorias
são também republicanos
que nos dão melhores dias.
O país cresceu bastante
e se integrou internamente
havendo também uma troca
de experiências externamente
após o contato com novas idéias
que nos abriam as mentes.
Gente simples e matuta
que não entendeu a “jogada”
ficou contra o governo
e então foi massacrada
para aceitarem as leis
que eram as mais “acertadas”.
Canudos foi destruída
porque era “monarquista”
rebelando-se contra o regime
que era a nossa conquista
e o brigaram ao povo rude
a aceitar nosso ponto de vista.
Mas, apesar dos pesares
muita contribuição
tem sido dada ao povo
que absorve com contrição
e que comungam com tudo
o que vem do coração.
Através do aperfeiçoamento
se conseguirá melhoria
para podermos enfrentar
esse nosso dia a dia
então seremos felizes
com muita democracia.
Em cem anos de República
crescemos mais que em trezentos
e assim se prova tudo
ou parte do que apresento
confirmando o que eu cito
nesse pequeno momento.
Parabéns ao meu Brasil
e aos seus construtores
que se ame mais e mais
esse país dos amores
e não se deixem abater
pelos momentos de dores.
Só lamento não ter nascido
naquele momento feliz
encravado na História
que meu querido país:
momento de luta ferrenha
que plantou novo país!
Jequié, 04 de agosto de 1989, 00:09 hs
REFLEXÃO - SOCIAL
A Bi realidade
A Bi realidade existe. É uma coisa comum em quem
vive neste mundo. Ainda que não assumamos ou finjamos não vêla, ela está
presente em tudo o que fazemos.
O que vem a ser? É uma coisa simples. Veja: Você
trabalha num determinado local, ganhando 3x como salário mensal, trabalhando
apenas um turno por dia. Necessita de outro emprego e encontra, em turno
diferente do seu atual emprego, ganhando 2x e com chances de ser promovido.
Inclusive, podendo passar a ganhar mais do que você ganha atualmente nos dois
empregos. Você vive ou não estas duas realidades? É claro que vive! Trabalha
nos dois empregos, ganha dois salários e, futuramente, deixa a menos lucrativa
de lado e procura outra melhor, ou prossegue com apenas uma atividade.
Também acontece no amor: Um homem tem dentro de
casa a sua esposa e filhos, que ama muito e tem correspondência. Mesmo que
tenha ou não tenha amor pelos familiares, procura outra mulher para preencher
sua vida ou para formar o que ele mais deseja: duas vidas diferentes. Começa a
viver estas duas realidades, fingindo para si próprio e para as duas pessoas
com quem convive; mente para a esposa, dizendo que não tem amante, e mente para
a amante, dizendo que não tem esposa...
RELIGIOSA
Deus, a luz do mundo
Deus para nós é uma coisa muito valiosa. E, além do
mais, tem para mim muita coisa de que eu necessito e das quais eu não poderei
separar-me, sob pena de morrer e não mais poder ver as coisas lindas criadas
por Ele para nós.
Eu não tenho a mínima esperança de viver se, por um
mero acaso, Deus esquecer que eu existo, como muitas vezes fiz com Ele, por não
ter um mínimo de consciência da importância d’Ele.
Não posso nem falar das coisas divinas, por não ter
conhecimento daquilo que Deus preparou para nós. É vivendo, que aos poucos
descubro, cada dia, uma coisa boa nesta vida. E, mesmo as coisas que são
consideradas ruins vão se tornando boas, graças à interferência de Deus em
nosso viver diário.
Quero, com a pouca experiência que possuo,
apreender tudo ou o essencial para que eu tenha uma vida tranquila perante Deus
e para que eu viva com meu espírito em paz com o Chefe Divino e Maravilhoso
Deus.
Sei que tudo foi feito por Deus e em benefício
nosso tudo foi planejado para que nada ficasse errado e nada andasse sem uma
direção exata e uma finalidade lógica. Tudo tem sua finalidade neste mundo:
tornar a existência humana mais humana e mais cheia de liberdade de expressão e
de escolha do objetivo vital para nossa boa convivência.
Jequié, 24 de março de 1986
CONTO
Jequié, 04 de dezembro de 1984
Hoje, dia 04.12.1984, da Era Cristã, pela manhã,
mais precisamente 06:45 horas, eu vi um garotinho que mal conheço, parar no
outro lado da rua, em frente à venda onde trabalho, na Rua João Rosa, 113,
Bairro Pau Ferro, Jequié/BA, e mostrar para seus irmãos uns troços: tampas de
latas, papéis, etc. Mostrou os cacos, provenientes de algum lixo próximo à casa
deles:
- Ó.
- Me dá - falou o menor.
- Fica.
- Eu não quero isto aqui, não. Falou o menor,
apontando para uma roda, atravessada ao meio por um pau. Como o garotinho não
tinha prestado atenção ao ISTO AQUI da menor, pensou que a mesma não queria
NENHUM dos troços. Imediatamente cedeu seus bagulhos para outra de suas irmãs,
ato ao qual protestou a menor:
- Por que você não me deu?
- Porque você disse que não queria.
- Eu não quero é isto aqui, ó. Retrucou a menor,
apontando para a roda...
- Ah! - mostrou-se compreensivo o garoto. Então vai
guardar - completou.
A garotinha foi guardar a roda e voltou para perto
do garoto. Não sei do resultado final porque não prestei atenção no restante da
conversa.
Isto me fez lembrar do tempo eu que eu dava,
também, valor muito exagerado às coisas sem valor que eu achava nos lixos por
onde andava. Cousas como pilhas usadas, carros quebrados, pedaços de ferro,
canetas sem tinta, bagulhos e mais bagulhos.
Eu tinha, naquela época, meus doze ou treze anos de
idade. Garoto despreocupado com o futuro, esquecido do passado (cheio de
amarguras e dores, causadas pelas derrotas, mas também pontilhado de alegrais e
surpresas agradáveis que encobriram os pesadelos, deixando apenas os sonhos
bons se frutificarem). Garoto que estudava à noite, para ter o dia livre - não
para brincadeiras nem para algazarras - para dar duro e murros em ponta de faca
para sobreviver (trabalhar em armarinhos, barracas de miudezas ou em confecções
de cintos e sacolas).
Sempre que surgia um ou dois dias de folga,
procurava preenchê-los com meus passatempos prediletos: ora banhando-me no Rio
de Contas, ora pescando camarão no Rio Jequiezinho, ora procurando bagulhos
pelos lixos que tinha nomes dados por nós como Lixo da Boda, Lixo da Pererê,
etc.
Jequié, 27 de setembro de 1985
CONTO
Jequié, 1983
Sem saída.
Depois do naufrágio do navio onde se encontrava,
aquele pobre homem conseguiu nadar e alcançar uma ilha deserta. Ficou muito
alegre. Mas sua alegria durou pouco. Logo apareceu uma cobra, feroz e faminta
para pegá-lo. O pobre do homem não podia fazer nada para fugir: se corresse
para o mar, morreria afogado; se enfrentasse a cobra, desarmado como estava,
certamente morreria também; se corresse para dentro do mato, seria comigo por
uma fera qualquer que o encontrasse, antes mesmo que ele pudesse dar alguns passos.
Se... Enfim, não tinha mesmo saída para aquele pobre moribundo. Não tinha mesmo
para quem apelar, nem para onde fugir: estava num beco sem saída. E a cobra,
cada vez mais, se aproximava do pobre coitado, que desejou, àquela hora, não
ter sobrevivido ao naufrágio da embarcação na qual viajava.
De repente, ele teve uma grande ideia. Salvaria sua
vida e voltaria para casa sem pagar nem um centavo de condução! Seu coração
aliviou-se da tensão que tinha sofrido ao pensar na morte que lhe chamava
constantemente...
Sabe que foi a ideia? Ele esperou que a cobra se
aproximasse e jogasse o bote. Daí, pegou o BOTE e navegou de volta para casa...
CRÔNICA
Jequié, 21 de junho de 1984.
O amor
Não tenho nenhuma autorização para falar sobre o
amor. Porque, além de ser um grande pecador, não sei definir o amor com
palavras ou ações. Acho que ninguém é capaz de amar: o amor é expresso, em toda
a sua magnitude, em todo o seu sentido maior, quando o Nosso Senhor Jesus
Cristo morreu por nós. Todo o amor existente encerrou-se neste ato inimitável.
Não seremos capazes de amar, nem dublando.
Mas, afinal, o que é o amor? Por que ninguém ama de
verdade? Tento, com as poucas palavras do meu vocabulário, dizer algo sobre o
amor...
O amor não é este prazer intenso que sentimos quando
estamos fazendo sexo com quem gostamos. Não. Não é a atração forte entre dois
seres. Não. Não é um simples abrir e fechar de boca, em duas sílabas: a-mor.
Não. Não é nada disso.
O amor é a solidariedade que não existe entre os
homens. O amor é o ato de se doar a vida pela pessoa que amamos, pelo nosso
irmão. O amor é o ato de doar a cada um o que lhe é por direito. É o ato de
doar algo, mesmo que não seja de direito. Amor é algo que não existe entre os
seres humanos. O amor é a vida. O amor é o amor. Muitos confundem o amor com o
simples e satânico relacionamento prazeroso entre um homem e uma mulher: fulano
e fulana fazem amor... Outros, confundem o amor com as guerras e os assassínios:
procuram, a todo custo, achar a paz através da guerra e exprimir o ‘amor’ pelo
país, com a morte de seus semelhantes.
Será que sabemos, realmente, o que é o amor? Nós
amamos? Somos capazes de amar, sem conhecermos a fonte geradora de tão forte
sentimento? Acho que não. Não poderemos amar, verdadeiramente, se não
procurarmos nos aproximar mais de Deus.
CRÔNICA
Jequié, 24 de junho de 1986
Ruim para mim, Bom para você
Muitas coisas de ruim ainda continuam acontecendo,
aqui em Jequié. Talvez aconteçam por durante muito tempo mais. Mas só
continuará acontecendo se alguém estiver ganhando com isto. Cito como exemplo a
enchente do Rio Jequiezinho - que atravessa a cidade - destruindo os teres e
haveres de muita gente, para delícia de muitas outras.
Se fizerem algo para acabar com os danos causados
por aquele rio, interesses serão feridos, lucros tornar-se-ão em prejuízos.
Muitos votos são dados a Políticos inescrupulosos
em agradecimento às ajudas aos prejudicados com as cheias do Rio
Jequiezinho; muito dinheiro é enviado aos chefes municipais para salvar os
desabrigados com as cheias do citado rio; com o atraso no início das aulas nos
principais estabelecimentos de ensino da cidade (Instituto de Educação Régis
Pacheco e Grupo Escolar Lomanto Júnior), causado pelo abrigo dos flagelados
que não deixa de ser um ato de caridade - deve ter lucros para alguém
também. Ou não?
Se nada do que falei tem sentido, como se explica a
omissão dos poderosos, dos deuses, na resolução de
simples problemas como o desvio do curso de um rio que arrasa com uma cidade a
cada enchente? Não compensa, pelo custo da obra? E a tristeza dos que tudo
perdem, periodicamente, nas águas traiçoeiras do Rio Jequiezinho, vale a pena?
Compensa alguma coisa? Claro que compensa! Se não fosse o caso, tudo já teria
tomado outro rumo!
CONTO
Conto + ou menos policial
Hoje fui deitar-me mais ou menos às 21:00 horas.
Mas isso não vem ao caso.
Eu já estava passando para o paraíso dourado que é
o sono, quando fui despertado por um barulho na porta do fundo. Levantei pé
ante pé e fui verificar a origem daquele barulho. Qual não foi o susto que,
quando cheguei na porta do meio, sentir meu corpo estremecer todo, como se
tivesse sido atacado subitamente por uma febre de quarenta graus. Alguém
tentava, a todo custo, abrir a porta com uma faca, que percebi quando um raio
de luz fez luzir aquela lâmina afiada.
Quase não me seguro de pé, quando senti que a porta
cedia aos empurrões brutais que o ladrão, assassino ou sei lá quem dava pelo
lado oposto ao que eu estava. Pensei em dar um grito bem alto, de socorro, mas
meu pavor não me deixava soltar nem sequer um ai! Mas do que me serviria um ai,
quando necessitava de um revólver, faca, facão ou coisa parecida para enfrentar
o tal ladrão? Pensei em fazer muitas coisas, mas só conseguia era
tremer como vara verde colada à parede. Fiquei com medo que o medo me fizesse
cair e chamar a atenção do ladrão e de que ele, sabendo que eu estava com medo,
se aproveitasse da situação para me forçar a abrir a porta... Fiquei com medo
de ser torturado. Mas este negócio de tortura não está com muita bola,
hoje em dia. O bandido pega a arma, aponta para você e dá um tiro.
Você morre. Se não quiser morrer logo, vai a um hospital público, onde você
morrerá com maior requinte de crueldade.
... e a porta abriu-se. Fiquei petrificado, vendo
aquele homem sem camisa com uma faca na mão e, no olhar, um desejo louco de
matar e de ver sangue. Quando ele encostou a faca em meu pescoço, quase morri
de medo, quase desmaiei. Só não cheguei a desmaiar, com medo do tombo que
levaria ao cair no chão. Já pensou, se além de cair, quebrasse algum osso e não
encontrasse um hospital aberto àquela hora?
Senti aquela lâmina fria tocar em meu pescoço e uma
voz cadavérica me dizer, quase num sussurro:
- Onde está o dinheiro e as jóias, meu chapa?
- Não tem dinheiro algum...
- Você sabia que sua vida corre perigo, se não me
ajudar?
- Sabia. Mas aqui não tem nada de valor. Somos
muito pobres. Tenha dó de mim e de meus parentes, seu ladrão...
- Ora, se está pensando que vim aqui para voltar
com as mãos abanando, você está enganado, meu chapa.
E falando assim, o ladrão puxou minha mão e passou
a faca com toda força no meu pulso, decepando-a. Arrancou minha mão e levoua
consigo.
Tomado de pavor e horror, comecei a olhar para meu
braço pingando sangue e comecei a gritar de dor. Caí desmaiado logo em seguida
e acordei debaixo de cacetadas. Quando olhei quem me batia: minha mãe.
- Levanta, moloque. Vai trabalhar.
Eu tinha sonhado.
CONTO
Bidu, o fujão
(Antologia Isabelle Valadares)
Bidu, o cãozinho de Carlinhos, é brincalhão e
esperto, e só vive rodando todo o quintal do seu pequenino dono.
Sempre, Carlinhos estava brincando com seu cãozito
lindo.
Certo dia, Carlinhos procurou seu cão e não o
encontrou. Ficou apavorado e saiu gritando e chorando:
- Bidu sumiu, meu cãozinho sumiu...
- Mas não é possível, bradou a mãe de Carlinhos, o
portão estava fechado o tempo todo!
- Não estava, não. Eu fui pegar a carta que o
carteiro trouxe e esqueci o portão aberto... Buáááááááá...
E foi aquele reboliço, um corre-corre danado pelo
bairro, todos à procura do precioso cão de Carlinhos: cartas para os jornais,
telefonemas para a prefeitura para ver se o cão tinha sido pego pela
carrocinha, etc. E a resposta era sempre a mesma: não, ele não foi visto por
aqui, não!
Passaramse alguns dias sem nenhuma notícia do cão e
sem o telefone receber nenhuma chamada. Quando o telefone tocou, todos correram
para atendêlo, e a decepção foi total: engano. A tristeza tomava conta de todos
novamente, já que desde que o cãozinho sumiu, todos estavam acabrunhados.
Quase uma semana após o sumiço do cachorro, quando
o carteiro provavelmente passaria pela rua, trazendo novas correspondências,
Carlinhos foi para o portão esperá-lo. Seu cuidado não era para pegar as
prováveis cartas que chegariam, mas para saber do carteiro se viu seu cãozinho.
Quanto o carteiro apareceu, foi uma surpresa
grande: trazia o cãozinho preso a uma corrente.
- Viva, viva, meu cãozinho voltou...
- Quando cheguei ao outro quarteirão, percebi que
estava sendo seguido por um cãozinho. Não dei maior importância, mas percebi
que conhecia aquele cão. Ele me acompanhou até em casa. Chegando lá,
o amarrei e trouxe comigo, hoje, para procurar o dono.
- Muito obrigado, seu carteiro. Muito obrigado
mesmo. Deus te ajude.
Feita por VAJ em 1982
CONTO
A raposa e o galo
Diz-se que era uma raposa esperta e um galo não
muito. O galo vivia num poleiro de madeira e só saía para catar alguns
grãozinhos de areia, pois não encontrava esta em seu poleiro que estava sempre
bem asseado e com bastante comida: milho, água, ração, etc. A raposa não tinha
mordomia e vivia no mato, caçando o que comer mas nem sempre encontrava, a
coitada. Vivia sujeita ao sol e à chuva, sem proteção, sem casa e, ainda por
cima, perseguida dia e noite pelos moradores do local, por ter comigo algumas
galinhas da vizinhança.
Numa de suas fugas, para não ser pega pelos cães
dos caçadores - que sonhavam com raposa ao molho - avistou o galo que tinha
tudo nas mãos. Muito tempo depois, ela voltou àquele local para tentar comer
aquele gordo e bem tratado galo. Logo que chegou, ouviu o cantar do fanfarrão:
- Eu não trabalho, eu só passeio, eu vivo sempre,
de papo cheio. Có, có, có, có...
- Ah! Desgraçado! É assim, não é?- pensou a raposa
- hoje você pára de cantar tão tranquilo assim.
Ela falou tão alto, que o galo quase ouviu. Então a
raposa aproximou-se devagarinho, devagarinho, com muito medo de ser avistada
por alguém... O galo prestava atenção aos ares, quando sentiu o cheiro da
raposa e saiu correndo e gritando bem alto:
- Socorro, tem uma raposa aqui e quer me pegar...
Socorrooooooo.
Então, a raposa começou a persegui-lo com toda a
aquela vontade de comer um galo, não percebendo que o dono do galo lhe apontava
um grande e bonito rifle. Buuuummmm! O tiro pegou na pata dianteira da pobre
raposa, que fugiu à toda e nunca mais voltou por aquelas bandas.
Quem quer o mal para os outros, sobre si o Mal
virá.
Jequié, ano de 1982
CRÔNICA
O mar
O mar é muito lindo! Tão lindo, quanto extenso.
Turo que eu vejo e é lindo, está no mar. Nele tem peixes e grandes e peixes
pequenos. Pelas águas do mar, ou dos mares, navegam as maiores embarcações...
Também singram o mar, a trabalho, diversão ou por motivo de viagem, as pequenas
embarcações, canoas, barcos, balsas, jangadas, etc.
A areia do mar é finíssima e bem alva em quase
todas as praias brasileiras.
Os habitantes do mar, os peixes já mencionados, são
muito úteis aos brasileiros, que têm uma de suas principais fontes de
alimentação, no mar. O mar também serve como ligação entre o nosso e outros
países do mundo.
Ano de 1984.
CRÔNICA
O menino honesto
A mulher estava sentada num banco do jardim,
mimando o seu filho, com uma sacola do lado.
Depois de ter descansado bastante, ou ter posto o
seu filho para dormir, saiu sem perceber que esquecia a bolsa.
Já estava bem longe do jardim, quando um garoto lhe
chamou e entregou a bolsa. A mulher agradeceu e seguiu seu caminho. A uns
poucos metros parou e chamou o garoto. Pegou uns trocados e deu a ele, que saiu
eufórico.
Feita em 1982 (?)
CONTO
A formiga e a flor
A formiga chegou, tão silenciosa, que a flor não
notou a sua presença.
A flor cantava de alegria. A formiga, quase chorava
de fome e de tristeza.
Se entusiasmou tanto com a música da flor, que se
esqueceu de procurar comida para alimentar-se, ou seja, de comer a flor, que
era seu alimento predileto. Esqueceu-se até de que estava com fome. Quando a
flor parou de cantar, e percebeu que a formiga estava por perto, perguntou o
que ela queria. A formiga, como tinha se esquecido do que tinha ido fazer,
inventou uma desculpa e foi embora.
Na viagem de volta, encontrou comida, comeu, se
fartou e ainda levou um pouco para casa. Outra vez com fome, saiu à procura de
alimento, mas morreu antes que encontrasse algo que saciasse sua fome...
1984
CONTO
Briga entre duas bobinas de linha
- Eu sou mais forte que você.
- Que nada, sou eu que sou mais forte.
- Então, vamos medir forças, para ver quem sai
ganhando, certo?
E assim fizeram: pegaram-se e começaram a brigar. E
brigaram tanto, que no final ninguém sabia quem tinha ganhado a briga. Estavam
as duas trançadas uma na outra, e parecia que não eram duas, mas apenas uma
bobina de linha.
24.07.84
CONTO
O sonho realizado
Pedrinho, menino pobre e humilde, sempre sonhou em
ter uma bicicleta para poder correr por toda a cidade, sem cansar-se muito e,
ainda, poder ir para o colégio, ir à feira, fazer mandados, sem perder muito
tempo...
Sempre pedia dinheiro ao seu papai, pensando que
dinheiro foi feito para se ter em abundância para gastar com o que se quiser.
Mas seu querido papai sempre vinha com a mesma conversa:
- Meu filho, dinheiro não foi feito para os pobres.
Papai não tem dinheiro nem para o pão de amanhã, vai ter para comprar bicicleta?Isto
é coisa para gente rica. Não para pobres, como nós.
Logo, logo o coitado do Pedrinho entendeu que
através do seu querido papai, jamais teria o seu sonho realizado. E, deste dia
em diante, não parou mais de trabalhar, para todos os que lhe chamassem. No
final de algum tempo, já tinha dinheiro suficiente para comprar o que desejava,
e ainda sobrar...
Não fez outra coisa, senão correr para a loja mais
próxima e comprar uma bicicleta.
Daí para a frente, não parou mais de pedalar em sua
bicicleta. Corria pela cidade inteira, pelas ruas, fazendo mandados, indo para
o colégio, etc.
Seu pai ficou muito feliz em saber do acontecido e
ajudou ao filho a comprar tudo o que fosse necessário para que seu filhote
ficasse feliz.
Quem trabalha, Deus ajuda.
1982
(Publicado na revista online Varal do Brasil 2014)
CONTO
A Árvore do quebra braço
Perto da casa do Marquinhos, há uma grande árvore,
frondosa e que dá cada fruto delicioso. Huuummm!! Que delícia!
Todos os dias, Marquinhos sai de sua casa e se
dirige à grande árvore, sobe, e fica bem no alto a deliciar-se com frutos cada
um melhor que o outro.
Certo dia, o ritual se repetiu, mas ele avistou,
além dos frutos, um ninho de pássaros, bem em um dos galhos mais filhos daquela
árvore frondosa. Ele não aguentou de curiosidade e tentou subir no galho, para
ver o que tinha no ninho. Subiu, subiu e o galho, fraquinho, não aguentou seu
peso e quebrou-se. Marquinhos despencou do alto da árvore, se arranhou inteiro,
ficou com a roupa toda rasgada, e, para completar, quebrou um braço.
Correu para casa, aos prantos, mas não contou a
ninguém o motivo da queda, nem de onde caíra. Mas, logo, todos ficaram sabendo
das travessuras dele e, então, aquela árvore ficou sendo conhecida pelo
sugestivo nome de Árvore do quebra braço.
1982
CONTO
Coisas do destino
Numa manhã de segunda-feira, exatamente às 07:00
horas, quando o sol refletia seus raios em direção à cidade de Jequié, no
interior baiano, Antônio, homem franzino, muito brincalhão e trabalhador,
saltou do caminhão de lixo para recolher alguns sacos de lixo depositados na
tarde anterior, pelos moradores daquela rua, quando... ...e caiu em cima
do pé de Antônio, um relógio enorme, de ouro.
Ele, que há muito tempo não possuía um relógio, por
faltar-lhe condições para este luxo, abaixou-se, pegou o relógio e saiu em
disparada, todo feliz da vida, com um ar de quem tinha ganho na loteria
sozinho. Atravessou a rua correndo, sem perceber que vinha um carro em
altíssima velocidade que o atropelou, jogando-o num canto da rua, com o
maravilhoso relógio que tanta alegria lhe causou.
1982
CRÔNICA
Salvador, 08 de abril de 1993.
SP
‘Essepê” não pode ser sinônimo de Semi-parado; não
pode ser sinônimo de Super-preguiçoso; não pode ser confundido com Servidor de
si próprio. Antes, deve ser comprometido com sua suposta função: prestar um bom
serviço ao público, ao povo em geral; antes, tem que estar na vanguarda das
transformações, do bem estar, do espírito integrativo entre a comunidade e os
órgãos do governo em suas diversas esferas; antes, tem que estar no espírito de
cara cidadão, cuja finalidade última deve ser a de socorrer àquele que chega
aflito no balcão à procura de informações. Mas o que se constata, no geral, sem
rara exceção, é o improviso e o marasmo. Em todo órgão público, o que se vê são
pessoas mortas e descompromissadas com a realidade de seu país. Nesses locais
(refúgio de gente incompetente e mal-humorada) só o que se recebe é cara
fechada e mal atendimento.
Tudo isto tem uma raiz crônica: a Estabilidade no
Serviço Público. No quando de funcionários públicos do país, há este mal. Pois
ninguém está obrigado a se reciclar, a concorrer por um lugar ao sol. Cada um
tem somente a obrigação de assinar o ponto, no máximo, e a estar na
repartição durante o expediente. Isto não estimula a disputa, não estimula o
aperfeiçoamento. E o pior: os cargos mais elevados, geralmente são conquistados
através de “amizade”, de “indicações” e outras formas de ascensão, o que não
oportuna aos supostamente capazes a conquista de tais postos. Uma vez
conquistada uma posição, há a luta pela perpetuação ali, até que
este agraciado seja novamente promovido e que “passe a coroa ao seu sucessor”
(novo indicado, novo apadrinhado).
DIÁRIO EDVALDO
Época que passei com Edvaldo:
18 de maio de 1990, às 22:30 horas, no Tulipa Negra
“Que importa esta moral que me condena, se eu estou
apaixonada por você”. “Tudo por amor, tudo por amor. Deixei meu coração falar
por mim”. Da música “Tudo por amor”, de Simone.
Dia 10 de julho de 1990, às 07:28 horas. Casa de
Saúde e Maternidade Santa Helena
A partir daqui, serei uma outra pessoa. Não sei se
conseguirei tirar todas as “máscaras” que uso, se me revelarei como sou para
todos os meus (talvez eu prepare o Espírito de cada um primeiro), mas sei que
não posso continuar vivendo uma vida e representando outra coisa totalmente
oposta. Muitos rumos mudarão e muita gente ficará surpresa comigo. Só quem não
se surpreenderá totalmente será o MAR. Pois o mar sabe dos meus segredos,
segredos que somente o MAR sabe ouvir, responder ou calar-se quando
necessário...
Casa de Saúde e Maternidade Santa Helena, Posto I,
Enfermaria B, Leito 01
DIÁRIO EDVALDO
PROJETO 30 ANOS DE POESIA
“Deus não é Deus. Diabo não é Diabo”. (Galinha
Pulando)
Amor não é amor.
Paz não é paz.
Guerra não é guerra.
Paixão não é paixão.
Tudo não é tudo.
Nada não é nada.
Além de tudo te quero.
Além do amor te desejo
Além do corpo te necessito.
Amo o amor que sinto por ti
Sinto a paz que é te amar
Amo a raiva que sinto por ti
Te quero como quero meu corpo.
Te desejo como desejo viver
Porém você se afasta como um meteoro
Foge igual duas energias iguais
E esquece que o meu sofrer é o teu sofrer.
Jequié, 28 de setembro de 1990, às 19:40 horas
DIÁRIO EDVALDO
“Restaurante Vela Mar” - Pontal Praia Hotel,
15 de dezembro de 1990, às 14:20 horas.
Exatamente sete meses e dois dias que conheci EOS.
Depois daquele dia, nunca mais minha vida foi a mesma. Sofri, me martirizei,
descobri coisas desagradáveis na vida, como a falsidade; descobri como é chato
confiar nas pessoas e depois ser traído... EOS me ensinou tudo isto. E muito
mais. Me ensinou a sofrer calado; a não confiar em ninguém; a não amar; a não
viver. Mas só aprendi a sofrer. E aprendi muito bem. Ainda confio nas pessoas,
me iludo, fantasio, e tudo mais. Ainda não perdi a capacidade de amar e a me
entregar de corpo e de alma à pessoa pela qual sinto ou venha a sentir atração.
Talvez eu seja um tolo, um inocente ou um ingênuo. Mas o que sei é que ainda
vale a pena se entregar de corpo e de alma a alguém. Ainda vale a pena sofrer
por amor.
DIÁRIO EDVALDO
05 de junho de 1990, às 00:30 horas
Pessoa, reconheço que é muito difícil se imaginar a
possibilidade de uma pessoa gostar de outra, mas sei que sentimento é
sentimento. Não existe SENTIMENTO DO SEXO MASCULINO e SENTIMENTO DO SEXO
FEMININO. Do mesmo modo que beleza e arte não têm sexo, sentimento também não
tem.
Se uma pessoa é bonita, ela simplesmente é bonita,
e nada mais. Não importa seu sexo. Uma obra de arte é admirada pela arte e não
pelo sexo da obra de arte.
Então, um sentimento de uma pessoa para outra,
independe de esta outra pessoa pertencer ou não ao sexo oposto.
Não tenho a pretensão de, com estas palavras,
transformar o seu raciocínio e fazer você pensar diferente. Longe de mim tal
intenção. O que desejo é, simplesmente, deixar claro o meu ponto de vista em
relação a este assunto.
Cabe a você julgar cada pessoa que faz parte do seu
círculo de amizades e descobrir quais nutrem sentimento verdadeiro e quais
estão te traindo...
Até breve.
DIÁRIO EDVALDO
06 de junho de 1990, às 08:57 horas
Sempre vivi na escuridão e, quando começou a surgir
a luz no final do túnel, me iludi e fiquei cego de emoção. Hoje vivo na
claridade, mas não enxergo nada.
DIÁRIO EDVALDO
10 de junho de 1990, às 01:53 horas
A geração passada, não entende o sentimento da
atual. Acha que tudo não passa de libertinagem e “desvio”. Mas tudo o que
ocorre agora é fruto da repressão, mais especialmente do sentimento, que se
sofreu anteriormente. O amor é amor é amor. O ódio é ódio. Homem odeia e ama
homem. Tem que ser assim. É o destino.
DIÁRIO EDVALDO
10 de junho de 1990, às 10:31 horas
Você me perguntou por que eu não uso minha
inteligência para a corrupção. Respondi que “um dia, quem sabe?”. Mas acho que
este dia está muito longe de chegar. Enquanto eu tiver a liberdade de andar sem
medo de ser visto, não procurarei ser corrompido.
DIÁRIO EDVALDO
10 de junho de 1990, às 10:37 horas
A humanidade só será feliz quando libertar o
sentimento e eliminar o preconceito do amor pelo ser humano.
DIÁRIO EDVALDO
14 de julho de 1990
- “Hoje não sou mais o E que você conheceu. Estou
livre de uma coisa (Máfia)”.
- Graças a Deus!!! Fico feliz por você. Você terá
dias de liberdade total. Vai soltar-se de todas as amarras...
I am one persona very...
Una cosa buena apareceo in mya vida. Esta cosa fez
nascer semientes e germinaran e ficaran com suas raises presas in miñas
entrañas, profundamiente... mui profundamiente...
De uma coisa tenho certeza. Sou um novo homem. Não
voltarei mais a ser aquela pessoa triste que eu era. Sinto vontade de crescer,
de voar até ao infinito. A paz de espírito só se consegue quando se salda
dívidas de vidas anteriores. Acredito que estou conseguindo me libertar dos
meus pesadelos e de meus medos de viver. Estou valorizando cada bilionésimo de
segundo do tempo que os Seres me concedem. Aproveito cada molécula de ar, cada
milímetro de minha estrada...
A arte de viver é muito difícil de se aprender. Só
depois que se apanha muito e que se bate muito com a cabeça em muitas paredes é
que se começa a ter consciência de que não vale à pena sofrer. Cada um tem a
obrigação de ser feliz e colaborar para que o mundo seja menos cruel. Laços e
cordas, cercas e currais, existem aos milhares. Quando caímos num neles é
difícil de sair. Mas se espernearmo-nos bastante, os nós se afrouxam e
conseguiremos nos soltar por nossos próprios esforços.
DIÁRIO EDVALDO
14 de julho de 1990
AMOR também se escreve ao contrário: ROMA.
Todos los hombres y todas las mujeres san equales.
Hombres y mujeres. Sentimientos san sentimientos. Nada mas que sentimientos.
Tudo es pasajero. Tudo que começa tiene su finale. Y nem siempre es lo finale
que se desea.
Apienas de una cosa tengo certesa: que las
esperienzias de el passado jamas voltaran...
Los sueños san apienas sueños. Jamas se alcanza los
deseos que se planea. My corazone si encuentra apertado neste momiento. Temo
por el fracazo de mios deseos e planos.
Sientome enciumado de mi mesmo. Acho que me estoy
dando libertad demas. Na TV passa a música No more bolero (Melô
do Bolero). Recordações afloramme à mente, como num álbum de fotografias de
momentos alegres. Existe a concorrência da vida. Cada segundo é precioso. Estou
perdendo muitos segundos (tempo). Quem é o primeiro hoje será o segundo amanhã,
o terceiro depois. Não sei se ainda sou o primeiro; se já sou o segundo; se
minha colocação é insignificante... Mas o que importa mesmo é o fato de eu ter
vivido momentos agradáveis e hoje estar vivo para disputar, ao menos, migalhas
de paz e de carinho... Já não sou radical como era e hoje em dia já aceito ou
entendo a derrota como um incentivo para continuar no páreo, lutando por um
lugar ao sol.
Afinal de contas, todos têm direitos iguais. Então,
que vença o mais forte ou o mais sensível. Meu pedaço de chão, conquistado a
duras penas, não será deixado para qualquer um, como se fosse de mão beijada,
não. Lutarei para preservar o território que ocupei, mesmo que seja um terreno
de ninguém, que ninguém doma nem consiga prender...
Já são 23:38 horas.
DIÁRIO EDVALDO
14 de maio de 1990, às 02:57 horas
Você falou que sente um certo medo de mim. Não tem
motivos para este seu medo. Eu não seria capaz de te desejar algo que não fosse
bom. Como eu poderia fazer mal a quem me reconheceu como ser humano, a quem me
deu apoio, a quem me fez acreditar na vida?
Eu sempre imaginei mas não acreditava que pudesse
passar por momentos tão gratificantes e reconfortantes como os breves momentos
em que dividimos companhia.
DIÁRIO EDVALDO
14 de maio de 1990, às 02:57 horas. Você foi uma
das raríssimas coisas boas que aconteceu em minha vida. Neste momento estou
ouvindo na FM Estação 93 a música de Fafá de Belém, “Memórias”. Estou
chorando. Sei que sou um fraco. Não mereço sua amizade. Você me falou ontem que
eu não transmito nada de bom para as pessoas. Mas, como eu poderia transmitir
algo de bom se a minha vida é toda recheada de tristezas e de espinhos?
Naquele dia (você sabe qual dia e onde) você falou
que não estava acreditando no que fazia: “deixar coisas importantes, para ir a
um Motel com tal tipo de pessoa”. Mas para mim, foi super gratificante. Você
talvez não imagina o bem que me fez. Jamais fui tratado como um ser humano tão
profundamente como naquele dia. E além do mais, você foi super compreensiva,
mesmo após todo aquele vexame que causei. Talvez você diga que estas coisas
acontecem porque quem não tem costume de beber, é assim mesmo. Mas você não
merecia aquela palhaçada que fiz.
Ontem eu quis ir atrás de você. Queria conversar,
ter tua companhia por mais algum tempo. Não acreditei que você estivesse indo
embora. Só depois que te vi dentro do ônibus é que acreditei. Mesmo assim,
fiquei fantasiando que você desceria na Praça Luiz Viana e que voltaria. Dei um
tempo, mas você não veio. Pensei em pegar um taxi e te seguir. Mas talvez você
não gostasse. Fui a pé até o seu bairro, na esperança de te ver em algum lugar.
Não te vi em lugar algum. Descobri, apenas, supostamente, que um determinado
estabelecimento comercial poderia ser seu.
Quando te liguei ontem, você me convidou para
almoçar num local onde muita gente te conhece. (Estou em prantos). Por que o
convite? Será que minha companhia serve para alguma coisa, além de te
atrapalhar? Você não conseguiu ter prazer naquela primeira noite. Disse-me
depois que procura agradar mais aos outros do que a si mesma. Eu também tenho
esta filosofia. Só que não consegui te fazer feliz. Você acha que merece mais
esta cruz? As pessoas (seus amigos) já comentaram sobre um suposto encontro
entre você e uma pessoa (eu), num motel da cidade, e você quis brigar com seus
amigos por causa disto.
Acho que não devo continuar a te causar tanto mal.
DIÁRIO EDVALDO
15 de julho de 1990
Eu tinha ido dormir às 23:40 horas, mais ou menos.
Acordei às 03:48 horas. Sabia que não tinha chegado ninguém. Só quis
levantar-me para confirmar.
Você não tem o direito de querer fazer a felicidade
de ninguém. Você acaba iludindo a todos e deixando a todos infelizes. Mais
infelizes que antes de te conhecer. Eu não estou em condições físicas para me
emocionar. Mas estou me emocionando. A culpa não é sua. É toda minha, que fico
criando fantasias que não existem, Você me disse que jamais me daria um não
como resposta. Eu te falei que você construiria nosso fim trágico, nossa
derrota. Você riu e desconversou. Eu estou sentindo que você começou a construir
O MURO DE BERLIM entre nos... Você se diverte em poder dispor das pessoas para
satisfazer os desejos e fantasias seus. Será que você não percebe que as
pessoas são feitas de carne e de osso e que possuem sentimento? A FM anunciou a
música “Pássaro Ferido”, de Roberto Carlos. Algumas partes desta música têm a
ver comigo neste momento. Estou longe de quem gosto (e suponho que tenha
gostado de mim e que agora parece não mais gostar). Eu fui contigo a lugares
diversos. O que pude fazer para ir a lugares confortáveis, fiz. Será que você
teve sentimento de, pelo menos, escolher um local decente para ir esta noite?
Não sei se você lerá estas palavras. Só sei que sou um bobo, um ingênuo. Como
eu poderia esperar alguma emoção sentimental de alguém que se diz insensível,
de alguém que é incapaz de verter uma lágrima - mesmo que seja lágrima de
crocodilo - quando passa por momentos difíceis?...
São 04:09 horas do dia 15.07.1990
(Quando você levou China para...)
DIÁRIO EDVALDO
16 de julho de 1990, às 15:31 horas
Tenho paz. Sou feliz. Já posso morrer. Amei e fui
amado. Sofri e sorri. Tive fome e comi... Não posso morrer. Tenho que amar
muito, ainda...
DIÁRIO EDVALDO
17 de julho de 1990, às 04:38 horas.
Acordei pela madrugada e me senti vivo. Ontem eu
tinha acordado também neste mesmo horário. Coincidência?
DIÁRIO EDVALDO
17 de julho de 1990, às 16:21 horas. A vida me sorriu e me deu uma
chance. Posso usufruir de paz espiritual e já disponho de defesa contra quem
deseja me ferir. Nada mais me fere nem me humilha. Aprendi a me defender dos golpes baixos que a vida
aplica. Sou gente. Sou homem. Sou vida.
DIÁRIO EDVALDO
17 de maio de 1990
Sou um fraco
Isolo-me, para não concorrer. Fujo do convívio com
multidões, por medo de ser descoberto por esta multidão. Não tenho condições de
disputar com ninguém, porque sou prepotente e incapaz de aceitar a derrota. Não
aprendi que se deve ser humilde, para alçar grandes vôos. Sempre espero mais do
que mereço, e por isto nunca me surpreendo com as fases boas de minha vida.
Meu coração é amargo e duro como uma pedra de
diamante. Não sou capaz de um sentimento puro e despretensioso. Sou vingativo e
implacável. Persigo meus inimigos até deixá-los sem fôlego. E, não satisfeito,
piso-lhes o pescoço e não lhes dou trégua: não aceito perdão ou pedido de
cessar fogo. Não admito as guerras sem motivos, porém decepciono a mim mesmo
(não sinto remorsos), fazendo guerrilhas contra quem não pode se defender, pois
não sabem o grau de falsidade que entremeia minha cara “inocente” e meus
pensamentos perversos.
Sou ridículo em meus ideais. Mudo de opinião
conforme o rumo dos ventos, mas cobro das pessoas posições definidas.
Sou definitivo e radical em posições e opiniões que
me beneficiam e maleável quando não me dizem respeito.
Cobro companheirismo, lealdade, etc., e semeio
individualismo, infidelidade, etc.
Me visto de anjo, quando sou um misto de satânico e
diabólico.
17 de maio de 1990, às 08:18 horas
Estou tão acostumado com o sofrimento, que paz para
mim é tormento.
DIÁRIO EDVALDO
18 de julho de 1990. Acordei às 02:50 horas. Fui ao
banheiro. Estava vivo. Respirei. Meu coração batia. Meu pulso pulsava. Meu
sangue percorria meu corpo. Senti frio e fui dormir novamente. Agora são 08:10
horas
DIÁRIO EDVALDO
19 de julho de 1990, às 04:25 horas. Hoje acordei
desesperado, às 04:18 horas. Eu estava com todos os pontos da cirurgia
inchados, como se fossem azeitonas pequenas. O local do ‘dreno’ estava como se
fosse um pequeno limão. Chorei copiosamente, mas não tive coragem de apalpar,
para confirmar. Depois passei a mão. Não estavam inchados. Eu tinha sonhado...
Sonhei que andei muito, carregando umas tábuas e, já de volta para o local onde
estava antes, quando faltava pouco para chegar, percebi o inchaço. Eu já estava
na casa da mão de Jocenita Fernandes Cordeiro dos Santos, LILI, minha colega no
curso Técnico em Contabilidade. A tia de Ezequiel (que mora no bairro
São Luís) estava lá na casa de LILI e me perguntou se eu tinha operado, pois
ela não sabia. Eu respondi que sim, e fui mostrar os pontos. Foi quando percebi
a inchação. Fiquei desesperado e saí com Ezequiel para procurar a estrada de
asfalto que ia para Salvador, onde se encontrava a médica que me operou. Aí
acordei.
-- Tive a impressão de ter sido enganado por uma
pessoa. Esta pessoa representa muito bem e fiquei a imaginar se tudo aquilo não
foi mais uma representação teatral... Se foi, e eu caí, jamais me perdoarei por
ter me deixado enganar... VAJ/JEE, 19.07.90, às 04:30 horas. Mas agora estou
mais calmo e algo me diz que tudo aquilo é verdadeiro.
DIÁRIO EDVALDO
19 de julho de 1990, às 14:02 horas.
Hoje estou nostálgico. Relembrando momentos de
alegria que vivi há dias atrás... Momentos estes que jamais serão esquecidos,
tampouco repetidos. Sinto-me impotente, ainda convalescendo de tratamento
cirúrgico. Gostaria de não estar com este problema, neste momento, para poder
sair daqui e vagar pela cidade, montado na minha velha bicicleta... Pensar e
repensar minha vida. Perguntar para mim mesmo se é realmente “isto” que desejo
fazer. Se não é apenas mais uma ilusão... Se não é apenas mais um momento bom
que depois será esquecido ou arquivado num armário do passado e que jamais
poderei repetir. Fico ansioso por ouvir tua voz me dizendo que também gostou de
tudo o que aconteceu e que mexi com o seu sentimento... Mas as mesmo tempo,
duvido de mim mesmo e me pergunto se realmente ouvi isto da tua boca que tantas
vezes negou a existência deste sentimento. Fico indeciso em acreditar e em não
acreditar. Mas sei que, para não ficar mais angustiado do que já me encontro,
tenho que dar um voto de confiança e acreditar em tudo o que você diz (ou em
quase tudo - ou em metade do que você fala - ou em algumas coisas). Não tenho
nada palpável que me garanta que tudo isto não passa de um grande sonho, do
qual um dia acordarei e me arrependerei muito de ter dormido e sonhado... Já
confiei tanto e em tantas pessoas e depois me decepcionei tanto... Fico
relutante em continuar a abrir meu coração para uma nova pessoa. Afinal de
contas, todos nós somos tão cheio de falhas... Será que merecemos, eu e você,
continuar a nos envolver um ao outro deste jeito? Será que não seria melhor
darmos um tempo, aproveitar que não posso nem andar e refletirmos um pouco
melhor sobre tudo o que tem ocorrido conosco e nos perguntar se valerá a pena
prosseguirmos lutando por uma coisa quase impossível e que tantas e tantas
pessoas condenam? Até onde poderemos nos envolver sem que esta relação venha um
dia a nos ferir? Não podemos brincar com o sentimento um do outro. Não podemos,
nem temos o direito de nos deixar envolver um pelo outro, dar confiança aos
sentimentos e um belo dia destruir este laço de amizade. Pois, agindo assim,
poderemos nos ferir e, quem sabe, profundamente. Nem você nem eu merecemos
passar por mais uma decepção na vida. Afinal de contas, tanto eu quanto você já
passamos por muitos momentos difíceis e sabemos que não é nada fácil curar uma
ferida. Leva muito tempo para cicatrizar... E ninguém melhor do que você para
saber disto... Eu tenho muito medo de me entregar para uma pessoa. E ao mesmo
tempo não consigo manter um relacionamento de amizade profunda, sem me envolver
emocionalmente. Tampouco me sinto à vontade, nem sei me relacionar sem liberar
meu sentimento para o melhor possível... Temos que pesar as consequências de
tudo, desde agora, para não sofrermos no futuro...
DIÁRIO EDVALDO
19 de julho de 1990, às 18:05 horas.
Minha vida está sendo invadida por uma onde de
energia muito forte. E eu colaboro para que esta invasão se dê pacificamente e
com bastante ordem. Necessito desta energia que me invade, abrindo fendas
profundas que rasgam meu espírito de alto a baixo...
Não quero me entregar a esta emoção, mas ao mesmo
tempo me sinto incapaz de lutar contra tudo isto... Não me sinto à vontade
praticando uma vida “condenável”, mas gosto do que faço e, principalmente, COM
QUEM FAÇO. E isto me dá a paz de espírito que necessito para continuar amando
de um modo diferente.
DIÁRIO EDVALDO
19 de setembro de 1991
EOS
Ontem sonhei com você
Hoje lembrei do Pontal
Recordei-me das mentiras
Dos risos e das cervejas
De tudo o que aconteceu.
Não sei porque a saudade
Não sei porque nostalgia
Só sei que lembrei de tudo
E que você me disse um dia
Que o melhor pra minha vida
Era mesmo ter você.
Talvez seja isto mesmo
E eu ainda não enxerguei
Pois todos os que procurei
Mandaram-me passar.
Até Ricardo Pediu
Para eu não escrever.
Eu não sei onde tu andas
Mas eu gosto de você
Pois foi o melhor amigo
Que já tive até hoje.
Não sei se haverá laços
Que nos una outra vez
Só sei que você foi muito
Importante para mim.
A você eu devo muito
E isto eu te falei
Você chorou e eu também
Mas estamos separados
Cada um para seu lado
a sofrer a sua dor.
DIÁRIO EDVALDO
20 de julho de 1990, às 09:24 horas. AMAR DE UM
MODO DIFERENTE. Não existe amor diferente. Amor é amor. Toda forma de amor é
válida. Principalmente se é alicerçada no respeito mútuo e na sinceridade. Se
há a participação dos dois seres humanos nos momentos bons e nos momentos
ruins, então o que há de diferente nisto?
DIÁRIO EDVALDO
21 de julho de 1990, 23:03 horas
Acho que vou enlouquecer. Eu penso em mim e em tudo
o que neste momento amo (você) e não consigo chorar nem ficar tranquilo com
esta paz tenebrosa. Neste quarto, entre quatro paredes, esta cama de casal,
este rádio ligado... Estou abandonado, neste quarto imenso, nesta cama
quilométrica. Sozinho e sem ninguém com quem conversar. Vendo você chegar em
minha casa e saindo, sem que eu possa dizer pra ficar comigo. Esta cirurgia que
nunca me dá liberdade para sair atras de você, e sentir teu perfume, tua pele,
teus pelos, tua alma, tua voz... Quero voar, mas minhas asas estão quebradas e
engessadas. Eu queria poder vender esta casa para poder comprar outra para
minha família e outra para nós, longe daqui. Não aguento mais te ver de longe.
Não aguento mais ter contato contigo através de um simples aperto de mão. Sei
que não queremos somente um aperto de mão. Eu sei que desejo você comigo no almoço,
no jantar, no café, na cama a noite toda, sentindo você respirar, sentindo o
seu coração pulsar, sentindo você alcançar o prazer do corpo e da alma junto
comigo... Mordendo suavemente seu pescoço, beijando tua orelha e tua nuca,
acariciando teu peito e sentindo o teu calor... Tudo isto pode parecer absurdo
para mim e para você, mas é o que sinto e não posso impedir o meu corpo de
desejar o teu. Não posso proibir minha cabeça de desejar você. Meu corpo queima
pedindo tua presença e teu calor. Fico louco se não escrever tudo isto. Pouco
importa se alguém pegar e ler. “Meu desejo é poder te amar” (parte da música
‘Auê”, da Banda Cheiro de Amor, que ouvi neste instante, no rádio).
Cada dia que acordo me sinto melhor que no dia
anterior. Mas isto acontece por causa da vontade que tenho de me recuperar logo
para poder ter você no novamente e caminhar comigo, a sentar comigo num banco
de jardim para conversar.
Vamos parar de ser tão formais. Vamos lutar para
nos dar liberdade de conversar e agir como duas pessoas conscientes do que
querem. Vamos nos abraçar, fazer perguntas íntimas, falar mais abertamente
sobre nossos sentimentos...
Sei que é difícil duas pessoas se entenderem e se
abrirem uma para a outra. Mas nós somos pessoas civilizadas. E, além do mais,
nossa amizade já chegou num ponto bem profundo. Temos o direito e o dever de
nos conhecermos melhor. E nada melhor do que começarmos perguntando coisas que
não sabemos ainda sobre o outro. Somo muitos grosseiros, ainda. Vamos tentar
ser mais delicados, mais sensíveis. Para nós, nada é proibido nem feio. Tudo é
sentimento. Tudo é amor. Minha paz não está completa, porque não tenho você por
25 horas ao dia. Me lembrei de “O Cálice”. Já são 23:39 horas. Nossos passos na
areia daquela praia jamais serão apagados pelo mar, porque o MAR é você. Quero
mergulhar de cabeça no MAR e me molhar no seu suor. Esta cama é nossa. Ela já
sabe o seu peso e já sentiu o seu cheiro, já sabe a maciez da sua pele, do
calor do seu corpo... Já nos viu amando. Ela está com saudades de tudo isto e
não aguentará esperar mais...
* “O Cálice” - Bar, na orla do Pontal, em Ilhéus,
próximo ao Pontal Praia Hotel.
DIÁRIO EDVALDO
21 de julho de 1990, às 21:28 horas.
Por mais longo que seja o túnel, haverá o momento
de se ver a luz do sol novamente.
DIÁRIO EDVALDO
22 de julho de 1990, 10:22 horas
Você é mais que um irmão, mais que um amigo, mais
que um Deus... Você é meu sangue, é meu fôlego, é as batidas de meu coração,
minha respiração, minha razão de viver...
Tenho a sensação de que você está aqui comigo,
eternamente. Sinto tua presença dentro de mim, na minha alma. Você está
entranhado em mim. Estou impregnado de você. Seu cheiro está em
mim. Células de teu corpo já fazem parte do meu. Tantas vezes te absorvi
em minha intimidade e te possuí, que é impossível, hoje, separar partículas de
teu corpo do meu. Você está em mim e acho que estou em Você. Já são
10:27 hs
DIÁRIO EDVALDO
22 de julho de 1990, 10:30 horas.
Meus pensamentos não são mais somente meus. Já têm
influências do seu modo de pensar, do seu modo de ver e de encarar a vida
Hoje, minhas idéias são outras, os meus pontos de
vista são outros. Já consigo enxergar coisas que antes eu não via ou não queria
ver, ou não tinha coragem de encarar.
Neste momento, encaro com muita naturalidade o fato
de eu ser diferente dos outros cinco bilhões de habitantes do Planeta Terra.
Encaro esta realidade e me sinto plenamente feliz em ter a capacidade de sentir
coisas que poucos sentem... Sinto-me feliz por não poder ser comparado com os
milhares, nem com as centenas, nem com as dezenas de seres, pois não tenho
nada, absolutamente nada em comum com estes robôs pré-programados.
Se eu tiver um filho um dia, será por amor e não
por acidente...
23 de julho de 1990, 13:30 horas. Sou burro, sou
estúpido, sou infantil, sou detestável, sou quadrado, sou criança, sou idiota,
sou imbecil, sou otário, sou imoral, sou tudo de ruim...
Não devia ter agido daquela forma contigo. Me
perdoe. Me desculpe. Te feri, te humilhei, te pisei. Me perdoe. Foi um ataque
de ciúme doentio.
DIÁRIO EDVALDO
25 anos
(Projeto Madio Editora)
fome, sede, carência afetiva
sem lar, sem cama, sem carinho
sem escola, sem remédio, sem roupa,
sem perfume, sem sapato, sem pai, sem rádio, sem
TV, sem livros,
sem comida, sem água, sem cobertor,
sem bicicleta, sem moto,
sem dinheiro,
sem nada.
Hoje tenho quase tudo
Só me falta você, minha alma-gêmea
Meu almo-gêmeo, minha cara e minha coroa
meu leão e minha leoa
pra ocupar o vácuo espiritual
que cresce ad infinitum dentro de mim.
Clínica São Vicente, 02 e 03 de agosto de 1991
DIÁRIO EDVALDO
25 de julho de 1990, às 08:16 horas.
Queimo em brasas desejando teu corpo. Basta tua
presença para apagar este fogo.
DIÁRIO EDVALDO
25 de julho de 1990, às 08:23 horas.
Estou ardendo em brasas desejando teu corpo.
Bastaria tua presença para apagar este fogo. Neste momento queria estar ligado
fisicamente a você, sentindo teu calor e teu suor. Nem a incapacidade física
consegue fazer com eu te deseje menos; quanto mais você demora de aparecer,
mais minha saudade aumenta e mais necessito te sentir dentro de minha alma. Te
quero muito. Te desejo bastante
Sem data (Provavelmente 16, 17 ou 18 de maio de
1990. Não tenho certeza.)
Célia, você me surpreende a cada minuto que passa.
Você me disse que iria me falar a respeito de suas atividades obscuras, antes
mesmo de eu supor alguma coisa. É confiança demais numa pessoa que você mal
conhece.
Você me disse que tinha descoberto meu maior
segredo nos tempos que você frequentava o estabelecimento no qual eu trabalhei
e que já tinha notado a minha presença desde aquele tempo.
Nossa amizade poderá vir a ser algo muito bonito e
raro hoje em dia entre as pessoas. Só o tempo nos permitirá provar isto.
--
Agora à noite eu sou outra pessoa. Aceitei sua
sugestão e peguei dois ônibus para casa. Peguei um até o centro e um do centro
para o Jequiezinho. Até ao meio-dia de hoje eu estava sem fome. Estava me
sentindo mal. Estava com algumas dúvidas mas depois da conversa desta noite,
voltei ao normal. Minhas preocupações se acabaram e então pude sentir fome.
Comi bastante. Esta noite não chorarei nem ficarei acordado a noite toda.
Dormirei com tanta tranquilidade que planarei no espaço.
Você comentou sobre a lista de pessoas que conheci.
Perguntou se depois de você, viria a 6ª pessoa, a 7ª pessoa, etc. Te respondo
que esta lista terminaria em você. Sempre procurei uma pessoa
especial como você. Foi difícil de achar. Não se encontra pessoa como você em
qualquer esquina da vida. Eu não tenho o direito de te conhecer e depois abrir
o meu coração para outras pessoas. Você sempre foi e será a primeira e única
pessoa a me conhecer pelo avesso. Eu queria ter bastante dinheiro para poder
fazer muitas coisas que sonho. E uma destas coisas seria construir um mundo
especial só para nós dois...
Com o sentimento alheio não se brinca. Não estou
brincando contigo. Se eu não quisesse algo sério não teria esperado naquele
primeiro encontro.
Agora são 22:58 horas. Esta noite dormirei
tranquilo como nunca dormi em minha vida. Mas seria melhor se quando eu me
virasse na cama, encontrasse você ao meu lado. Agora me deu uma vontade de
chorar. Mas é de pura alegria. Estou ouvindo a música ‘Hey Jude’. Estou com
sono. Até sempre. De alguém...
DIÁRIO EDVALDO
25 de julho de 1990, às 08:23 horas.
Estou ardendo em brasas desejando teu corpo.
Bastaria tua presença para apagar este fogo. Neste momento queria estar ligado
fisicamente a você, sentindo teu calor e teu suor. Nem a incapacidade física
consegue fazer com eu te deseje menos; quanto mais você demora de aparecer,
mais minha saudade aumenta e mais necessito te sentir dentro de minha alma. Te
quero muito. Te desejo bastante
DIÁRIO EDVALDO
25 de julho de 1990. Peixes ama sinceramente e
fantasia muito. Não iluda àquela pessoa, nem iluda a você. Quanto a mim, não se
preocupe. Já aprendi a ganhar e a perder. Já fui iludido uma vez por Márcia e
aguentarei ser iludido por Célia...
Talvez você não sinta prazer, mas aquela pessoa
sente e se ilude.
(Sobre seu namoro com China).
DIÁRIO EDVALDO
28 de julho de 1990, às 00:40 horas. Ainda estou
acordado. Não queria escrever mais nada sobre você. Mas tenho que escrever: não
temos liberdade para conversar claramente o que sentimos e pensamos.
Eu gosto muito de você, Célia. Por isto, sinto
ciúmes quando você fala de outro. Você tem sua liberdade para querer gostar,
noivar ou casar com quem quer que seja. Se isto é um teste para saber o quanto
eu gosto de você, por que não pergunta diretamente? Eu responderei que não
posso viver sem você. Não tenho o direito de te pedir para esquecer este outro
e seu noivado e o par de alianças de Cr$ 5.000,000 (cinco mil cruzeiros):
Você quer e vai me abandonar por outro. Vai esquecer tudo o que aconteceu entre
nós, nestes últimos meses. Que pena que nosso amor durou tão pouco... Mas valeu
à pena! - Tudo o que fiz com e por você eu fiz de coração e por amor. Mas, se
tem que ser assim, tudo bem. O que é que se pode fazer, não é mesmo? Se você
precisa disfarçar-se para que as pessoas não descubram suas preferências
sexuais, tudo bem. Então fique noiva e case com a pessoa que você bem entender.
Eu é que não me sinto bem com esta situação de
incertezas. Esta divisão de você, entre eu e esta pessoa me fala que sente vontade
de estar aqui, comigo. Mas ao mesmo tempo me fala de seu noivado, de seu
casamento, e ainda tem o cinismo de me convidar para ser padrinho de casamento.
Isto é demais. Isto é duro de aguentar... Prefiro tirar meu time de campo, para
que o time adversário leve a melhor...
Eu não sou radical, não. Apenas quero me preservar
de sofrer mais do que já sofri, na minha vida. Não suporto mais estar com uma
pessoa que enquanto está comigo, fala o tempo todo de outra pessoa, de
casamento, etc., como se estivesse a fim de me dar um GRANDE FORA e não dá,
simplesmente por PENA. Não necessito de sua PENA. Preciso é de amor, paz,
carinho, felicidade, sinceridade, etc...
Não quero que ninguém sinta pena de mim. Já sou de
maior, e você mesma me ensinou a caminhar com meus próprios pés. Já propus a
você, várias vezes, acabar com todos os laços que existem entre nós, e você
sempre diz não. Fala, ainda, que prefere continuar neste ‘joguinho’, até que
você se revele e faça com que eu sinta ódio de você.
Prefiro voltar a ser um homem triste, sonhador,
esperançoso de um dia conhecer uma pessoa sincera, que me faça feliz e que me
ame de verdade. Não era isto que você queria? Que eu sentisse ódio de você?
Pois então, a partir de hoje, começarei a mudar meu sentimento em relação a você...
Fique logo noiva, se case e me deixe em paz! Nada
nos prende um ao outro, a não ser alguns momentos lindos que acontecerem entre
nós, no passado recente. Será que você já se esqueceu de tudo o que ocorreu
entre nós? Você é do mundo. Então vá para o mundo. Seja sincera consigo mesma,
pelo menos uma vez na vida e me diga logo que não está mais a fim de continuar
com esta farsa.
DIÁRIO EDVALDO
Agora à noite eu sou outra pessoa. Aceitei sua
sugestão e peguei dois ônibus para casa. Peguei um até o centro e um do centro
para o Jequiezinho. Até ao meio-dia de hoje eu estava sem fome. Estava me
sentindo mal. Estava com algumas dúvidas mas depois da conversa desta noite,
voltei ao normal. Minhas preocupações se acabaram e então pude sentir fome.
Comi bastante. Esta noite não chorarei nem ficarei acordado a noite toda.
Dormirei com tanta tranquilidade que planarei no espaço.
Você comentou sobre a lista de pessoas que conheci.
Perguntou se depois de você, viria a 6ª pessoa, a 7ª pessoa, etc. Te respondo
que esta lista terminaria em você. Sempre procurei uma pessoa
especial como você. Foi difícil de achar. Não se encontra pessoa como você em
qualquer esquina da vida. Eu não tenho o direito de te conhecer e depois abrir
o meu coração para outras pessoas. Você sempre foi e será a primeira e única
pessoa a me conhecer pelo avesso. Eu queria ter bastante dinheiro para poder
fazer muitas coisas que sonho. E uma destas coisas seria construir um mundo
especial só para nós dois...
Com o sentimento alheio não se brinca. Não estou
brincando contigo. Se eu não quisesse algo sério não teria esperado naquele
primeiro encontro.
Agora são 22:58 horas. Esta noite dormirei
tranquilo como nunca dormi em minha vida. Mas seria melhor se quando eu me
virasse na cama, encontrasse você ao meu lado. Agora me deu uma vontade de
chorar. Mas é de pura alegria. Estou ouvindo a música ‘Hey Jude’. Estou com
sono. Até sempre. De alguém...
01 de junho de 1990, às 09:12 horas
DIÁRIO EDVALDO
Minha vida
Nossa
vida:
} Está
enrolada
Sua vida
Você se distancia de seus amigos, para me dar
atenção; você corre o risco de alguém saber de seus atos; corre o risco de
entrar cm conflito com sua família; submeter-se à degradação social, etc. Tudo
isto para que? De que vale simples momentos de combinação mental, se para isto
é necessário que se renuncie à própria vida? Neste momento, quem mais sairia
“arranhado” seria eu, caso resolvêssemos não nos ver mais. Você é forte; tem
mil amigos; uma vida recheada de surpresas (agradáveis ou não). Além do mais,
você não se deixa controlar ou impregnar por SENTIMENTO. Eu, ao contrário, sou
muito sensível (fraco); não tenho amigos; não tenho nenhuma surpresa em minha
vida; e me deixo levar pelo sentimento.
Talvez nossa amizade só sirva mesmo para complicar
ainda mais a sua vida.
DIÁRIO EDVALDO
As pessoas não passam de pedaços de carne.
14 de setembro de 1990, às 20:05 horas.
DIÁRIO EDVALDO
Deus, te agradeço por estar vivo. Te ofereço meu
amor e minha vida a fim de que transforme tudo em beleza e harmonia.
Jequié, 28 de setembro de 1990, às 20:30 horas
DIÁRIO EDVALDO
Dia 09 de julho de 1990, às 16:56 horas. Casa de
Saúde e Maternidade Santa Helena
Hoje, quando eu tomava banho, vi, pelo combogol do
banheiro, o Iguatemi Hotel. Lembrei-me do MAR e dos dois dias que passei com o
mesmo. Jamais esquecerei o MAR.
DIÁRIO EDVALDO
Dia 20 de junho de 1990, às 21:40 horas
Persona, não temos muito tempo para nós dois.
Quando nos vemos é próximo a muitas pessoas. Isto nos tira a privacidade. Não
podemos conversar à vontade. Ficamos presos sem ao menos poder tentar nos
conhecer um pouco mais. Por este motivo, quando chego em casa, não consigo
pensar em outra coisa a não ser em nós dois. Fico absorto em meus pensamentos,
fico angustiado por não ter você aqui comigo. Eu neste quarto pequeno que se
torna tão grande sem a tua presença. Sem você aqui, este quarto parece um
deserto com centenas de quilômetros de extensão. Esta cama de casal é enorme.
Eu rolo para todos os lados neste colchão frio e o único calor que sinto é o
meu próprio... Olho para o teto, olho para as paredes, tento dormir, procuro
fugir de pensar em você, mas não consigo. Tudo o que penso, tudo o que imagino,
é você. É você, é você. Pego revistas, pego livros para ler mas só vejo as
letras do seu nome: C E L I A. O ar do meu quarto tem o seu cheiro. Quando é
que poderemos ter um local só para nós? Esta distância que nos separa é enorme.
Estamos tão juntos e tão distantes um do outro...
Hoje saí para comprar uma mercadoria (fogos de São
João) e estava feliz. Aguardava ansiosamente sua chegada ao local em que me
encontrava. Mas quando vi você com alguém, meu coração apertou. Me senti mal.
Meu estômago se fechou. Não senti nenhuma vontade de parar para te
cumprimentar, pois eu estava muito mal naquele momento. Não sei se você
percebeu que eu fiquei a tarde toda fechado. Não estava nem conseguindo tomar a
cerveja. Minha garganta estava apertada. Será que perderei você para esta
pessoa? Sei que você estava a fim de passar alguns momentos íntimos comigo,
hoje, mas você sabe que não existe um local seguro para nós, por enquanto.
Talvez isto seja motivo para você separar-se de mim. É disto que eu tenho medo.
De que você esqueça que eu existo, ao encontrar uma pessoa para te dar
carinho...
Minha cabeça está girando a mil por hora. Sinto
vontade de chorar mas a angústia é tamanha que não choro. Talvez eu esteja
procurando problemas onde não existe. Mas tenho medo do futuro incerto.
DIÁRIO EDVALDO
Edvaldo:
Dia 13 de maio de 1990, às 20:39 horas
Para tudo existe remédio. Mas certos remédios são
muito caros. Você foi um remédio para a minha vida. Você é cara, não posso ter
você, pois eu preço é muito alto. Entretanto, tive o prazer de te conhecer um
pouquinho... Nada tenho para retribuir todo o carinho e compreensão que você me
dispensou. Não mereço ter algo tão especial, tampouco você merece ser
acompanhado por um ser tão inferior quanto eu.
DIÁRIO EDVALDO
Estou aqui.
(Projeto Madio Editora)
Trouxe tudo:
rádio, revistas,
caneta, papel,
documentos,
agenda, roupas;
Tudo está aqui.
Só minha alma-gêmea não veio.
Não sei onde ela está,
onde anda e o que faz.
Estou aqui:
completo e vazio;
amplo e restrito;
repleto e incompleto
esperando você
pra preencher
o vácuo de minha’lma
Clínica São Vicente, 1º de agosto de 1991
DIÁRIO EDVALDO
Estou decidido a não decidir nada na minha vida
14 de setembro de 1990, às 19:18 horas
DIÁRIO EDVALDO
Eu não quero ficar triste
(Projeto Madio Editora)
Eu não quero mais ser triste
Mas infelizmente sou
Já não sei o que fazer
Para aprender inglês
Para aprender a andar
Só sei que tudo é nublado
Está tudo tão escuro
Que me impede de te ver
Absorvo-me em lágrimas
Esperando uma saída
Esperando a solução
Mas só vejo é buraco
Vejo somente barreiras
A cegar minha visão.
Mas a despeito de tudo
Cada dia eu desejo
Que seja melhor que o anterior
Tentando achar a saída
Seja cara ou barata
Que permita que eu viva
Pelo menos um segundo
A amar o meu amor.
19 de setembro de 1991, perna engessada.
DIÁRIO EDVALDO
Hoje são 16 de maio de 1990
Estou na Faculdade. Cheguei às 18:55 horas para
esperar você para o encontro que marcamos. Estou com muito sono. Quero dormir.
Vou te esperar até às 20:30 horas. Se você não vier, vou para casa e te ligo
amanhã. Acho que você faz comprar num estabelecimento comercial próximo à
Calheira Almeida. O seu estabelecimento comercial é pequeno e faz calor. Aquela
pessoa que trabalha lá, vai morrer abafada ali dentro. Estou me sentindo bem.
Pouco importa se minha genitora descobre meu ponto de vista. Eu não devo nada a
ela. Vou parar de te telefonar, porque vai te atrapalhar. Você não liga para
mim e quando eu ligo para você, você diz “tchau”. Você tem revolta em sua vida
e esconde isto dando muitas risadas. A melhor maneira de se vencer uma coisa é
enfrentando-a de frente, como você me ensinou. Você tem que parar de se
preocupar mais com os outros do que com você mesma. Pense mais em si própria.
Os outros são apenas os outros. Você já passou por muitos momentos
desagradáveis mas está vivo. O importante é acordar e sentir o coração pulsando
(sinal de vida). E não se esqueça que te admiro muito. Não importa o que você
faz, faz ou fará. O importante é que te conheci e que você me deixou ser seu
amigo. Seus atos não interessam a ninguém. O que alguém possa comentar a seu respeito,
pouco importa para mim. Somente o que levo em consideração é que você é uma
pessoa espetacular e que, enquanto você permitir, irei ser seu maior admirador.
Você foi divina ontem. É passado. Mas não se esquece. Fica marcado. Eu gostaria
de poder fazer alguma coisa para te fazer feliz. Você já teve tudo de bom que a
vida possa oferecer (dinheiro, homens, amizades, etc, etc).
O que eu posso falar ou fazer para você fique um
pouquinho mais feliz? Você já pensou em algum dia sair de Jequié e morar em
outra cidade? Cada pessoa que entra aqui eu penso que é você. Hoje te segui, da
hora que você pegou o ônibus, até quando entrou no armazém. O IMPORTANTE É
VIVER. De uma pessoa que te admira.
DIÁRIO EDVALDO
Jequié, 11 de julho de 1990, às 07;10 horas
O ano de 1990 para mim, pessoalmente, foi “O ANO DA
LUZ”. Tudo de bom que sempre esperei da vida, tudo o que sonhei, conquistei
neste ano, com muita luta...
Consegui um trabalho decente; passei no vestibular,
apesar de ser a primeira vez que participei; conheci uma PESSOA que me fez
nascer para a vida. Enfim, tudo de bom me ocorreu neste abençoado 1990.
No mês de janeiro, no dia 12 mais precisamente, me
apareceu uma doença que pensei que seria um contrapeso para as luzes que tinha
recebido. Mas foi para que eu parasse um pouco, refletisse e percebesse quanto
Deus é Maravilhoso e Misericordioso. Depois desta experiência, renasci das
cinzas, virei uma nova pessoa, um novo ser, um novo Espírito, mais experiente e
mais consciente da beleza da vida.
DIÁRIO EDVALDO
Meu Deus e Espíritos Protetores, não me cortem as
asas; deem-me forças e razão para voar cada vez mais alto e sabedoria para
administrar tudo o que você me derem. Não permitam que eu trabalhe só com a
razão, tampouco só com a emoção; façam com que eu pese os dois fatores e
equilibre, sempre com o auxílio de vocês, a fim de não me perturbar nem me
confundir.
Por favor. 16 de setembro de 1990, às 02:39 horas.
DIÁRIO EDVALDO
O ser humano não ama. Suporta, atura.
14 de setembro de 1990, Telebahia.
DIÁRIO EDVALDO
Provavelmente, dia 04.07.1990
Pessoa, não sei o que mais me assusta: perder minha
vida, ou perder você. Agora estou triste e não consigo esconder isto nem mesmo
de mim. São 13:42 horas. Nesta enfermaria tem dez leitos, ao todo. Um paciente
recebeu alta e outro saiu para uma cirurgia do queixo (tinha caído de uma
bicicleta e quebrado o queixo). Restam oito leitos com o meu. Mas me sinto
só... Você está tão distante de mim... (escrevi estas frases com a mão
esquerda, pois a direita estava no soro e não poderia ser movimentada, para não
perder a veia).
Minha cirurgia será amanhã. Se algo der errado,
fique sabendo que você foi a única pessoa que me fez feliz neste mundo. Saiba,
ainda, que você foi a única pessoa que amei de verdade.
DIÁRIO EDVALDO
Quando te conheci, você era uma pessoa maravilhosa.
Era em quem eu podia confiar, acima de qualquer suspeita. Hoje, vejo que você
não passa de um pedaço de carne. Você é igual a todas as pessoas. Você só
consegue ser mais cínica que as outras... Continua a mesma pessoa insegura e
indecisa de sempre. Não sabe o que quer. Ou melhor, só quer aquilo que possa
causar um prazer de momento. Mas sabe fingir muito bem e fazer as pessoas
sonharem com eternos momentos...
Decidiu se libertar de uma máfia, pensando que
ganharia mais saindo dela do que continuando a viver dentro da mesma. Hoje, se
arrepende e quer voltar. Mas o orgulho não permite que você dê um passo atrás.
Jamais é humilde. Nem que isto custe a paz e o amor. Participa e promove um
joguinho de influências no qual só você pode ganhar e merece estar à frente. As
demais colocações ficam com os outros. Você é uma pessoa inteligente,
compreensiva, amiga, boa. Mas não se assume nem aceita nada sério. Prefere
viver num eterno jogo de momentos incertos. Chega de tudo isto.
Telebahia, 14 de setembro de 1990, às 19:30 horas.
DIÁRIO EDVALDO
Solidão, simpatia, atração, egoísmo, sentimento,
distância, lembrança, temor, experiências, disponibilidade, diversão, viagens,
bebida, energia, franqueza, frieza, fraqueza, humildade, tristeza, despreparo,
desespero.
15 de setembro de 1990, às 12:50, no PETISCO.
Paz, sorriso, medo, covardia-poesia, amor, vida,
tristeza, paixão, saudade, idem ibidem.
Talvez você seja real
Ou seja uma visão
Só sei que és divino
Semeador de paz eterna
Fez de um homem das cavernas
Um menino sentimental.
Me deu fôlego de vida
Me deu paz e atenção
Transformou um monstro
Merecedor de compaixão
Num ser mais acessível
E portador de sentimento.
Ontem você saiu de repente e me falou pra ligar
quando estiver a fim de te ver. E disse que não dará um NÃO como resposta. Eu
acho que você saiu daquele jeito, porque fiz alguma coisa que você não gostou.
Mil perdões te pelo por alguma coisa que te feriu. Eu queria poder ter sua
companhia sempre, independentemente de acontecer ou não alguma coisa.
Só sua companhia já é extremamente gratificante para mim. Mas sei que te
atrapalho muito. Não quero ser o motivo de alguma coisa ruim para você. Você é
a última pessoa para quem eu desejaria algo de mal. Estou com bastante sono.
Pensei em você a noite toda e continuarei a pensar. Deixei o rádio ligado a
noite toda. Já são 03:49 horas. Tchau!
DIÁRIO EDVALDO
Todos nascemos para sermos infelizes.
14 de setembro de 1990.
DIÁRIO EDVALDO
Jequié, 11 de agosto de 1990
Preciso de você e você precisa de mim. Nos
completamos, nos entendemos, nos gostamos. Mas ao mesmo tempo, somos
independentes um do outro, não nos entendemos, não nos completamos. Nos
detestamos e nos aturamos, em nome de uma amizade sólida que durante pouco
tempo nos uniu mais que a dois irmãos. Quero você e você me quer, e ao mesmo
tempo fugimos um do outro. Nos repelimos mutuamente e não gostamos do que o
outro faz. Nossa relação não é nada diferente das relações de outros casais.
Existe mentiras, falsidades, desconfianças, desaprovações, preconceitos,
deslealdades, traições (se não por atos, mas por pensamentos).Enfim, somos dois
humanos comuns que se julgam superiores aos demais, simplesmente porque lutamos
por alguém que todos condenam e que nós condenamos também. Não seríamos capazes
de sinceridade no amor e de assumir esta “diferença” ante a sociedade, porque
também somos tão porcos e tão podres quanto tudo isto que aí está (os atos da
sociedade). Apoiamos tudo o que a sociedade faz e a incentivamos a fazer muito
mais com a nossa passividade diante de tudo o que acontece. Nosso aval é o
nosso silêncio.
Talvez, se fôssemos um pouquinho mais sinceros e
reais conosco mesmos (cada um de nós assumindo sua condição de “diferente”),
conseguiríamos, num futuro a longo prazo, sermos realmente pessoas diferentes e
adultas de consciência. Você tem mais experiência e eu tenho mais paciência.
Mas nossa personalidade, nosso caráter, ainda não estão completamente
desenvolvidos (e não contribuímos para que este desenvolvimento aconteça) e
devido a isto, ficamos estacionados na escala evolutiva espiritual, nos
igualando aos mais covardes espíritos que sentem prazer carnal mas não sentem o
prazer da alma.
AMOR ELIVAN
Para Elivan José do Nascimento Lima
Minha irmã vai ficar morando aqui, comigo.
nossos encontros teriam que ser aqui.
como resolver isto?
R: Falando tudo. E quanto a você?
Num relacionamento entre dois caras, rola de tudo:
A) NAMORO
B) BEIJO (BOCA, CORPO E _ _ _ _ _)
C) ABRAÇOS (PELA FRENTE, POR TRÁS)
D) CARINHOS NO CORPO INTEIRO
E) BATE PAPO
F) DORMIR JUNTOS
G) SEXO
H) SAIR JUNTOS
I) AMOR
J) SINCERIDADE
K) AFETIVIDADE
L) BRIGAS E DESENTENDIMENTOS
M) FAZER AS PAZES.
TRANSAMÉRICA FM
Não posso ficar sintonizado sempre na mesma rádio.
Não posso ficar sintonizado numa rádio que nunca entra no ar ou numa
rádio que só entra no ar de vez em quando. Não sei se fiquei
feliz ou se fiquei triste por esta noite. Só peço que não coloque minhocas na
minha cabeça. Sou muito sentimental e posso ser machucado facilmente...
1994
AMOR ELIVAN
Salvador, 10 de janeiro de 1995
Elivan,
O telefonema que você fez para mim “para
desejar-lhe um feliz natal e próspero ano novo”, deixou-me um tanto tenso e
apreensivo, para não dizer esperançoso, devido ao que nós (ou eu sozinho)
tínhamos conversado anteriormente (mesmo sabendo que sua resposta era de não
dar nenhuma esperança e de que eu desistisse de qualquer pretensão). Mas nós,
seres humanos, somos assim mesmo: por mais que estejamos vendo o óbvio, quando
não queremos, não acreditamos e ficamos com um fiozinho de esperança de que
consiga algum dia o seu intento.
Depois que estive aí em São Tomé de
Paripe, no sábado, tive, com alguma clareza, a certeza (?) de que não poderia
desistir tão facilmente de mostrar para você que meu sentimento e que minhas
intenções são puras, cristalinas, de boa fé, no anseio de poder fazer você (e
eu, é claro!), muito feliz. O que é ser feliz? Aprendi, com o passar dos anos,
que para se ser feliz, não basta estar trabalhando naquilo que se gosta; estar
morando na cidade dos sonhos; ter “amigos” e amigos; ter um conforto relativo;
poder viajar para alguns lugares sem pedir licença ou autorização; etc.
Descobri que se pode ser feliz com isto tudo, porém, dividindo cada momento de
alegria e de tristeza com alguém que possa entender a nossa linguagem; estar ao
lado ou saber que este alguém saiu mas voltará; sorrir, sabendo que alguém
também vai rir conosco; chorar, sabendo que alguém está ao seu lado para te consolar;
etc.
De que serviria os mares para os marinheiros, se
não tivesse alguém em terra firme a esperar por eles? De que serviria o cosmos,
se não pudesse ser devassado, descoberto, conquistado pelos
astronautas? De que serviria os trilhos dos trens, se não houvessem as estações
de parada, onde cada qual se encontra com quem procura?
A felicidade não é nenhum mistério: você pode ser
feliz, comigo, se quiser. E eu posso te fazer feliz, sendo feliz contigo, se
você deixar eu te amar, ou melhor, se você deixar que eu te acompanhe na busca
pelo entendimento da sexualidade humana: Os Deuses do Olimpo já viviam
usufruindo do poder de “ser ou não ser um SER limitado”, através da
sexualidade.
Ser homem é ser honesto, sincero, leal,
trabalhador, respeitador, responsável, e etc. E todo homem pode ser feliz e não
deixar de ser homem
AMOR ELIVAN
Salvador, 27 de janeiro de 1995
Elivan,
Anteontem (25.01.1995), completei cinco anos no
trabalho. No mesmo dia, minha mãe fez aniversário: 56 anos de idade! Foi também
o dia em que me casei. Felizmente hoje sou divorciado, não pago pensão
alimentícia, nem tenho filhos para sustentar. Minha mãe é aposentada e, bem ou
mal, sobrevive com sua própria renda. Mas nada disto é importante, agora. O que
quero te falar, é sobre o TEMPO, este implacável inimigo de tudo e de todos:
mesmo a pedra mais dura, à beira da praia, se desfaz em areia, com o passar do
tempo. E de nada adiantou ele resistir tanto tempo, se seu fim era previsível.
Ele poderia ter permanecido muito mais tempo em forma de pedra, se tivesse
escolhido outro local para ficar. Mas a pedra não pode escolher para onde ir,
onde ficar, pois não tem consciência, não pensa, não raciocina, não tem
sentimento. Tanto faz ela passar a eternidade dentro duma montanha, no fundo do
mar, no deserto, ou mesmo à beira da praia, sendo bombardeada infinitamente pelas
ondas ferozes enraivecidas porque ela - pedra - está ali “atrapalhando” a água
se esparramar pela areia...
Mas os seres humanos, as pessoas, são diferentes
dos seres inanimados e, por isto, podem escolher seu próprio
destino. Particularmente, já passei por experiências das quais me arrependi
depois, porém, das que mais me arrependo é daquelas em que eu não participei,
pois fui covarde. Pior do que arrepender-se é arrepender-se de NÃO TER FEITO
ALGO NA VIDA, POR MEDO DO QUE PUDESSE RESULTAR.
Sei que não é num estalar de dedos que uma pessoa
passa a ENTENDER, GOSTAR, AMAR, ACEITAR, COMPREENDER, VIVER uma experiência
como esta que te proponho. Até para mim, nem sempre é fácil. Para chegar à
conclusão de que era isto mesmo que eu queria e era assim que eu seria feliz,
pensei e repensei, para não tomar uma decisão precipitada. Mas do que mais me
arrependo, hoje, é de não ter decidido há mais tempo, pois hoje percebo O
QUANTO DE TEMPO PERDI. Você é uma pessoa inteligente, sensível, carinhosa,
gentil, e deve saber que isto não é um bicho de sete cabeças e
que todo mundo curte a vida ao máximo e sem nenhum preconceito. Talvez você
fale que para mim é mais fácil, porque sou independente, porque moro só, porque
tenho um trabalho, etc. Mas eu não consegui esta “facilidade” de uma hora para
outra. Tudo na vida se conquista aos poucos. Hoje, para mim, as conquistas (de
um modo geral: trabalho, amizade, diversão, viagens, festas, etc), são mais
acessíveis. Mas houve um tempo em que eu tinha que passar o fim de semana na casa
dos colegas de escola para estudar - e, principalmente, para filar o rango, ou
seja, na minha casa não tinha comida, então eu passava TODOS OS FINS DE SEMANA
na casa de algum colega de colégio, a pretexto de ESTUDAR, para comer
decentemente). Naquela época eu morava com minha mãe e com sete irmãos menores
de idade, em casa de aluguel, cujo aluguel era pago por pessoas caridosas.
Naquela época, eu não tinha condições nem de comprar uma sandália ‘havaiana’,
pois não tinha condições nem de me alimentar, quanto mais para outras
necessidades. Naquele tempo, vestir uma roupa nova, mesmo que fosse de “chita”
(o pior tecido que existe), era um luxo, e era raro o ano eu que eu ganhava uma
roupa nova: ganhava, sim, roupas usadas, muitas vezes roupas de adulto, que
cabiam dez pessoas do meu tamanho dentro. As roupas tinham que ser cortadas,
emendadas, diminuídas, consertadas. Enfim, às vezes uma calça recebida dava
para fazer duas ou três outras para mim.
Tudo isso é uma coisa particular minha, que jamais
será esquecido e que só falo para as pessoas em quem confio. Hoje sou
funcionário do Governo Federal, ganho razoavelmente bem, não passo necessidade
de nada, tenho minha casa própria, tenho um telefone que será instalado até o
mês de abril de 1995, posso viajar, posso fazer um montão de coisas que jamais
pensei um dia. Irei curtir o Carnaval Antecipado de Ilhéus, que será de 02
a 05.02.1995; vou curtir o carnaval daqui de Salvador; vou curtir o
Micareta de Jacobina, em abril; vou curtir o Micareta de Jequié, em maio.
Enfim, estou com todo gás, querendo viver TODO O TEMPO QUE ME RESTA. Acredito
em reencarnação, sou Espírita Kardecista, acredito em Deus, tenho
muita fé na existência de uma Força Superior que a tudo vigia e que a tudo
comanda, acredito que possa existir seres mais evoluídos que nós, em algum
lugar deste infinito universo. Mas sei também que no Brasil se vive no máximo
65 anos de idade e que me resta pouco tempo para chegar até essa idade, se eu
conseguir chegar até lá. Então, nada mais justo, nada mais correto, nada mais
certo, nada mais perfeito, nada mais coerente, nada mais exato, nada mais ideal
do que eu APROVEITAR TODO O TEMPO QUE ME RESTA E CURTIR TUDO O QUE TENHO
DIREITO. E, nessa caminhada, gostaria de estar com alguém em quem eu possa
CONFIAR, AMAR, TER COMO COMPANHIA, DIVIDIR MEUS MOMENTOS DE ALEGRIAS E MOMENTOS
DE TRISTEZAS, FAZER MUITO AMOR E CARINHO, RECEBER MUITAS PALAVRAS DE CONFORTO E
DE PROTEÇÃO, DAR MUITA ATENÇÃO, DIVIDIR MINHAS VIAGENS, PODER ESTUDAR, DIVIDIR
AS DÚVIDAS E INCERTEZAS, PODER PARTICIPAR DOS PROBLEMAS E FRUSTRAÇÕES PRÓPRIAS
DOS SERES HUMANOS, PODER ESTAR AO LADO PARA O QUE DER E VIER, PODER ESTAR
ACOMPANHANDO AO HOSPITAL - SE NECESSÁRIO, PODER COLOCAR O OMBRO NO MEU E NO MEU
COLO OUVIR DESABAFOS. Enfim, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR,
AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR...
Não sei como você pinta o seu futuro, mas imagino
que você sonha passar o resto de sua vida: se ao lado de uma pessoa gorda e
cheia de filhos, ou ao lado de alguém com quem possa contar em todos os seus
momentos, em todos os seus problemas, em todas as suas alegrias.
Não estou te oferecendo o paraíso dourado, tampouco
uma viagem de férias eternas. Só estou tentando definir os meus planos para o
futuro que poderá ser NOSSO FUTURO. Se você estiver a fim de analisar minhas
propostas, se quiser comprovar tudo o que estou dizendo, você sabe o que fazer:
tem meu telefone, meu endereço, onde me encontrar. Sei que nada se resolve de
um dia para o outro, mas gostaria de poder ter uma perspectiva do que poderá
acontecer entre nós, a fim de não ficar num estado de expectativa e de
ansiedade sem previsão de quando poderei parar de sonhar. O
tempo urge. Seria muito bom que eu pudesse contar com alguma resposta
definitiva: um lindo sim ou um grande e sonoro NÃO!
Me desculpe se estou sendo inconveniente, mas é que eu costumo ser um pouco
persistente quando sei que vale à pena tentar. Só peço que não me deixe
“falando sozinho” e que sinalize com clareza sua posição em relação a tudo o
que tenho escrito, falado e demonstrado ultimamente, a fim de que eu possa
reestruturar meus pensamentos e meus sonhos e possa, ou continuar tentando, ou
perder as esperanças de uma vez.
Procuro não uma pessoa jovem, em pleno vigor
físico, cheia de energia, bonita, por dentro e por fora, cheia de sonhos e
projetos concretos para o futuro, PERFEITA. Procuro, sim, uma pessoa sensível,
capaz de amar e de ser amada, madura (ser maduro, não é sinônimo de ser
experiente ou ser idosa, e sim uma pessoa decidida), que não seja bonita nem feia,
seja apenas sincera e leal, cheia de defeitos (como todo ser humano)... Por
acaso (?) esta pessoa é você e, se nada do que tenho tentado demonstrar te
sensibilizou ou fez você rever seus conceitos de vida, será muito triste para
mim. Não por ter fracassado numa “conquista” (pois sei e aceito a vida como uma
sucessão de derrotas e vitórias), mas ficarei muito sentido por ter que adiar
meus sonhos (projetos, não planos utópicos - fantasiosos e irrealizáveis) para
outra oportunidade, quem sabe daqui a 76 anos: o cometa de Halley passa perto
da Terra a cada 76 anos. Então, quem sabe se na próxima passagem dele pelo
nosso planeta não encontre outra pessoa pura como você?
AMOR FÁBIO
Para fábio (menino do Rio de Janeiro):
14.03.92 - Dia em que você viajou para o Rio.
Pessoa, te amo! Estou sofrendo muito com sua
despedida. Não sei se ainda voltas e a angústia tomou conta de meu coração.
Minhas forças se esgotaram. Estou desesperado, louco por notícia sua. Não sei
mais em que acreditar. Penso até que você sabia da trama da sua tia para te
mandar de volta para o Rio e não me falou a tempo. Vou viajar amanha para
Salvador e a dor e o sofrimento irão comigo. Neste momento estou ao lado do
telefone, desesperado por uma ligação sua. Já são 16:15 horas. Onde você está
agora? Está no ônibus ou em algum ponto de apoio (mini-rodoviária)? Estou
ligando para a empresa Itapemirim, pra saber quantas horas o ônibus gasta daqui
de Jequié para o Rio, pra calcular mais ou menos a hora em que você chegará lá.
Você foi no João Pessoa-Rio, às 10:30 horas e chegará lá às 08:00 horas de
amanhã. Já são 20:40 horas. Ainda estou ao lado do telefone, aguardando um
contato seu. Até agora, não recebi nenhum sinal de vida. Já liguei inúmeras
vezes para o trabalho do seu tio, no Rio, e não obtive resposta: ninguém
atende. Se você não me ligar até amanhã às 10:00 horas, vou ligar segunda,
16.03.92, para o Rio, e pegar teu endereço, para te escrever uma carta. Já são
21:15 horas e perdi a esperança de que você ligue hoje para mim.
AMOR FÁBIO
10.03.92 - Dia em que você falou que não ia mais
viajar.
Cara pessoa, a notícia que você me transmitiu hoje,
por telefone, foi a melhor que já ouvi nos últimos tempos. Não sei se fico
alegre ou se fico triste por você. É que esta viagem era tão importante para
você! Talvez seja melhor que tenha dado errado, pois não se sabe o que te
esperava lá no Rio. Agora, uma coisa te prometo: você terá em mim uma pessoa
que tentará tudo para te deixar feliz. Estarei ao seu lado para o que der e
vier, na saúde ou na doença, te apoiando e te amparando no que eu puder. Farei
de você uma pessoa feliz e tentarei me adaptar a você o máximo possível, a fim
de ser feliz contigo. Já pedi minha transferência para Ilhéus e agora é só
aguardar a resposta. Assim que eu for transferido levarei você comigo para que
possamos ter a liberdade que necessitamos para viver em paz com o mundo. Você
tem me completado e me feito muito feliz. Contigo estou conseguindo ver a vida
com mais alegria. Espero que não me decepcione no futuro e acredito que não
fará isto. Ontem, quando fui trabalhar, meus colegas perceberam que eu estava
bastante feliz e com “uma cara diferente”. Realmente, estava e ainda estou
feliz. A noite de domingo foi a melhor que já tive com você. Pode ter sido pelo
aniversário de dois meses que nos conhecemos ou porque você está percebendo que
o amor não tem fronteiras e que não importa a anatomia e sim o sentimento.
AMOR FÁBIO
17.03.92 - Como sobreviver sem respirar? Estou
enfrentando este dilema. Meu corpo e minha alma estão sendo dilacerados aos
poucos, me levando à morte prematura. Não tenho forças para lutar contra esta
adversidade da vida. Quem poderia me dar forças para resistir a tudo está a
milhares de quilômetros de mim. Até o presente momento, não recebi nenhum
contato, nenhum sinal de vida. É horrível esta situação! Insuportável!. Só o
que me sustenta é a esperança de conversar com você e me desabafar, te implorar
para voltar para mim...
Agora são 06:45 horas. Estou procurando algo para
fazer, para ocupar a mente. Só respiro você, só vivo você. E não consigo me
concentrar em outra coisa... Já são 07:30 horas.
AMOR FÁBIO
17.03.92 - O sucesso é você quem faz. Voe em
direção daquilo que você almeja. Ligar, via telecard, para o Rio de Janeiro;
Domingo, ir à praia com Valdecy; All You need; Quinta: ir ao DNER para Luís;
Terça, à tarde, passar no Orixás e Center; Comprar temperos, frutas, verduras,
margarina, bronzeador, ver passes estudantis, fazer arroz e fritar carne.
22.03.92, 20:20 horas - Você acabou de ligar e eu
não estava. Quando cheguei já tinham desligado o telefone. O que é de tão
urgente pra você ficar me ligando sempre? Já que não pode cumprir a promessa
que me fez, então acho que não resta mais nada a ser feito. De minha parte, fiz
tudo o que pude e o que não pude. Mas você sempre põe empecilhos em tudo.
Só pensa no seu bem-estar e no seu Rio de Janeiro, esquecendo-se que foi a
Bahia e os baianos quem te acolhem na hora mais difícil da tua vida. Se for pra
me humilhar mais ainda, favor não me procurar mais. Já sofri muito na vida e
não desejo mais uma cruz para carregar.
AMOR FÁBIO
23.03.92, 19:15 horas - Estou ao lado do telefone,
aguardando sua ligação. Sei que você não vai me ligar, pois não está precisando
de dinheiro. Agora você está trabalhando e estudando, morando na sua cidade
natal, não precisa de mais ninguém, principalmente de mim. Espero que em toda a
minha vida nunca necessite de auxílio de ninguém. Mas se precisar e quiser me
procurar, você sabe onde me encontrar. Só não sei se estarei eternamente
disponível. Estou conseguindo matar você dentro de mim, mesmo que parte de mim
morra junto. O que importa é que estou conseguindo superar todo este sofrimento
pelo qual estou passando. Tenho certeza de que superarei a tudo isto o mais
breve possível. Até breve. Um forte abraço e o meu voto de que você esteja bem
e que continue assim.
AMOR FÁBIO
23.03.92, às 19:25 horas - Tanto o amor quanto o
desamor são voluntários. Tanto o querer quanto o não-querer têm a mesma origem:
a vontade de quem quer que seja, ou seja, qualquer um é capaz de amar e/ou
desprezar com a mesma intensidade, simplesmente pela ação da vontade. Se não se
souber administrar toda a potencialidade que hiberna dentro de nós, corre-se o
risco de sofrer por amor/desamor ou “arriar-se os quatro pneus” por um pequeno
sentimento que nos atropelar. A cada tombo, a cada nova experiência, adquire-se
conhecimentos que poderão ser usados no futuro para caminhadas pelo roteiro do
sentimento. Aprende-se em todas as situações e momentos, o que propicia um
leque de possibilidades que nos ampliará a visão do que é “certo” ou “errado”.
Procuro a todo momento, fugir do que me liga a você, para não sofrer mais do
que já sofri até agora. Só agora é que começo a perceber que não sei se estou
conseguindo.
AMOR FÁBIO
25.03.92 - Onde está você? Muito longe e se
esquecendo de que existi na sua vida - como previ e falei a você. Estou aqui,
na Bahia - este Estado odiado por você - pronto para o que der e vier. Jamais
imaginei que eu pudesse esquecer tudo o que aconteceu entre nós. Ainda
não consegui, mas brevemente você será mais um ponto brilhando no infinito
universo de pessoas que conheci ou que tive contato mais próximo. Talvez, um
dia, você se lembre da minha humilde passagem pela sua vida e até me agradeça
por tudo o que pude fazer por você; ou talvez continue ignorando que fiz uma
revolução em sua vida - como você mesmo assumiu, ao comentar que jamais tinha
tido contatos anteriores.
Cá estou eu, remoendo os fatos passados e tentando
entender o “por que” de tanta reviravolta em minha vida, em tão pouco tempo.
Esse tempo todo em que você está longe, procurei
ser o mais correto e neutro possível, fugindo do sofrimento, mas foram inúmeros
os momentos em que não suportei e chorei copiosamente.
AMOR FÁBIO
26.03.92 - Hoje cedo tocou a música de Zé Ramalho,
“Entre a Serpente e a Estrela”, na FM-104 A TARDE, o que me fez voltar ao
passado e me recordar das loucuras que cometemos juntos. Não cheguei a chorar
mas meu espírito sentiu muita tristeza ao lembrar que você está longe, e para
sempre. Não sei se sou um masoquista ou se realmente este sofrimento é
involuntário. Só sei que sinto sua falta, e ficaria feliz se você enviasse uma
carta em atenção à nossa grande amizade. Mas é assim mesmo, e não aprendi ainda
a receber chutes em troca de carinhos.
29.03.92 - Não estou nem alegre nem triste; nem
saudoso nem esquecido do passado. Tampouco quero morrer ou viver. Estou como
sou: eternamente instável; desgraçadamente volúvel e volátil. Não quero assumir
que estou sentindo a falta de um amor recente nem ter esperanças de que outro aparecerá.
Estou pensando na cirurgia intestinal que
possivelmente terei que fazer, nas aulas da Faculdade, no curso de Secretário
de Audiências, na minha transferência para Ilhéus, em tudo de bom e de ruim.
Há um certo espaço de tempo pedi aos Espíritos que
me dessem um pouco de paz monetária e de saúde, mesmo que fosse necessário
prejudicar o lado espiritual. Agora já estou pensando em pedir pra dosarem um
pouco, pois estou passando por momentos difíceis na área espiritual. Não sei o
que quero e por isto sofro muito. Não sei procurar as pessoas certas para amar.
Amo com muita facilidade e sofro demais. A pessoa que está no Rio de Janeiro me
ligou ontem e, pela terceira vez eu não estava em casa quando atenderam o
telefone. Sabia que não voltaria mais a ligar ontem, mas esperei até sempre.
Hoje irei à praia, mas só sairei de casa às 09:00 horas, esperando que me ligue
até esse horário. Com certeza não ligará, mas me iludo assim mesmo. O que posso
fazer para deixar de ser burro? Hoje faz quinze dias de sua viagem para o Rio e
parece que foi ontem: ainda sinto a mesma emoção que senti quando da partida.
Sofro por sentir muita afeição e por considerá-la a melhor pessoa que conheci
até agora. Por isto fico tão preocupado com o que poderá estar lhe acontecendo
agora. Na FM-104 A TARDE Júlio Iglesias canta. É o fim.
AMOR FÁBIO
Estou em Salvador, na Avenida Oceânica, 700/203.
Ontem estive ao telefone durante mais ou menos meia hora. Falei com alguém que
há muito tempo não vejo. Foi o pior telefonema que recebi em toda a minha vida.
De tão ruim, tive que desligar. Mas a pessoa insistiu e religou, pra acabar seu
recado: me humilhar e pedir pra nunca mais procurá-la, pra esquecer tudo o que
aconteceu entre nós, esquecer seu telefonema, seu endereço, tudo. Eu já
esperava que isto acontecesse. Só não esperava que a pessoa cuspisse tanto na
Bahia. Falou da Bahia como se fosse um não-sei-o-que, dizendo que aqui não é
terra pra se morar, que aqui é terra de mateiro (idiotas), que aqui não presta,
etc. Nada disto me chocou. Eu já estava preparado para tudo e não surpresa
nenhuma. A única coisa que pude responder foi que a vida dará uma resposta bem
dada a tudo isto. E que estarei no camarote pra aplaudir ou pra ter piedade,
dependendo do caso.
30.03.1992 Às 06:50 hs
AMOR FÁBIO
A arte de viver é a arte de amar.
Cada dia é como se fosse um filho.
(Morre um dia e nasce outro dia. Morre um filho e
nasce outro filho).
Mas nem por isto os filhos/dias são iguais. Nem por
isto ama-se todos os filhos por igual. Cada momento tem o seu valor. Cada
abraço tem o seu calor. E cada dia é uma mera repetição de outro dia. Mas nem
por isto é chato viver. Temos somente que não nos entediarmos das repetições.
Ateliê de Garcia, 05 de fevereiro de 1992
AMOR FÁBIO
Agora já são 06:55 horas do dia 15.03.1992, dia do
meu aniversário. Estou aguardando seu telefonema que até agora não chegou.
Já são 09:00 horas. Faltam duas horas para eu
embarcar para Salvador. Até agora você não ligou. Estou chorando
desesperadamente, feito um louco. Não consigo me controlar. Já liguei para a
Rodoviária daqui, para todos os ‘pontos de apoio’ da Itapemirim, tentando
localizar o ônibus para dar um recado a você: Te amo!
1 a 5 da manhã - 75% de desconto nas ligações
interurbanas, qualquer dia. Minha ida pra Ilhéus é irreversível. Com ou sem a
presença de FSS. Sentirei muitíssimo a falta desta pessoa, pois a amo demais.
Porém, terei que sobreviver sem o ópio que é sua presença. Ópio este que já me
viciou e do qual dependo para viver. Chega momentos em que imagino que você não
gosta mais de mim e que não quer me ver nunca mais. Mas ao mesmo tempo sei que
estou pensando errado e que estou sendo injusto contigo. Neste momento são
22:15 horas do dia 16.03.92. Ainda estou acordado, ouvindo música e
pensando em você. Toda vez que passa a música tema da novela das oito
(Entre a Serpente e a Estrela - Zé Ramalho), lembro-me de você, no meu
quarto... Pelo amor de Deus, não me abandone! Não resistirei muito tempo sem a
sua energia. Estou chorando, sem consolo algum, pois você sabe que somente você
é quem me faz feliz. Como eu gostaria de que você estivesse aqui comigo, neste
momento, meu amor. Estou me esvaindo em lágrimas, sumindo, evaporando, de amor
por você. Por favor, me ligue amanhã. Vou te ligar pela manhã, não deixe de me
atender, por favor, ok?
Sabia da viagem? Depositei dinheiro. Endereço para
cartas. Telefone para contato. Documentos. Volta quando? Sente falta? Já liguei
mil vezes. Quem autorizou a viagem? Posso ir nas férias? Ligou para Jequié? Me
escreverá? Quando volta a ligar?
AMOR FÁBIO
As palavras que você me falou foram as mais belas
que já ouvi até hoje. Você está me fazendo o cara mais feliz do mundo. Não sei
como vou enfrentar a separação e o dia-a-dia quando você me abandonar e fugir
para o Rio. Saiba, porém, de uma coisa: você está jogando fora uma oportunidade
de ser feliz e de um amor verdadeiro.
28 de fevereiro de 1992, às 21:55 horas
AMOR FÁBIO
At this moment I’m not very lonely. I’m never
lonely. I’m always with You by my side and in my heart. My name is Valdeck
01 de fevereiro de 1992, às 20:30 horas
AMOR FÁBIO
Bayrosca
Estamos em contagem regressiva para a despedida
final. Já levei muitos “fora” pela vida a fora e não será o seu abandono que me
derrotará. De tanto sofrer, a gente se acostuma e o coração cria “calos”. Vou
sofrer muito com a separação mas vou saber esquecer a dor com facilidade. Só
espero que você não se arrependa desta atitude infantil, pois não haverá
facilidade para um recomeço. Sua vida continua e a minha também. Ambos
seguiremos rumos ignorados.
1992
AMOR FÁBIO
PROJETO 30 ANOS DE POESIA (Galinha Pulando)
Car & Oca
(Por alguém)
O contato se dá, via satélite.
De fone a fone, ligação local.
Conversas, conversas, nós atados.
E o encontro fatal é marcado.
Horário, local, data:
Tudo é combinado.
A senha será a seguinte:
“Que hora é esta?”.
A resposta certeira vem:
“A mesma de sempre”.
Daí se abre um sorriso...
Bate-papos, cerveja, olhares
Contato fatal no campo
E a emoção fala mais alto.
Ateliê “Artes & Manhas”, Jequié, 09 de janeiro
de 1992, 17:55 horas
AMOR FÁBIO
Eu (por mim mesmo)
Jamais pensei que você fosse tão frio
Dei tudo de mim pra te fazer feliz
Me virei em dois para ser só seu
Pisei nos princípios meus pra te proteger.
Gastei o que podia pra te ajudar...
E você dizia que gostava de mim
Falava que iria comigo pra Ilhéus
Me fazia pensar numa vida a dois
Me fez pedir transferência do trabalho,
Pra te dar aquilo que não tive...
E hoje você me troca por uma escola de Mobral
Fala que a Bahia não é terra pra se morar
Diz que jamais voltará aqui
Cuspindo no prato que te deu vida e amor
Esquecendo-se do ombro que te ofereci.
Não quer que eu te escreva
Não quer me telefonar
Não quer minha visita
Tem vergonha de mim.
Só espero que não precises
Voltar à Bahia
Pois aqui achastes abrigo
E em mim, um grande amigo
Que te amparou e te deu carinho
E agora dás uma facada nas costas.
Mas como gosto de você
Quando estiveres em dificuldades
Me procure com urgência
Que te darei o meu ombro
E te ajudarei no que puder.
19 de março de 1992
AMOR FÁBIO
Fábio:
Paulistas e cariocas
Nascem, crescem,
Envelhecem e morrem...
Mas algo fica
Em algum lugar
Que os eterniza.
Jequié, 09 de janeiro de 1992, Ateliês “Artes &
Manhas”
AMOR FÁBIO
FSS
Fazer amor contigo é bom
E sinto que você começa a gostar também.
Aos poucos alcançaremos a maturidade.
Só espero que não me cative
E depois fujas para outra cidade...
Não pensei ainda como vou enfrentar
A longa distância que nos separará.
Apenas finjo que jamais chegará a hora
Em que terei que te dizer adeus...
Jequié, 05 de fevereiro de 1992, às 16:30 horas
AMOR FÁBIO
Fábio:
Já são 07:30 horas. O pessoal do apartamento está
saindo, cada qual para seu destino. Daqui a pouco estarei sozinho, neste mundo
de espaço, sozinho... Minha solidão será imensa e muito mais imensa pois não
estarei contigo ao meu lado. Estou ouvindo rádio, absorto em meus pensamentos e
remoendo meu passado. Preocupado com meu futuro. Desesperado com o meu
presente. Estou beirando as raias da loucura, passando do limite da sanidade
mental. Meus pensamentos estão embaralhados. Não sei o que quero nem o que não
quero. Só sei de uma coisa: quero você. Meu remédio e meu veneno, é você, meu
amor! Venha me consolar, pelo amor de Deus. Nunca fui devoto de Santo algum.
Mas agora, até nisto penso. Talvez eu acenda uma vela para São Cosme e São
Damião, implorando-lhes que me traga você de volta.
07:55 horas, estou pensando em você.
AMOR FÁBIO
Hoje é 17.03.92 - Amor, hoje foi a tarde e a noite
que tive um pouco de paz. Pelo menos agora já tenho seu endereço e já escrevi
uma carta para você. Estou mais calmo e até dei umas voltas pela cidade, para
variar. Neste momento são 22:50 horas. O telefone está desocupado mais sei que
você não vai me ligar uma hora destas. E talvez não ligue nunca mais. Já estou
tentando entender sua situação e seu lado. Mesmo assim, continuo sonhando com
você ao meu lado; embaixo da ponte; no meu quarto; nas casas em construção do
Loteamento Itaygara; no muro do IERP. Agora dei vontade de chorar e meu peito
apertou. Vou colocar a carta no correio amanhã. Talvez você a receba ainda esta
semana e talvez eu receba a resposta na próxima semana. Como eu gostaria de
poder conversar com você neste momento, te fazer um carinho, te beijar, te
acariciar, te afagar, fazer amor contigo! Daria minha vida para ter você por
alguns momentos. Meus planos de ir para Ilhéus com você continuam de pé. Mesmo
que eu não consiga uma casa para comprar de imediato, ficarei morando
provisoriamente em casa de aluguel. E farei de tudo pra fazer de você a pessoa
mais feliz do mundo. Já são 23:00 horas e meu sono ainda não chegou. Agora à
noite e pela manhã, liguei para Jequié para saber se você tinha ligado para
mim. Você até agora não deu nenhum sinal de vida. O que aconteceu com você?
Será que já se esqueceu de que eu existo? Ou são dificuldades para telefonar ou
escrever?
AMOR FÁBIO
Hoje são 18.03.92. Acordei com vontade de fazer
amor com você, com vontade de chorar e com um aperto no coração. Estou
ansioso e triste.
AMOR FÁBIO
I call you up at nineth day. We talk to each other
for a long time.
No dia nove de fevereiro completa um mês que te
telefonei pela primeira vez. O primeiro encontro se deu por interesse
financeiro? Foi apenas curiosidade ou carência afetiva? Não quero morrer cedo
nem causar-te aborrecimento. Por favor, quando ocorrer um contato extraconjugal
avise-me com antecedência. Não vou tornar-te teu inimigo mas terei que me precaver
muito mais, ok? Por favor, não vá embora sem me dar um endereço ou telefone.
Hoje são 02 de fevereiro de 1992, 22:12 horas. Meu
quarto.
AMOR FÁBIO
Jequié, 14 de março de 1992.
Pensei que fosse feliz, ou que estava com a
felicidade nas mãos. Enganei-me redondamente. O destino me golpeou rudemente e
esta traição foi tão traiçoeira, que não tive tempo para respirar.
Neste momento, me sinto com força para escrever,
mas não tenho forças para reagir a nada. Estou completamente sem energia.
Ontem foi a última vez que tive você e não sei se
suportarei esta dor que me dilacera e que me arrebenta por inteiro. Não sei
como vou enfrentar a distância e a ausência de sua energia em mim.
Rezo para que este momento de dor seja passageiro e que brevemente você
esteja ao meu lado, me dando força para sobreviver neste mundo maldito e
insano.
Você foi a pessoa que me completou e que me deu
vontade de viver um pouco mais. Não sei se suportarei mais este golpe do
destino. Mas farei tudo que puder para que eu consiga, a fim de esperar que
você chegue e me encontre ansioso e feliz.
Espero que você seja feliz por onde estiver e que
tudo dê certo em sua vida. Você merece! Mas ao mesmo tempo, peço a Deus que
você volte logo, pois não saberei sobreviver sem seu cheiro, seu corpo, seu
amor, sua voz, suas mãos...
De alguém que te ama muito...
Para FSS/RJ
AMOR FÁBIO
Jequié, 20 de fevereiro de 1992
Cara pessoa,
Neste momento, são 20:30 horas. Estou no meu
quarto, tentando controlar meus sentimentos e não chorar, mas não consigo. As
lágrimas descem rolando pelo rosto e não posso impedir.
Te conheci faz um mês e poucos dias, mas já gosto
de você como se te conhecesse há muito tempo. Infelizmente seu destino é ir
para o Rio de Janeiro, um Estado tão distante. Em pouco tempo não haverá mais
nenhum laço nos ligando e jamais se lembrará de que me conheceu aqui, no
interior da Bahia.
Quem me dera poder ir com você para o Rio. Ficaria
lá, contigo, para te ajudar a conquistar tudo o que você sonha na vida. E eu
iria fazer tudo para me acostumar a viver no Rio para poder ficar perto de
você. Infelizmente, não posso te dar nada de recordação de mim. Mas acho que os
poucos momentos em que passamos juntos, foram suficientes para deixar pelo
menos uma pequena marca em você. Neste momento, estou chorando.
Gostaria muito de passar estes últimos momentos perto de você. Estou com
vontade de telefonar para você, mas não quero te atrapalhar. Agora me lembrei
do primeiro encontro: no Bom Gosto, você com a camisa cor de abóbora, com
desenho fluorescente, calça jeans e tênis colorido. Você me perguntou: “Que
horas são?” e respondi: “A mesma de sempre”.
Você me falou que vai para o Rio no próximo dia 15
de março de 1992. No dia 15 eu farei aniversário. E o pior presente que vou
receber é a sua despedida.
Espero que tudo dê certo para você e que todos os
seus planos se concretizem. Mas se por algum motivo, ocorrer algum imprevisto,
saiba que estarei aqui ou em Ilhéus te esperando para te ajudar no que eu
puder, ok?
Não se esqueça de me mandar, pelo menos, uma carta
por ano, tá?
AMOR FÁBIO
Não fui para Ilhéus para poder ficar mais um pouco
contigo. Eu não ficaria feliz me divertindo no Carnaval e te deixando aqui, tão
longe de mim. Eu queria te abandonar antes que você fosse para o Rio, para não
sofrer muito. Mas quando te vi hoje, me rendi e quis você, mesmo que fosse por
mais ‘alguns minutos’... Vou sofrer quando você partir (se partir) mas não
quero sofrer por antecipação.
28 de fevereiro de 1992, às 22:10 horas
AMOR FÁBIO
Salvador, 16 de março de 1992
Querida pessoa,
Neste momento estou participando de um curso de
Secretário de Audiências, no prédio do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª
Região, em Salvador/BA. Durante toda a aula, fiquei desatendo de tudo o que
ocorria na mesma, só pensando em você. Não pensei que fosse tão
difícil ficar longe de você. Agora é que sinto como gosto de você. Hoje já
liguei várias vezes para você e não consegui sequer uma notícia de que você
esteja bem. Liguei cedo para o trabalho do seu tio, ele não estava, deixei
recado. Voltei a ligar mais tarde, falei pessoalmente com ele. Ele falou que
você não tinha ido ainda à casa dele. Mas me deu os telefones de sua irmã e de
sua cunhada. Anotei tudo com muita atenção. Dei a ele o número do meu telefone
aqui em Salvador, esperando que ele tenha algum contato contigo e que te dê o
meu endereço para contato. Não estou suportando esta angústia que toma conta do
meu peito. Estou com o coração apertado. Ontem não almocei e ainda não fiz
nenhuma merenda. Estou em estado de depressão. Estou enlouquecendo, ficando sem
saber o que fazer da minha vida. Já liguei várias vezes para Jequié, para saber
se você já ligou para mim, mas até agora, não obtive nenhuma resposta positiva.
Onde você está, meu amor? Por favor, não permita que eu fique louco. Estou
querendo ir passar o mês de abril aí no Rio, contigo. Não aguento mais de
saudade. Espero que você não tenha se esquecido que eu existo. você sabia que
ia viajar, ou foi realmente uma surpresa que sua tia fez para você?
Obs.: Não enviei esta carta.
AMOR FÁBIO
Salvador, 26.03.92 21:00 horas. Estou acordado e
vivo, ainda. Não sei se sobreviverei aos trancos da vida. Não estou sentindo
nenhuma dor nem sintoma de doença alguma. Mas é quase certo que tenha que fazer
uma cirurgia, digo, uma nova cirurgia no intestino. Tenho que renovar o
convênio com a Sulamérica para fazer uma série de exames que indicarão ou não a
necessidade de uma intervenção cirúrgica. Mas não estou preocupado nem
apavorado com nada disto. Só me preocupo é com esta distância que nos separa e
me dilacera o peito, o espírito e a alma. Aliás, nem isto está me perturbando
tanto. Nem a morte me aborrece neste momento. Estou quase convencido da
necessidade da morte. Apesar de achar a vida um saco e a morte outro saco ainda
maior. O curso de Secretário de Audiências termina no dia quatro de abril e
possivelmente irei embora no dia cinco ou seis.
AMOR FÁBIO
Salvador, 31 de maio de 1992
Olá pessoa desconhecida. Tudo bem com você? Por
aqui, tudo está ótimo! Graças a Deus e aos Espíritos, estou conseguindo te
esquecer e estou aguardando que a vida te dê uma reposta muita boa,
dentro em breve. Assim que a vida te der uma lição de moral, você vai
se lembrar de tudo o que falei e vai me procurar para pedir desculpas. E
estarei aqui, como sempre, disposto a perdoar-te.
A mesma Bíblia que você alegou para me dar um
pé-na-bunda, é a mesma que cito (Livro de Samuel, I e II, Capítulo 18) para
provar que tudo o que fizemos é permitido e é legal. Procure estudar mais um
pouco pra enxergar que a vida tem várias faces e todas elas legais e de acordo
com a Bíblia.
AMOR FÁBIO
Sei que tudo é passageiro
Mas iludo-me com a eternidade
De tudo o que me proporcionas.
Só não estou preparado para a queda abrupta
Que possivelmente sofrerei em breve.
Jequié, 05 de fevereiro de 1992
Sou o cara mais feliz do mundo. Mesmo sabendo que
vou te perder, para sempre.
28 de fevereiro de 1992, às 22:30 horas
MALUQUICE
PODER DA FORÇA DE VONTADE
TRIBUNAL REGIONAL DA AMIZADE - 1ª REGIÃO
JUSTIÇA DO SENTIMENTO
PROCESSO Nº 001.99.9000-90
Aos quinze dias do mês de março de 1992, às 10:00
horas, na Sala de Emoções da 1000ª Junta de Encontros e Namoros, presente
o Sr. Juiz Presidente e Juízes Auxiliares, foram chamados para um
bate-papo o casal ANDRÉ CAJARANA, reclamante, e CARINA GUADALAJARA MEXICANA,
reclamada. Presente o primeiro e ausente o segundo litigante. Ante a ausência
da ré, foi dito pelo Juiz Presidente que, após consultados os demais
componentes da mesa, a Junta passou à prolação da seguinte DECISÃO: O
reclamante propôs à reclamada, no dia 11 de fevereiro de 1992, um bate-papo
que, futuramente, poderia se concretizar num namoro firme ou em algo mais
sério. O salário acordado seria de quantos beijos e abraços a reclamada pudesse
dar ao reclamante, além de compreensão, carinho, muito afeto e, principalmente,
amor sincero e leal. O horário de serviço seria em tempo integral,
principalmente aos sábados, domingos e feriados nacionais. No dia 14 de março
de 1992, o reclamante foi injusta e covardemente dispensado, justo na véspera
de seu aniversário, sem receber nenhuma garantia de retorno aos braços de sua
amada. Chamada à conciliação, a reclamada ofereceu Resistência e negou-se a
reconhecer os laços amorosos que a unia ao autor, fazendo ingressar nos autos
documentos comprobatórios de sua ligação (reclamada), com outra pessoa. O
reclamante impugnou os referidos documentos, alegando e provando sua falsidade,
dos quais requereu perícia, ficando constatado que os mesmos foram preenchidos após
a despedida, para forjar uma situação constrangedora a seu respeito. Foram
ouvidas 200 (duzentos) testemunhas, e todas elas foram unânimes em declarar que
a reclamada maltratava por demais o reclamante, inclusive negando-lhe carinho e
sempre o insultando com palavras impublicáveis, não lhe dando oportunidade de
defesa, nem querendo receber abraços e carinhos do reclamante. A Junta
constatou a veracidade dos interrogatórios, principalmente porque todos os
testigos moravam no mesmo prédio em que os litigante, sendo inclusive colegas
de trabalho dos mesmos, fazendo viagens de temporadas juntos, indo todos os
fins de semana à praia. É O RELATÓRIO. 1. Do aviso prévio eterno, com
direito a amor todos os dias. Tem razão o querelante, pois a reclamada não se
desincumbiu do ônus de provar o alegado “pedido de demissão” citado na
contestação, a teor do art. 10.000, da Lei nº 900.000, de 20.01.1901.
DEFERE-SE. 2. Horas extras de amor intenso. A reclamada alegou, no item
500 da contestação, que o obreiro nunca saía de casa depois das 15:00 horas,
nem chegava antes das 21:00; que o reclamante não comparecia em sua residência
aos sábados, domingos e feriados. Mas no depoimento de 500 (quinhentas) das 200
(duzentos) testemunhas arroladas, nota-se que a afirmativa da ré não só é
falsa, como completamente carente de fundamento. Afirmaram as testemunhas que
“o reclamante não saía da casa da ré de forma alguma, a não ser em companhia da
mesma”. As testemunhas da reclamada confirmaram tudo, pelo que se defere o
pedido. 3. Fundo de garantia de poder voltar com energia de mais 40%. Tem razão
o requerente. De acordo com a Lei nº 800.000, de 31 de fevereiro de 1900,
versículo 720, “todo e qualquer ‘futuro amante’ que for despedido injustamente
de seu leito conjugal, merece voltar com carta total e receber a diferença
pelos dias atrasados. DEFERE-SE. 4. Décimo terceiro beijo. O reclamante tem
razão quando invoca os fundamentos legais do matrimônio ao cobrar o 13º beijo,
pois nenhuma pessoa está desobrigada de observar este preceito. De acordo com a
jurisprudência, o Décimo Terceiro Beijo é devido, também, no “caso amoroso” sem
fins lucrativos (Recurso de Revista e Recurso de Jornal nº 400.000/34, do
A. Tribunal Superior do Amor, 1000ª Turma, Ministro CORREI PRA MIM, “in”
Compêndio das Técnicas de Acasalamento, página 6700, 781ª edição, Editora dos
Feitos Amorosos por Debaixo do Pano, São Paulo, 1970). DEFERE-SE. CONCLUSÃO.
Isto posto, resolve a Junta, unanimemente, julgar a presente reclamação
COMPLETA E TOTALMENTE PROCEDENTE, para condenar o reclamado no pagamento dos
pedidos deferidos na fundamentação, no prazo de lei, tudo corrigido, sob pena
de ser decretada a sua infidelidade e ser condenada à prisão perpétua. Custas
de 1.000.000 de beijos, calculada sobre o valor incalculável da causa. Para ser
do conhecimento da futuras gerações, foi digitado no computador de Mônica
Barroso, por Valdeck Almeida de Jesus.
JUIZ PRESIDENTE
JUIZ DA CLASSE
LARGADA
JUIZ DA CLASSE LARGADORA
AMOR VIRTUAL
Negão da Garibaldi
PROJETO 30 ANOS DE POESIA
Fone Virtual
(Projeto Madio Editora)
Tua angústia me fez parar
Refletir mesmo sobre minha vida:
Se valia a pena continuar sozinho
Sofrendo, sem ninguém, na lida...
Teu desespero me deu novo alento
Me fez sonhar em ser teu remédio
Transformar nossa vida num sonho
Mandar pra longe todo esse tédio.
Desejei estar ao teu lado sempre
Te amando, e também sendo amado
Ficar contigo, em todos os momentos
Ter você sempre ao meu lado.
Dormi contigo, no meu travesseiro
Amei você, nos meus pensamentos
Te dei carinho, amor e alegria
Transformei em alegria nossos lamentos...
Afaguei teu ego, tua alma, teu ser
Recebi em troca carinho e emoção
Pensei em conquistar tua amizade
Acabei conquistando o teu coração.
Sonho ter tua vida na minha
Te amar com sinceridade
Estar contigo para todo o sempre
Com amor, carinho e muita verdade...
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador, 30 de novembro de 1995.
(Faltando três dias para te conhecer).
AMOR BARRACA DE PRAIA
Para Gel:
(Projeto Madio Editora)
À ilusão real
Não sei se és uma Deusa do Olimpo
Ressuscitada do abismo
Ou se és um simples ser humano
Nascida na capital baiana;
Uma escultura bem planejada
Ou obra do acaso que a esculpiu;
Etérea e abstrata
Ou concretamente real!
Ou sejas ou não sejas,
Toquei e te senti
Te senti vibrar de tesão...
Sendo sonho ou ilusão
Só sei que me lembro
De sua ofegante respiração!
Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, 22 de março de
1992
Barraca Beijoca, Patamares
REFLEXÃO
Sou constantemente inconstante
(Projeto Madio Editora)
Nada me preenche
Nada me afoga
Sou cheio de vácuo
Nada me completa
minha repleta ânsia
minha eterna ganância
Nada me totaliza
pois sou mal agradecido
quanto mais eu tenho
mais eu quero ter
quanto mais me encho
quero me encher
quanto mais sufoco
quero sufocar
vou acabar vazio
sem me completar
26 de março de 1992
Barraca “Beijoca”, Patamares, Salvador/BA
AMOR BARRACA DE PRAIA
À ILUSÃO REAL
Pensei que fosse uma miragem, daquelas que nos
deixa maluco; Pensei que fosse a uma ilusão, daquelas que nos enlouquece;
Pensei que fosses uma loucura, que nos permitem ver o futuro; Peusen, penseu,
pesnsea, loucura geral na minha coordenação motora: só penso em você
diuturnamente, e assi,. meus dedos tremem, minha cabeça sacode, meu corpo
delira e minha língua deseja a tua me roçando.
Mas sei que não és real, sei que é uma miragem
apenas...
Sei que és real, e por isto, fico alucinado em
sentir que jamais terei você em meus braços, com todo o tesão que merecer nesta
e n’outra encarnação. Vou viver eternamente pensando em você, deixando de
viver, para viver a tua vida...
Seu amante e seu louco apaixonado.
Valdeck, SSA/BA, 30 de abril de 1992
À Ilusão Real
Pensei que fosses uma miragem, daquelas que nos
deixa maluco; Pensei que fosses uma ilusão, daquelas que nos enlouquece; Pensei
que fosses uma loucura, que nos permite ver o futuro; pensei, pensei, pensei,
loucura geral em minha coordenação motora: só penso em você diuturnamente, e,
assim, meus dedos tremem, minha cabeça sacode, meu corpo delira e minha língua
deseja a tua me roçando.
Não sei se és real, sei que és uma miragem,
apenas...
Sei que és real, e por isto, fico alucinado em
sentir que jamais terei você em meus braços, com todo o tesão que merecer nesta
e n’outra encarnação.
Vou viver eternamente pensando em você, deixando de
viver, para viver a tua vida...
Seu amante e seu louco apaixonado: eu
Salvador/BA, 30 de abril de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Para Grey de Jacobina:
Ilhéus me espera
de braços abertos
não sei se sinceros
ou se com mentiras
só sei que me espera
com braços abertos
Querendo me apertar
com braços abertos
não sei se sincero
ou se com mentiras
só sei que me espere
de braços abertos
E lá estarei
de braços abertos
querendo abraçá-lo
de braços abertos
não sei se sincero
ou se com mentiras
só sei que irei
de braços abertos.
10 de junho de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
“Enquanto você se esforça pra ser um sujeito
normal” eu ultrapasso meus limites pra ter um minuto com você.
Jequié, 14 de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
“Fazendo bilhetinho,
hei?” (Tininho)
14 de agosto de 1992.
Vexame por você. Tudo por você. All for You (Rustikus do Cilion)
AMOR GREY DE JACOBINA
“O que tem de ser
será” - Edvaldo.
“Mas se a gente não se
esforçar pra ser, nunca será” - Você
“Fiquei pensando o dia
todo na proposta que você me fez” - Você
“Se depender de mim,
será eterno e farei tudo pra dar certo” - Eu
“Fico com medo de
partir pra outra e quebrar a cara de novo” - Você
O amor é louco - não
tem lógica, não tem certezas, não tem hora marcada com ninguém.
Se quisermos,
realmente, seremos felizes.
Manhã do dia 11.07.93
AMOR GREY DE JACOBINA
“Talvez” ela te tenha
vinte e quatro horas por dia. Mas “talvez” não te tenha tão verdadeira e tão
intensamente quanto eu te tenho.
Casa de Edvaldo,
Jequié, 07.07.93, 12:00 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
“Você dentro de mim” -
Roberta Miranda
“O amor não tem sexo”,
“Dentro de mim não há mais lugar pra dor ou emoção passageira”.
..
Sei que quero você e
que tudo em você me agrada. Mas não sei até que ponto você faria concessões pra
me ter ao seu lado.
Também não sei até
onde eu iria pra ter você comigo (ao meu lado). Te desejo e te adoro.
Jequié, 07 de agosto
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
16:55, 18.07.1993,
Lanchonete Payayá, ExCinema Payayá, Jacobina/BA.
Sua liberdadeVá: Voe! Suas asas
estão sob seu comando.
AMOR GREY DE JACOBINA
300.000 (trezentos
mil cruzeiros)
Vivemos loucuras
juntos:
Exposições, Valdir,
Micareta,
Ilhéus, Meu quarto,
Moto,
Casa de Mônica, Sua
casa,
Salvador, Olivença,
Avenida Oceânica,
BRASIL.
Valeu à pena?
Continua valendo?
Sofremos ou Gostamos?
*
”Valdir”: apelido do “Restaurante Só na Brasa”, de Valdir.
Aqui estou, aberto ao
diálogo.
Meu quarto, 19.08.92
A - P - MARC
comida
roupa
Sr. do Bonfim
Salvador
Kiss boca
el - conselho
fotos
beer
fone
passagem de volta
faculdade.
Qualquer dia e hora,
em Jequié
AMOR GREY DE JACOBINA
A dança do
acasalamento
Recebi uma ligação
sua, hoje. Não sei mais o que fazer para não enlouquecer. Você, quando parece
tão longe, se aproxima de mim, me fazendo tremer nas bases. O compromisso que
você assumiu com o outro corpo (para fazer um terceiro corpo) parece que desestabilizou
o nosso compromisso, a despeito de você falar que “nada vai mudar”. A gente
pensa que nada vai mudar, mas sabemos que não é bem assim. Nós somos tão
amigos, e isto é o que mexe comigo: se fôssemos inimigos, seria mais fácil nos
esquecermos um ao outro (esquecer de tudo o que rolou entre a gente, entre
quatro paredes e em tantos lugares). Não posso exigir de você que pare de beber
nem que mude seu jeito de ser pois te conheci assim e te quis e te amei assim.
O que me apavora é que sinto que estamos nos dizendo ‘adeus’ (como depois que
afundamos e que você nadou pra se salvar e eu fiquei pra morrer). Pensei que eu
fosse ser feliz vindo pra Salvador, que tudo ficaria mais fácil. Parece que
complicou tudo. Naquele mar que queria me engolir eu via o sol brilhando.
Agora, a salvo, da janela do apê, olho e vejo o céu nublado e a chuva caindo. É
deprimente. Agora penso na viagem que farei a Jequié (para votar no Plebiscito)
como se fosse pra uma cidade turística. Penso em você como algo (um ser humano)
que passou e ainda está na minha vida; te tempo como alguém especial; te lembro
com tristeza (agora choro tua falta). Não sei o que é amor. Só sei que sinto
uma angústia por estar perdendo você. Se sua família e a minha tomasse
conhecimento do que acontece entre nós, não mandaria você vir morar comigo nem
eu ir morar contigo. Será que você não merece ser feliz ou sou eu quem não
merece? Você vai me trocar pelo seu filho? Eu vou trocar você por um
desconhecido?
Tchau!
Salvador, 18.04.93, 1420 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
Afundei no mar
contigo
Pois o mar engoliu o
caiaque.
Morri, cheguei ao
fim.
Morri no sábado
E você chorou.
Depois acordei em
casa
ainda vivo, mas
machucado.
E no domingo morri:
Você me deu a
sentença:
“Não me procure mais,
esqueça tudo o que
aconteceu”.
Não morri no sábado
mas morri no domingo.
Salvador, 12 de abril
de 1993
AMOR GREY DE JACOBINA
Agora
estou
fugindo de mim mesmo.
fingindo não querer
tentando não sofrer
correndo de você.
Será que tudo foi um
engano
ou foi coisa do
destino?
Será que eu quis você
ou pensei que quis?
Será que quero ainda
ou será que você quer
ainda?
VAJ, 13 de agosto de
1992, meu quarto.
AMOR GREY DE JACOBINA
Agora estou carente
de teu tesão
Sedento de tua
energia
louco pra transar contigo.
Só quem me preenche é
você
Só quem me excita é
você
Só quem me invade é
você
Só você me faz sentir
prazer
Só você me deixa
assim...
Sem sono
sem rumo
sem destino
sem noção
LOUCO
POR
VOCÊ.
Jequié, 07 de agosto
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Agoraeu sei que te quero
(Projeto Madio
Editora)
não sei se amanhã...
só sei que sinto que
te amo
e que estou meio
mentiroso
e meio verdadeiro
só sei que agora
estou escrevendo
pra você ou para mim.
São palavras soltas
que não dizem nada
não querem dizer
nada.
Palavras pobres de
significado.
For Jacob, 07 de
agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Agora pela manhã:
Acordo com músicas
românticas;
Ligo a TV: Basquete!
Minhas conversa de
ontem: você;
Minhas poesias de
agora: advinha!
Penso agora nisto:
sua vida amanhã,
pegar algo que ficou
em Jequié;
Olho para todo e
qualquer lado:
Você está na parede,
na porta,
no forro, no piso, no
ar...
Até quando vou sofrer
por não poder ter você,
por não ter o teu
amor?
Do amigo, 26.07.92
AMOR GREY DE JACOBINA
Amor com Ilhéus
Cheguei aqui
E Ilhéus estava
dormindo.
Mas seu sangue
circulava
suas veias pulsavam,
seu coração batia,
seu cérebro
maquinava, silenciosamente.
Eu acordei Ilhéus,
fiz amor com Ilhéus
e o despertei.
Ilhéus me amou, me
deu prazer, aumentou meu tesão
e explodiu em orgasmo,
junto comigo.
Que pena que viajarei
e deixarei Ilhéus aqui, em Ilhéus...
Se pudesse,
transplantaria Ilhéus para perto de mim...
12 de abril de 1992,
Ilhéus/BA, Praça Cairu, 02:45 horas.
Para GSS, na viagem
que fizemos, juntos, a Ilhéus.
AMOR GREY DE JACOBINA
Aqui estou
esfacelado
deprimido
derrotado
humilhado
subjugado
acabado
destruído
abalado.
VAJ, meu quarto, 13
de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Aqui o tempo não
parou
os relógios não
marcam horas
o sol não se põe
A noite não chega
o vento não sopra
Tudo parou
esperando você
chegar.
Jequié, 08 de agosto
de 1992
...................................
O amor não tem sexo.
O sexo não tem amor.
Cada passo rumo ao
nada é um passo para a morte.
07 de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Caro amigo Grey de
Jacobina,
Você sabe o quanto eu
gosto de você. Até minha transferência para Ilhéus, na oportunidade em que
consegui, desisti pensando em você (naquela oportunidade você estaria se
mudando para Jacobina), o que dificultaria sobremaneira a comunicação entre
nós) e pensando em ficar mais perto um do outro. Depois tentei me transferir
para Jacobina como você sabe, só não concretizando o meu pedido de remoção pois
você disse que se eu fosse para lá dificultaria a sua vida, pois seus pais poderiam
desconfiar de alguma coisa. Em consideração ao você eu desisti da idéia de ir
para Jacobina (mesmo sabendo que Jacobina era menor que Jequié, não pus isto em
conta quando da minha decisão de querer ir para lá - eu sempre quis ir morar
numa cidade maior que Jequié). Depois, sabendo que não havia mais retorno seu
de Jacobina para Jequié (você mudouse definitivamente para sua terra natal), e
sabendo que seu pai tinha planos de morar em Salvador, resolvi, de vez, pedir
minha transferência, o que realmente ocorreu. Agora, estando mais perto de você
- daqui para Jacobina é cerca de oito horas de viagem de ônibus) acho que nossa
amizade tende a se fortalecer e a retornar aos níveis que alcançou quando você
e eu estávamos em Jequié. Estou dando um tempo, para depois ver o que
vou fazer. Já te convidei para passar um fim de semana comigo, aqui em
Salvador, e você já me convidou para passar o “micareta” em sua cidade. Estou
pensando mesmo em ir passar um fim de semana com você. Espero que possamos nos
divertir muito, pois estou morrendo de saudades de você.
Daquele que nunca ira
esquecer que um dia foi e continua sendo o melhor amigo que você já teve.
Salvador, 05.04.93,
às 07:50
AMOR GREY DE JACOBINA
Chegou ao fim
(Projeto Madio
Editora)
Não vou insistir mais
Desculpe por tudo
Não me ligue mais
Não me procure mais
Não me escreva
Não me fale
Não me olhe
Sei que você está
cheio de mim
Não tenho culpa de
ser como sou
Não vou te atrapalhar
mais
Não vou te ligar mais
Não vou mais tirar
tua paz.
Adeus!
Jequié, 21 de junho
de 1992, meia noite, for Jacob
AMOR GREY DE JACOBINA
Com quem vou
conversar?
Com quem vou almoçar?
Com quem vou tomar
banho?
Com quem vou sair?
Com quem vou beber?
Com quem vou
dialogar?
Com quem vou...
A culpa é minha,
de ter me deixado
levar tão longe.
Mercadão, 28.08.92
(for Jacob)
AMOR GREY DE JACOBINA
Como sobreviver sem
oxigênio:
(Projeto Madio
Editora)
respirar pouco, ficar
sufocado,
asfixiar-se,
ficar cianótico,
arroxear-se,
perder o fôlego,
enforcar-se,
Depois afogar-se nas
lágrimas vertidas por ter perdido você, meu oxigênio...
Jequié, 13 de agosto
de 1992, meu quarto.
AMOR GREY DE JACOBINA
Detalhes são detalhes
“A mão que te apedreja
é a mesma que te acaricia”; “A boca que te beija é a mesma que te escarneia”.
Salvador, 18.07.93
AMOR GREY DE JACOBINA
Em busca do que sinto
(Projeto Madio
Editora)
descobri que o que
sinto
é forte e é fraco
é grande e é pequeno
é amor e é desprezo
é paz e é ódio
é TUDO e ao mesmo
tempo NADA.
Te quero e te repilo
te busco e te expulso
que te tenho, te
quero mais
quando não tenho,
enlouqueço
mas com a distância e
o tempo
de tudo eu logo
esqueço.
For Jacob, 07 de
agosto de 1992
Reflexão AMOR GREY DE
JACOBINA
ESPÍRITOS
Sei que estão aqui,
vendo e ouvindo os meus pedidos.
Desejo ter meu
conforto carnal, e sei quem poderá preencher e me fazer feliz. Peço que vocês
ajudemno a diminuir a quantidade de bebida que ingere e que ajudemno a
encontrar um emprego e que sinta vontade de estudar e crescer espiritualmente.
Desejo ser feliz e
fazêlo feliz, comigo. E para isto será necessário que o amor cresça e seja cada
vez maior e recíproco. É necessário, também, que alguém tenha que sair da
frente, pois há incompatibilidade de gênios e de convivência.
Sei que tenho menos
de trinta dias para dizer sim e doulhe procuração para agirem
em meu nome e em prol do meu amor: quem sabe, minha missão não é esta ?
Salvador, 31 de julho
de 1993, às 00:30 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
ESQUINAS
(Projeto Madio
Editora)
Cada esquina um louco
Cada louco uma sina
Só espero que a sua
Não se encontre com a
minha
Pois não sei se te
ajudarei
Não sei se te darei a
mão
Fim.
Jacobina, 13.07.93
AMOR GREY DE JACOBINA
Esta distância física
(Projeto Madio
Editora)
me deu espaço e tempo
pra respirar sem
você.
Isto me proporcionou
a visão real do
acontecimento
que nos envolveu
tanto.
Agora sei que não foi
só momento,
sei que foi mais
forte que nós.
Só o tempo poderá
dizer
até quando seremos um
só
até quando durará
nosso amor.
Seu amigo e amante,
07 de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Estou completo:
física, material e espiritualmente. Só emocionalmente é que estou, ainda,
falto. Não me completei, ainda: sei o que quero, com quem, onde, como e quando;
mas não posso nem me esforço para que tal ocorra. (Medo? Preconceito? Burrice?
Desinteresse? Será que quero de verdade?). Se eu morrer, estou completo; se
viver, idem. (Talvez isto é que me faça tão apático). Mas vou
fazer muita gente feliz, antes de desencarnar.
“Bom Gosto”, Jequié,
04 de novembro de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Estou fugindo de você
porque gosto de você
ou porque te detesto
ou porque detesto a
mim
ou porque me amo
ou porque ‘não sei’
o que significa
gostar ou odiar.
Noite do dia 07 de
agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Eu quis Ilhéus com
toda a energia que possuo. Corri atrás de Ilhéus, enlouquecime. Quando
conquistei Ilhéus fugi. Agora, quero Salvador. Desejo ardentemente Salvador,
com todas as minhas forças. Quando conquistar Salvador, fugirei de Salvador
(!?). I want money. Very money.
18 de junho de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Eu sou de carne e de
osso
possuo sentimento
sou sensível
sou todo emoção
sou de ferro
sou de pedra
não me machuco
sou insensível
Rotary Bar, 21 de
agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Festa de Santo
Antônio, Jequié, 15 de junho de 1991, às 23:05 horas.
Mais uma musa
Você é meu muso
minha nova e confusa
loucura consciente
pedaço de gente.
Será que nascerá
deste sentimento
unilateral
algo bonito e singelo
que me transportará
para mil-anos-luz,
ou me levará
ao abismo infernal
do qual ninguém
voltou?
AMOR GREY DE JACOBINA
Fiz tantas revelações
e tantas declarações a você e agora estou aqui, sofrendo tua falta. Gosto de
você como é. Você nunca me fez um carinho e eu sempre gostei de carinho, mas
gostei de você pois já estávamos juntos há mais de dois anos. Não quero perder
você. Mesmo que eu encontre outra pessoa e mesmo você já estando com outra
pessoa, quero continuar sendo seu. Isto me consola e me conforta. Estou me
sentindo muito só, abandonado. Te falei que já tinha conseguido tudo, e que não
tinha mais por que lutar, o que conquistar. Mas errei. Falta você. Falta
conquistar você. Mas acho que nunca terei você completamente meu, totalmente
meu. Tenho que me conformar, desde já, em perder você. E quando seu filho
nascer (provavelmente em novembro), aí sim estarei mais longe de você. Ele será
ainda mais importante do que é agora e ficarei em segundo plano. É disso que
tenho medo: de não ser mais a pessoa mais importante em sua vida.
AMOR GREY DE JACOBINA
For Jacob
(Projeto Madio
Editora)
Esperei por você
desde a encarnação passada
ponto e vírgula
desejei você
antes de você existir
ponto e vírgula
quis você
antes de te conhecer
ponto e vírgula
amei você mesmo sem
saber o que você era ponto e vírgula
sonhei com você
mesmo acordado ponto
e vírgula
fiz amor com você
(várias vezes)
mesmo com você tão
longe reticências e ponto e vírgula
senti vários orgasmos
antes mesmo de ter
você em mim
(De que valem o
Côncavo e o Convexo?) ponto
O que me enlouquece
é o cheiro que emana
de você vírgula
é o sabor do teu
corpo vírgula
é o prazer que você
sente quanto te amo vírgula
é o tesão que sinto
ao pensar em ti ponto final
Rua Tiradentes, São
Luís, Casa de Mônica, 08 de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
For Jacob
Pensei que a
distância fosse diminuir a energia que nos une; pensei que o que sinto por você
se esvaísse, gradativamente. Mas o que percebo é que, tanto de minha parte
quanto da sua, nossa amizade continua forte. É ótimo saber que (ainda) sou
seu melhor amigo e (também) o único. O que sinto é vontade de ir de uma
vez morar aí perto de você.
Jequié, 09 de
novembro de 1992
Morar em Jacobina,
pra sempre, perto de você, é o meu desejo. Não sei como será feito isto, mas
farei (?).
Jequié, 09 de
novembro de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Fui até a esquina, a
procura de algo, tentar conversar com um poste.
Mas o poste não me
respondeu nada, não me perguntou nada, nem se mexeu do lugar...
Empurrei o poste,
puxei o poste, mexi no poste, e ele permaneceu imóvel.
Falei português,
inglês, alemão e grego, mas o poste nada entendeu.
Tentei a mímica,
língua dos sinais dos surdosmudos, sinais coloridos e jogos de luzes, nada
adiantou. Ele continuava sem entender nada, ou fingindo não entender. Então, já
exausto (até código morse usei), saí meio decepcionado, meio deprimido e voltei
pra casa.
Só aí o poste
entendeu, mexeuse do lugar e falou meu idioma: Não vá. Não me deixe aqui
sozinho, eu gosto de você...
Jequié, 02 de
setembro de 1992, Meu quarto.
AMOR GREY DE JACOBINA
Gaivotas e mar azul.
Não sei o que é mais lindo: o resto do mundo ou teu corpo nu; o que é mais
gostoso de ver: um por-do-sol no mar ou você vibrando de prazer fazendo amor
comigo. Gostaria de ter você agora me enlouquecendo de tesão.
Jequié, 07 de agosto
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Grey de Jacobina
Santos Silva
Elma Lopes Cajayba
Valdeck Almeida de
Jesus
Três personagens
três atores
três peças teatrais
três vidas
dificultadas
pela astúcia do
destino
três adultos e três
crianças
envolvidas pelo
destino
Nota Dez pra cada um
Nota Zero para todos
Até onde caminhar
até quando se enganar
pra viver um pouco
mais?
For Jacob, 07 de
agosto de 1992
Grey de Jacobina,
Assim que chegar, me
ligue. E quando sair, deixe a chave lá com minha mãe. Ontem tive que arrombar a
casa pra entrar.
Valdeck, 12 de agosto
de 1992.
Grey de Jacobina,
deixei minha mãe
encarregada de comprar o gás. À tarde a gente resolve comprar o fogão. Se você
quiser tomar café, fale com minha mãe que ela prepara para você. Ela vai
comprar uma carne para você. Quando quiser almoçar, fale com ela que ela
esquenta. A chave eu deixei com ela. Se você for sair, só basta bater a porta.
Se você chegar e sair novamente, deixe a chave lá em casa, ok? Desculpe eu ter
te incomodado hoje pela manhã.
VAJ, 13 de agosto de
1992
AMOR GREY DE JACOBINA
GSS:
Não pode ligar o
chuveiro, pois o tanque está quase seco;
Não pode gastar água
demais senão ficamos sem.
Favor não fazer
interurbanos pois a conta este mês virá muito grande (inclusive, a
transferência da linha custar Cr$ 380.000,00);
Não deixe a casa só
muito tempo pois aqui o pessoal invade e carrega tudo.
O fogão está com
defeito: deixe sempre o registro do gás fechado.
Se puder, pegue
colchão e cobertor na casa de minha mãe, ok?
Sairei de Salvador às
17:00 horas do dia 20.11.92, sextafeira e chegarei aqui mais ou menos às 24:00
horas. Virei direto pra cá, de táxi. Pelo amor de Deus, não saia de casa pois
se eu chegar para dormir e você não estiver, terei que arrombar a porta ou
dormir no meio da rua.
Em último caso, se
você tiver mesmo que sair, não tranque a porta, ponha só o
cadeado por fora que tenho a chave do mesmo. Só não tenho a chave da porta. Então,
não tranque a porta, ok?
Agarradinho, 19.11.92
AMOR GREY DE JACOBINA
Hoje é 11 de outubro
de 1992. Estou no meu quarto.
Tenho: um emprego
bom, fui promovido, tenho mãe, irmãos, amigos, colegas, tenho duas casas, tenho
nível superior incompleto, tenho um telefone, tenho ventilador, tenho tudo o
que quero. Mesmo assim tô triste, melancólico, sofrendo muito. O que me
falta é alguém que me dê carinho, que me ame, alguém que preencha esta vazio
que me corrói a cada instante; alguém que possa me dar perspectivas novas na
vida. Minha vida tem sido uma sucessão de dias tristes, alternados por mais
tristes ainda... Não estou numa fase boa vida (não sei se é porque nada me
satisfaz, ou melhor, não me satisfaço com nada), mesmo tendo algo material, meu
espírito está aflito.
São 10:00 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
Hoje é dia 10 de
outubro de 1992.
É véspera, aliás, já
é um feriadão, um fim de semana prolongado. Já dei mil voltas na cidade, desde
às 06:00 horas (quando acordei). Não planejei nenhuma viagem nem passeio, pois
ficaria sem graça me divertir sem você perto de mim. Hoje abri o álbum de fotografias
para ver nossa foto. Me deu uma vontade louca de chorar e me deu uma tristeza
danada! Não estou conseguindo superar esta situação. N]ao sei até quando vou
ficar assim, nesta tristeza de matar. Quando você estava aqui eu tinha vontade
e alegria para fazer qualquer coisa. Mas agora tudo para mim está tão difícil e
quando lembro que você está tão longe me dá vontade de morrer. Nada mais tem
graça para mim. Até o trabalho me enche, às vezes, e fico sem nenhuma
perspectiva na vida. Não sei mais o que sinto por você, se é amor, se é uma
doença. Só sei que sinto imensamente a sua falta. Não estou conseguindo nem
sobreviver sem a tua presença. Cada minuto que se passa parece que é um século;
cada dia parece um milênio. E eu aqui, enterrado nesta cidade, infeliz e
triste, que me infelicita e me entristece, morrendo aos poucos, pagando muito
caro por algo que parece ser simples: só preciso é de uma firme e de força de
vontade. Hoje, aliás, sempre, tentei ligar para você, mas sempre fiquei
adiando. E hoje tomei coragem e liguei. Deixei recado para
você me ligar à
noite. Vou ficar a noite toda no pé do telefone, aguardando que você me ligue.
Meus olhos estão vermelhos, como sempre, pois não aguento me lembrar de você e
não chorar. Até breve.
Eu não sou perfeito
Isto não é desculpa
para a minha pequenez e minha pobreza de espírito, mas é a realidade. Não tenho
medo nem vergonha de te falar isto agora.
10 de agosto de 1992,
meu quarto, for Jacob.
AMOR GREY DE JACOBINA
Inscrição num cartão de natal ou coisa parecida, numa loja do Shopping Barra:
“Você tem que gostar daqui enquanto estiver aqui. ...porque não existe aqui,
lá...”
ANTES e DEPOIS. Não
conheço. Só tenho experiências no “durante”. Todas as minhas amizades nunca
tiveram começo nem fim.
“Garçom, faça o favor
de me trazer depressa...” Não sei onde quero chegar com esta cara que tenho.
Jequié, 16 de agosto
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
PROJETO 30 ANOS DE
POESIA
Jacobina
Do alto do Cruzeiro,
te admiro
Observo tuas ruas
estreitas
percorro tuas serras
com os olhos
e fico embebido da
tua beleza rústica
Desço a serra, te
abraço
sinto teu solo frio
a dureza de tuas
pedras
e o silêncio que te
sufoca
só após anos a fio
é que você murmura
algo
só então sinto e
entendo
o que tua brisa me
diz
tuas ruas, tuas
praças
então passam a fazer
sentido
e começo a decifrar
o sentimento em ti
escondido.
Jacobina, 16 de maio
de 1993.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jacobina, 15 de maio
de 1993 (06:10 horas)
Ainda não estou em
outra cidade. Mas já estou planejando comprar a passagem. Fiz o roteiro e
arrumei as malas. Lá, pretendo erguer uma casa, mobiliála e habitála. Lá, não
poderei procriar, mas tentarei ser feliz. Lá, não conheço ninguém, mas há a
promessa de uma “entrega total”. Lá, não precisarei dividir e ficar com a
parte menor. Lá, serei completo, serei somente meu, serei inteiro.
Mas o endereço não é
desconhecido. Há duas linhas de ônibus, ligações telefônicas via correio...
Enfim, sempre estarei lá, pronto para receber os amigos.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jacobina, 15 de maio
de 1993 (Rua Deraldo Dias, 12 - Centro)
Cheguei hoje, às
05:30 horas, em Jacobina. Ela estava silenciosa, parada, como se se
fingisse de morta. Aqui e acolá, um galo cantava; o frio percorria suas
ruas; o Cruzeiro a vigiava do alto; parecia uma cidade adormecida. E era.
Enquanto o sono imperava em suas ruas estreitas, eu caminhava lentamente,
atravessando cada espaço alheio. Caminhava por suas ruas como se fossem minhas
ruas e ela, dormindo, não se opunha à invasão.
De repente Jacobina
acordou, despertou-se do sono de quase dois anos. Acordou e me viu. Mas ela não
estava mais sozinha, não precisava mais de habitante forasteiro. Jacobina agora
tinha a sua própria população, tinha seus “filhos da terra” e não precisava
mais de forasteiros.
Aí vi e senti que
Jacobina crescera; senti que era maior que quando a conheci. Mas vi também que
não havia mais espaço para eu construir uma casa. E fiquei inerte, não lutei
para conquistas meu espaço. Voltei para casa.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jacobina, 1º de maio
de 1993, 21:45 horas
Este será o primeiro
‘primeiro de maio’ que guardarei.
Foi hoje que senti,
no real, o que não queria sentir jamais: a distância entre eu e você.
Mas foi bom constatar
isto, pessoalmente, que ficar mais tempo me enganando a mim mesmo.
Foi melhor que fosse
assim, gradativamente, pois a dor é menos doída.
Você foi o motivo de
milhares de poemas meus (bons e ruins), mas o que importa agora é não nos arranharmos
com esta cisão, meu irmão siamês: Meu coração está ligado ao seu pé.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jacobina, 1º de maio
de 1993, 21:45 horas
Este será o primeiro
‘primeiro de maio’ que guardarei.
Foi hoje que senti,
no real, o que não queria sentir jamais: a distância entre eu e você.
Mas foi bom constatar
isto, pessoalmente, que ficar mais tempo me enganando a mim mesmo.
Foi melhor que fosse
assim, gradativamente, pois a dor é menos doída.
Você foi o motivo de
milhares de poemas meus (bons e ruins), mas o que importa agora é não nos
arranharmos com esta cisão, meu irmão siamês: Meu coração está ligado ao seu
pé.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jacobina, 1º de maio
de 1993.
A ameaça pairava no
ar. A suspeita era só. E, apesar de sua prosa de que tudo continuaria “igual”
depois de se casar, eu sei (e você também) que não é bem assim.
Perdi sua atenção,
sua consideração, tudo: Você nem me olha mais, é como se eu não existisse. Eu
não quero te prender com uma concha de Álcool (bebida) e sim com o coração, com
a amizade, com o carinho. Mas percebi, hoje e amanhã, que você não quer que eu
te conquiste. Você ser conquista por ela.
AMOR GREY DE JACOBINA
JACOBINA, 24 DE JULHO
DE 1993
Olá Valdeck!
Estou aqui em
Jacobina, na casa de uns amigos. Vim fazer um passeio. Soube que você ainda
está lutando para conquistar mais alguma coisa em sua vida. Vá em frente, pois
seu destino já está traçado. Por mais difícil que possa parecer, você terá sua
hora de alegria. Não faça nada precipitadamente. Não faça nada que venha a
constranger a pessoa que você ama. Lute, continue pedindo forças aos Espíritos
Superiores, que em breve (entendase poucos dias - quiçá dois meses) seu sonho
será realizado.
Tchau!
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié 07 de agosto
de 1992
O que escrevo não é o
que penso
o que penso não é o
que sinto
o que quero não é o
que procuro
o que acho não é o
que desejo
o que desejo não é o
que me preenche
o que me preenche não
é o que tenho
o que me falta é
buscar você
e amar com toda a
energia do mundo
And to love with all
energy of world.
I like You. I want
You.
Quero fazer amor com
você.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 02 de outubro
de 1992
Tenho tentado
esquecer tudo o que aconteceu, para não sofrer demais. Trabalho a semana toda,
ando de bicicleta, fujo de tudo. Mas agora, às 10:30 horas, não aguentei e
chorei. Não me acho um covarde, por chorar. Acho que é uma válvula de escape.
Não tem jeito. estou muito triste. Não sei quanto isto vai terminar. Só sei que
não aguento mais ficar longe de você. Acho que estou ficando louco. A angústia
que me domina agora é indescritível. Não imagino como escrever para te dar uma
idéia do sofrimento que me tortura neste momento. Pode ser comparado com o
sofrimento de um Presidente da República, eleito pelo povo, que é deposto
injustamente...; pode ser comparado com o sofrimento de uma mãe que perde seu
filho tragicamente...; pode ser comparado com o sofrimento de quem contraiu uma
doença incurável...; Droga! Por que estou tão longe de você?? Eu te amo! Te
quero, te desejo, te gosto como gosto de mim mesmo...
Amanhã é dia de
eleição. Fico imaginando (fantasiando), que você vem votar aqui e que daqui a
pouco vai me telefonar dizendo que está em Jequié... Amanhã vou
trabalhar como Presidente da 118ª Seção Eleitoral (Colégio Presidente Médici).
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 06 de outubro
de 1992
Estou no bairro São
Luís, tomando um vinho licoroso e ouvindo a FM 93, onde toca uma música de
Wando. Fico olhando para o tempo e pensando em nada. Penso, ao mesmo
tempo, em tudo o que aconteceu aqui em Jequié conosco. Olho para o céu e para
as nuvens: será que é o mesmo céu e as mesmas nuvens daí de Jacobina? Será que
minha felicidade está realmente em Jacobina? Ou será que tudo isto é uma grande
ilusão? Prefiro acreditar que tudo isto não é uma grande ilusão. Eu tive você
em mim; pude amar você com minhas energias; pude mostrar a você que meu amor é
verdadeiro e fiel. Até agora não tive nada com ninguém. Tudo o que aconteceu
entre nós foi forte demais e nunca tive tanta coisa boa quanto tive contigo.
Você foi e continua sendo a pessoa que me fez feliz até hoje. Neste momento
tenho vontade de ligar para a FM JACOBINA e dar um recado para você: “Jequié
está com saudades de você”. Estou ligando para a Telebahia, para saber o
telefone da Jacobina FM. Descobri que é 6213366. Vou ligar, dar o recado e
pedir a música “Maybe Maybe” do Aha, especialmente para você, ok? Fiz a ligação
e a moça da FM me disse que lá “não tem este serviço” (de dar recado). Pediu
para ligar 3636. Não liguei. Fiquei chateado. Vou continuar bebendo o meu
vinho, com mil saudades de você... “Por favor não me esqueça, estou perdendo a
cabeça, de saudades de você...”
HOJE FEZ UM MÊS QUE
VOCÊ FOI EMBORA. NÃO AGUENTO MAIS DE SAUDADES. POR FAVOR, FAÇA ALGO PARA EVITAR
TANTO SOFRIMENTO!
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 09 de agosto
de 1992
Quero uma definição
de como ficaremos daqui por diante, em relação a relações íntimas (beijos,
abraços, carinhos, afagos, etc).
Quanto a diversões,
não estou podendo esbanjar dinheiro. Por isto, tenho que cortar do orçamento
várias coisas, inclusive bebidas.
Quanto à sua estadia
de um mês, não sei se será viável, pois implicaria em fatores como alimentação
e roupa limpa, o que não posso proporcionar a contento.
Quanto à sua volta
para sua cidade natal, posso custear, fazendo um sacrifício enorme, inclusive
solicitando uma cortesia de empresas locais (ônibus).
Quanto ao incentivo
ao seu relacionamento com uma certa pessoa, não sei até onde e quando poderei
incentivar e apoiar, não por ciúme, mas por lógica.
Quanto à sua fama de
faltar com a verdade, espero uma explicação convincente, pois não me sinto bem
com aparências nem com mentiras...
Temos que conversar
bastante sobre tudo isto, para evitar desgaste desnecessário no futuro.
Não estou te cobrando
nada. Simplesmente não estou aguentando este clima tenso.
Não estou te cobrando
nem posso te cobrar nada. Só não estou satisfeito com esta situação.
Possuo sentimento e
não gosto de me sentir um simples objeto de prazer.
Tenho sofrido muito
em amizades que não levam a lugar nenhum.
Sou sensível e
carente de carinho, de abraços, de beijos, de afagos, de atenção, de tudo.
Você não tem culpa de
não poder me dar tudo o que necessito.
O que não posso é
continuar fazendo é esperar uma eternidade para ver se a vida sorri para mim.
Chega de chorar,
chega de sofrer, chega de achar que tudo está bem.
Vamos tomar uma
decisão em nossa vida (em minha vida, aliás, já que na sua é mais difícil.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 13 de
setembro de 1992
Uma semana que Grey
de Jacobina Santos Silva foi pra Jacobina. Até agora evitei escrever algo a
respeito disto. Mas agora à noite resolvi fazer estas anotações. Meu peito
ainda está angustiado com esta situação. Fiz de tudo para esquecer ou superar
esta saudade: andei de bicicleta, não ouvi rádio (para evitar ouvir alguma
música triste), trabalhei duro toda a semana, ocupei cada espaço de tempo com
alguma atividade, pra não pensar em tudo o que aconteceu e continua a acontecer.
Durmo cedo e acordo tarde (hoje acordei às 11:00 horas, por exemplo), pra
visitar amigos. Enfim, faço mil malabarismos para não encarar o que está a
palmos de mim: estou muito triste com a ida dele. Talvez não seja tanto o fato
de estar longe, mas o fato do “limite” que se impõe, naturalmente. E, como os
piscianos detestam proibições...
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 15 de junho
de 1991
Te vejo e desejo teu
corpo no meu...
mas é proibido: teu
desejo é outro
diferente do meu.
Meu corpo e o teu são
iguais
Mas nossas cabeças
divergem
E só o que converge
é o aperto de mão...
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 19 de
setembro de 1992
Hoje me encontro na
casa de uma colega de trabalho, Mônica Barroso, que está viajando, para a
Fazenda Serra da Pipoca.
Desde ontem que estou
aqui, cuidando de sua casa. Aqui é legal, pois fica perto do trabalho e não é
necessário acordar “muito cedo” para poder chegar no horário na Junta.
Agora está passando o
Globo Repórter, na televisão, mas não estou acompanhando a reportagem, pois não
estou a fim.
Por enquanto é só o
que tenho a dizer.
Até logo.
Valdeck Almeida de
Jesus
(073) 525-3602
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 21 de
setembro de 1992
Caro amigo Grey de
Jacobina,
Hoje faz 15 dias que
você viajou para Jacobina. Até parece que foi para o outro lado do mundo, pois
não dá notícias nem sinal de vida. Será que já esqueceu os amigos daqui, ou
será que seus amigos daí são melhores do que os daqui de Jequié? Somente hoje é
que você resolveu fazer uma ligação para mim, não é mesmo? Pois bem, todos nós
aqui nunca paramos de pensar em você. Minha mãe mesmo, não tira seu
nome da boca, toda hora faz comentários a seu respeito. Sabe aquela colcha, ela
guardou, confiante que você vai voltar para aqui algum dia. Ela acho que fiquei
muito triste depois que você foi embora. Sempre ficava falando que você é
uma pessoa legal, que você é um amigo muito bom, onde e como descobri você. Que
eu não devia deixar você ir embora. Fala tanto em você que às vezes não tem
outro assunto. Mas a saudade não tem consolo. Sabe, no dia seguinte ao que você
foi embora, foi sete de setembro, houve desfile aqui em Jequié e eu fui ver,
juntamente com Elma. Mas não senti a mesma emoção que sentiria caso estivéssemos
todos ali assistindo. Fiquei sem graça mas tentei não demonstrar nada. Ela viu
um colega da Igreja dela e aproximouse dele. Ele estava indo para São Paulo
fazer um curso de dois anos e estava promovendo uma festinha de despedida.
Convidou a mim e a Elma. Fomos e foi legal. Mas nada é legal aqui, tudo fica
chato sem você. Você sabe que nossa amizade é muito forte. Você para mim é como
se fosse um irmão, ou muito mais que isto. Você sabe qual é a relação de
amizade que tenho com meus irmãos e sabe que nós não somos muito chegados. Fico
aqui em Jequié sem ter com quem conversar e sem ter para onde ir. Dou voltas e
mais voltas pela cidade, mas sempre que chego em casa, onde deveria ser um
local de descanso, é um local de tristeza. Tento não ouvir o rádio para não me
recordar dos poucos momentos bons que tive em minha vida, mas não tem jeito:
quando passo na rua, sempre tem alguém com um rádio ligado bem alto. Aí eu
tento de toda maneira fugir dos pensamentos para não sofrer mais ainda. Mas tem
horas que não dá para segurar e então as lágrimas vêm sem que eu possa
impedilas. Tentei detestar o disco do “A ha”, mas não adiantou: estou gostando
do disco e das músicas também. Não sei o que será de tudo o que planejei. Cada
dia que passa, para mim, é como se fosse um ano. Tento ficar o dia todo no
trabalho, envolvido com mil coisas para não me lembrar de nada, mas só consigo
disfarçar durante a semana. Quando chega a sextafeira à tarde, me dá um frio na
barriga, só de pensar em ficar dentro daquele quarto sem fazer nada, olhando
para cada parede e me lembrando de tantas coisas... E o que me deixa mais
chateado, é que esta situação não se resolve logo de uma vez. Fica nesse clima
tenso e chato, uma coisa me devorando por dentro e me tirando o sono. O que eu
queria mesmo era estar longe de Jequié e destas pessoas chatas daqui. Fico
muito aborrecido quando alguém fala algo sobre mim que eu não faço ou que nunca
fiz nem nunca vou fazer. E fico mais chateado ainda, quando existe pessoas que
se contentam apenas com os boatos e com o que as pessoas falaram e não chegam
pra gente e tira a dúvida. Eu sou uma pessoa muito sensata e além do mais nunca
dei o que falar para ninguém. Minha família, apesar de humilde, nunca teve
complicação nenhuma com coisas fora do norma, ou que as pessoas condenam.
Mas tem pessoas que se divertem em ver a infelicidade das outras. Tem pessoas
que são invejosas, não admitem que perderam e ficam fazendo de tudo para que as
outras pessoas percam também. E o resultado de tudo isto é que agora estou aqui
nesta depressão danada que me tira o sono e me tida a vontade de viver.
Preferia mil vezes que a morte se lembrasse que eu ainda estou aqui neste
mundo, do que ficar sofrendo por uma coisa que é fácil de resolver. Bastaria um
sinal verde que eu tentaria de toda forma ficar perto de tudo o que me faz
feliz. Esta vida é uma só. Por que a gente fica adiando a felicidade para outra
oportunidade? Sei que nada é fácil na prática, mas quando a gente quer, o
impossível fica fácil e o difícil dá para solucionar. Talvez você seja bastante
jovem ainda para entender essas coisas, mas eu já vivi o suficiente para saber
que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” e sei também que o tempo é
inimigo de tudo: o tempo corrói e destrói até o bronze e o mármore, quanto mais
um sentimento que liga duas pessoas que estão distante cerca de 500
quilômetros... Pense bem eu tudo o que eu te falei e tome uma decisão em sua
vida que eu prometo que vou procurar entender tudo o que você resolver. Serei
ou tentarei ser adulto o suficiente para não querer atrapalhar a sua vida
tampouco a minha própria, ok? Sei que você ainda é bastante jovem e
inexperiente, mas sei também que tens uma cabeça preparada para qualquer
situação que venha a se definir entre nós. Já te falei várias vezes que não
consigo ficar sofrendo por uma pessoa sem poder dar uma definição na minha
vida, nem sei ficar esperando o tempo todo por uma coisa que não sei se me
levará a algum lugar. Talvez amanhã pela manhã eu já pense diferente de tudo o
que estou escrevendo agora, isto é normal, mas talvez eu fique o resto de minha
vida pensando assim, o que também é normal, mas o que não quero é ficar nesta
indefinição absoluta, criada por nós mesmos, sem saber até quando e até onde
iremos. Já falamos diversas vezes sobre este assunto, e não é necessário ficar
repetindo, aqui, coisas que já sabemos de memória, não é mesmo?
A cidade onde você
mora não é muito distante daqui, nem a cidade onde moro é muito distante de
onde você está. Mas o que importa neste momento não é a distância em
quilômetros, mas sim esta distância física que enfraquece qualquer laço de
amizade que possa existir. Por isto, não fique surpreso se a qualquer momento
eu deixar de sentir por você tudo o que sinto e tudo o que já te falei antes.
Cada momento que vivemos juntos, foi para mim muito gratificante e acho que não
vou poder repetir aqueles momentos com mais ninguém, mas nem por isto eu posso
ficar “aqui sentado, neste apartamento, com aboca escancarada, cheia de dentes,
esperando a morte chegar”.
Por enquanto é só o
que tenho para te falar. Eu só consigo falar de tristezas mesmo. Então, fique
no aguardo de nova carta minha. E não se esqueça de responder as que eu mandar,
ok?
Um forte abraço do amigo que te gosta muito...
VALDECK
CAIXA POSTAL 163
JEQUIÉ/BA
45200-000
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, 28 de maio de
1992
Caro amigo Grey de
Jacobina,
Minha remoção, sobre
a qual te falei há poucos dias, já está praticamente encaminhada. Esta semana
chegou o ofício requerendo do Juiz Presidente desta JCJ o seu pronunciamento a
respeito da mesma, e o Juiz a deferiu. Em poucos dias estarei partindo para
outra cidade e não sei quanto é que poderemos nos ver novamente.
Quanto à notícia que
você me deu de que estará se mudando para Jacobina, fico muito triste, pois com
minha remoção e sua viagem, ficará muito mais difícil para nos vermos. Espero
que algum dia possamos nos ver, com bastante tempo para conversar, pois você
foi uma das pessoa que mais energia positiva me deu. E espero que eu tenha
contribuído muito para a sua vida. Fique certo de que estou muito triste com
toda esta situação. Mas não podemos fazer nada. Ou melhor, não queremos perder
nossas mordomias e nosso comodismo, não é mesmo? Por hora, é só. E deixo aqui
registrado um forte abraço para você e o desejo de que tudo de bom possa
ocorrer na sua vida, a partir de agora.
Até breve. Do amigo
Valdeck Almeida de
Jesus
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, Festa de
Santo Antônio, 15 de junho de 1991, às 23:00 horas.
Tua boca tão tosca,
mas tão atraente…
(Projeto Madio
Editora)
Teu corpo tão jovem
Teu espírito tão
avançado (?)...
Te imploro com os
olhos
Mas você não entende.
Seu corpo tão jovem
mas não imaturo...
Te sinto distante
Apesar de agora
Dividirmos uma mesa
E uma cerveja...
Não posso tocar-te
E o único consolo
É te esquecer...
Jequié, Festa de
Santo Antônio, 15 de junho de 1991, às 23:00 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, Festa de
Santo Antônio, barraca “John Drinks”, às 22:50 horas, dia 15 de junho de 1991,
ouvindo a música ‘Cheiro de Maça’ de Leandro e Leonardo.
Durmo só
Comigo, mas só
Viro e me reviro na
cama
Deparo comigo, jogado
num canto
Desejando teu cheiro,
teu beijo e abraço
Não acho e me agarro
ao sonho
De um dia poder
dividir
Meu quarto e meu
beijo
E todo o desejo que
guardo comigo...
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié, Itajubá
Hotéis, Coffee Shopp, 19 de junho de 1991
Saí da Faculdade
(Projeto Madio
Editora)
andei a passos lentos
e cadenciados
Olhar fixo no nada
mente longe do corpo
absorto em devaneios.
Pensando em você
fingindo pensar
querendo você
mas indeciso.
Você não me pertence
teu desejo não sou eu
teu pensar
não é meu pensar.
Sei que não posso te
amar
não posso sentir esta
paz
pois esta paz não me
pertence
e não tenho o direito
de te pedir.
Jequié, Itajubá
Hotéis, Coffee Shopp, 19 de junho de 1991
AMOR GREY DE JACOBINA
Jequié-Ilhéus-Salvador
Jacobina
(Projeto Madio
Editora)
Jacobina
Uma amizade/um amor
Se constrói/se
destrói
Num século/num minuto
Um amigo se faz
Um amor se compra.
Um amor se trai
Por um amigo se
morre.
Salvador, 12.04.93
AMOR GREY DE JACOBINA
Marginal de elite
(Projeto Madio
Editora)
Droga permitida
Batina depravada
Sacra-Diabólica:
Eis a vida.
Ilhéus, 16 de abril
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
ME ENTREGUEI DEMAIS
(Projeto Madio
Editora)
fiz revelações
absurdas
não tive coragem de
enxergar
que você não me
queria
só queria um amigo
‘legal’
que tivesse sempre
‘disponível’
esperando por você.
AGORA VEJO O ÓBVIO
você só queria e quer
seu filho
e viver como casado
por isto
aproveitou-se da despedida
para não aceitar
retorno
para não aceitar meu
pedido de perdão.
Salvador, 20.07.1993,
às 19:45 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
Meu AMOR,
Somente agora, às
19:30 horas, encontrei seu recado no catálogo telefônico. Desmanchei todo o meu
quarto, coloquei tudo de cabeça para baixo, mas não encontrei nada. Fiquei
cansado e esperei que você ligasse para dizer onde colocou o recado. Agora à
noite, por acaso, abri o catálogo à procura de suas palavras e as encontrei.
Foi ótimo, foi maravilhoso! Emocioneime demais. Te curto bastante. Te adoro, te
amo de verdade. Você foi a melhor pessoa que já conheci até hoje. Espero que
nosso amor não acabe nunca. Um grande beijo. Te amo.
Jequié, 1º de agosto
de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Meu Tudo (Publicada
no livro “Transcendental”)
Meu dia
minha noite,
Ouço e gravo, agora,
músicas
todas que nos
marcaram (ou a mim):
Micareta, ‘João
Santana’, Salvador.
Quisera eu, minha
noite fosse eterna;
Quisera eu, não
morrer, jamais,
Poder tornar os
minutos em milênios.
Este momento é único:
Só se repetirá ‘n’
vezes (?).
Salvador, 31 de julho
de 1993, às 00:05 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
MEUS ESPÍRITOS
PROTETORES
Estou em minha casa,
em Salvador, no apartamento nº 916, sonhando que o mais breve possível possa
acontecer meu tão sonhado desejo. Sei que vocês estão velando por mim e fazendo
de tudo para que eu possa ser feliz. Não quero ser o motivo da tristeza de ninguém.
Só quero que o vento sopre um pouco e para sempre para meu lado.
Só vocês são
testemunhas incontestes do que tenho sofrido por todos esses anos passados,
pela falta desta pessoa em minha vida. Não quero que ela seja aniquilada ou
tolhida, a fim de satisfazer um capricho meu. Pelo contrário. Quero que viva,
conscientemente, tudo, escolhendo, conscientemente, me amar e amar a sua
própria existência e a sua própria razão de ser. Não quero ser o sedutor, quero
apenas poder ser o espelho daquilo que esta pessoa queira ou sonhe; quero
apenas corresponder aos anseio e fantasias desta pessoa; quero poder delirar,
urrar, devanear, fazer sentir prazer, fazer sentir a vida e fazer perceber o
que é e o que não é...
Só quero viver esta
louca lucidez, integrandome a ele e ao cosmos, ao infinito prazer de ser.
Grato a vocês todos.
Amo-os.
Salvador, 02 de
agosto de 1993.
AMOR GREY DE JACOBINA
Meus olhos ardem de
sono
meu corpo anseia por
você
(Projeto Madio
Editora)
meu corpo anseia por
você
meu coração dispara
quando penso no nosso
amor
tão louco e tão
genial
que me faz ser
anjo...
Quero sentir você
aqui
na minha cama, me
amando,
me fazendo
enlouquecer,
me levando ao inferno
e me levando ao céu
(da boca)
sua língua
deliciosa...
For Jacob, 07 de
agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Nada como uma cama
bem gostosa com você ao lado.
Eu e você, 15 de
julho de 1992
Tanta paixão, tanto
tesão
tanta loucura, tanta
razão.
Pra nada. Agora, nada
me ajuda a sofrer esta dor.
Rey Sol Hotel, 15 de
julho de 1992, for Jacob
Mas antes uma noite
de mor que mil de saudade de quem se gosta.
Colhi as rosas, agora
furo os dedos com os espinhos.
Rey Sol Hotel, 15 de
julho de 1992
O que guardarei de ti
é a lembrança de que não fiz tudo o que tive vontade de fazer.
Rey Sol Hotel, 15 de
julho de 1992
O que é viver, senão
uma luta ingrata pela sobrevivência?
Rey Sol Hotel, 15 de
julho de 1992, for Jacob
AMOR GREY DE JACOBINA
Com você
(Projeto Madio
Editora)
Tudo de bom aconteceu
comigo
nos últimos dias
Tudo o que quis,
consegui:
o calor de teu corpo,
o sabor de fazer
amor,
o prazer de desfrutar
do proibido,
o tesão de ter você
em mim.
De tudo isto guardo
um pouco:
a saudade e a
recordação
quando lembro ou
passo perto
de onde estivemos.
Rey Sol Hotel, 15 de
julho de 1992, for Jacob
AMOR GREY DE JACOBINA
Não sei como:
(Projeto Madio
Editora)
conseguirei fingir
Te darei a outra
pessoa
e lutarei pra ter
você.
Sei que a luta é
desigual:
Concorro em
desvantagem
e com poucas chances
de ganhar.
Agora a distância
aproximou vocês
(e eu ajudei nesta
aproximação)
e me colocou para
escanteio.
(Não entendo jogo de
basquete).
Te esqueço ou me
aproximo de ti?
Se quiser, posso ir
pra perto de você.
Só depende de você...
Mas não sei se é isto
que quero
ou se é o que devo
fazer.
Em meu quarto,
26.07.92, 08:30 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
Neste momento estou
morto
Estou vivo, mas morto
Em Jequié, na Rua
Magno Senhorinho:
em frente a tudo o
que quero,
mas ao mesmo tempo
longe
Você não me quer nem
pode me querer
Te desejo mas te
repilo, para não sofrer mais
Jequié, 30 de maio de
1992: Churrasco na Magno Senhorinho, GSS
AMOR GREY DE JACOBINA
NESTE QUARTO
É PROIBIDO:
Amar ou fingir
que ama,
Não sentar, ou fingir
que senta (na cama),
sonhar alto, ou deixar
de sonhar,
fazer baderna, sem me
consultar,
gostar do que não
gosto, só pra me agradar,
ouvir minhas fitas,
sem meu ouvido,
pegar em “minhas
coisas”, sem minha autorização,
subir na minha cama,
sem sapato,
fumar: cachimbo,
charuto ou cigarro de palha, maconha,
ligar meu som, sem
minha energia,
passar “horas” sem
fazer nada,
fazer tudo o que é
permitido nos outros cômodos,
ler minhas cartas e
meus escritos,
olhar pelo vidro ou
pelo buraco da fechadura,
entrar sem bater e
perguntar se pode entrar
conversar alto ou
ficar em silêncio,
demorar muito tempo
sem motivo justificado,
perguntar muita coisa
ou não responder às minhas perguntas,
falar putaria ou
falar coisas “lindas”
não pode olhar pra
cima, nem pra baixo,
não pode nada, nem
pode tudo,
enfim; saia do meu
quarto, seu (sua) abelhudo (a)...
Grey de Jacobina
Santos Silva
Agradece: a direção.
Depois de tudo isto,
você ainda está aí? Vai ser chato (a) assim, na sua casa, ok?
A partir de hoje, nem
eu estou autorizado a entrar aqui. Ou estou? Não estou? Quem vai me proibir? Eu
mesmo me autorizo, a não me permitir nada...
1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Neste quarto é
proibido:
Entrar sem bater,
bater sem entrar,
ouvir minhas fofocas,
fofocar sobre a vida
alheia,
falar baixo,
fazer silêncio
fazer barulho,
chutar a parede,
bater com o punho
sobre a mesa,
cuspir no chão ou na
parede,
limpar o pé sujo, com
minha toalha,
usar minhas roupas,
andar “pra lá e pra
cá”,
sentar na cama do
paciente,
fumar odrobó,
mexer nas gavetas
chutar a porta,
derramar o pinico,
fazer “pum”,
matar as baratas de
estimação,
criar ratos,
suspender o carpete,
jogar lixo no vaso,
dar descarga no vaso
sanitário,
usar o papel
higiênico pra outra finalidade,
falar com a boca
cheia de dente,
espirrar,
entrar pessoas
alérgicas a poeira,
sentar no chão (não
temos cadeiras: traga a sua de casa),
roer as paredes,
falar palavrões,
falar palavras
indecentes e palavras decentes,
roubar minhas coisas,
deixar alguma coisa
sua aqui,
ler a bíblia,
folhear revistas de
mulher pelada,
entender o que está
escrito neste aviso.
Você não se toca não,
cara. Vai embora. Você não tem convite...
Grato pela
preferência. N Ã O V O L T E S E M P R E!
VAJ
15.08.92
AMOR GREY DE JACOBINA
Numa noite fria e
solitária te conheci…
(Projeto Madio
Editora)
A rua é que foi meu
(nosso) leito...
A Brasilgás ficou
como marca registrada
marca registrada de
uma história.
A noite fria e
solitária:
o frio cortante, a
chuva fina, a solidão
De repente teu calor
invadiume
Te possuí como nunca
tinha possuído a ninguém
Daí, então, rolou
tudo o que rolou até o fim
O fim ainda não
chegou, mas o começo não existiu
Sonho em ter um dia
de descanso e de paixão
mas só o que tenho é
a recordação de um dia ter te conhecido:
um vulto de uma
pessoa que jamais existiu: um fantasma.
Salvador, 07 de julho
de 1993
AMOR GREY DE JACOBINA
O fato de estar vivo
(Projeto Madio
Editora)
não é motivo para
sorrir
O fato de estar
alegre
não significa,
necessariamente, felicidade
O fato de calar-se
não importa, sempre,
em consentimento.
Estar aqui com você
Deixa-me confuso
Deixa-me atrapalhado
Com a vida que levo
aqui.
Este planeta é uma
loucura
Este país é meu
sofrimento
Este contato que
tenho contigo
Será motivo de futuro
lamento
Pois chegará a hora
Em que me dirá ADEUS
Um adeus frio e cruel
Que congelará nossa
amizade para sempre
E me deixará
atordoado e atrapalhado.
Ilhéus, 16 de abril
de 1992 Poema para GSS
AMOR GREY DE JACOBINA
Ode à primeira
(Publicada no livro “Transcendental”)
Jacobina:
Palco da primeira e
Da primeira e da primeira.
Impropriamente própria foi a escolha:
Também, em aconchego não daria.
Teria que ser ali, na vastidão da natureza
“ntnav”: que tu foste erguida, jacobina
Foi ali que te construíram: entre dois
Paredões de pedra, longe dos olhos
Curiosos daquele caminhante solitário
Que te seguia.
Na chapada tu foste a primeira
E serás a primeira, até sempre.
Salvador, 31 de julho
de 1993, 00:20 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
OI AMIGO!
Não sei se sou louco
ou se o louco é você. Te espero ansiosamente, imaginando a hora em que você
baterá na porta com uma mochila nas costas...
Agora pela manhã eu
estava coando o café (por volta de 9 ou 9:30 horas) e ouvindo rádio. Hoje é
sábado. Estou passando por mil problemas. Mas tenho certeza de que superarei
cada um deles. Os Espíritos estão comigo. Só você é que está longe
(fisicamente).
Estava ouvindo uma
música de Asa de Águia e acabei chorando. Em seguida passou “Eduardo e Mônica”,
caí em prantos, uma angústia sem tamanho invadiu meu peito que me fez sofrer
ainda mais. Não sei como você está agora, mas acredito que sofre também a minha
falta. Te quero como nem mesmo sei explicar. Te juro que seremos felizes. Não
permitirei que nada atrapalhe nosso amor.
Salvador, 17 de julho
de 1993.
AMOR GREY DE JACOBINA
Para GSS:
Não mais...
Não mais crer naquilo
que vê e ouve
Não mais fazer aquilo
que quer
Não mais sofrer à toa
Não mais sentir amor
Não mais enganarse...
19.08.92
AMOR GREY DE JACOBINA
Pelô - Olodum -
Jacobina
(Projeto Madio
Editora)
Combina?
Bicha - Bicho -
Mulher
Rima?
Morro - Ladeira -
Subida
Em cima?
Porra, se foda!
Salvador, 18 de julho
de 1993, 10:30 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
Por do sol
(Projeto Madio
Editora)
O sol se escondeu
Com vergonha da gente
Ao ver a gente se
traindo
Fingindo que gosta
(Você fingindo que
quer ser casado;
Elma fingindo que
quer ser noiva; e eu fingindo que quero
te esperar).
Mas o que importa
mesmo é que:
AMANHÃ O SOL NASCERÁ,
DE NOVO!
Alto da Prefeitura,
Jequié, 03.07.93, às 17:20 horas
AMOR GREY DE JACOBINA
Quando estiveres
cansado de viver, recomeces tudo de novo, e verás que a vida não te dará nova
chance para recompor o que ficou inacabado.
Um espírito do mal
07 de agosto de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Recebi uma carta
(Projeto Madio
Editora)
Você não me deixou
lêla
Rasgoua e a jogou
fora
Antes que eu a lesse.
Você abriu a carta
Não a leu toda
Nem deixou que eu a
visse.
Por que esta atitude?
Foi um ato de crime!
O que aconteceu?
Você me quer só para
ti
Mas não te quer só
para mim.
Os direitos não são
iguais?
Salvador, 12.04.94,
Meu quarto.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 06 de
setembro de 1993
Seis de setembro
(Projeto Madio
Editora)
Há um ano você partiu
Em seis de setembro
você se foi
Se foi pra sempre,
pra Jacobina
Eu e Elma ficamos na
saudade.
Me recordo, como se
fosse hoje
Eu e Elma, levando
você ao ônibus
Era meia noite e
quinze: você partiu
E ficamos sofrendo
(eu, incógnito)
Procurei fugir da
solidão
Procurei substitutos
Mas você resiste
A saudade não morreu.
Salvador, 06 de
setembro de 1993
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 18 de maio
de 1993
Espíritos Protetores
e Deus
Sei que não se deve
querer ser feliz com a infelicidade alheia, mas também não quero ser infeliz
com a felicidade alheia.
Meu envolvimento
emocional nesta história foi voluntário, mas agora a voluntariedade é mútua e é
correspondida. Agora o sentimento está se tornando verdadeiro, real e atinge no
fundo do ser. Agora ouço do meu amor, frases que confirmam o seu sentimento.
Recebo beijos que comprovam sua transformação interior.
Agora Deus, agora é
que poderá haver um rompimento de tudo? O amor também não faz parte da evolução
espiritual? Nós fomos o quê, em uma encarnação anterior? Não mereceremos nos
amar, não merecemos nos querer e nos ter um ao outro? Tua grande sabedoria
solucionará esta situação, sei. Não desejo exclusivismo nem que haja dor e
pranto de um lado para que eu sorria do outro lado. Mas distâncias físicas se
diminui. Vocês podem dar um rumo firme à vida do pai e da mãe e fim de que eles
possam se estabelecer definitivamente aqui ou Feira de Santana. Aí, sim, todos
ficarão perto de mim e então a felicidade poderá ser dividida com todos.
Senti tua mão e a de
todos os que me amam, quando já não tinha mais esperanças de sair vivo das
águas de Itapoan. Agora creio na imensa bondade de teu coração e espero (na
certeza) a solução para este impasse.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 21 de
agosto de 1992
Caro amigo Grey de
Jacobina,
Neste momento, estou
na sede da 8ª JCJ de Salvador, auxiliando uma colega minha, que participou do
curso de Secretário de Audiências no último mês de abril deste ano.
Minha viagem foi
ótima. Não aconteceu nenhum imprevisto e até agora, nada de extraordinário
aconteceu, nem tampouco nenhuma coisa desagradável. Estou bem comigo mesmo e em
paz com Deus e o Mundo. Ontem cheguei na casa de Jaqueline mais de 21:00 horas,
mas ela ainda estava acordada. Jantei fartamente e fui dormir. Hoje acordei bem
cedinho, umas 06:00 horas, mais ou menos. Saí para o Tribunal e estou até
agora, às 12:40 horas, ainda no mesmo. Minha colega Mônica Barroso está na
Biblioteca pesquisando, enquanto fico aqui procurando o que fazer. Conversamos
com a pessoa da Diretoria Geral, inclusive com Patrícia, a respeito da
possibilidade de uma transferência para o Tribunal. Até breve. Estarei à sua
disposição, para qualquer eventualidade.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 29 de abril
de 1992
Amigo Grey de
Jacobina,
É com tristeza que
irei comunicar minha transferência para Salvador, pois me afeiçoei a você
bastante, como somente você sabe. Mas como tudo que começa tem que terminar,
não poderei fazer mais nada para continuar nossa amizade, devido a fatores
externos e coisas que não são de minha alçada decidir na minha vida.
Sempre te falei que
estas coisas acontecem de uma hora para outra e que quando acontecesse, para
mim mesmo, seria muito natural.
Não sei como é que o
colega vai encarar esta minha despedida antecipada, mas tenho que fazêla, pois
irei para outra cidade distante. Não sei quando é que terei condições de
assumir outra responsabilidade com você e a única coisa que te peço, é que me
perdoe por tudo de errado que fiz contigo. Agora é que sinto a falta de um bom
amigo e como irei sofrer, longe de você e de sua compreensão como amigo e como
irmão. Dê abraços na mamãe e dê lembranças a todos daí.
Até breve.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 30 de abril
de 1992
Amigo Grey de
Jacobina,
Estou neste momento,
na sala de audiências da 14ª JCJ de Salvador. Neste momento são 14:40 horas.
Acabei de fazer um teste com Dra. Maria da Conceição Manta Dantas Martinelli
Braga, para ver se poderei ficar como Secretário de Audiências desta MM Junta.
Fiz duas atas de acordo, inclusive uma ata de audiência simulada, a fim de
testar minha capacidade de ouvir e de raciocinar ao mesmo tempo. Acabei de
datilografar a ata e estou aguardando a resposta da Exma. Doutora Juíza
Presidente. Caso eu seja aprovado, farei tudo para corresponder à confiança que
em mim será depositada. No entendo, caso eu não seja aprovado, farei com que em
outras ocasiões eu venha a participar de outros testes deste tipo, no intuito
de galgar caminhos que poderão decidir meu futuro como funcionário público
federal, Serventuário da Justiça.
Como não tenho mais
nada a deixar escrito aqui, findo esta, deixando para você meus votos de que
tudo ocorra como você deseja. Até breve e um grande abraço, do seu amigo que te
preza muito.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 30 de abril
de 1992
Querido amigo Grey de
Jacobina,
Estou partindo hoje,
às 23:00 horas, para Jequié, para resolver minha vida de uma vez por todas.
Ainda não consegui nada em relação à minha remoção para Salvador, mas tudo
indica que ainda hoje terei uma resposta definitiva a respeito. Ontem à noite
liguei para Dr. Colavolpe e para Dr. Gileno, e eles ficaram de me dar uma força
no que se refere a comentário sobre minha pessoa, a fim de reforçar minha
nomeação para Secretário de Audiências. Até agora, que são 13:00 horas, não sei
nada de definitivo. Mas ainda esta tarde, creio, terei qualquer definição.
Quanto ao nosso assunto, assim que eu chegar aí, entrarei em contato contigo,
para acertar como vai ficar, ok?
Quanto à minha
pretensão de alugar uma casa aí em Jequié para ficar uns tempos longe da
família e com sossego para praticar esportes perigosos e não recomendados para
a maioria das pessoas, até agora não pude dar nenhuma resposta, principalmente,
porque não sei se serei ou não removido para Salvador, como desejo.
Agora, em relação a
tudo o que poderemos fazer daqui por diante, não tem empecilho algum, pois
mesmo aqui na capital, você pode vir e ficar alguns dias comigo, até que eu
consiga comprar um apartamento para mim mesmo. Daí então, teremos paz e sossego
para fazermos tudo o que temos direito, não é mesmo?
Dê um forte abraço em
sua mãe e lembranças ao senhor seu pai, e um abraço no seu irmão Alex, ok?
Não fique preocupado,
pois assim que eu tiver definido minha vida, te darei uma resposta concreta e
não deixarei você sem nenhuma resposta, mesmo que não seja a que tanto você
deseja.
Fico aqui, com uma
vontade danada de estar aí com vocês, fazendo aquelas viagens que tanto
gostamos de fazer. Mas nós não perdemos nada com isto. Nossas energias ficam
acumuladas para que possamos gastálas em outras oportunidades.
Não se esqueça de me
escrever, de vez em quando, ok? Meu endereço você tem, mas mesmo assim vou
repetir, juntamente com o número do meu telefone daqui de Salvador: Valdeck
Almeida de Jesus, Avenida Oceânica, 700, apartamento 203, Rio Vermelho,
Salvador/BA, fone (071) 2371433.
Meu endereço de
Jequié para correspondências, é este: Valdeck Almeida de Jesus, CAIXA POSTAL
163 - CEP 45200 - JEQUIÉ/BA, fone (073) 5253602.
AMOR GREY DE JACOBINA
Salvador, 31 de julho
de 1993, às 10:10 horas
Olá Espíritos. Sei
que vocês estão cientes de tudo, mesmo assim quero registrar a tristeza e a
angústia que me assaltou agora. Não sei qual o real motivo,
mas creio e quero que seja (talvez para tornála menos dolorosa) pela falta da
presença da pessoa que amo. Às vezes, penso que este sentimento é frágil e que
só funciona na cama (necessidade carnal), mas logo tenho a confirmação de que é
muito mais forte que isto. É tudo o que planejo e projeto para meu destino
na Terra. Não quero e nem vou morrer, sem antes ser imensamente feliz com o meu
amor (e fazêlo mais feliz ainda). Por favor, apressem este encontro: não
podemos perder nenhum minuto de nossa vida.
Assinado: Eu.
AMOR GREY DE JACOBINA
Sobreviver eu sei
(Projeto Madio
Editora)
Resistir também sei
Amar, aprendi
Odiar, me ensinaram
Fingir, não consigo
(?)
Ser falso, não tenho
jeito (?)
Mas vou encontrar
uma forma de te amar
sem me machucar.
14.08.92 (for Jacob)
Urban Legion - Appear
cocaine but is my life.
Legião Urbana -
Parece cocaína mas é minha vida.
Minha cocaína é você,
GSS. My cocaine are You.
29 de julho de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Vi seu nome escrito
(Projeto Madio
Editora)
na porta do elevador;
vi seu nome tatuado
dentro do meu
coração.
Que pena que esta
amizade
tenha sido tão fraca
que se rompeu assim
por um motivo tão
fútil,
me fazendo sentir
que sou um cara
inútil.
Salvador, 12.04.93
AMOR GREY DE JACOBINA
Você
(Projeto Madio
Editora)
Você me tem feito ver
e crer
que não sou tão gênio
quanto imagino
que não sou tão
grande quanto acredito
que não sou tão
sensacional quanto creio
que não sou tão eu
quanto quero.
Só agora enxergo
minha arrogância,
minha estupidez,
minha burrice,
minha pobreza de
espírito, minha pequenez,
minha mediocridade,
minha falta de inteligência.
Então entendo tua
fuga para longe de mim:
medo de se contaminar
com minha imbecilidade.
Mas saiba que, mesmo
sendo medíocre como sou, te adoro!
02 de junho de 1992,
meu quarto, à noite.
Para GSS. Aprendi
muito contigo.
AMOR GREY DE JACOBINA
Você - Eu - Você
Eu - Você - Eu
Não há portas de
entrada
Não há saídas
Não há volta
Não há ida
Só lamento que seja
assim:
tão devagar...
Meu sofrimento é
esperar...
“que um dia, de
repente, você volte, para mim”.
Jacobina, 18.07.93
AMOR GREY DE JACOBINA
Você está na Chapada
Diamantina
(Projeto Madio
Editora)
longe do corpo e da
alma
aos poucos a
distância destrói
toda a paixão que
sinto
só sinto não poder
interferir
mudando o rumo da
história
e traçando o meu
próprio destino
em linha paralela com
o teu
com pontos de ligação
pra aumentar esta
energia
e amar você com
loucura
Ponto parágrafo: Te
gosto como a ninguém!
Do seu amigo, de
Jequié, for Jacob, 23 de julho de 1992
AMOR GREY DE JACOBINA
Você não tem o
direito de me fazer sofrer.
Você não tem o
direito de me abandonar.
Você não tem o
direito de ir assim...
Eu devia saber que estava amando e não sendo amado.
Você fez tanta loucura, que acreditei que estava
gostando de mim, de verdade.
Salvador, 20 de julho
de 1993, às 19:45 horas.
AMOR GREY DE JACOBINA
No “seu” banheiro,
faça tudo isto:
Jogue papel no
chão...
Demore bastante no
chuveiro...
Faça xixi na tampa do
vaso sanitário...
Cuspa nas paredes e
no chão...
Jogue creme dental no
espelho...
Pegue no espelho pra
ficar manchado...
Suje o vaso sanitário
todo...
Deixe a porta aberta
quando você estiver...
Esqueça o sabonete
dentro da água...
Não enxugue o piso...
Não dê descarga
quando usar o vaso sanitário...
Espalhe o creme de
barbear pela pia inteira...
Deixe o barbeador
sujo...
Mas, no “M E U”, não.
Valdeck Almeida de
Jesus
Fim dos textos para Grey
de Jacobina
CONTO LOUCO
Macacos me mordam
Era a frase que tio
Bano mais falava durante sua curta vida de trinta e oito anos. FALAVA, pois já
não fala mais. Hoje, descansa sob sete palmos de terra...
Lembro-me de um
episódio no qual meu tio levou a pior:
Estávamos, eu e ele,
num jardim zoológico cujo nome não me lembro, a passear numa tarde de domingo.
Vimos quase tudo quanto foi bicho naquele domingo: onças, cavalos, leões,
leopardos, emas, elefantes, girafas, gaviões, ursos, coelhos, pacas e...
adivinha! Isto mesmo. Macacos! Quando chegamos na jaula destes símios, paramos
e ficamos a tarde toda. Jogamos bananas para aquela macacada toda, nos
divertimos bastante. De repente a jaula foi aberta por um dos macacos, que saiu
furioso. Meu tio, como não poderia deixar de ser, antes de armar a carreira, soltou
a seguinte expressão de susto e medo:
- Macacos me mordam!
E, como se estivessem
obedecendo a uma ordem, todos os macacos deram sua mordidinha e, quando o
soltaram o meu tio, ele já estava morto...
AMOR ILVÂNIO
Ilvânio,
Quando te sonhei
estive em mundos
longínquos
pisei e corri por
caminhos de orvalho
vivi o tempo que
jamais passará por mim
criei um ser etéreo,
irreal e abstrato
Materializei a
perfeição num corpo perecível,
quando te vi
acreditei ter
vislumbrado a felicidade e a paz
tive que sentir a
cruel realidade
da procura sem fim do
amor ideal
esta felicidade que é
irreal (inexistente).
Salvador, 31 de
agosto de 1995, às 22:52 horas
IRÔNICA
Ao “TE LAMBUZAR COM
MEU PRAZER”
Perco a vontade de
amar
Mas minha energia se
renova
Quando volto a te
olhar.
Então o fogo se
ascende
E invade o espírito
mortal
Me faz tesão e louco
outra vez
Daí injeto em ti a
gota fatal.
Te preencho e deixo
prenhe
Feito u’a égua pra
dar luz
Grávida pra ter
Jesus.
Ele nasce, cresce e
nos seduz
Nos possui e nos
deixa loucos
E trepamos loucos
nesta luz.
Jequié, 28 de
fevereiro de 1990 (O grifo faz parte de uma música da Banda Beijo).
IRÔNICA - ENGRAÇADA
Deus oprimido (16 de
janeiro de 1991)
Este falso Deus do
povo
Que nos mata de tesão
É um corno descarado
Vagabundo e ladrão;
Ele está por todo
lado
Perturbando a
paciência
Mas nunca foi
descoberto
Por nenhuma das
ciências.
Devasta nossa nação
Acaba com nosso povo
E depois fica
sorrindo
Da miséria deste
povo.
Me persegue todo dia
Corre atrás e me
derruba
Me arrasta e me deixa
louco
Me convidando pruma
suruba.
Não me deixa nunca em
paz
Me perturba todo dia
Me levando à loucura
Pra deixá-lo com
alegria.
Ele quer que eu me
foda
E que caia na solidão
Que seja pisoteado
Por toda a sociedade
Infeliz e sem piedade
Pra satisfazer seu
tesão.
Mas ainda não
conseguiu
Mas receio que um dia
Quando eu menos
esperar
Ele me derrube e me
amarre
Me deixando
inconsciente
Pra poder me
estuprar.
Mas aí já não estarei
Mais aqui nesta nação
Pois antes que ele me
mate
Matarei este ladrão
Levarei ele à loucura
E lhe deixarei na
mão.
LOUCA
Fugi da Terra,
montado numa puta
Fui passear em Vênus,
Marte, Urano e Netuno
Transei com Zorba, a
Deusa da Miséria
E renasci das Cinzas
de Gomorra
Ressuscitei os mortos
e os vivos
Reconstruí Babilônia
e Babel
Derrubei as Pirâmides
do Egito
E desviei o
Nilio-rio-do-mel.
Busquei refúgio nas
asas da Luxúria
Recostei-me nos
ombros de Abul
Tirei as calças da
Virgem Santa Puta
E viajei sereno pelo
sul.
Voltei ao sol e fiz
minha casa nele
Tirei um anel do
Planeta Mercúrio
Plantei banana na lua
de Urano
Tampei o Etna com
goma de mascar.
Rachei a Terra em
duas outras terras
Tirei o Mar de Fogo
do Brasil
Transei com Santa e
com Santo Piolhento
Varando o ventre com
o Juízo Final.
Arrebanhei mil
ovelhas para mim
Soltei só para longe
de minha mão
Deixei as mil para
buscar somente uma
Porque ele era minha
própria mãe.
Fugi do fogo e no
fogo mergulhei
Busquei o gelo e nele
me enterrei
Subi nos Andes e
sobre eles andei
Empurrei-me e de lá
caí.
Dos altos Andes
despenquei colossalmente
Despedacei-me em
fagulhas de granada
E depois disto nunca
mais eu fui o mesmo
Pois bem inteiro para
sempre me encontrava.
Jequié, 28 de
fevereiro de 1990
LOUCA
Guerra Santa Puta
(16 de janeiro de
1991)
Esta guerra de Saddam
Já passou de putaria
Pois todo dia tem
guerra
Mas aqui na minha
terra
Ninguém lhe faz
pontaria
Parecendo até teatro
Pra enganar aos
incautos
Que estão a lhe
assistir.
Se eu fosse mais
covarde
Já teria lhe matado
Lhe deixaria louco
Além de louco, pelado
Para dar motivo pouco
Para todos rirem dele
E daria ainda um soco
Pra tirá-lo a
consciência.
Já vendemos muitos
sacos
E todos os botijões
Não temos mais
mantimentos
Acabaram-se os
feijões
Então, para que mais
guerra
Se não temos mais
saúde
Pra vender para os
ladrões?
Pior guerra tem aqui
Com fome, peste e
miséria
Cousa que nossos
políticos
Não considera coisa
séria
Porque não gera
riquezas
Para encher seus
grandes bolsos
Que estão sempre
“vazios”.
LOUCA
Jequié, 28 de
fevereiro de 1990
(PUBLICADO NO BLOG
SUEDDEUS)
...
Que morreram
despedaçados
De tanto tanto
trepar...
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