sábado, 22 de agosto de 2020

Livro Todos os Poemas da página 557 até página 669


CORDEL

“100 ANOS DA REPÚBLICA NA POESIA DE CORDEL”

 

Como a luz no fim do túnel

mostrando o fim da escuridão

surgiu a República no Brasil

Tirando-nos da confusão

que se alastrava pelo país

gerando insatisfação.

 

Interesses diversos

feridos por várias brigas

levaram todos à luta

pra não gerar mais intrigas

procurando para o problema

uma lista de saídas.

 

A saída principal

que foi muito aplaudida

tornando-se o objetivo

de nossa gente sofrida

foi derrubar o Império

que destruía nossas vidas.

 

Dia quinze de novembro

de oitocentos e oitenta e nove

a República foi proclamada

e ainda hoje se move

lançando seus tentáculos

quando faz sol ou quando chove.

 

Este grande passo foi dado

com a indiferença do povo

que a tudo assistia

não entendendo o novo

novo regime que nascia

como um pinto do ovo.

 

Rui Barbosa preparou

o apoio institucional

elaborando a Nova Carta

pra dar apoio legal

ao novo regime instalado

a segurança constitucional.

 

Seguindo a trilha do progresso

saindo do marasmo ocidental

o Brasil “pintou a cara”

ingressando-se total

numa caminhada difícil

fugindo do arcaísmo acidental.

 

Novos parâmetros tomados

nova consciência se formando

e o Brasil se abre ao futuro

ao mundo se integrando

Unindo-se ao Velho Mundo

e um novo palco se armando.

 

Deodoro da Fonseca

o primeiro Presidente

também foi protagonista

de ato sem precedente

expulsando do governo

Pedro II e sua gente.

 

Como não havia uma estrutura

para ao regime sustentar

houve muita controvérsia

que chegou a derrubar

a continuidade do processo

que chegou a se instalar.

 

Então houve revoluções

contrárias ao regime novo

por não entender o sentido

e que era melhor para o povo

e queriam voltar logo

ao “regime velho” de novo.

 

O poder se concentrava

nas mãos dos governadores

dos Estados mais centrais

onde estavam os “doutores”

que em tudo influenciavam

estes tais governadores.

 

Vai governo e vem governo

tentando seguir o caminho

que foi muito estudado

com muito amor e carinho

mas que homens sem caráter

o transforma em seus ninhos.

 

Com força, garra e coragem

muitos homens têm lutado

pra preservar os ideais

que a muitos tem contagiado

ideais justos e sinceros

de amar e de ser amado.

 

Ditadores populistas

pessoas sem coração

e também agitadores

aproveitando a situação

se alojam em suas fileiras

deturpando a devoção.

 

Pessoas de boa índole

lutando por democracia

entregando suas vidas

para obter mais melhorias

são também republicanos

que nos dão melhores dias.

 

O país cresceu bastante

e se integrou internamente

havendo também uma troca

de experiências externamente

após o contato com novas idéias

que nos abriam as mentes.

 

Gente simples e matuta

que não entendeu a “jogada”

ficou contra o governo

e então foi massacrada

para aceitarem as leis

que eram as mais “acertadas”.

 

Canudos foi destruída

porque era “monarquista”

rebelando-se contra o regime

que era a nossa conquista

e o brigaram ao povo rude

a aceitar nosso ponto de vista.

 

Mas, apesar dos pesares

muita contribuição

tem sido dada ao povo

que absorve com contrição

e que comungam com tudo

o que vem do coração.

 

Através do aperfeiçoamento

se conseguirá melhoria

para podermos enfrentar

esse nosso dia a dia

então seremos felizes

com muita democracia.

 

Em cem anos de República

crescemos mais que em trezentos

e assim se prova tudo

ou parte do que apresento

confirmando o que eu cito

nesse pequeno momento.

 

Parabéns ao meu Brasil

e aos seus construtores

que se ame mais e mais

esse país dos amores

e não se deixem abater

pelos momentos de dores.

 

Só lamento não ter nascido

naquele momento feliz

encravado na História

que meu querido país:

momento de luta ferrenha

que plantou novo país!

 

Jequié, 04 de agosto de 1989, 00:09 hs

 

 

 

 

 

REFLEXÃO - SOCIAL

A Bi realidade

A Bi realidade existe. É uma coisa comum em quem vive neste mundo. Ainda que não assumamos ou finjamos não vêla, ela está presente em tudo o que fazemos.

O que vem a ser? É uma coisa simples. Veja: Você trabalha num determinado local, ganhando 3x como salário mensal, trabalhando apenas um turno por dia. Necessita de outro emprego e encontra, em turno diferente do seu atual emprego, ganhando 2x e com chances de ser promovido. Inclusive, podendo passar a ganhar mais do que você ganha atualmente nos dois empregos. Você vive ou não estas duas realidades? É claro que vive! Trabalha nos dois empregos, ganha dois salários e, futuramente, deixa a menos lucrativa de lado e procura outra melhor, ou prossegue com apenas uma atividade.

Também acontece no amor: Um homem tem dentro de casa a sua esposa e filhos, que ama muito e tem correspondência. Mesmo que tenha ou não tenha amor pelos familiares, procura outra mulher para preencher sua vida ou para formar o que ele mais deseja: duas vidas diferentes. Começa a viver estas duas realidades, fingindo para si próprio e para as duas pessoas com quem convive; mente para a esposa, dizendo que não tem amante, e mente para a amante, dizendo que não tem esposa...

 

RELIGIOSA

Deus, a luz do mundo

Deus para nós é uma coisa muito valiosa. E, além do mais, tem para mim muita coisa de que eu necessito e das quais eu não poderei separar-me, sob pena de morrer e não mais poder ver as coisas lindas criadas por Ele para nós.

Eu não tenho a mínima esperança de viver se, por um mero acaso, Deus esquecer que eu existo, como muitas vezes fiz com Ele, por não ter um mínimo de consciência da importância d’Ele.

Não posso nem falar das coisas divinas, por não ter conhecimento daquilo que Deus preparou para nós. É vivendo, que aos poucos descubro, cada dia, uma coisa boa nesta vida. E, mesmo as coisas que são consideradas ruins vão se tornando boas, graças à interferência de Deus em nosso viver diário.

Quero, com a pouca experiência que possuo, apreender tudo ou o essencial para que eu tenha uma vida tranquila perante Deus e para que eu viva com meu espírito em paz com o Chefe Divino e Maravilhoso Deus.

Sei que tudo foi feito por Deus e em benefício nosso tudo foi planejado para que nada ficasse errado e nada andasse sem uma direção exata e uma finalidade lógica. Tudo tem sua finalidade neste mundo: tornar a existência humana mais humana e mais cheia de liberdade de expressão e de escolha do objetivo vital para nossa boa convivência.

 

Jequié, 24 de março de 1986

 

 

 

CONTO

Jequié, 04 de dezembro de 1984

Hoje, dia 04.12.1984, da Era Cristã, pela manhã, mais precisamente 06:45 horas, eu vi um garotinho que mal conheço, parar no outro lado da rua, em frente à venda onde trabalho, na Rua João Rosa, 113, Bairro Pau Ferro, Jequié/BA, e mostrar para seus irmãos uns troços: tampas de latas, papéis, etc. Mostrou os cacos, provenientes de algum lixo próximo à casa deles:

- Ó.

- Me dá - falou o menor.

- Fica.

- Eu não quero isto aqui, não. Falou o menor, apontando para uma roda, atravessada ao meio por um pau. Como o garotinho não tinha prestado atenção ao ISTO AQUI da menor, pensou que a mesma não queria NENHUM dos troços. Imediatamente cedeu seus bagulhos para outra de suas irmãs, ato ao qual protestou a menor:

- Por que você não me deu?

- Porque você disse que não queria.

- Eu não quero é isto aqui, ó. Retrucou a menor, apontando para a roda...

- Ah! - mostrou-se compreensivo o garoto. Então vai guardar - completou.

A garotinha foi guardar a roda e voltou para perto do garoto. Não sei do resultado final porque não prestei atenção no restante da conversa.

Isto me fez lembrar do tempo eu que eu dava, também, valor muito exagerado às coisas sem valor que eu achava nos lixos por onde andava. Cousas como pilhas usadas, carros quebrados, pedaços de ferro, canetas sem tinta, bagulhos e mais bagulhos.

Eu tinha, naquela época, meus doze ou treze anos de idade. Garoto despreocupado com o futuro, esquecido do passado (cheio de amarguras e dores, causadas pelas derrotas, mas também pontilhado de alegrais e surpresas agradáveis que encobriram os pesadelos, deixando apenas os sonhos bons se frutificarem). Garoto que estudava à noite, para ter o dia livre - não para brincadeiras nem para algazarras - para dar duro e murros em ponta de faca para sobreviver (trabalhar em armarinhos, barracas de miudezas ou em confecções de cintos e sacolas).

Sempre que surgia um ou dois dias de folga, procurava preenchê-los com meus passatempos prediletos: ora banhando-me no Rio de Contas, ora pescando camarão no Rio Jequiezinho, ora procurando bagulhos pelos lixos que tinha nomes dados por nós como Lixo da Boda, Lixo da Pererê, etc.

 

Jequié, 27 de setembro de 1985

 

 

 

CONTO

Jequié, 1983

Sem saída.

Depois do naufrágio do navio onde se encontrava, aquele pobre homem conseguiu nadar e alcançar uma ilha deserta. Ficou muito alegre. Mas sua alegria durou pouco. Logo apareceu uma cobra, feroz e faminta para pegá-lo. O pobre do homem não podia fazer nada para fugir: se corresse para o mar, morreria afogado; se enfrentasse a cobra, desarmado como estava, certamente morreria também; se corresse para dentro do mato, seria comigo por uma fera qualquer que o encontrasse, antes mesmo que ele pudesse dar alguns passos. Se... Enfim, não tinha mesmo saída para aquele pobre moribundo. Não tinha mesmo para quem apelar, nem para onde fugir: estava num beco sem saída. E a cobra, cada vez mais, se aproximava do pobre coitado, que desejou, àquela hora, não ter sobrevivido ao naufrágio da embarcação na qual viajava.

De repente, ele teve uma grande ideia. Salvaria sua vida e voltaria para casa sem pagar nem um centavo de condução! Seu coração aliviou-se da tensão que tinha sofrido ao pensar na morte que lhe chamava constantemente...

Sabe que foi a ideia? Ele esperou que a cobra se aproximasse e jogasse o bote. Daí, pegou o BOTE e navegou de volta para casa...

 

 

 

CRÔNICA

Jequié, 21 de junho de 1984.

O amor

Não tenho nenhuma autorização para falar sobre o amor. Porque, além de ser um grande pecador, não sei definir o amor com palavras ou ações. Acho que ninguém é capaz de amar: o amor é expresso, em toda a sua magnitude, em todo o seu sentido maior, quando o Nosso Senhor Jesus Cristo morreu por nós. Todo o amor existente encerrou-se neste ato inimitável. Não seremos capazes de amar, nem dublando.

Mas, afinal, o que é o amor? Por que ninguém ama de verdade? Tento, com as poucas palavras do meu vocabulário, dizer algo sobre o amor...

O amor não é este prazer intenso que sentimos quando estamos fazendo sexo com quem gostamos. Não. Não é a atração forte entre dois seres. Não. Não é um simples abrir e fechar de boca, em duas sílabas: a-mor. Não. Não é nada disso.

O amor é a solidariedade que não existe entre os homens. O amor é o ato de se doar a vida pela pessoa que amamos, pelo nosso irmão. O amor é o ato de doar a cada um o que lhe é por direito. É o ato de doar algo, mesmo que não seja de direito. Amor é algo que não existe entre os seres humanos. O amor é a vida. O amor é o amor. Muitos confundem o amor com o simples e satânico relacionamento prazeroso entre um homem e uma mulher: fulano e fulana fazem amor... Outros, confundem o amor com as guerras e os assassínios: procuram, a todo custo, achar a paz através da guerra e exprimir o ‘amor’ pelo país, com a morte de seus semelhantes.

Será que sabemos, realmente, o que é o amor? Nós amamos? Somos capazes de amar, sem conhecermos a fonte geradora de tão forte sentimento? Acho que não. Não poderemos amar, verdadeiramente, se não procurarmos nos aproximar mais de Deus.

 

 

 

 

CRÔNICA

Jequié, 24 de junho de 1986

Ruim para mim, Bom para você

Muitas coisas de ruim ainda continuam acontecendo, aqui em Jequié. Talvez aconteçam por durante muito tempo mais. Mas só continuará acontecendo se alguém estiver ganhando com isto. Cito como exemplo a enchente do Rio Jequiezinho - que atravessa a cidade - destruindo os teres e haveres de muita gente, para delícia de muitas outras.

Se fizerem algo para acabar com os danos causados por aquele rio, interesses serão feridos, lucros tornar-se-ão em prejuízos.

Muitos votos são dados a Políticos inescrupulosos em agradecimento às ajudas aos prejudicados com as cheias do Rio Jequiezinho; muito dinheiro é enviado aos chefes municipais para salvar os desabrigados com as cheias do citado rio; com o atraso no início das aulas nos principais estabelecimentos de ensino da cidade (Instituto de Educação Régis Pacheco e Grupo Escolar Lomanto Júnior), causado pelo abrigo dos flagelados  que não deixa de ser um ato de caridade - deve ter lucros para alguém também. Ou não?

Se nada do que falei tem sentido, como se explica a omissão dos poderosos, dos deuses, na resolução de simples problemas como o desvio do curso de um rio que arrasa com uma cidade a cada enchente? Não compensa, pelo custo da obra? E a tristeza dos que tudo perdem, periodicamente, nas águas traiçoeiras do Rio Jequiezinho, vale a pena? Compensa alguma coisa? Claro que compensa! Se não fosse o caso, tudo já teria tomado outro rumo!

 

 

 

 

 

 

 

CONTO

Conto + ou menos policial

Hoje fui deitar-me mais ou menos às 21:00 horas. Mas isso não vem ao caso.

Eu já estava passando para o paraíso dourado que é o sono, quando fui despertado por um barulho na porta do fundo. Levantei pé ante pé e fui verificar a origem daquele barulho. Qual não foi o susto que, quando cheguei na porta do meio, sentir meu corpo estremecer todo, como se tivesse sido atacado subitamente por uma febre de quarenta graus. Alguém tentava, a todo custo, abrir a porta com uma faca, que percebi quando um raio de luz fez luzir aquela lâmina afiada.

Quase não me seguro de pé, quando senti que a porta cedia aos empurrões brutais que o ladrão, assassino ou sei lá quem dava pelo lado oposto ao que eu estava. Pensei em dar um grito bem alto, de socorro, mas meu pavor não me deixava soltar nem sequer um ai! Mas do que me serviria um ai, quando necessitava de um revólver, faca, facão ou coisa parecida para enfrentar o tal ladrão?  Pensei em fazer muitas coisas, mas só conseguia era tremer como vara verde colada à parede. Fiquei com medo que o medo me fizesse cair e chamar a atenção do ladrão e de que ele, sabendo que eu estava com medo, se aproveitasse da situação para me forçar a abrir a porta... Fiquei com medo de ser torturado. Mas este negócio de tortura não está com muita bola, hoje em dia. O bandido pega a arma, aponta para você e dá um tiro. Você morre. Se não quiser morrer logo, vai a um hospital público, onde você morrerá com maior requinte de crueldade.

... e a porta abriu-se. Fiquei petrificado, vendo aquele homem sem camisa com uma faca na mão e, no olhar, um desejo louco de matar e de ver sangue. Quando ele encostou a faca em meu pescoço, quase morri de medo, quase desmaiei. Só não cheguei a desmaiar, com medo do tombo que levaria ao cair no chão. Já pensou, se além de cair, quebrasse algum osso e não encontrasse um hospital aberto àquela hora?

Senti aquela lâmina fria tocar em meu pescoço e uma voz cadavérica me dizer, quase num sussurro:

- Onde está o dinheiro e as jóias, meu chapa?

- Não tem dinheiro algum...

- Você sabia que sua vida corre perigo, se não me ajudar?

- Sabia. Mas aqui não tem nada de valor. Somos muito pobres. Tenha dó de mim e de meus parentes, seu ladrão...

- Ora, se está pensando que vim aqui para voltar com as mãos abanando, você está enganado, meu chapa.

E falando assim, o ladrão puxou minha mão e passou a faca com toda força no meu pulso, decepando-a. Arrancou minha mão e levoua consigo.

Tomado de pavor e horror, comecei a olhar para meu braço pingando sangue e comecei a gritar de dor. Caí desmaiado logo em seguida e acordei debaixo de cacetadas. Quando olhei quem me batia: minha mãe.

- Levanta, moloque. Vai trabalhar.

Eu tinha sonhado.

 

 

 

 

 

 

 

CONTO

Bidu, o fujão

(Antologia Isabelle Valadares)

 

Bidu, o cãozinho de Carlinhos, é brincalhão e esperto, e só vive rodando todo o quintal do seu pequenino dono.

Sempre, Carlinhos estava brincando com seu cãozito lindo.

Certo dia, Carlinhos procurou seu cão e não o encontrou. Ficou apavorado e saiu gritando e chorando:

- Bidu sumiu, meu cãozinho sumiu...

- Mas não é possível, bradou a mãe de Carlinhos, o portão estava fechado o tempo todo!

- Não estava, não. Eu fui pegar a carta que o carteiro trouxe e esqueci o portão aberto... Buáááááááá...

E foi aquele reboliço, um corre-corre danado pelo bairro, todos à procura do precioso cão de Carlinhos: cartas para os jornais, telefonemas para a prefeitura para ver se o cão tinha sido pego pela carrocinha, etc. E a resposta era sempre a mesma: não, ele não foi visto por aqui, não!

Passaramse alguns dias sem nenhuma notícia do cão e sem o telefone receber nenhuma chamada. Quando o telefone tocou, todos correram para atendêlo, e a decepção foi total: engano. A tristeza tomava conta de todos novamente, já que desde que o cãozinho sumiu, todos estavam acabrunhados.

Quase uma semana após o sumiço do cachorro, quando o carteiro provavelmente passaria pela rua, trazendo novas correspondências, Carlinhos foi para o portão esperá-lo. Seu cuidado não era para pegar as prováveis cartas que chegariam, mas para saber do carteiro se viu seu cãozinho.

Quanto o carteiro apareceu, foi uma surpresa grande: trazia o cãozinho preso a uma corrente.

- Viva, viva, meu cãozinho voltou...

- Quando cheguei ao outro quarteirão, percebi que estava sendo seguido por um cãozinho. Não dei maior importância, mas percebi que conhecia aquele cão. Ele me acompanhou até em casa. Chegando lá, o amarrei e trouxe comigo, hoje, para procurar o dono.

- Muito obrigado, seu carteiro. Muito obrigado mesmo. Deus te ajude.

 

Feita por VAJ em 1982

 

 

 

 

 

 

 

 

CONTO

A raposa e o galo

 

Diz-se que era uma raposa esperta e um galo não muito. O galo vivia num poleiro de madeira e só saía para catar alguns grãozinhos de areia, pois não encontrava esta em seu poleiro que estava sempre bem asseado e com bastante comida: milho, água, ração, etc. A raposa não tinha mordomia e vivia no mato, caçando o que comer mas nem sempre encontrava, a coitada. Vivia sujeita ao sol e à chuva, sem proteção, sem casa e, ainda por cima, perseguida dia e noite pelos moradores do local, por ter comigo algumas galinhas da vizinhança.

Numa de suas fugas, para não ser pega pelos cães dos caçadores - que sonhavam com raposa ao molho - avistou o galo que tinha tudo nas mãos. Muito tempo depois, ela voltou àquele local para tentar comer aquele gordo e bem tratado galo. Logo que chegou, ouviu o cantar do fanfarrão:

- Eu não trabalho, eu só passeio, eu vivo sempre, de papo cheio. Có, có, có, có...

- Ah! Desgraçado! É assim, não é?- pensou a raposa - hoje você pára de cantar tão tranquilo assim.

Ela falou tão alto, que o galo quase ouviu. Então a raposa aproximou-se devagarinho, devagarinho, com muito medo de ser avistada por alguém... O galo prestava atenção aos ares, quando sentiu o cheiro da raposa e saiu correndo e gritando bem alto:

- Socorro, tem uma raposa aqui e quer me pegar... Socorrooooooo.

Então, a raposa começou a persegui-lo com toda a aquela vontade de comer um galo, não percebendo que o dono do galo lhe apontava um grande e bonito rifle. Buuuummmm! O tiro pegou na pata dianteira da pobre raposa, que fugiu à toda e nunca mais voltou por aquelas bandas.

Quem quer o mal para os outros, sobre si o Mal virá.

 

Jequié, ano de 1982

 

 

 

 

 

 

CRÔNICA

O mar

 

O mar é muito lindo! Tão lindo, quanto extenso. Turo que eu vejo e é lindo, está no mar. Nele tem peixes e grandes e peixes pequenos. Pelas águas do mar, ou dos mares, navegam as maiores embarcações... Também singram o mar, a trabalho, diversão ou por motivo de viagem, as pequenas embarcações, canoas, barcos, balsas, jangadas, etc.

A areia do mar é finíssima e bem alva em quase todas as praias brasileiras.

Os habitantes do mar, os peixes já mencionados, são muito úteis aos brasileiros, que têm uma de suas principais fontes de alimentação, no mar. O mar também serve como ligação entre o nosso e outros países do mundo.

 

Ano de 1984.

 

 

 

 

 

CRÔNICA

O menino honesto

A mulher estava sentada num banco do jardim, mimando o seu filho, com uma sacola do lado.

Depois de ter descansado bastante, ou ter posto o seu filho para dormir, saiu sem perceber que esquecia a bolsa.

Já estava bem longe do jardim, quando um garoto lhe chamou e entregou a bolsa. A mulher agradeceu e seguiu seu caminho. A uns poucos metros parou e chamou o garoto. Pegou uns trocados e deu a ele, que saiu eufórico.

Feita em 1982 (?)

 

 

 

 

 

CONTO

A formiga e a flor

A formiga chegou, tão silenciosa, que a flor não notou a sua presença.

A flor cantava de alegria. A formiga, quase chorava de fome e de tristeza.

Se entusiasmou tanto com a música da flor, que se esqueceu de procurar comida para alimentar-se, ou seja, de comer a flor, que era seu alimento predileto. Esqueceu-se até de que estava com fome. Quando a flor parou de cantar, e percebeu que a formiga estava por perto, perguntou o que ela queria. A formiga, como tinha se esquecido do que tinha ido fazer, inventou uma desculpa e foi embora.

Na viagem de volta, encontrou comida, comeu, se fartou e ainda levou um pouco para casa. Outra vez com fome, saiu à procura de alimento, mas morreu antes que encontrasse algo que saciasse sua fome...

1984

 

 

 

 

 

CONTO

Briga entre duas bobinas de linha

- Eu sou mais forte que você.

- Que nada, sou eu que sou mais forte.

- Então, vamos medir forças, para ver quem sai ganhando, certo?

E assim fizeram: pegaram-se e começaram a brigar. E brigaram tanto, que no final ninguém sabia quem tinha ganhado a briga. Estavam as duas trançadas uma na outra, e parecia que não eram duas, mas apenas uma bobina de linha.

24.07.84

 

 

 

 

CONTO

O sonho realizado

Pedrinho, menino pobre e humilde, sempre sonhou em ter uma bicicleta para poder correr por toda a cidade, sem cansar-se muito e, ainda, poder ir para o colégio, ir à feira, fazer mandados, sem perder muito tempo...

Sempre pedia dinheiro ao seu papai, pensando que dinheiro foi feito para se ter em abundância para gastar com o que se quiser. Mas seu querido papai sempre vinha com a mesma conversa:

- Meu filho, dinheiro não foi feito para os pobres. Papai não tem dinheiro nem para o pão de amanhã, vai ter para comprar bicicleta?Isto é coisa para gente rica. Não para pobres, como nós.

Logo, logo o coitado do Pedrinho entendeu que através do seu querido papai, jamais teria o seu sonho realizado. E, deste dia em diante, não parou mais de trabalhar, para todos os que lhe chamassem. No final de algum tempo, já tinha dinheiro suficiente para comprar o que desejava, e ainda sobrar...

Não fez outra coisa, senão correr para a loja mais próxima e comprar uma bicicleta.

Daí para a frente, não parou mais de pedalar em sua bicicleta. Corria pela cidade inteira, pelas ruas, fazendo mandados, indo para o colégio, etc.

Seu pai ficou muito feliz em saber do acontecido e ajudou ao filho a comprar tudo o que fosse necessário para que seu filhote ficasse feliz.

Quem trabalha, Deus ajuda.

1982

(Publicado na revista online Varal do Brasil 2014)

 

 

 

CONTO

A Árvore do quebra braço

Perto da casa do Marquinhos, há uma grande árvore, frondosa e que dá cada fruto delicioso. Huuummm!! Que delícia!

Todos os dias, Marquinhos sai de sua casa e se dirige à grande árvore, sobe, e fica bem no alto a deliciar-se com frutos cada um melhor que o outro.

Certo dia, o ritual se repetiu, mas ele avistou, além dos frutos, um ninho de pássaros, bem em um dos galhos mais filhos daquela árvore frondosa. Ele não aguentou de curiosidade e tentou subir no galho, para ver o que tinha no ninho. Subiu, subiu e o galho, fraquinho, não aguentou seu peso e quebrou-se. Marquinhos despencou do alto da árvore, se arranhou inteiro, ficou com a roupa toda rasgada, e, para completar, quebrou um braço.

Correu para casa, aos prantos, mas não contou a ninguém o motivo da queda, nem de onde caíra. Mas, logo, todos ficaram sabendo das travessuras dele e, então, aquela árvore ficou sendo conhecida pelo sugestivo nome de Árvore do quebra braço.

1982

 

 

 

 

 

 

 

CONTO

Coisas do destino

Numa manhã de segunda-feira, exatamente às 07:00 horas, quando o sol refletia seus raios em direção à cidade de Jequié, no interior baiano, Antônio, homem franzino, muito brincalhão e trabalhador, saltou do caminhão de lixo para recolher alguns sacos de lixo depositados na tarde anterior, pelos moradores daquela rua, quando...  ...e caiu em cima do pé de Antônio, um relógio enorme, de ouro.

Ele, que há muito tempo não possuía um relógio, por faltar-lhe condições para este luxo, abaixou-se, pegou o relógio e saiu em disparada, todo feliz da vida, com um ar de quem tinha ganho na loteria sozinho. Atravessou a rua correndo, sem perceber que vinha um carro em altíssima velocidade que o atropelou, jogando-o num canto da rua, com o maravilhoso relógio que tanta alegria lhe causou.

1982

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CRÔNICA

Salvador, 08 de abril de 1993.

SP

‘Essepê” não pode ser sinônimo de Semi-parado; não pode ser sinônimo de Super-preguiçoso; não pode ser confundido com Servidor de si próprio. Antes, deve ser comprometido com sua suposta função: prestar um bom serviço ao público, ao povo em geral; antes, tem que estar na vanguarda das transformações, do bem estar, do espírito integrativo entre a comunidade e os órgãos do governo em suas diversas esferas; antes, tem que estar no espírito de cara cidadão, cuja finalidade última deve ser a de socorrer àquele que chega aflito no balcão à procura de informações. Mas o que se constata, no geral, sem rara exceção, é o improviso e o marasmo. Em todo órgão público, o que se vê são pessoas mortas e descompromissadas com a realidade de seu país. Nesses locais (refúgio de gente incompetente e mal-humorada) só o que se recebe é cara fechada e mal atendimento.

Tudo isto tem uma raiz crônica: a Estabilidade no Serviço Público. No quando de funcionários públicos do país, há este mal. Pois ninguém está obrigado a se reciclar, a concorrer por um lugar ao sol. Cada um tem somente a obrigação de assinar o ponto, no máximo, e a estar na repartição durante o expediente. Isto não estimula a disputa, não estimula o aperfeiçoamento. E o pior: os cargos mais elevados, geralmente são conquistados através de “amizade”, de “indicações” e outras formas de ascensão, o que não oportuna aos supostamente capazes a conquista de tais postos. Uma vez conquistada uma posição, há a luta pela perpetuação ali, até que este agraciado seja novamente promovido e que “passe a coroa ao seu sucessor” (novo indicado, novo apadrinhado).

 

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

Época que passei com Edvaldo:

 

 

18 de maio de 1990, às 22:30 horas, no Tulipa Negra

“Que importa esta moral que me condena, se eu estou apaixonada por você”. “Tudo por amor, tudo por amor. Deixei meu coração falar por mim”. Da música “Tudo por amor”, de Simone.

 

 

Dia 10 de julho de 1990, às 07:28 horas. Casa de Saúde e Maternidade Santa Helena

A partir daqui, serei uma outra pessoa. Não sei se conseguirei tirar todas as “máscaras” que uso, se me revelarei como sou para todos os meus (talvez eu prepare o Espírito de cada um primeiro), mas sei que não posso continuar vivendo uma vida e representando outra coisa totalmente oposta. Muitos rumos mudarão e muita gente ficará surpresa comigo. Só quem não se surpreenderá totalmente será o MAR. Pois o mar sabe dos meus segredos, segredos que somente o MAR sabe ouvir, responder ou calar-se quando necessário...

Casa de Saúde e Maternidade Santa Helena, Posto I, Enfermaria B, Leito 01

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

PROJETO 30 ANOS DE POESIA

“Deus não é Deus. Diabo não é Diabo”. (Galinha Pulando)

 

Amor não é amor.

Paz não é paz.

Guerra não é guerra.

Paixão não é paixão.

Tudo não é tudo.

Nada não é nada.

 

Além de tudo te quero.

Além do amor te desejo

Além do corpo te necessito.

 

Amo o amor que sinto por ti

Sinto a paz que é te amar

Amo a raiva que sinto por ti

Te quero como quero meu corpo.

 

Te desejo como desejo viver

Porém você se afasta como um meteoro

Foge igual duas energias iguais

E esquece que o meu sofrer é o teu sofrer.

Jequié, 28 de setembro de 1990, às 19:40 horas

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

“Restaurante Vela Mar” - Pontal Praia Hotel,

15 de dezembro de 1990, às 14:20 horas.

 

Exatamente sete meses e dois dias que conheci EOS. Depois daquele dia, nunca mais minha vida foi a mesma. Sofri, me martirizei, descobri coisas desagradáveis na vida, como a falsidade; descobri como é chato confiar nas pessoas e depois ser traído... EOS me ensinou tudo isto. E muito mais. Me ensinou a sofrer calado; a não confiar em ninguém; a não amar; a não viver. Mas só aprendi a sofrer. E aprendi muito bem. Ainda confio nas pessoas, me iludo, fantasio, e tudo mais. Ainda não perdi a capacidade de amar e a me entregar de corpo e de alma à pessoa pela qual sinto ou venha a sentir atração. Talvez eu seja um tolo, um inocente ou um ingênuo. Mas o que sei é que ainda vale a pena se entregar de corpo e de alma a alguém. Ainda vale a pena sofrer por amor.

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

05 de junho de 1990, às 00:30 horas

Pessoa, reconheço que é muito difícil se imaginar a possibilidade de uma pessoa gostar de outra, mas sei que sentimento é sentimento. Não existe SENTIMENTO DO SEXO MASCULINO e SENTIMENTO DO SEXO FEMININO. Do mesmo modo que beleza e arte não têm sexo, sentimento também não tem.

Se uma pessoa é bonita, ela simplesmente é bonita, e nada mais. Não importa seu sexo. Uma obra de arte é admirada pela arte e não pelo sexo da obra de arte.

Então, um sentimento de uma pessoa para outra, independe de esta outra pessoa pertencer ou não ao sexo oposto.

Não tenho a pretensão de, com estas palavras, transformar o seu raciocínio e fazer você pensar diferente. Longe de mim tal intenção. O que desejo é, simplesmente, deixar claro o meu ponto de vista em relação a este assunto.

Cabe a você julgar cada pessoa que faz parte do seu círculo de amizades e descobrir quais nutrem sentimento verdadeiro e quais estão te traindo...

Até breve.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

06 de junho de 1990, às 08:57 horas

Sempre vivi na escuridão e, quando começou a surgir a luz no final do túnel, me iludi e fiquei cego de emoção. Hoje vivo na claridade, mas não enxergo nada.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

10 de junho de 1990, às 01:53 horas

A geração passada, não entende o sentimento da atual. Acha que tudo não passa de libertinagem e “desvio”. Mas tudo o que ocorre agora é fruto da repressão, mais especialmente do sentimento, que se sofreu anteriormente. O amor é amor é amor. O ódio é ódio. Homem odeia e ama homem. Tem que ser assim. É o destino.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

10 de junho de 1990, às 10:31 horas

Você me perguntou por que eu não uso minha inteligência para a corrupção. Respondi que “um dia, quem sabe?”. Mas acho que este dia está muito longe de chegar. Enquanto eu tiver a liberdade de andar sem medo de ser visto, não procurarei ser corrompido.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

10 de junho de 1990, às 10:37 horas

A humanidade só será feliz quando libertar o sentimento e eliminar o preconceito do amor pelo ser humano.

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

14 de julho de 1990

- “Hoje não sou mais o E que você conheceu. Estou livre de uma coisa (Máfia)”.

- Graças a Deus!!! Fico feliz por você. Você terá dias de liberdade total. Vai soltar-se de todas as amarras...

 

I am one persona very...

 

Una cosa buena apareceo in mya vida. Esta cosa fez nascer semientes e germinaran e ficaran com suas raises presas in miñas entrañas, profundamiente... mui profundamiente...

 

De uma coisa tenho certeza. Sou um novo homem. Não voltarei mais a ser aquela pessoa triste que eu era. Sinto vontade de crescer, de voar até ao infinito. A paz de espírito só se consegue quando se salda dívidas de vidas anteriores. Acredito que estou conseguindo me libertar dos meus pesadelos e de meus medos de viver. Estou valorizando cada bilionésimo de segundo do tempo que os Seres me concedem. Aproveito cada molécula de ar, cada milímetro de minha estrada...

A arte de viver é muito difícil de se aprender. Só depois que se apanha muito e que se bate muito com a cabeça em muitas paredes é que se começa a ter consciência de que não vale à pena sofrer. Cada um tem a obrigação de ser feliz e colaborar para que o mundo seja menos cruel. Laços e cordas, cercas e currais, existem aos milhares. Quando caímos num neles é difícil de sair. Mas se espernearmo-nos bastante, os nós se afrouxam e conseguiremos nos soltar por nossos próprios esforços.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

14 de julho de 1990

AMOR também se escreve ao contrário: ROMA.

 

Todos los hombres y todas las mujeres san equales. Hombres y mujeres. Sentimientos san sentimientos. Nada mas que sentimientos. Tudo es pasajero. Tudo que começa tiene su finale. Y nem siempre es lo finale que se desea.

Apienas de una cosa tengo certesa: que las esperienzias de el passado jamas voltaran...

Los sueños san apienas sueños. Jamas se alcanza los deseos que se planea. My corazone si encuentra apertado neste momiento. Temo por el fracazo de mios deseos e planos.

Sientome enciumado de mi mesmo. Acho que me estoy dando libertad demas. Na TV passa a música No more bolero (Melô do Bolero). Recordações afloramme à mente, como num álbum de fotografias de momentos alegres. Existe a concorrência da vida. Cada segundo é precioso. Estou perdendo muitos segundos (tempo). Quem é o primeiro hoje será o segundo amanhã, o terceiro depois. Não sei se ainda sou o primeiro; se já sou o segundo; se minha colocação é insignificante... Mas o que importa mesmo é o fato de eu ter vivido momentos agradáveis e hoje estar vivo para disputar, ao menos, migalhas de paz e de carinho... Já não sou radical como era e hoje em dia já aceito ou entendo a derrota como um incentivo para continuar no páreo, lutando por um lugar ao sol.

Afinal de contas, todos têm direitos iguais. Então, que vença o mais forte ou o mais sensível. Meu pedaço de chão, conquistado a duras penas, não será deixado para qualquer um, como se fosse de mão beijada, não. Lutarei para preservar o território que ocupei, mesmo que seja um terreno de ninguém, que ninguém doma nem consiga prender...

Já são 23:38 horas.

 

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

14 de maio de 1990, às 02:57 horas

Você falou que sente um certo medo de mim. Não tem motivos para este seu medo. Eu não seria capaz de te desejar algo que não fosse bom. Como eu poderia fazer mal a quem me reconheceu como ser humano, a quem me deu apoio, a quem me fez acreditar na vida?

Eu sempre imaginei mas não acreditava que pudesse passar por momentos tão gratificantes e reconfortantes como os breves momentos em que dividimos companhia.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

14 de maio de 1990, às 02:57 horas. Você foi uma das raríssimas coisas boas que aconteceu em minha vida. Neste momento estou ouvindo na FM Estação 93 a música de Fafá de Belém, “Memórias”. Estou chorando. Sei que sou um fraco. Não mereço sua amizade. Você me falou ontem que eu não transmito nada de bom para as pessoas. Mas, como eu poderia transmitir algo de bom se a minha vida é toda recheada de tristezas e de espinhos?

Naquele dia (você sabe qual dia e onde) você falou que não estava acreditando no que fazia: “deixar coisas importantes, para ir a um Motel com tal tipo de pessoa”. Mas para mim, foi super gratificante. Você talvez não imagina o bem que me fez. Jamais fui tratado como um ser humano tão profundamente como naquele dia. E além do mais, você foi super compreensiva, mesmo após todo aquele vexame que causei. Talvez você diga que estas coisas acontecem porque quem não tem costume de beber, é assim mesmo. Mas você não merecia aquela palhaçada que fiz.

Ontem eu quis ir atrás de você. Queria conversar, ter tua companhia por mais algum tempo. Não acreditei que você estivesse indo embora. Só depois que te vi dentro do ônibus é que acreditei. Mesmo assim, fiquei fantasiando que você desceria na Praça Luiz Viana e que voltaria. Dei um tempo, mas você não veio. Pensei em pegar um taxi e te seguir. Mas talvez você não gostasse. Fui a pé até o seu bairro, na esperança de te ver em algum lugar. Não te vi em lugar algum. Descobri, apenas, supostamente, que um determinado estabelecimento comercial poderia ser seu.

Quando te liguei ontem, você me convidou para almoçar num local onde muita gente te conhece. (Estou em prantos). Por que o convite? Será que minha companhia serve para alguma coisa, além de te atrapalhar? Você não conseguiu ter prazer naquela primeira noite. Disse-me depois que procura agradar mais aos outros do que a si mesma. Eu também tenho esta filosofia. Só que não consegui te fazer feliz. Você acha que merece mais esta cruz? As pessoas (seus amigos) já comentaram sobre um suposto encontro entre você e uma pessoa (eu), num motel da cidade, e você quis brigar com seus amigos por causa disto.

Acho que não devo continuar a te causar tanto mal.

 

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

15 de julho de 1990

Eu tinha ido dormir às 23:40 horas, mais ou menos. Acordei às 03:48 horas. Sabia que não tinha chegado ninguém. Só quis levantar-me para confirmar.

 

Você não tem o direito de querer fazer a felicidade de ninguém. Você acaba iludindo a todos e deixando a todos infelizes. Mais infelizes que antes de te conhecer. Eu não estou em condições físicas para me emocionar. Mas estou me emocionando. A culpa não é sua. É toda minha, que fico criando fantasias que não existem, Você me disse que jamais me daria um não como resposta. Eu te falei que você construiria nosso fim trágico, nossa derrota. Você riu e desconversou. Eu estou sentindo que você começou a construir O MURO DE BERLIM entre nos... Você se diverte em poder dispor das pessoas para satisfazer os desejos e fantasias seus. Será que você não percebe que as pessoas são feitas de carne e de osso e que possuem sentimento? A FM anunciou a música “Pássaro Ferido”, de Roberto Carlos. Algumas partes desta música têm a ver comigo neste momento. Estou longe de quem gosto (e suponho que tenha gostado de mim e que agora parece não mais gostar). Eu fui contigo a lugares diversos. O que pude fazer para ir a lugares confortáveis, fiz. Será que você teve sentimento de, pelo menos, escolher um local decente para ir esta noite? Não sei se você lerá estas palavras. Só sei que sou um bobo, um ingênuo. Como eu poderia esperar alguma emoção sentimental de alguém que se diz insensível, de alguém que é incapaz de verter uma lágrima - mesmo que seja lágrima de crocodilo - quando passa por momentos difíceis?...

São 04:09 horas do dia 15.07.1990

(Quando você levou China para...)

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

16 de julho de 1990, às 15:31 horas

Tenho paz. Sou feliz. Já posso morrer. Amei e fui amado. Sofri e sorri. Tive fome e comi... Não posso morrer. Tenho que amar muito, ainda...

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

17 de julho de 1990, às 04:38 horas.

Acordei pela madrugada e me senti vivo. Ontem eu tinha acordado também neste mesmo horário. Coincidência?

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

17 de julho de 1990, às 16:21 horas. A vida me sorriu e me deu uma chance. Posso usufruir de paz espiritual e já disponho de defesa contra quem deseja me ferir. Nada mais me fere nem me humilha. Aprendi a me defender dos golpes baixos que a vida aplica. Sou gente. Sou homem. Sou vida.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

17 de maio de 1990

Sou um fraco

Isolo-me, para não concorrer. Fujo do convívio com multidões, por medo de ser descoberto por esta multidão. Não tenho condições de disputar com ninguém, porque sou prepotente e incapaz de aceitar a derrota. Não aprendi que se deve ser humilde, para alçar grandes vôos. Sempre espero mais do que mereço, e por isto nunca me surpreendo com as fases boas de minha vida.

Meu coração é amargo e duro como uma pedra de diamante. Não sou capaz de um sentimento puro e despretensioso. Sou vingativo e implacável. Persigo meus inimigos até deixá-los sem fôlego. E, não satisfeito, piso-lhes o pescoço e não lhes dou trégua: não aceito perdão ou pedido de cessar fogo. Não admito as guerras sem motivos, porém decepciono a mim mesmo (não sinto remorsos), fazendo guerrilhas contra quem não pode se defender, pois não sabem o grau de falsidade que entremeia minha cara “inocente” e meus pensamentos perversos.

Sou ridículo em meus ideais. Mudo de opinião conforme o rumo dos ventos, mas cobro das pessoas posições definidas.

Sou definitivo e radical em posições e opiniões que me beneficiam e maleável quando não me dizem respeito.

Cobro companheirismo, lealdade, etc., e semeio individualismo, infidelidade, etc.

Me visto de anjo, quando sou um misto de satânico e diabólico.

17 de maio de 1990, às 08:18 horas

Estou tão acostumado com o sofrimento, que paz para mim é tormento.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

18 de julho de 1990. Acordei às 02:50 horas. Fui ao banheiro. Estava vivo. Respirei. Meu coração batia. Meu pulso pulsava. Meu sangue percorria meu corpo. Senti frio e fui dormir novamente. Agora são 08:10 horas

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

19 de julho de 1990, às 04:25 horas. Hoje acordei desesperado, às 04:18 horas. Eu estava com todos os pontos da cirurgia inchados, como se fossem azeitonas pequenas. O local do ‘dreno’ estava como se fosse um pequeno limão. Chorei copiosamente, mas não tive coragem de apalpar, para confirmar. Depois passei a mão. Não estavam inchados. Eu tinha sonhado... Sonhei que andei muito, carregando umas tábuas e, já de volta para o local onde estava antes, quando faltava pouco para chegar, percebi o inchaço. Eu já estava na casa da mão de Jocenita Fernandes Cordeiro dos Santos, LILI, minha colega no curso Técnico em Contabilidade. A tia de Ezequiel (que mora no bairro São Luís) estava lá na casa de LILI e me perguntou se eu tinha operado, pois ela não sabia. Eu respondi que sim, e fui mostrar os pontos. Foi quando percebi a inchação. Fiquei desesperado e saí com Ezequiel para procurar a estrada de asfalto que ia para Salvador, onde se encontrava a médica que me operou. Aí acordei.

-- Tive a impressão de ter sido enganado por uma pessoa. Esta pessoa representa muito bem e fiquei a imaginar se tudo aquilo não foi mais uma representação teatral... Se foi, e eu caí, jamais me perdoarei por ter me deixado enganar... VAJ/JEE, 19.07.90, às 04:30 horas. Mas agora estou mais calmo e algo me diz que tudo aquilo é verdadeiro.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

19 de julho de 1990, às 14:02 horas.

Hoje estou nostálgico. Relembrando momentos de alegria que vivi há dias atrás... Momentos estes que jamais serão esquecidos, tampouco repetidos. Sinto-me impotente, ainda convalescendo de tratamento cirúrgico. Gostaria de não estar com este problema, neste momento, para poder sair daqui e vagar pela cidade, montado na minha velha bicicleta... Pensar e repensar minha vida. Perguntar para mim mesmo se é realmente “isto” que desejo fazer. Se não é apenas mais uma ilusão... Se não é apenas mais um momento bom que depois será esquecido ou arquivado num armário do passado e que jamais poderei repetir. Fico ansioso por ouvir tua voz me dizendo que também gostou de tudo o que aconteceu e que mexi com o seu sentimento... Mas as mesmo tempo, duvido de mim mesmo e me pergunto se realmente ouvi isto da tua boca que tantas vezes negou a existência deste sentimento. Fico indeciso em acreditar e em não acreditar. Mas sei que, para não ficar mais angustiado do que já me encontro, tenho que dar um voto de confiança e acreditar em tudo o que você diz (ou em quase tudo - ou em metade do que você fala - ou em algumas coisas). Não tenho nada palpável que me garanta que tudo isto não passa de um grande sonho, do qual um dia acordarei e me arrependerei muito de ter dormido e sonhado... Já confiei tanto e em tantas pessoas e depois me decepcionei tanto... Fico relutante em continuar a abrir meu coração para uma nova pessoa. Afinal de contas, todos nós somos tão cheio de falhas... Será que merecemos, eu e você, continuar a nos envolver um ao outro deste jeito? Será que não seria melhor darmos um tempo, aproveitar que não posso nem andar e refletirmos um pouco melhor sobre tudo o que tem ocorrido conosco e nos perguntar se valerá a pena prosseguirmos lutando por uma coisa quase impossível e que tantas e tantas pessoas condenam? Até onde poderemos nos envolver sem que esta relação venha um dia a nos ferir? Não podemos brincar com o sentimento um do outro. Não podemos, nem temos o direito de nos deixar envolver um pelo outro, dar confiança aos sentimentos e um belo dia destruir este laço de amizade. Pois, agindo assim, poderemos nos ferir e, quem sabe, profundamente. Nem você nem eu merecemos passar por mais uma decepção na vida. Afinal de contas, tanto eu quanto você já passamos por muitos momentos difíceis e sabemos que não é nada fácil curar uma ferida. Leva muito tempo para cicatrizar... E ninguém melhor do que você para saber disto... Eu tenho muito medo de me entregar para uma pessoa. E ao mesmo tempo não consigo manter um relacionamento de amizade profunda, sem me envolver emocionalmente. Tampouco me sinto à vontade, nem sei me relacionar sem liberar meu sentimento para o melhor possível... Temos que pesar as consequências de tudo, desde agora, para não sofrermos no futuro...

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

19 de julho de 1990, às 18:05 horas.

Minha vida está sendo invadida por uma onde de energia muito forte. E eu colaboro para que esta invasão se dê pacificamente e com bastante ordem. Necessito desta energia que me invade, abrindo  fendas profundas que rasgam meu espírito de alto a baixo...

Não quero me entregar a esta emoção, mas ao mesmo tempo me sinto incapaz de lutar contra tudo isto... Não me sinto à vontade praticando uma vida “condenável”, mas gosto do que faço e, principalmente, COM QUEM FAÇO. E isto me dá a paz de espírito que necessito para continuar amando de um modo diferente.

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

19 de setembro de 1991

 

EOS

Ontem sonhei com você

Hoje lembrei do Pontal

Recordei-me das mentiras

Dos risos e das cervejas

De tudo o que aconteceu.

Não sei porque a saudade

Não sei porque nostalgia

Só sei que lembrei de tudo

E que você me disse um dia

Que o melhor pra minha vida

Era mesmo ter você.

Talvez seja isto mesmo

E eu ainda não enxerguei

Pois todos os que procurei

Mandaram-me passar.

Até Ricardo Pediu

Para eu não escrever.

Eu não sei onde tu andas

Mas eu gosto de você

Pois foi o melhor amigo

Que já tive até hoje.

Não sei se haverá laços

Que nos una outra vez

Só sei que você foi muito

Importante para mim.

A você eu devo muito

E isto eu te falei

Você chorou e eu também

Mas estamos separados

Cada um para seu lado

a sofrer a sua dor.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

20 de julho de 1990, às 09:24 horas. AMAR DE UM MODO DIFERENTE. Não existe amor diferente. Amor é amor. Toda forma de amor é válida. Principalmente se é alicerçada no respeito mútuo e na sinceridade. Se há a participação dos dois seres humanos nos momentos bons e nos momentos ruins, então o que há de diferente nisto?

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

21 de julho de 1990, 23:03 horas

Acho que vou enlouquecer. Eu penso em mim e em tudo o que neste momento amo (você) e não consigo chorar nem ficar tranquilo com esta paz tenebrosa. Neste quarto, entre quatro paredes, esta cama de casal, este rádio ligado... Estou abandonado, neste quarto imenso, nesta cama quilométrica. Sozinho e sem ninguém com quem conversar. Vendo você chegar em minha casa e saindo, sem que eu possa dizer pra ficar comigo. Esta cirurgia que nunca me dá liberdade para sair atras de você, e sentir teu perfume, tua pele, teus pelos, tua alma, tua voz... Quero voar, mas minhas asas estão quebradas e engessadas. Eu queria poder vender esta casa para poder comprar outra para minha família e outra para nós, longe daqui. Não aguento mais te ver de longe. Não aguento mais ter contato contigo através de um simples aperto de mão. Sei que não queremos somente um aperto de mão. Eu sei que desejo você comigo no almoço, no jantar, no café, na cama a noite toda, sentindo você respirar, sentindo o seu coração pulsar, sentindo você alcançar o prazer do corpo e da alma junto comigo... Mordendo suavemente seu pescoço, beijando tua orelha e tua nuca, acariciando teu peito e sentindo o teu calor... Tudo isto pode parecer absurdo para mim e para você, mas é o que sinto e não posso impedir o meu corpo de desejar o teu. Não posso proibir minha cabeça de desejar você. Meu corpo queima pedindo tua presença e teu calor. Fico louco se não escrever tudo isto. Pouco importa se alguém pegar e ler. “Meu desejo é poder te amar” (parte da música ‘Auê”, da Banda Cheiro de Amor, que ouvi neste instante, no rádio).

Cada dia que acordo me sinto melhor que no dia anterior. Mas isto acontece por causa da vontade que tenho de me recuperar logo para poder ter você no novamente e caminhar comigo, a sentar comigo num banco de jardim para conversar.

Vamos parar de ser tão formais. Vamos lutar para nos dar liberdade de conversar e agir como duas pessoas conscientes do que querem. Vamos nos abraçar, fazer perguntas íntimas, falar mais abertamente sobre nossos sentimentos...

Sei que é difícil duas pessoas se entenderem e se abrirem uma para a outra. Mas nós somos pessoas civilizadas. E, além do mais, nossa amizade já chegou num ponto bem profundo. Temos o direito e o dever de nos conhecermos melhor. E nada melhor do que começarmos perguntando coisas que não sabemos ainda sobre o outro. Somo muitos grosseiros, ainda. Vamos tentar ser mais delicados, mais sensíveis. Para nós, nada é proibido nem feio. Tudo é sentimento. Tudo é amor. Minha paz não está completa, porque não tenho você por 25 horas ao dia. Me lembrei de “O Cálice”. Já são 23:39 horas. Nossos passos na areia daquela praia jamais serão apagados pelo mar, porque o MAR é você. Quero mergulhar de cabeça no MAR e me molhar no seu suor. Esta cama é nossa. Ela já sabe o seu peso e já sentiu o seu cheiro, já sabe a maciez da sua pele, do calor do seu corpo... Já nos viu amando. Ela está com saudades de tudo isto e não aguentará esperar mais...

* “O Cálice” - Bar, na orla do Pontal, em Ilhéus, próximo ao Pontal Praia Hotel.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

21 de julho de 1990, às 21:28 horas.

Por mais longo que seja o túnel, haverá o momento de se ver a luz do sol novamente.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

22 de julho de 1990, 10:22 horas

Você é mais que um irmão, mais que um amigo, mais que um Deus... Você é meu sangue, é meu fôlego, é as batidas de meu coração, minha respiração, minha razão de viver...

Tenho a sensação de que você está aqui comigo, eternamente. Sinto tua presença dentro de mim, na minha alma. Você está entranhado em mim. Estou impregnado de você. Seu cheiro está em mim. Células de teu corpo já fazem parte do meu. Tantas vezes te absorvi em minha intimidade e te possuí, que é impossível, hoje, separar partículas de teu corpo do meu. Você está em mim e acho que estou em Você. Já são 10:27 hs

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

22 de julho de 1990, 10:30 horas.

Meus pensamentos não são mais somente meus. Já têm influências do seu modo de pensar, do seu modo de ver e de encarar a vida

Hoje, minhas idéias são outras, os meus pontos de vista são outros. Já consigo enxergar coisas que antes eu não via ou não queria ver, ou não tinha coragem de encarar.

Neste momento, encaro com muita naturalidade o fato de eu ser diferente dos outros cinco bilhões de habitantes do Planeta Terra. Encaro esta realidade e me sinto plenamente feliz em ter a capacidade de sentir coisas que poucos sentem... Sinto-me feliz por não poder ser comparado com os milhares, nem com as centenas, nem com as dezenas de seres, pois não tenho nada, absolutamente nada em comum com estes robôs pré-programados.

Se eu tiver um filho um dia, será por amor e não por acidente...

 

 

23 de julho de 1990, 13:30 horas. Sou burro, sou estúpido, sou infantil, sou detestável, sou quadrado, sou criança, sou idiota, sou imbecil, sou otário, sou imoral, sou tudo de ruim...

Não devia ter agido daquela forma contigo. Me perdoe. Me desculpe. Te feri, te humilhei, te pisei. Me perdoe. Foi um ataque de ciúme doentio.

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

25 anos

(Projeto Madio Editora)

 

fome, sede, carência afetiva

sem lar, sem cama, sem carinho

sem escola, sem remédio, sem roupa,

sem perfume, sem sapato, sem pai, sem rádio, sem TV, sem livros,

sem comida, sem água, sem cobertor,

sem bicicleta, sem moto,

sem dinheiro,

sem nada.

Hoje tenho quase tudo

Só me falta você, minha alma-gêmea

Meu almo-gêmeo, minha cara e minha coroa

meu leão e minha leoa

pra ocupar o vácuo espiritual

que cresce ad infinitum dentro de mim.

Clínica São Vicente, 02 e 03 de agosto de 1991

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

25 de julho de 1990, às 08:16 horas.

Queimo em brasas desejando teu corpo. Basta tua presença para apagar este fogo.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

25 de julho de 1990, às 08:23 horas.

Estou ardendo em brasas desejando teu corpo. Bastaria tua presença para apagar este fogo. Neste momento queria estar ligado fisicamente a você, sentindo teu calor e teu suor. Nem a incapacidade física consegue fazer com eu te deseje menos; quanto mais você demora de aparecer, mais minha saudade aumenta e mais necessito te sentir dentro de minha alma. Te quero muito. Te desejo bastante

Sem data (Provavelmente 16, 17 ou 18 de maio de 1990. Não tenho certeza.)

Célia, você me surpreende a cada minuto que passa. Você me disse que iria me falar a respeito de suas atividades obscuras, antes mesmo de eu supor alguma coisa. É confiança demais numa pessoa que você mal conhece.

Você me disse que tinha descoberto meu maior segredo nos tempos que você frequentava o estabelecimento no qual eu trabalhei e que já tinha notado a minha presença desde aquele tempo.

Nossa amizade poderá vir a ser algo muito bonito e raro hoje em dia entre as pessoas. Só o tempo nos permitirá provar isto.

--

Agora à noite eu sou outra pessoa. Aceitei sua sugestão e peguei dois ônibus para casa. Peguei um até o centro e um do centro para o Jequiezinho. Até ao meio-dia de hoje eu estava sem fome. Estava me sentindo mal. Estava com algumas dúvidas mas depois da conversa desta noite, voltei ao normal. Minhas preocupações se acabaram e então pude sentir fome. Comi bastante. Esta noite não chorarei nem ficarei acordado a noite toda. Dormirei com tanta tranquilidade que planarei no espaço.

Você comentou sobre a lista de pessoas que conheci. Perguntou se depois de você, viria a 6ª pessoa, a 7ª pessoa, etc. Te respondo que esta lista terminaria em você. Sempre procurei uma pessoa especial como você. Foi difícil de achar. Não se encontra pessoa como você em qualquer esquina da vida. Eu não tenho o direito de te conhecer e depois abrir o meu coração para outras pessoas. Você sempre foi e será a primeira e única pessoa a me conhecer pelo avesso. Eu queria ter bastante dinheiro para poder fazer muitas coisas que sonho. E uma destas coisas seria construir um mundo especial só para nós dois...

Com o sentimento alheio não se brinca. Não estou brincando contigo. Se eu não quisesse algo sério não teria esperado naquele primeiro encontro.

Agora são 22:58 horas. Esta noite dormirei tranquilo como nunca dormi em minha vida. Mas seria melhor se quando eu me virasse na cama, encontrasse você ao meu lado. Agora me deu uma vontade de chorar. Mas é de pura alegria. Estou ouvindo a música ‘Hey Jude’. Estou com sono. Até sempre. De alguém...

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

25 de julho de 1990, às 08:23 horas.

Estou ardendo em brasas desejando teu corpo. Bastaria tua presença para apagar este fogo. Neste momento queria estar ligado fisicamente a você, sentindo teu calor e teu suor. Nem a incapacidade física consegue fazer com eu te deseje menos; quanto mais você demora de aparecer, mais minha saudade aumenta e mais necessito te sentir dentro de minha alma. Te quero muito. Te desejo bastante

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

25 de julho de 1990. Peixes ama sinceramente e fantasia muito. Não iluda àquela pessoa, nem iluda a você. Quanto a mim, não se preocupe. Já aprendi a ganhar e a perder. Já fui iludido uma vez por Márcia e aguentarei ser iludido por Célia...

Talvez você não sinta prazer, mas aquela pessoa sente e se ilude.

(Sobre seu namoro com China).

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

28 de julho de 1990, às 00:40 horas. Ainda estou acordado. Não queria escrever mais nada sobre você. Mas tenho que escrever: não temos liberdade para conversar claramente o que sentimos e pensamos.

Eu gosto muito de você, Célia. Por isto, sinto ciúmes quando você fala de outro. Você tem sua liberdade para querer gostar, noivar ou casar com quem quer que seja. Se isto é um teste para saber o quanto eu gosto de você, por que não pergunta diretamente? Eu responderei que não posso viver sem você. Não tenho o direito de te pedir para esquecer este outro e seu noivado e o par de alianças de Cr$ 5.000,000 (cinco mil cruzeiros): Você quer e vai me abandonar por outro. Vai esquecer tudo o que aconteceu entre nós, nestes últimos meses. Que pena que nosso amor durou tão pouco... Mas valeu à pena! - Tudo o que fiz com e por você eu fiz de coração e por amor. Mas, se tem que ser assim, tudo bem. O que é que se pode fazer, não é mesmo? Se você precisa disfarçar-se para que as pessoas não descubram suas preferências sexuais, tudo bem. Então fique noiva e case com a pessoa que você bem entender.

Eu é que não me sinto bem com esta situação de incertezas. Esta divisão de você, entre eu e esta pessoa me fala que sente vontade de estar aqui, comigo. Mas ao mesmo tempo me fala de seu noivado, de seu casamento, e ainda tem o cinismo de me convidar para ser padrinho de casamento. Isto é demais. Isto é duro de aguentar... Prefiro tirar meu time de campo, para que o time adversário leve a melhor...

Eu não sou radical, não. Apenas quero me preservar de sofrer mais do que já sofri, na minha vida. Não suporto mais estar com uma pessoa que enquanto está comigo, fala o tempo todo de outra pessoa, de casamento, etc., como se estivesse a fim de me dar um GRANDE FORA e não dá, simplesmente por PENA. Não necessito de sua PENA. Preciso é de amor, paz, carinho, felicidade, sinceridade, etc...

Não quero que ninguém sinta pena de mim. Já sou de maior, e você mesma me ensinou a caminhar com meus próprios pés. Já propus a você, várias vezes, acabar com todos os laços que existem entre nós, e você sempre diz não. Fala, ainda, que prefere continuar neste ‘joguinho’, até que você se revele e faça com que eu sinta ódio de você.

Prefiro voltar a ser um homem triste, sonhador, esperançoso de um dia conhecer uma pessoa sincera, que me faça feliz e que me ame de verdade. Não era isto que você queria? Que eu sentisse ódio de você? Pois então, a partir de hoje, começarei a mudar meu sentimento em relação a você...

Fique logo noiva, se case e me deixe em paz! Nada nos prende um ao outro, a não ser alguns momentos lindos que acontecerem entre nós, no passado recente. Será que você já se esqueceu de tudo o que ocorreu entre nós? Você é do mundo. Então vá para o mundo. Seja sincera consigo mesma, pelo menos uma vez na vida e me diga logo que não está mais a fim de continuar com esta farsa.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

Agora à noite eu sou outra pessoa. Aceitei sua sugestão e peguei dois ônibus para casa. Peguei um até o centro e um do centro para o Jequiezinho. Até ao meio-dia de hoje eu estava sem fome. Estava me sentindo mal. Estava com algumas dúvidas mas depois da conversa desta noite, voltei ao normal. Minhas preocupações se acabaram e então pude sentir fome. Comi bastante. Esta noite não chorarei nem ficarei acordado a noite toda. Dormirei com tanta tranquilidade que planarei no espaço.

Você comentou sobre a lista de pessoas que conheci. Perguntou se depois de você, viria a 6ª pessoa, a 7ª pessoa, etc. Te respondo que esta lista terminaria em você. Sempre procurei uma pessoa especial como você. Foi difícil de achar. Não se encontra pessoa como você em qualquer esquina da vida. Eu não tenho o direito de te conhecer e depois abrir o meu coração para outras pessoas. Você sempre foi e será a primeira e única pessoa a me conhecer pelo avesso. Eu queria ter bastante dinheiro para poder fazer muitas coisas que sonho. E uma destas coisas seria construir um mundo especial só para nós dois...

Com o sentimento alheio não se brinca. Não estou brincando contigo. Se eu não quisesse algo sério não teria esperado naquele primeiro encontro.

Agora são 22:58 horas. Esta noite dormirei tranquilo como nunca dormi em minha vida. Mas seria melhor se quando eu me virasse na cama, encontrasse você ao meu lado. Agora me deu uma vontade de chorar. Mas é de pura alegria. Estou ouvindo a música ‘Hey Jude’. Estou com sono. Até sempre. De alguém...

 

01 de junho de 1990, às 09:12 horas

 

DIÁRIO EDVALDO

 

Minha vida

Nossa vida:                                             }          Está enrolada

Sua vida

 

Você se distancia de seus amigos, para me dar atenção; você corre o risco de alguém saber de seus atos; corre o risco de entrar cm conflito com sua família; submeter-se à degradação social, etc. Tudo isto para que? De que vale simples momentos de combinação mental, se para isto é necessário que se renuncie à própria vida? Neste momento, quem mais sairia “arranhado” seria eu, caso resolvêssemos não nos ver mais. Você é forte; tem mil amigos; uma vida recheada de surpresas (agradáveis ou não). Além do mais, você não se deixa controlar ou impregnar por SENTIMENTO. Eu, ao contrário, sou muito sensível (fraco); não tenho amigos; não tenho nenhuma surpresa em minha vida; e me deixo levar pelo sentimento.

Talvez nossa amizade só sirva mesmo para complicar ainda mais a sua vida.

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

As pessoas não passam de pedaços de carne.

14 de setembro de 1990, às 20:05 horas.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Deus, te agradeço por estar vivo. Te ofereço meu amor e minha vida a fim de que transforme tudo em beleza e harmonia.

Jequié, 28 de setembro de 1990, às 20:30 horas

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Dia 09 de julho de 1990, às 16:56 horas. Casa de Saúde e Maternidade Santa Helena

Hoje, quando eu tomava banho, vi, pelo combogol do banheiro, o Iguatemi Hotel. Lembrei-me do MAR e dos dois dias que passei com o mesmo. Jamais esquecerei o MAR.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Dia 20 de junho de 1990, às 21:40 horas

Persona, não temos muito tempo para nós dois. Quando nos vemos é próximo a muitas pessoas. Isto nos tira a privacidade. Não podemos conversar à vontade. Ficamos presos sem ao menos poder tentar nos conhecer um pouco mais. Por este motivo, quando chego em casa, não consigo pensar em outra coisa a não ser em nós dois. Fico absorto em meus pensamentos, fico angustiado por não ter você aqui comigo. Eu neste quarto pequeno que se torna tão grande sem a tua presença. Sem você aqui, este quarto parece um deserto com centenas de quilômetros de extensão. Esta cama de casal é enorme. Eu rolo para todos os lados neste colchão frio e o único calor que sinto é o meu próprio... Olho para o teto, olho para as paredes, tento dormir, procuro fugir de pensar em você, mas não consigo. Tudo o que penso, tudo o que imagino, é você. É você, é você. Pego revistas, pego livros para ler mas só vejo as letras do seu nome: C E L I A. O ar do meu quarto tem o seu cheiro. Quando é que poderemos ter um local só para nós? Esta distância que nos separa é enorme. Estamos tão juntos e tão distantes um do outro...

Hoje saí para comprar uma mercadoria (fogos de São João) e estava feliz. Aguardava ansiosamente sua chegada ao local em que me encontrava. Mas quando vi você com alguém, meu coração apertou. Me senti mal. Meu estômago se fechou. Não senti nenhuma vontade de parar para te cumprimentar, pois eu estava muito mal naquele momento. Não sei se você percebeu que eu fiquei a tarde toda fechado. Não estava nem conseguindo tomar a cerveja. Minha garganta estava apertada. Será que perderei  você para esta pessoa? Sei que você estava a fim de passar alguns momentos íntimos comigo, hoje, mas você sabe que não existe um local seguro para nós, por enquanto. Talvez isto seja motivo para você separar-se de mim. É disto que eu tenho medo. De que você esqueça que eu existo, ao encontrar uma pessoa para te dar carinho...

Minha cabeça está girando a mil por hora. Sinto vontade de chorar mas a angústia é tamanha que não choro. Talvez eu esteja procurando problemas onde não existe. Mas tenho medo do futuro incerto.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Edvaldo:

 

Dia 13 de maio de 1990, às 20:39 horas

Para tudo existe remédio. Mas certos remédios são muito caros. Você foi um remédio para a minha vida. Você é cara, não posso ter você, pois eu preço é muito alto. Entretanto, tive o prazer de te conhecer um pouquinho... Nada tenho para retribuir todo o carinho e compreensão que você me dispensou. Não mereço ter algo tão especial, tampouco você merece ser acompanhado por um ser tão inferior quanto eu.

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Estou aqui.

(Projeto Madio Editora)

 

Trouxe tudo:

rádio, revistas,

caneta, papel,

documentos,

agenda, roupas;

Tudo está aqui.

Só minha alma-gêmea não veio.

Não sei onde ela está,

onde anda e o que faz.

Estou aqui:

completo e vazio;

amplo e restrito;

repleto e incompleto

esperando você

pra preencher

o vácuo de minha’lma

 

Clínica São Vicente, 1º de agosto de 1991

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Estou decidido a não decidir nada na minha vida

14 de setembro de 1990, às 19:18 horas

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Eu não quero ficar triste

(Projeto Madio Editora)

 

Eu não quero mais ser triste

Mas infelizmente sou

Já não sei o que fazer

Para aprender inglês

Para aprender a andar

Só sei que tudo é nublado

Está tudo tão escuro

Que me impede de te ver

Absorvo-me em lágrimas

Esperando uma saída

Esperando a solução

Mas só vejo é buraco

Vejo somente barreiras

A cegar minha visão.

Mas a despeito de tudo

Cada dia eu desejo

Que seja melhor que o anterior

Tentando achar a saída

Seja cara ou barata

Que permita que eu viva

Pelo menos um segundo

A amar o meu amor.

 

19 de setembro de 1991, perna engessada.

 

 

 

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Hoje são 16 de maio de 1990

Estou na Faculdade. Cheguei às 18:55 horas para esperar você para o encontro que marcamos. Estou com muito sono. Quero dormir. Vou te esperar até às 20:30 horas. Se você não vier, vou para casa e te ligo amanhã. Acho que você faz comprar num estabelecimento comercial próximo à Calheira Almeida. O seu estabelecimento comercial é pequeno e faz calor. Aquela pessoa que trabalha lá, vai morrer abafada ali dentro. Estou me sentindo bem. Pouco importa se minha genitora descobre meu ponto de vista. Eu não devo nada a ela. Vou parar de te telefonar, porque vai te atrapalhar. Você não liga para mim e quando eu ligo para você, você diz “tchau”. Você tem revolta em sua vida e esconde isto dando muitas risadas. A melhor maneira de se vencer uma coisa é enfrentando-a de frente, como você me ensinou. Você tem que parar de se preocupar mais com os outros do que com você mesma. Pense mais em si própria. Os outros são apenas os outros. Você já passou por muitos momentos desagradáveis mas está vivo. O importante é acordar e sentir o coração pulsando (sinal de vida). E não se esqueça que te admiro muito. Não importa o que você faz, faz ou fará. O importante é que te conheci e que você me deixou ser seu amigo. Seus atos não interessam a ninguém. O que alguém possa comentar a seu respeito, pouco importa para mim. Somente o que levo em consideração é que você é uma pessoa espetacular e que, enquanto você permitir, irei ser seu maior admirador. Você foi divina ontem. É passado. Mas não se esquece. Fica marcado. Eu gostaria de poder fazer alguma coisa para te fazer feliz. Você já teve tudo de bom que a vida possa oferecer (dinheiro, homens, amizades, etc, etc).

O que eu posso falar ou fazer para você fique um pouquinho mais feliz? Você já pensou em algum dia sair de Jequié e morar em outra cidade? Cada pessoa que entra aqui eu penso que é você. Hoje te segui, da hora que você pegou o ônibus, até quando entrou no armazém. O IMPORTANTE É VIVER. De uma pessoa que te admira.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Jequié, 11 de julho de 1990, às 07;10 horas

O ano de 1990 para mim, pessoalmente, foi “O ANO DA LUZ”. Tudo de bom que sempre esperei da vida, tudo o que sonhei, conquistei neste ano, com muita luta...

Consegui um trabalho decente; passei no vestibular, apesar de ser a primeira vez que participei; conheci uma PESSOA que me fez nascer para a vida. Enfim, tudo de bom me ocorreu neste abençoado 1990.

No mês de janeiro, no dia 12 mais precisamente, me apareceu uma doença que pensei que seria um contrapeso para as luzes que tinha recebido. Mas foi para que eu parasse um pouco, refletisse e percebesse quanto Deus é Maravilhoso e Misericordioso. Depois desta experiência, renasci das cinzas, virei uma nova pessoa, um novo ser, um novo Espírito, mais experiente e mais consciente da beleza da vida.

 

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Meu Deus e Espíritos Protetores, não me cortem as asas; deem-me forças e razão para voar cada vez mais alto e sabedoria para administrar tudo o que você me derem. Não permitam que eu trabalhe só com a razão, tampouco só com a emoção; façam com que eu pese os dois fatores e equilibre, sempre com o auxílio de vocês, a fim de não me perturbar nem me confundir.

Por favor. 16 de setembro de 1990, às 02:39 horas.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

 

O ser humano não ama. Suporta, atura.

14 de setembro de 1990, Telebahia.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Provavelmente, dia 04.07.1990

Pessoa, não sei o que mais me assusta: perder minha vida, ou perder você. Agora estou triste e não consigo esconder isto nem mesmo de mim. São 13:42 horas. Nesta enfermaria tem dez leitos, ao todo. Um paciente recebeu alta e outro saiu para uma cirurgia do queixo (tinha caído de uma bicicleta e quebrado o queixo). Restam oito leitos com o meu. Mas me sinto só... Você está tão distante de mim... (escrevi estas frases com a mão esquerda, pois a direita estava no soro e não poderia ser movimentada, para não perder a veia).

Minha cirurgia será amanhã. Se algo der errado, fique sabendo que você foi a única pessoa que me fez feliz neste mundo. Saiba, ainda, que você foi a única pessoa que amei de verdade.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

Quando te conheci, você era uma pessoa maravilhosa. Era em quem eu podia confiar, acima de qualquer suspeita. Hoje, vejo que você não passa de um pedaço de carne. Você é igual a todas as pessoas. Você só consegue ser mais cínica que as outras... Continua a mesma pessoa insegura e indecisa de sempre. Não sabe o que quer. Ou melhor, só quer aquilo que possa causar um prazer de momento. Mas sabe fingir muito bem e fazer as pessoas sonharem com eternos momentos...

Decidiu se libertar de uma máfia, pensando que ganharia mais saindo dela do que continuando a viver dentro da mesma. Hoje, se arrepende e quer voltar. Mas o orgulho não permite que você dê um passo atrás. Jamais é humilde. Nem que isto custe a paz e o amor. Participa e promove um joguinho de influências no qual só você pode ganhar e merece estar à frente. As demais colocações ficam com os outros. Você é uma pessoa inteligente, compreensiva, amiga, boa. Mas não se assume nem aceita nada sério. Prefere viver num eterno jogo de momentos incertos. Chega de tudo isto.

Telebahia, 14 de setembro de 1990, às 19:30 horas.

 

DIÁRIO EDVALDO

 

Solidão, simpatia, atração, egoísmo, sentimento, distância, lembrança, temor, experiências, disponibilidade, diversão, viagens, bebida, energia, franqueza, frieza, fraqueza, humildade, tristeza, despreparo, desespero.

15 de setembro de 1990, às 12:50, no PETISCO.

Paz, sorriso, medo, covardia-poesia, amor, vida, tristeza, paixão, saudade, idem ibidem.

 

 

 

 

Talvez você seja real

Ou seja uma visão

Só sei que és divino

Semeador de paz eterna

Fez de um homem das cavernas

Um menino sentimental.

 

Me deu fôlego de vida

Me deu paz e atenção

Transformou um monstro

Merecedor de compaixão

Num ser mais acessível

E portador de sentimento.

 

Ontem você saiu de repente e me falou pra ligar quando estiver a fim de te ver. E disse que não dará um NÃO como resposta. Eu acho que você saiu daquele jeito, porque fiz alguma coisa que você não gostou. Mil perdões te pelo por alguma coisa que te feriu. Eu queria poder ter sua companhia sempre, independentemente de acontecer ou não alguma coisa. Só sua companhia já é extremamente gratificante para mim. Mas sei que te atrapalho muito. Não quero ser o motivo de alguma coisa ruim para você. Você é a última pessoa para quem eu desejaria algo de mal. Estou com bastante sono. Pensei em você a noite toda e continuarei a pensar. Deixei o rádio ligado a noite toda. Já são 03:49 horas. Tchau!

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Todos nascemos para sermos infelizes.

14 de setembro de 1990.

 

 

DIÁRIO EDVALDO

 

 

Jequié, 11 de agosto de 1990

Preciso de você e você precisa de mim. Nos completamos, nos entendemos, nos gostamos. Mas ao mesmo tempo, somos independentes um do outro, não nos entendemos, não nos completamos. Nos detestamos e nos aturamos, em nome de uma amizade sólida que durante pouco tempo nos uniu mais que a dois irmãos. Quero você e você me quer, e ao mesmo tempo fugimos um do outro. Nos repelimos mutuamente e não gostamos do que o outro faz. Nossa relação não é nada diferente das relações de outros casais. Existe mentiras, falsidades, desconfianças, desaprovações, preconceitos, deslealdades, traições (se não por atos, mas por pensamentos).Enfim, somos dois humanos comuns que se julgam superiores aos demais, simplesmente porque lutamos por alguém que todos condenam e que nós condenamos também. Não seríamos capazes de sinceridade no amor e de assumir esta “diferença” ante a sociedade, porque também somos tão porcos e tão podres quanto tudo isto que aí está (os atos da sociedade). Apoiamos tudo o que a sociedade faz e a incentivamos a fazer muito mais com a nossa passividade diante de tudo o que acontece. Nosso aval é o nosso silêncio.

Talvez, se fôssemos um pouquinho mais sinceros e reais conosco mesmos (cada um de nós assumindo sua condição de “diferente”), conseguiríamos, num futuro a longo prazo, sermos realmente pessoas diferentes e adultas de consciência. Você tem mais experiência e eu tenho mais paciência. Mas nossa personalidade, nosso caráter, ainda não estão completamente desenvolvidos (e não contribuímos para que este desenvolvimento aconteça) e devido a isto, ficamos estacionados na escala evolutiva espiritual, nos igualando aos mais covardes espíritos que sentem prazer carnal mas não sentem o prazer da alma.

 

 

 

 

 

 

 

AMOR ELIVAN

 

Para Elivan José do Nascimento Lima

 

 

 

 

Minha irmã vai ficar morando aqui, comigo.

nossos encontros teriam que ser aqui.

como resolver isto?

R: Falando tudo. E quanto a você?

Num relacionamento entre dois caras, rola de tudo:

 

A) NAMORO

B) BEIJO (BOCA, CORPO E _ _ _ _ _)

C) ABRAÇOS (PELA FRENTE, POR TRÁS)

D) CARINHOS NO CORPO INTEIRO

E) BATE PAPO

F) DORMIR JUNTOS

G) SEXO

H) SAIR JUNTOS

I) AMOR

J) SINCERIDADE

K) AFETIVIDADE

L) BRIGAS E DESENTENDIMENTOS

M) FAZER AS PAZES.

 

TRANSAMÉRICA FM

 

Não posso ficar sintonizado sempre na mesma rádio. Não posso ficar sintonizado numa rádio que nunca entra no ar ou numa rádio que só entra no ar de vez em quando. Não sei se fiquei feliz ou se fiquei triste por esta noite. Só peço que não coloque minhocas na minha cabeça. Sou muito sentimental e posso ser machucado facilmente...

1994

 

 

 

 

AMOR ELIVAN

 

Salvador, 10 de janeiro de 1995

Elivan,

O telefonema que você fez para mim “para desejar-lhe um feliz natal e próspero ano novo”, deixou-me um tanto tenso e apreensivo, para não dizer esperançoso, devido ao que nós (ou eu sozinho) tínhamos conversado anteriormente (mesmo sabendo que sua resposta era de não dar nenhuma esperança e de que eu desistisse de qualquer pretensão). Mas nós, seres humanos, somos assim mesmo: por mais que estejamos vendo o óbvio, quando não queremos, não acreditamos e ficamos com um fiozinho de esperança de que consiga algum dia o seu intento.

Depois que estive aí em São Tomé de Paripe, no sábado, tive, com alguma clareza, a certeza (?) de que não poderia desistir tão facilmente de mostrar para você que meu sentimento e que minhas intenções são puras, cristalinas, de boa fé, no anseio de poder fazer você (e eu, é claro!), muito feliz. O que é ser feliz? Aprendi, com o passar dos anos, que para se ser feliz, não basta estar trabalhando naquilo que se gosta; estar morando na cidade dos sonhos; ter “amigos” e amigos; ter um conforto relativo; poder viajar para alguns lugares sem pedir licença ou autorização; etc. Descobri que se pode ser feliz com isto tudo, porém, dividindo cada momento de alegria e de tristeza com alguém que possa entender a nossa linguagem; estar ao lado ou saber que este alguém saiu mas voltará; sorrir, sabendo que alguém também vai rir conosco; chorar, sabendo que alguém está ao seu lado para te consolar; etc.

De que serviria os mares para os marinheiros, se não tivesse alguém em terra firme a esperar por eles? De que serviria o cosmos, se não pudesse ser devassado, descoberto, conquistado pelos astronautas? De que serviria os trilhos dos trens, se não houvessem as estações de parada, onde cada qual se encontra com quem procura?

A felicidade não é nenhum mistério: você pode ser feliz, comigo, se quiser. E eu posso te fazer feliz, sendo feliz contigo, se você deixar eu te amar, ou melhor, se você deixar que eu te acompanhe na busca pelo entendimento da sexualidade humana: Os Deuses do Olimpo já viviam usufruindo do poder de “ser ou não ser um SER limitado”, através da sexualidade.

Ser homem é ser honesto, sincero, leal, trabalhador, respeitador, responsável, e etc. E todo homem pode ser feliz e não deixar de ser homem

 

 

 

 

 

AMOR ELIVAN

Salvador, 27 de janeiro de 1995

Elivan,

Anteontem (25.01.1995), completei cinco anos no trabalho. No mesmo dia, minha mãe fez aniversário: 56 anos de idade! Foi também o dia em que me casei. Felizmente hoje sou divorciado, não pago pensão alimentícia, nem tenho filhos para sustentar. Minha mãe é aposentada e, bem ou mal, sobrevive com sua própria renda. Mas nada disto é importante, agora. O que quero te falar, é sobre o TEMPO, este implacável inimigo de tudo e de todos: mesmo a pedra mais dura, à beira da praia, se desfaz em areia, com o passar do tempo. E de nada adiantou ele resistir tanto tempo, se seu fim era previsível. Ele poderia ter permanecido muito mais tempo em forma de pedra, se tivesse escolhido outro local para ficar. Mas a pedra não pode escolher para onde ir, onde ficar, pois não tem consciência, não pensa, não raciocina, não tem sentimento. Tanto faz ela passar a eternidade dentro duma montanha, no fundo do mar, no deserto, ou mesmo à beira da praia, sendo bombardeada infinitamente pelas ondas ferozes enraivecidas porque ela - pedra - está ali “atrapalhando” a água se esparramar pela areia...

Mas os seres humanos, as pessoas, são diferentes dos seres inanimados e, por isto, podem escolher seu próprio destino. Particularmente, já passei por experiências das quais me arrependi depois, porém, das que mais me arrependo é daquelas em que eu não participei, pois fui covarde. Pior do que arrepender-se é arrepender-se de NÃO TER FEITO ALGO NA VIDA, POR MEDO DO QUE PUDESSE RESULTAR.

Sei que não é num estalar de dedos que uma pessoa passa a ENTENDER, GOSTAR, AMAR, ACEITAR, COMPREENDER, VIVER uma experiência como esta que te proponho. Até para mim, nem sempre é fácil. Para chegar à conclusão de que era isto mesmo que eu queria e era assim que eu seria feliz, pensei e repensei, para não tomar uma decisão precipitada. Mas do que mais me arrependo, hoje, é de não ter decidido há mais tempo, pois hoje percebo O QUANTO DE TEMPO PERDI. Você é uma pessoa inteligente, sensível, carinhosa, gentil, e deve saber que isto não é um bicho de sete cabeças e que todo mundo curte a vida ao máximo e sem nenhum preconceito. Talvez você fale que para mim é mais fácil, porque sou independente, porque moro só, porque tenho um trabalho, etc. Mas eu não consegui esta “facilidade” de uma hora para outra. Tudo na vida se conquista aos poucos. Hoje, para mim, as conquistas (de um modo geral: trabalho, amizade, diversão, viagens, festas, etc), são mais acessíveis. Mas houve um tempo em que eu tinha que passar o fim de semana na casa dos colegas de escola para estudar - e, principalmente, para filar o rango, ou seja, na minha casa não tinha comida, então eu passava TODOS OS FINS DE SEMANA na casa de algum colega de colégio, a pretexto de ESTUDAR, para comer decentemente). Naquela época eu morava com minha mãe e com sete irmãos menores de idade, em casa de aluguel, cujo aluguel era pago por pessoas caridosas. Naquela época, eu não tinha condições nem de comprar uma sandália ‘havaiana’, pois não tinha condições nem de me alimentar, quanto mais para outras necessidades. Naquele tempo, vestir uma roupa nova, mesmo que fosse de “chita” (o pior tecido que existe), era um luxo, e era raro o ano eu que eu ganhava uma roupa nova: ganhava, sim, roupas usadas, muitas vezes roupas de adulto, que cabiam dez pessoas do meu tamanho dentro. As roupas tinham que ser cortadas, emendadas, diminuídas, consertadas. Enfim, às vezes uma calça recebida dava para fazer duas ou três outras para mim.

Tudo isso é uma coisa particular minha, que jamais será esquecido e que só falo para as pessoas em quem confio. Hoje sou funcionário do Governo Federal, ganho razoavelmente bem, não passo necessidade de nada, tenho minha casa própria, tenho um telefone que será instalado até o mês de abril de 1995, posso viajar, posso fazer um montão de coisas que jamais pensei um dia. Irei curtir o Carnaval Antecipado de Ilhéus, que será de 02 a 05.02.1995; vou curtir o carnaval daqui de Salvador; vou curtir o Micareta de Jacobina, em abril; vou curtir o Micareta de Jequié, em maio. Enfim, estou com todo gás, querendo viver TODO O TEMPO QUE ME RESTA. Acredito em reencarnação, sou Espírita Kardecista, acredito em Deus, tenho muita fé na existência de uma Força Superior que a tudo vigia e que a tudo comanda, acredito que possa existir seres mais evoluídos que nós, em algum lugar deste infinito universo. Mas sei também que no Brasil se vive no máximo 65 anos de idade e que me resta pouco tempo para chegar até essa idade, se eu conseguir chegar até lá. Então, nada mais justo, nada mais correto, nada mais certo, nada mais perfeito, nada mais coerente, nada mais exato, nada mais ideal do que eu APROVEITAR TODO O TEMPO QUE ME RESTA E CURTIR TUDO O QUE TENHO DIREITO. E, nessa caminhada, gostaria de estar com alguém em quem eu possa CONFIAR, AMAR, TER COMO COMPANHIA, DIVIDIR MEUS MOMENTOS DE ALEGRIAS E MOMENTOS DE TRISTEZAS, FAZER MUITO AMOR E CARINHO, RECEBER MUITAS PALAVRAS DE CONFORTO E DE PROTEÇÃO, DAR MUITA ATENÇÃO, DIVIDIR MINHAS VIAGENS, PODER ESTUDAR, DIVIDIR AS DÚVIDAS E INCERTEZAS, PODER PARTICIPAR DOS PROBLEMAS E FRUSTRAÇÕES PRÓPRIAS DOS SERES HUMANOS, PODER ESTAR AO LADO PARA O QUE DER E VIER, PODER ESTAR ACOMPANHANDO AO HOSPITAL - SE NECESSÁRIO, PODER COLOCAR O OMBRO NO MEU E NO MEU COLO OUVIR DESABAFOS. Enfim, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR, AMAR...

 

Não sei como você pinta o seu futuro, mas imagino que você sonha passar o resto de sua vida: se ao lado de uma pessoa gorda e cheia de filhos, ou ao lado de alguém com quem possa contar em todos os seus momentos, em todos os seus problemas, em todas as suas alegrias.

Não estou te oferecendo o paraíso dourado, tampouco uma viagem de férias eternas. Só estou tentando definir os meus planos para o futuro que poderá ser NOSSO FUTURO. Se você estiver a fim de analisar minhas propostas, se quiser comprovar tudo o que estou dizendo, você sabe o que fazer: tem meu telefone, meu endereço, onde me encontrar. Sei que nada se resolve de um dia para o outro, mas gostaria de poder ter uma perspectiva do que poderá acontecer entre nós, a fim de não ficar num estado de expectativa e de ansiedade sem previsão de quando poderei parar de sonhar. O tempo urge. Seria muito bom que eu pudesse contar com alguma resposta definitiva: um lindo sim ou um grande e sonoro NÃO! Me desculpe se estou sendo inconveniente, mas é que eu costumo ser um pouco persistente quando sei que vale à pena tentar. Só peço que não me deixe “falando sozinho” e que sinalize com clareza sua posição em relação a tudo o que tenho escrito, falado e demonstrado ultimamente, a fim de que eu possa reestruturar meus pensamentos e meus sonhos e possa, ou continuar tentando, ou perder as esperanças de uma vez.

 

Procuro não uma pessoa jovem, em pleno vigor físico, cheia de energia, bonita, por dentro e por fora, cheia de sonhos e projetos concretos para o futuro, PERFEITA. Procuro, sim, uma pessoa sensível, capaz de amar e de ser amada, madura (ser maduro, não é sinônimo de ser experiente ou ser idosa, e sim uma pessoa decidida), que não seja bonita nem feia, seja apenas sincera e leal, cheia de defeitos (como todo ser humano)... Por acaso (?) esta pessoa é você e, se nada do que tenho tentado demonstrar te sensibilizou ou fez você rever seus conceitos de vida, será muito triste para mim. Não por ter fracassado numa “conquista” (pois sei e aceito a vida como uma sucessão de derrotas e vitórias), mas ficarei muito sentido por ter que adiar meus sonhos (projetos, não planos utópicos - fantasiosos e irrealizáveis) para outra oportunidade, quem sabe daqui a 76 anos: o cometa de Halley passa perto da Terra a cada 76 anos. Então, quem sabe se na próxima passagem dele pelo nosso planeta não encontre outra pessoa pura como você?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

 

Para fábio (menino do Rio de Janeiro):

 

 

 

 

 

 

14.03.92 - Dia em que você viajou para o Rio.

Pessoa, te amo! Estou sofrendo muito com sua despedida. Não sei se ainda voltas e a angústia tomou conta de meu coração. Minhas forças se esgotaram. Estou desesperado, louco por notícia sua. Não sei mais em que acreditar. Penso até que você sabia da trama da sua tia para te mandar de volta para o Rio e não me falou a tempo. Vou viajar amanha para Salvador e a dor e o sofrimento irão comigo. Neste momento estou ao lado do telefone, desesperado por uma ligação sua. Já são 16:15 horas. Onde você está agora? Está no ônibus ou em algum ponto de apoio (mini-rodoviária)? Estou ligando para a empresa Itapemirim, pra saber quantas horas o ônibus gasta daqui de Jequié para o Rio, pra calcular mais ou menos a hora em que você chegará lá. Você foi no João Pessoa-Rio, às 10:30 horas e chegará lá às 08:00 horas de amanhã. Já são 20:40 horas. Ainda estou ao lado do telefone, aguardando um contato seu. Até agora, não recebi nenhum sinal de vida. Já liguei inúmeras vezes para o trabalho do seu tio, no Rio, e não obtive resposta: ninguém atende. Se você não me ligar até amanhã às 10:00 horas, vou ligar segunda, 16.03.92, para o Rio, e pegar teu endereço, para te escrever uma carta. Já são 21:15 horas e perdi a esperança de que você ligue hoje para mim.

AMOR FÁBIO

10.03.92 - Dia em que você falou que não ia mais viajar.

Cara pessoa, a notícia que você me transmitiu hoje, por telefone, foi a melhor que já ouvi nos últimos tempos. Não sei se fico alegre ou se fico triste por você. É que esta viagem era tão importante para você! Talvez seja melhor que tenha dado errado, pois não se sabe o que te esperava lá no Rio. Agora, uma coisa te prometo: você terá em mim uma pessoa que tentará tudo para te deixar feliz. Estarei ao seu lado para o que der e vier, na saúde ou na doença, te apoiando e te amparando no que eu puder. Farei de você uma pessoa feliz e tentarei me adaptar a você o máximo possível, a fim de ser feliz contigo. Já pedi minha transferência para Ilhéus e agora é só aguardar a resposta. Assim que eu for transferido levarei você comigo para que possamos ter a liberdade que necessitamos para viver em paz com o mundo. Você tem me completado e me feito muito feliz. Contigo estou conseguindo ver a vida com mais alegria. Espero que não me decepcione no futuro e acredito que não fará isto. Ontem, quando fui trabalhar, meus colegas perceberam que eu estava bastante feliz e com “uma cara diferente”. Realmente, estava e ainda estou feliz. A noite de domingo foi a melhor que já tive com você. Pode ter sido pelo aniversário de dois meses que nos conhecemos ou porque você está percebendo que o amor não tem fronteiras e que não importa a anatomia e sim o sentimento.

 

 

AMOR FÁBIO

17.03.92 - Como sobreviver sem respirar? Estou enfrentando este dilema. Meu corpo e minha alma estão sendo dilacerados aos poucos, me levando à morte prematura. Não tenho forças para lutar contra esta adversidade da vida. Quem poderia me dar forças para resistir a tudo está a milhares de quilômetros de mim. Até o presente momento, não recebi nenhum contato, nenhum sinal de vida. É horrível esta situação! Insuportável!. Só o que me sustenta é a esperança de conversar com você e me desabafar, te implorar para voltar para mim...

Agora são 06:45 horas. Estou procurando algo para fazer, para ocupar a mente. Só respiro você, só vivo você. E não consigo me concentrar em outra coisa... Já são 07:30 horas.

 

 

AMOR FÁBIO

17.03.92 - O sucesso é você quem faz. Voe em direção daquilo que você almeja. Ligar, via telecard, para o Rio de Janeiro; Domingo, ir à praia com Valdecy; All You need; Quinta: ir ao DNER para Luís; Terça, à tarde, passar no Orixás e Center; Comprar temperos, frutas, verduras, margarina, bronzeador, ver passes estudantis, fazer arroz e fritar carne.

 

 

 

 

 

22.03.92, 20:20 horas - Você acabou de ligar e eu não estava. Quando cheguei já tinham desligado o telefone. O que é de tão urgente pra você ficar me ligando sempre? Já que não pode cumprir a promessa que me fez, então acho que não resta mais nada a ser feito. De minha parte, fiz tudo o que pude e o que não pude. Mas você sempre põe empecilhos em tudo. Só pensa no seu bem-estar e no seu Rio de Janeiro, esquecendo-se que foi a Bahia e os baianos quem te acolhem na hora mais difícil da tua vida. Se for pra me humilhar mais ainda, favor não me procurar mais. Já sofri muito na vida e não desejo mais uma cruz para carregar.

 

 

 

AMOR FÁBIO

23.03.92, 19:15 horas - Estou ao lado do telefone, aguardando sua ligação. Sei que você não vai me ligar, pois não está precisando de dinheiro. Agora você está trabalhando e estudando, morando na sua cidade natal, não precisa de mais ninguém, principalmente de mim. Espero que em toda a minha vida nunca necessite de auxílio de ninguém. Mas se precisar e quiser me procurar, você sabe onde me encontrar. Só não sei se estarei eternamente disponível. Estou conseguindo matar você dentro de mim, mesmo que parte de mim morra junto. O que importa é que estou conseguindo superar todo este sofrimento pelo qual estou passando. Tenho certeza de que superarei a tudo isto o mais breve possível. Até breve. Um forte abraço e o meu voto de que você esteja bem e que continue assim.

 

 

AMOR FÁBIO

 

 

23.03.92, às 19:25 horas - Tanto o amor quanto o desamor são voluntários. Tanto o querer quanto o não-querer têm a mesma origem: a vontade de quem quer que seja, ou seja, qualquer um é capaz de amar e/ou desprezar com a mesma intensidade, simplesmente pela ação da vontade. Se não se souber administrar toda a potencialidade que hiberna dentro de nós, corre-se o risco de sofrer por amor/desamor ou “arriar-se os quatro pneus” por um pequeno sentimento que nos atropelar. A cada tombo, a cada nova experiência, adquire-se conhecimentos que poderão ser usados no futuro para caminhadas pelo roteiro do sentimento. Aprende-se em todas as situações e momentos, o que propicia um leque de possibilidades que nos ampliará a visão do que é “certo” ou “errado”. Procuro a todo momento, fugir do que me liga a você, para não sofrer mais do que já sofri até agora. Só agora é que começo a perceber que não sei se estou conseguindo.

 

 

 

AMOR FÁBIO

25.03.92 - Onde está você? Muito longe e se esquecendo de que existi na sua vida - como previ e falei a você. Estou aqui, na Bahia - este Estado odiado por você - pronto para o que der e vier. Jamais imaginei que eu pudesse esquecer tudo o que  aconteceu entre nós. Ainda não consegui, mas brevemente você será mais um ponto brilhando no infinito universo de pessoas que conheci ou que tive contato mais próximo. Talvez, um dia, você se lembre da minha humilde passagem pela sua vida e até me agradeça por tudo o que pude fazer por você; ou talvez continue ignorando que fiz uma revolução em sua vida - como você mesmo assumiu, ao comentar que jamais tinha tido contatos anteriores.

Cá estou eu, remoendo os fatos passados e tentando entender o “por que” de tanta reviravolta em minha vida, em tão pouco tempo.

Esse tempo todo em que você está longe, procurei ser o mais correto e neutro possível, fugindo do sofrimento, mas foram inúmeros os momentos em que não suportei e chorei copiosamente.

 

AMOR FÁBIO

26.03.92 - Hoje cedo tocou a música de Zé Ramalho, “Entre a Serpente e a Estrela”, na FM-104 A TARDE, o que me fez voltar ao passado e me recordar das loucuras que cometemos juntos. Não cheguei a chorar mas meu espírito sentiu muita tristeza ao lembrar que você está longe, e para sempre. Não sei se sou um masoquista ou se realmente este sofrimento é involuntário. Só sei que sinto sua falta, e ficaria feliz se você enviasse uma carta em atenção à nossa grande amizade. Mas é assim mesmo, e não aprendi ainda a receber chutes em troca de carinhos.

 

 

 

 

29.03.92 - Não estou nem alegre nem triste; nem saudoso nem esquecido do passado. Tampouco quero morrer ou viver. Estou como sou: eternamente instável; desgraçadamente volúvel e volátil. Não quero assumir que estou sentindo a falta de um amor recente nem ter esperanças de que outro aparecerá.

Estou pensando na cirurgia intestinal que possivelmente terei que fazer, nas aulas da Faculdade, no curso de Secretário de Audiências, na minha transferência para Ilhéus, em tudo de bom e de ruim.

Há um certo espaço de tempo pedi aos Espíritos que me dessem um pouco de paz monetária e de saúde, mesmo que fosse necessário prejudicar o lado espiritual. Agora já estou pensando em pedir pra dosarem um pouco, pois estou passando por momentos difíceis na área espiritual. Não sei o que quero e por isto sofro muito. Não sei procurar as pessoas certas para amar. Amo com muita facilidade e sofro demais. A pessoa que está no Rio de Janeiro me ligou ontem e, pela terceira vez eu não estava em casa quando atenderam o telefone. Sabia que não voltaria mais a ligar ontem, mas esperei até sempre. Hoje irei à praia, mas só sairei de casa às 09:00 horas, esperando que me ligue até esse horário. Com certeza não ligará, mas me iludo assim mesmo. O que posso fazer para deixar de ser burro? Hoje faz quinze dias de sua viagem para o Rio e parece que foi ontem: ainda sinto a mesma emoção que senti quando da partida. Sofro por sentir muita afeição e por considerá-la a melhor pessoa que conheci até agora. Por isto fico tão preocupado com o que poderá estar lhe acontecendo agora. Na FM-104 A TARDE Júlio Iglesias canta. É o fim.

 

 

 

AMOR FÁBIO

Estou em Salvador, na Avenida Oceânica, 700/203. Ontem estive ao telefone durante mais ou menos meia hora. Falei com alguém que há muito tempo não vejo. Foi o pior telefonema que recebi em toda a minha vida. De tão ruim, tive que desligar. Mas a pessoa insistiu e religou, pra acabar seu recado: me humilhar e pedir pra nunca mais procurá-la, pra esquecer tudo o que aconteceu entre nós, esquecer seu telefonema, seu endereço, tudo. Eu já esperava que isto acontecesse. Só não esperava que a pessoa cuspisse tanto na Bahia. Falou da Bahia como se fosse um não-sei-o-que, dizendo que aqui não é terra pra se morar, que aqui é terra de mateiro (idiotas), que aqui não presta, etc. Nada disto me chocou. Eu já estava preparado para tudo e não surpresa nenhuma. A única coisa que pude responder foi que a vida dará uma resposta bem dada a tudo isto. E que estarei no camarote pra aplaudir ou pra ter piedade, dependendo do caso.

30.03.1992 Às 06:50 hs

 

 

AMOR FÁBIO

A arte de viver é a arte de amar.

Cada dia é como se fosse um filho.

(Morre um dia e nasce outro dia. Morre um filho e nasce outro filho).

Mas nem por isto os filhos/dias são iguais. Nem por isto ama-se todos os filhos por igual. Cada momento tem o seu valor. Cada abraço tem o seu calor. E cada dia é uma mera repetição de outro dia. Mas nem por isto é chato viver. Temos somente que não nos entediarmos das repetições.

Ateliê de Garcia, 05 de fevereiro de 1992

 

 

AMOR FÁBIO

Agora já são 06:55 horas do dia 15.03.1992, dia do meu aniversário. Estou aguardando seu telefonema que até agora não chegou.

Já são 09:00 horas. Faltam duas horas para eu embarcar para Salvador. Até agora você não ligou. Estou chorando desesperadamente, feito um louco. Não consigo me controlar. Já liguei para a Rodoviária daqui, para todos os ‘pontos de apoio’ da Itapemirim, tentando localizar o ônibus para dar um recado a você: Te amo!

1 a 5 da manhã - 75% de desconto nas ligações interurbanas, qualquer dia. Minha ida pra Ilhéus é irreversível. Com ou sem a presença de FSS. Sentirei muitíssimo a falta desta pessoa, pois a amo demais. Porém, terei que sobreviver sem o ópio que é sua presença. Ópio este que já me viciou e do qual dependo para viver. Chega momentos em que imagino que você não gosta mais de mim e que não quer me ver nunca mais. Mas ao mesmo tempo sei que estou pensando errado e que estou sendo injusto contigo. Neste momento são 22:15 horas do dia 16.03.92. Ainda estou acordado, ouvindo música e pensando em você. Toda vez que passa a música tema da novela das oito (Entre a Serpente e a Estrela - Zé Ramalho), lembro-me de você, no meu quarto... Pelo amor de Deus, não me abandone! Não resistirei muito tempo sem a sua energia. Estou chorando, sem consolo algum, pois você sabe que somente você é quem me faz feliz. Como eu gostaria de que você estivesse aqui comigo, neste momento, meu amor. Estou me esvaindo em lágrimas, sumindo, evaporando, de amor por você. Por favor, me ligue amanhã. Vou te ligar pela manhã, não deixe de me atender, por favor, ok?

Sabia da viagem? Depositei dinheiro. Endereço para cartas. Telefone para contato. Documentos. Volta quando? Sente falta? Já liguei mil vezes. Quem autorizou a viagem? Posso ir nas férias? Ligou para Jequié? Me escreverá? Quando volta a ligar?

 

 

 

AMOR FÁBIO

As palavras que você me falou foram as mais belas que já ouvi até hoje. Você está me fazendo o cara mais feliz do mundo. Não sei como vou enfrentar a separação e o dia-a-dia quando você me abandonar e fugir para o Rio. Saiba, porém, de uma coisa: você está jogando fora uma oportunidade de ser feliz e de um amor verdadeiro.

28 de fevereiro de 1992, às 21:55 horas

 

 

AMOR FÁBIO

At this moment I’m not very lonely. I’m never lonely. I’m always with You by my side and in my heart. My name is Valdeck

01 de fevereiro de 1992, às 20:30 horas

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

Bayrosca

Estamos em contagem regressiva para a despedida final. Já levei muitos “fora” pela vida a fora e não será o seu abandono que me derrotará. De tanto sofrer, a gente se acostuma e o coração cria “calos”. Vou sofrer muito com a separação mas vou saber esquecer a dor com facilidade. Só espero que você não se arrependa desta atitude infantil, pois não haverá facilidade para um recomeço. Sua vida continua e a minha também. Ambos seguiremos rumos ignorados.

1992

 

 

 

AMOR FÁBIO

PROJETO 30 ANOS DE POESIA (Galinha Pulando)

Car & Oca

(Por alguém)

 

O contato se dá, via satélite.

De fone a fone, ligação local.

Conversas, conversas, nós atados.

E o encontro fatal é marcado.

 

Horário, local, data:

Tudo é combinado.

A senha será  a seguinte:

“Que hora é esta?”.

 

A resposta certeira vem:

“A mesma de sempre”.

Daí se abre um sorriso...

 

Bate-papos, cerveja, olhares

Contato fatal no campo

E a emoção fala mais alto.

 

Ateliê “Artes & Manhas”, Jequié, 09 de janeiro de 1992, 17:55 horas

 

 

 

AMOR FÁBIO

Eu (por mim mesmo)

 

Jamais pensei que você fosse tão frio

Dei tudo de mim pra te fazer feliz

Me virei em dois para ser só seu

Pisei nos princípios meus pra te proteger.

Gastei o que podia pra te ajudar...

 

E você dizia que gostava de mim

Falava que iria comigo pra Ilhéus

Me fazia pensar numa vida a dois

Me fez pedir transferência do trabalho,

Pra te dar aquilo que não tive...

 

E hoje você me troca por uma escola de Mobral

Fala que a Bahia não é terra pra se morar

Diz que jamais voltará aqui

Cuspindo no prato que te deu vida e amor

Esquecendo-se do ombro que te ofereci.

 

Não quer que eu te escreva

Não quer me telefonar

Não quer minha visita

Tem vergonha de mim.

 

Só espero que não precises

Voltar à Bahia

Pois aqui achastes abrigo

E em mim, um grande amigo

Que te amparou e te deu carinho

E agora dás uma facada nas costas.

 

Mas como gosto de você

Quando estiveres em dificuldades

Me procure com urgência

Que te darei o meu ombro

E te ajudarei no que puder.

19 de março de 1992

 

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

Fábio:

Paulistas e cariocas

Nascem, crescem,

Envelhecem e morrem...

Mas algo fica

Em algum lugar

Que os eterniza.

Jequié, 09 de janeiro de 1992, Ateliês “Artes & Manhas”

 

 

 

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

FSS

Fazer amor contigo é bom

E sinto que você começa a gostar também.

Aos poucos alcançaremos a maturidade.

Só espero que não me cative

E depois fujas para outra cidade...

Não pensei ainda como vou enfrentar

A longa distância que nos separará.

Apenas finjo que jamais chegará a hora

Em que terei que te dizer adeus...

 

Jequié, 05 de fevereiro de 1992, às 16:30 horas

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

Fábio:

Já são 07:30 horas. O pessoal do apartamento está saindo, cada qual para seu destino. Daqui a pouco estarei sozinho, neste mundo de espaço, sozinho... Minha solidão será imensa e muito mais imensa pois não estarei contigo ao meu lado. Estou ouvindo rádio, absorto em meus pensamentos e remoendo meu passado. Preocupado  com meu futuro. Desesperado com o meu presente. Estou beirando as raias da loucura, passando do limite da sanidade mental. Meus pensamentos estão embaralhados. Não sei o que quero nem o que não quero. Só sei de uma coisa: quero você. Meu remédio e meu veneno, é você, meu amor! Venha me consolar, pelo amor de Deus. Nunca fui devoto de Santo algum. Mas agora, até nisto penso. Talvez eu acenda uma vela para São Cosme e São Damião, implorando-lhes que me traga você de volta.

07:55 horas, estou pensando em você.

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

Hoje é 17.03.92 - Amor, hoje foi a tarde e a noite que tive um pouco de paz. Pelo menos agora já tenho seu endereço e já escrevi uma carta para você. Estou mais calmo e até dei umas voltas pela cidade, para variar. Neste momento são 22:50 horas. O telefone está desocupado mais sei que você não vai me ligar uma hora destas. E talvez não ligue nunca mais. Já estou tentando entender sua situação e seu lado. Mesmo assim, continuo sonhando com você ao meu lado; embaixo da ponte; no meu quarto; nas casas em construção do Loteamento Itaygara; no muro do IERP. Agora dei vontade de chorar e meu peito apertou. Vou colocar a carta no correio amanhã. Talvez você a receba ainda esta semana e talvez eu receba a resposta na próxima semana. Como eu gostaria de poder conversar com você neste momento, te fazer um carinho, te beijar, te acariciar, te afagar, fazer amor contigo! Daria minha vida para ter você por alguns momentos. Meus planos de ir para Ilhéus com você continuam de pé. Mesmo que eu não consiga uma casa para comprar de imediato, ficarei morando provisoriamente em casa de aluguel. E farei de tudo pra fazer de você a pessoa mais feliz do mundo. Já são 23:00 horas e meu sono ainda não chegou. Agora à noite e pela manhã, liguei para Jequié para saber se você tinha ligado para mim. Você até agora não deu nenhum sinal de vida. O que aconteceu com você? Será que já se esqueceu de que eu existo? Ou são dificuldades para telefonar ou escrever?

 

 

AMOR FÁBIO

Hoje são 18.03.92. Acordei com vontade de fazer amor com você, com vontade de chorar e com um aperto no coração. Estou ansioso e triste.

 

 

 

AMOR FÁBIO

I call you up at nineth day. We talk to each other for a long time.

No dia nove de fevereiro completa um mês que te telefonei pela primeira vez. O primeiro encontro se deu por interesse financeiro? Foi apenas curiosidade ou carência afetiva? Não quero morrer cedo nem causar-te aborrecimento. Por favor, quando ocorrer um contato extraconjugal avise-me com antecedência. Não vou tornar-te teu inimigo mas terei que me precaver muito mais, ok? Por favor, não vá embora sem me dar um endereço ou telefone.

Hoje são 02 de fevereiro de 1992, 22:12 horas. Meu quarto.

 

 

 

AMOR FÁBIO

Jequié, 14 de março de 1992.

 

Pensei que fosse feliz, ou que estava com a felicidade nas mãos. Enganei-me redondamente. O destino me golpeou rudemente e esta traição foi tão traiçoeira, que não tive tempo para respirar.

Neste momento, me sinto com força para escrever, mas não tenho forças para reagir a nada. Estou completamente sem energia.

Ontem foi a última vez que tive você e não sei se suportarei esta dor que me dilacera e que me arrebenta por inteiro. Não sei como vou enfrentar a distância e a ausência de sua energia em mim. Rezo para que este momento de dor seja passageiro e que brevemente você esteja ao meu lado, me dando força para sobreviver neste mundo maldito e insano.

Você foi a pessoa que me completou e que me deu vontade de viver um pouco mais. Não sei se suportarei mais este golpe do destino. Mas farei tudo que puder para que eu consiga, a fim de esperar que você chegue e me encontre ansioso e feliz.

Espero que você seja feliz por onde estiver e que tudo dê certo em sua vida. Você merece! Mas ao mesmo tempo, peço a Deus que você volte logo, pois não saberei sobreviver sem seu cheiro, seu corpo, seu amor, sua voz, suas mãos...

De alguém que te ama muito...

Para FSS/RJ

 

 

AMOR FÁBIO

Jequié, 20 de fevereiro de 1992

Cara pessoa,

Neste momento, são 20:30 horas. Estou no meu quarto, tentando controlar meus sentimentos e não chorar, mas não consigo. As lágrimas descem rolando pelo rosto e não posso impedir.

Te conheci faz um mês e poucos dias, mas já gosto de você como se te conhecesse há muito tempo. Infelizmente seu destino é ir para o Rio de Janeiro, um Estado tão distante. Em pouco tempo não haverá mais nenhum laço nos ligando e jamais se lembrará de que me conheceu aqui, no interior da Bahia.

Quem me dera poder ir com você para o Rio. Ficaria lá, contigo, para te ajudar a conquistar tudo o que você sonha na vida. E eu iria fazer tudo para me acostumar a viver no Rio para poder ficar perto de você. Infelizmente, não posso te dar nada de recordação de mim. Mas acho que os poucos momentos em que passamos juntos, foram suficientes para deixar pelo menos uma pequena marca em você. Neste momento, estou chorando. Gostaria muito de passar estes últimos momentos perto de você. Estou com vontade de telefonar para você, mas não quero te atrapalhar. Agora me lembrei do primeiro encontro: no Bom Gosto, você com a camisa cor de abóbora, com desenho fluorescente, calça jeans e tênis colorido. Você me perguntou: “Que horas são?” e respondi: “A mesma de sempre”.

Você me falou que vai para o Rio no próximo dia 15 de março de 1992. No dia 15 eu farei aniversário. E o pior presente que vou receber é a sua despedida.

Espero que tudo dê certo para você e que todos os seus planos se concretizem. Mas se por algum motivo, ocorrer algum imprevisto, saiba que estarei aqui ou em Ilhéus te esperando para te ajudar no que eu puder, ok?

Não se esqueça de me mandar, pelo menos, uma carta por ano, tá?

 

 

 

 

AMOR FÁBIO

Não fui para Ilhéus para poder ficar mais um pouco contigo. Eu não ficaria feliz me divertindo no Carnaval e te deixando aqui, tão longe de mim. Eu queria te abandonar antes que você fosse para o Rio, para não sofrer muito. Mas quando te vi hoje, me rendi e quis você, mesmo que fosse por mais ‘alguns minutos’... Vou sofrer quando você partir (se partir) mas não quero sofrer por antecipação.

28 de fevereiro de 1992, às 22:10 horas

 

 

AMOR FÁBIO

Salvador, 16 de março de 1992

 

Querida pessoa,

Neste momento estou participando de um curso de Secretário de Audiências, no prédio do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, em Salvador/BA. Durante toda a aula, fiquei desatendo de tudo o que ocorria na mesma, só pensando em você. Não pensei que fosse tão difícil ficar longe de você. Agora é que sinto como gosto de você. Hoje já liguei várias vezes para você e não consegui sequer uma notícia de que você esteja bem. Liguei cedo para o trabalho do seu tio, ele não estava, deixei recado. Voltei a ligar mais tarde, falei pessoalmente com ele. Ele falou que você não tinha ido ainda à casa dele. Mas me deu os telefones de sua irmã e de sua cunhada. Anotei tudo com muita atenção. Dei a ele o número do meu telefone aqui em Salvador, esperando que ele tenha algum contato contigo e que te dê o meu endereço para contato. Não estou suportando esta angústia que toma conta do meu peito. Estou com o coração apertado. Ontem não almocei e ainda não fiz nenhuma merenda. Estou em estado de depressão. Estou enlouquecendo, ficando sem saber o que fazer da minha vida. Já liguei várias vezes para Jequié, para saber se você já ligou para mim, mas até agora, não obtive nenhuma resposta positiva. Onde você está, meu amor? Por favor, não permita que eu fique louco. Estou querendo ir passar o mês de abril aí no Rio, contigo. Não aguento mais de saudade. Espero que você não tenha se esquecido que eu existo. você sabia que ia viajar, ou foi realmente uma surpresa que sua tia fez para você?

Obs.: Não enviei esta carta.

 

 

AMOR FÁBIO

Salvador, 26.03.92 21:00 horas. Estou acordado e vivo, ainda. Não sei se sobreviverei aos trancos da vida. Não estou sentindo nenhuma dor nem sintoma de doença alguma. Mas é quase certo que tenha que fazer uma cirurgia, digo, uma nova cirurgia no intestino. Tenho que renovar o convênio com a Sulamérica para fazer uma série de exames que indicarão ou não a necessidade de uma intervenção cirúrgica. Mas não estou preocupado nem apavorado com nada disto. Só me preocupo é com esta distância que nos separa e me dilacera o peito, o espírito e a alma. Aliás, nem isto está me perturbando tanto. Nem a morte me aborrece neste momento. Estou quase convencido da necessidade da morte. Apesar de achar a vida um saco e a morte outro saco ainda maior. O curso de Secretário de Audiências termina no dia quatro de abril e possivelmente irei embora no dia cinco ou seis.

 

AMOR FÁBIO

Salvador, 31 de maio de 1992

 

Olá pessoa desconhecida. Tudo bem com você? Por aqui, tudo está ótimo! Graças a Deus e aos Espíritos, estou conseguindo te esquecer e estou aguardando que a vida te dê uma reposta muita boa, dentro em breve. Assim que a vida te der uma lição de moral, você vai se lembrar de tudo o que falei e vai me procurar para pedir desculpas. E estarei aqui, como sempre, disposto a perdoar-te.

A mesma Bíblia que você alegou para me dar um pé-na-bunda, é a mesma que cito (Livro de Samuel, I e II, Capítulo 18) para provar que tudo o que fizemos é permitido e é legal. Procure estudar mais um pouco pra enxergar que a vida tem várias faces e todas elas legais e de acordo com a Bíblia.

 

 

AMOR FÁBIO

Sei que tudo é passageiro

Mas iludo-me com a eternidade

De tudo o que me proporcionas.

Só não estou preparado para a queda abrupta

Que possivelmente sofrerei em breve.

Jequié, 05 de fevereiro de 1992

 

 

 

Sou o cara mais feliz do mundo. Mesmo sabendo que vou te perder, para sempre.

28 de fevereiro de 1992, às 22:30 horas

 

 

 

 

 

MALUQUICE

 

PODER DA FORÇA DE VONTADE

TRIBUNAL REGIONAL DA AMIZADE - 1ª REGIÃO

JUSTIÇA DO SENTIMENTO

PROCESSO Nº 001.99.9000-90

Aos quinze dias do mês de março de 1992, às 10:00 horas, na Sala de Emoções da  1000ª Junta de Encontros e Namoros, presente o Sr. Juiz Presidente  e Juízes Auxiliares, foram chamados para um bate-papo o casal ANDRÉ CAJARANA, reclamante, e CARINA GUADALAJARA MEXICANA, reclamada. Presente o primeiro e ausente o segundo litigante. Ante a ausência da ré, foi dito pelo Juiz Presidente que, após consultados os demais componentes da mesa, a Junta passou à prolação da seguinte DECISÃO:  O reclamante propôs à reclamada, no dia 11 de fevereiro de 1992, um bate-papo que, futuramente, poderia se concretizar num namoro firme ou em algo mais sério. O salário acordado seria de quantos beijos e abraços a reclamada pudesse dar ao reclamante, além de compreensão, carinho, muito afeto e, principalmente, amor sincero e leal. O horário de serviço seria em tempo integral, principalmente aos sábados, domingos e feriados nacionais. No dia 14 de março de 1992, o reclamante foi injusta e covardemente dispensado, justo na véspera de seu aniversário, sem receber nenhuma garantia de retorno aos braços de sua amada. Chamada à conciliação, a reclamada ofereceu Resistência e negou-se a reconhecer os laços amorosos que a unia ao autor, fazendo ingressar nos autos documentos comprobatórios de sua ligação (reclamada), com outra pessoa. O reclamante impugnou os referidos documentos, alegando e provando sua falsidade, dos quais requereu perícia, ficando constatado que os mesmos foram preenchidos após a despedida, para forjar uma situação constrangedora a seu respeito. Foram ouvidas 200 (duzentos) testemunhas, e todas elas foram unânimes em declarar que a reclamada maltratava por demais o reclamante, inclusive negando-lhe carinho e sempre o insultando com palavras impublicáveis, não lhe dando oportunidade de defesa, nem querendo receber abraços e carinhos do reclamante. A Junta constatou a veracidade dos interrogatórios, principalmente porque todos os testigos moravam no mesmo prédio em que os litigante, sendo inclusive colegas de trabalho dos mesmos, fazendo viagens de temporadas juntos, indo todos os fins de semana à praia. É O RELATÓRIO. 1. Do aviso prévio eterno, com direito a amor todos os dias. Tem razão o querelante, pois a reclamada não se desincumbiu do ônus de provar o alegado “pedido de demissão” citado na contestação, a teor do art. 10.000, da Lei nº 900.000, de 20.01.1901. DEFERE-SE. 2. Horas extras de amor intenso. A reclamada alegou, no item 500 da contestação, que o obreiro nunca saía de casa depois das 15:00 horas, nem chegava antes das 21:00; que o reclamante não comparecia em sua residência aos sábados, domingos e feriados. Mas no depoimento de 500 (quinhentas) das 200 (duzentos) testemunhas arroladas, nota-se que a afirmativa da ré não só é falsa, como completamente carente de fundamento. Afirmaram as testemunhas que “o reclamante não saía da casa da ré de forma alguma, a não ser em companhia da mesma”. As testemunhas da reclamada confirmaram tudo, pelo que se defere o pedido. 3. Fundo de garantia de poder voltar com energia de mais 40%. Tem razão o requerente. De acordo com a Lei nº 800.000, de 31 de fevereiro de 1900, versículo 720, “todo e qualquer ‘futuro amante’ que for despedido injustamente de seu leito conjugal, merece voltar com carta total e receber a diferença pelos dias atrasados. DEFERE-SE. 4. Décimo terceiro beijo. O reclamante tem razão quando invoca os fundamentos legais do matrimônio ao cobrar o 13º beijo, pois nenhuma pessoa está desobrigada de observar este preceito. De acordo com a jurisprudência, o Décimo Terceiro Beijo é devido, também, no “caso amoroso” sem fins lucrativos (Recurso de Revista e Recurso de Jornal nº 400.000/34, do A. Tribunal Superior do Amor, 1000ª Turma, Ministro CORREI PRA MIM, “in” Compêndio das Técnicas de Acasalamento, página 6700, 781ª edição, Editora dos Feitos Amorosos por Debaixo do Pano, São Paulo, 1970). DEFERE-SE. CONCLUSÃO. Isto posto, resolve a Junta, unanimemente, julgar a presente reclamação COMPLETA E TOTALMENTE PROCEDENTE, para condenar o reclamado no pagamento dos pedidos deferidos na fundamentação, no prazo de lei, tudo corrigido, sob pena de ser decretada a sua infidelidade e ser condenada à prisão perpétua. Custas de 1.000.000 de beijos, calculada sobre o valor incalculável da causa. Para ser do conhecimento da futuras gerações, foi digitado no computador de Mônica Barroso, por Valdeck Almeida de Jesus.

 

 

 

JUIZ PRESIDENTE

 

JUIZ DA CLASSE LARGADA                     JUIZ DA CLASSE LARGADORA

 

 

AMOR VIRTUAL

 

Negão da Garibaldi

 

 

PROJETO 30 ANOS DE POESIA

Fone Virtual

(Projeto Madio Editora)

 

Tua angústia me fez parar

Refletir mesmo sobre minha vida:

Se valia a pena continuar sozinho

Sofrendo, sem ninguém, na lida...

 

Teu desespero me deu novo alento

Me fez sonhar em ser teu remédio

Transformar nossa vida num sonho

Mandar pra longe todo esse tédio.

 

Desejei estar ao teu lado sempre

Te amando, e também sendo amado

Ficar contigo, em todos os momentos

Ter você sempre ao meu lado.

 

Dormi contigo, no meu travesseiro

Amei você, nos meus pensamentos

Te dei carinho, amor e alegria

Transformei em alegria nossos lamentos...

 

Afaguei teu ego, tua alma, teu ser

Recebi em troca carinho e emoção

Pensei em conquistar tua amizade

Acabei conquistando o teu coração.

 

Sonho ter tua vida na minha

Te amar com sinceridade

Estar contigo para todo o sempre

Com amor, carinho e muita verdade...

 

 

Valdeck Almeida de Jesus

Salvador, 30 de novembro de 1995.

(Faltando três dias para te conhecer).

 

 

 

AMOR BARRACA DE PRAIA

Para Gel:

(Projeto Madio Editora)

 

À ilusão real

 

Não sei se és uma Deusa do Olimpo

Ressuscitada do abismo

Ou se és um simples ser humano

Nascida na capital baiana;

 

Uma escultura bem planejada

Ou obra do acaso que a esculpiu;

Etérea e abstrata

Ou concretamente real!

 

Ou sejas ou não sejas,

Toquei e te senti

Te senti vibrar de tesão...

 

Sendo sonho ou ilusão

Só sei que me lembro

De sua ofegante respiração!

 

Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, 22 de março de 1992

Barraca Beijoca, Patamares

 

 

 

REFLEXÃO

Sou constantemente inconstante

(Projeto Madio Editora)

 

Nada me preenche

Nada me afoga

Sou cheio de vácuo

Nada me completa

minha repleta ânsia

minha eterna ganância

Nada me totaliza

pois sou mal agradecido

quanto mais eu tenho

mais eu quero ter

quanto mais me encho

quero me encher

quanto mais sufoco

quero sufocar

vou acabar vazio

sem me completar

 

26 de março de 1992

Barraca “Beijoca”, Patamares, Salvador/BA

 

 

 

AMOR BARRACA DE PRAIA

À ILUSÃO REAL

Pensei que fosse uma miragem, daquelas que nos deixa maluco; Pensei que fosse a uma ilusão, daquelas que nos enlouquece; Pensei que fosses uma loucura, que nos permitem ver o futuro; Peusen, penseu, pesnsea, loucura geral na minha coordenação motora: só penso em você diuturnamente, e assi,. meus dedos tremem, minha cabeça sacode, meu corpo delira e minha língua deseja a tua me roçando.

Mas sei que não és real, sei que é uma miragem apenas...

Sei que és real, e por isto, fico alucinado em sentir que jamais terei você em meus braços, com todo o tesão que merecer nesta e n’outra encarnação. Vou viver eternamente pensando em você, deixando de viver, para viver a tua vida...

Seu amante e seu louco apaixonado.

Valdeck, SSA/BA, 30 de abril de 1992

 

 

À Ilusão Real

 

Pensei que fosses uma miragem, daquelas que nos deixa maluco; Pensei que fosses uma ilusão, daquelas que nos enlouquece; Pensei que fosses uma loucura, que nos permite ver o futuro; pensei, pensei, pensei, loucura geral em minha coordenação motora: só penso em você diuturnamente, e, assim, meus dedos tremem, minha cabeça sacode, meu corpo delira e minha língua deseja a tua me roçando.

Não sei se és real, sei que és uma miragem, apenas...

Sei que és real, e por isto, fico alucinado em sentir que jamais terei você em meus braços, com todo o tesão que merecer nesta e n’outra encarnação.

Vou viver eternamente pensando em você, deixando de viver, para viver a tua vida...

Seu amante e seu louco apaixonado: eu

 

Salvador/BA, 30 de abril de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

 

Para Grey de Jacobina:

 

Ilhéus me espera

de braços abertos

não sei se sinceros

ou se com mentiras

só sei que me espera

com braços abertos

Querendo me apertar

com braços abertos

não sei se sincero

ou se com mentiras

só sei que me espere

de braços abertos

 

E lá estarei

de braços abertos

querendo abraçá-lo

de braços abertos

não sei se sincero

ou se com mentiras

só sei que irei

de braços abertos.

 

10 de junho de 1992

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

“Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal” eu ultrapasso meus limites pra ter um minuto com você.

Jequié, 14 de agosto de 1992

 

 

 

 


AMOR GREY DE JACOBINA

Fazendo bilhetinho, hei?” (Tininho)

14 de agosto de 1992. Vexame por você. Tudo por você. All for You (Rustikus do Cilion)

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

O que tem de ser será” - Edvaldo.

Mas se a gente não se esforçar pra ser, nunca será” - Você

Fiquei pensando o dia todo na proposta que você me fez” - Você

Se depender de mim, será eterno e farei tudo pra dar certo” - Eu

Fico com medo de partir pra outra e quebrar a cara de novo” - Você

O amor é louco - não tem lógica, não tem certezas, não tem hora marcada com ninguém.

Se quisermos, realmente, seremos felizes.

Manhã do dia 11.07.93

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Talvez” ela te tenha vinte e quatro horas por dia. Mas “talvez” não te tenha tão verdadeira e tão intensamente quanto eu te tenho.

Casa de Edvaldo, Jequié, 07.07.93, 12:00 horas

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Você dentro de mim” - Roberta Miranda

O amor não tem sexo”, “Dentro de mim não há mais lugar pra dor ou emoção passageira”.

..

 

Sei que quero você e que tudo em você me agrada. Mas não sei até que ponto você faria concessões pra me ter ao seu lado.

Também não sei até onde eu iria pra ter você comigo (ao meu lado). Te desejo e te adoro.

Jequié, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

16:55, 18.07.1993, Lanchonete Payayá, ExCinema Payayá, Jacobina/BA.

Sua liberdadeVá: Voe! Suas asas estão sob seu comando.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

300.000 (trezentos mil cruzeiros)

Vivemos loucuras juntos:

Exposições, Valdir, Micareta,

Ilhéus, Meu quarto, Moto,

Casa de Mônica, Sua casa,

Salvador, Olivença, Avenida Oceânica,

BRASIL.

Valeu à pena? Continua valendo?

Sofremos ou Gostamos?

*      ”Valdir”: apelido do “Restaurante Só na Brasa”, de Valdir.

Aqui estou, aberto ao diálogo.

Meu quarto, 19.08.92

 

 

 

 

 

A - P - MARC

comida

roupa

Sr. do Bonfim

Salvador

Kiss boca

el - conselho

fotos

beer

fone

passagem de volta

faculdade.

Qualquer dia e hora, em Jequié

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

A dança do acasalamento

Recebi uma ligação sua, hoje. Não sei mais o que fazer para não enlouquecer. Você, quando parece tão longe, se aproxima de mim, me fazendo tremer nas bases. O compromisso que você assumiu com o outro corpo (para fazer um terceiro corpo) parece que desestabilizou o nosso compromisso, a despeito de você falar que “nada vai mudar”. A gente pensa que nada vai mudar, mas sabemos que não é bem assim. Nós somos tão amigos, e isto é o que mexe comigo: se fôssemos inimigos, seria mais fácil nos esquecermos um ao outro (esquecer de tudo o que rolou entre a gente, entre quatro paredes e em tantos lugares). Não posso exigir de você que pare de beber nem que mude seu jeito de ser pois te conheci assim e te quis e te amei assim. O que me apavora é que sinto que estamos nos dizendo ‘adeus’ (como depois que afundamos e que você nadou pra se salvar e eu fiquei pra morrer). Pensei que eu fosse ser feliz vindo pra Salvador, que tudo ficaria mais fácil. Parece que complicou tudo. Naquele mar que queria me engolir eu via o sol brilhando. Agora, a salvo, da janela do apê, olho e vejo o céu nublado e a chuva caindo. É deprimente. Agora penso na viagem que farei a Jequié (para votar no Plebiscito) como se fosse pra uma cidade turística. Penso em você como algo (um ser humano) que passou e ainda está na minha vida; te tempo como alguém especial; te lembro com tristeza (agora choro tua falta). Não sei o que é amor. Só sei que sinto uma angústia por estar perdendo você. Se sua família e a minha tomasse conhecimento do que acontece entre nós, não mandaria você vir morar comigo nem eu ir morar contigo. Será que você não merece ser feliz ou sou eu quem não merece? Você vai me trocar pelo seu filho? Eu vou trocar você por um desconhecido?

Tchau!  Salvador, 18.04.93, 1420 horas.

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Afundei no mar contigo

Pois o mar engoliu o caiaque.

Morri, cheguei ao fim.

Morri no sábado

E você chorou.

Depois acordei em casa

ainda vivo, mas machucado.

E no domingo morri:

Você me deu a sentença:

Não me procure mais,

esqueça tudo o que aconteceu”.

Não morri no sábado

mas morri no domingo.

Salvador, 12 de abril de 1993

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Agora

estou

fugindo de mim mesmo.

fingindo não querer

tentando não sofrer

correndo de você.

Será que tudo foi um engano

ou foi coisa do destino?

Será que eu quis você

ou pensei que quis?

Será que quero ainda

ou será que você quer ainda?

VAJ, 13 de agosto de 1992, meu quarto.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Agora estou carente de teu tesão

Sedento de tua energia

louco pra transar contigo.

 

Só quem me preenche é você

Só quem me excita é você

Só quem me invade é você

Só você me faz sentir prazer

Só você me deixa assim...

                               Sem sono

                               sem rumo

                               sem destino

                               sem noção

                               LOUCO

                               POR

                               VOCÊ.

Jequié, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Agoraeu sei que te quero

(Projeto Madio Editora)

 

não sei se amanhã...

só sei que sinto que te amo

e que estou meio mentiroso

e meio verdadeiro

só sei que agora estou escrevendo

pra você ou para mim.

São palavras soltas

que não dizem nada

não querem dizer nada.

Palavras pobres de significado.

For Jacob, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Agora pela manhã:

Acordo com músicas românticas;

Ligo a TV: Basquete!

Minhas conversa de ontem: você;

Minhas poesias de agora: advinha!

Penso agora nisto: sua vida amanhã,

pegar algo que ficou em Jequié;

Olho para todo e qualquer lado:

Você está na parede, na porta,

no forro, no piso, no ar...

Até quando vou sofrer por não poder ter você,

por não ter o teu amor?

Do amigo, 26.07.92

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Amor com Ilhéus

 

Cheguei aqui

E Ilhéus estava dormindo.

Mas seu sangue circulava

suas veias pulsavam, seu coração batia,

seu cérebro maquinava, silenciosamente.

Eu acordei Ilhéus, fiz amor com Ilhéus

e o despertei.

Ilhéus me amou, me deu prazer, aumentou meu tesão

e explodiu em orgasmo, junto comigo.

Que pena que viajarei e deixarei Ilhéus aqui, em Ilhéus...

Se pudesse, transplantaria Ilhéus para perto de mim...

 

12 de abril de 1992, Ilhéus/BA, Praça Cairu, 02:45 horas.

 

Para GSS, na viagem que fizemos, juntos, a Ilhéus.

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Aqui estou

esfacelado

deprimido

derrotado

humilhado

subjugado

acabado

destruído

abalado.

VAJ, meu quarto, 13 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

 

Aqui o tempo não parou

os relógios não marcam horas

o sol não se põe

A noite não chega

o vento não sopra

Tudo parou

esperando você chegar.

Jequié, 08 de agosto de 1992

...................................

O amor não tem sexo. O sexo não tem amor.

 

 

 

 

 

 

Cada passo rumo ao nada é um passo para a morte.

07 de agosto de 1992

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Caro amigo Grey de Jacobina,

Você sabe o quanto eu gosto de você. Até minha transferência para Ilhéus, na oportunidade em que consegui, desisti pensando em você (naquela oportunidade você estaria se mudando para Jacobina), o que dificultaria sobremaneira a comunicação entre nós) e pensando em ficar mais perto um do outro. Depois tentei me transferir para Jacobina como você sabe, só não concretizando o meu pedido de remoção pois você disse que se eu fosse para lá dificultaria a sua vida, pois seus pais poderiam desconfiar de alguma coisa. Em consideração ao você eu desisti da idéia de ir para Jacobina (mesmo sabendo que Jacobina era menor que Jequié, não pus isto em conta quando da minha decisão de querer ir para lá - eu sempre quis ir morar numa cidade maior que Jequié). Depois, sabendo que não havia mais retorno seu de Jacobina para Jequié (você mudouse definitivamente para sua terra natal), e sabendo que seu pai tinha planos de morar em Salvador, resolvi, de vez, pedir minha transferência, o que realmente ocorreu. Agora, estando mais perto de você - daqui para Jacobina é cerca de oito horas de viagem de ônibus) acho que nossa amizade tende a se fortalecer e a retornar aos níveis que alcançou quando você e eu estávamos em Jequié. Estou dando um tempo, para depois ver o que vou fazer. Já te convidei para passar um fim de semana comigo, aqui em Salvador, e você já me convidou para passar o “micareta” em sua cidade. Estou pensando mesmo em ir passar um fim de semana com você. Espero que possamos nos divertir muito, pois estou morrendo de saudades de você.

Daquele que nunca ira esquecer que um dia foi e continua sendo o melhor amigo que você já teve.

Salvador, 05.04.93, às 07:50

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Chegou ao fim

(Projeto Madio Editora)

 

Não vou insistir mais

Desculpe por tudo

Não me ligue mais

Não me procure mais

Não me escreva

Não me fale

Não me olhe

Sei que você está cheio de mim

Não tenho culpa de ser como sou

Não vou te atrapalhar mais

Não vou te ligar mais

Não vou mais tirar tua paz.

Adeus!

 

Jequié, 21 de junho de 1992, meia noite, for Jacob

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Com quem vou conversar?

Com quem vou almoçar?

Com quem vou tomar banho?

Com quem vou sair?

Com quem vou beber?

Com quem vou dialogar?

Com quem vou...

A culpa é minha,

de ter me deixado levar tão longe.

Mercadão, 28.08.92 (for Jacob)

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Como sobreviver sem oxigênio:

(Projeto Madio Editora)

 

respirar pouco, ficar sufocado,

asfixiar-se,

ficar cianótico,

arroxear-se,

perder o fôlego,

enforcar-se,

Depois afogar-se nas lágrimas vertidas por ter perdido você, meu oxigênio...

Jequié, 13 de agosto de 1992, meu quarto.

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Detalhes são detalhes

A mão que te apedreja é a mesma que te acaricia”; “A boca que te beija é a mesma que te escarneia”.

Salvador, 18.07.93

 

 AMOR GREY DE JACOBINA

Em busca do que sinto

(Projeto Madio Editora)

 

descobri que o que sinto

é forte e é fraco

é grande e é pequeno

é amor e é desprezo

é paz e é ódio

é TUDO e ao mesmo tempo NADA.

Te quero e te repilo

te busco e te expulso

que te tenho, te quero mais

quando não tenho, enlouqueço

mas com a distância e o tempo

de tudo eu logo esqueço.

For Jacob, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

Reflexão AMOR GREY DE JACOBINA

ESPÍRITOS

 

Sei que estão aqui, vendo e ouvindo os meus pedidos.

Desejo ter meu conforto carnal, e sei quem poderá preencher e me fazer feliz. Peço que vocês ajudemno a diminuir a quantidade de bebida que ingere e que ajudemno a encontrar um emprego e que sinta vontade de estudar e crescer espiritualmente.

Desejo ser feliz e fazêlo feliz, comigo. E para isto será necessário que o amor cresça e seja cada vez maior e recíproco. É necessário, também, que alguém tenha que sair da frente, pois há incompatibilidade de gênios e de convivência.

Sei que tenho menos de trinta dias para dizer sim e doulhe procuração para agirem em meu nome e em prol do meu amor: quem sabe, minha missão não é esta ?

 

Salvador, 31 de julho de 1993, às 00:30 horas.

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

ESQUINAS

(Projeto Madio Editora)

 

Cada esquina um louco

Cada louco uma sina

Só espero que a sua

Não se encontre com a minha

Pois não sei se te ajudarei

Não sei se te darei a mão

Fim.

Jacobina, 13.07.93

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Esta distância física

(Projeto Madio Editora)

 

me deu espaço e tempo

pra respirar sem você.

Isto me proporcionou

a visão real do acontecimento

que nos envolveu tanto.

Agora sei que não foi só momento,

sei que foi mais forte que nós.

Só o tempo poderá dizer

até quando seremos um só

até quando durará nosso amor.

Seu amigo e amante, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Estou completo: física, material e espiritualmente. Só emocionalmente é que estou, ainda, falto. Não me completei, ainda: sei o que quero, com quem, onde, como e quando; mas não posso nem me esforço para que tal ocorra. (Medo? Preconceito? Burrice? Desinteresse? Será que quero de verdade?). Se eu morrer, estou completo; se viver, idem. (Talvez isto é que me faça tão apático). Mas vou fazer muita gente feliz, antes de desencarnar.

Bom Gosto”, Jequié, 04 de novembro de 1992

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Estou fugindo de você

porque gosto de você

ou porque te detesto

ou porque detesto a mim

ou porque me amo

ou porque ‘não sei’

o que significa gostar ou odiar.

Noite do dia 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Eu quis Ilhéus com toda a energia que possuo. Corri atrás de Ilhéus, enlouquecime. Quando conquistei Ilhéus fugi. Agora, quero Salvador. Desejo ardentemente Salvador, com todas as minhas forças. Quando conquistar Salvador, fugirei de Salvador (!?). I want money. Very money.

18 de junho de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Eu sou de carne e de osso

possuo sentimento

sou sensível

sou todo emoção

sou de ferro

sou de pedra

não me machuco

sou insensível

Rotary Bar, 21 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Festa de Santo Antônio, Jequié, 15 de junho de 1991, às 23:05 horas.

Mais uma musa

Você é meu muso

minha nova e confusa

loucura consciente

pedaço de gente.

 

Será que nascerá

deste sentimento unilateral

algo bonito e singelo

que me transportará

para mil-anos-luz,

ou me levará

ao abismo infernal

do qual ninguém voltou?

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Fiz tantas revelações e tantas declarações a você e agora estou aqui, sofrendo tua falta. Gosto de você como é. Você nunca me fez um carinho e eu sempre gostei de carinho, mas gostei de você pois já estávamos juntos há mais de dois anos. Não quero perder você. Mesmo que eu encontre outra pessoa e mesmo você já estando com outra pessoa, quero continuar sendo seu. Isto me consola e me conforta. Estou me sentindo muito só, abandonado. Te falei que já tinha conseguido tudo, e que não tinha mais por que lutar, o que conquistar. Mas errei. Falta você. Falta conquistar você. Mas acho que nunca terei você completamente meu, totalmente meu. Tenho que me conformar, desde já, em perder você. E quando seu filho nascer (provavelmente em novembro), aí sim estarei mais longe de você. Ele será ainda mais importante do que é agora e ficarei em segundo plano. É disso que tenho medo: de não ser mais a pessoa mais importante em sua vida.

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

For Jacob

(Projeto Madio Editora)

 

Esperei por você

desde a encarnação passada ponto e vírgula

desejei você

antes de você existir ponto e vírgula

quis você

antes de te conhecer ponto e vírgula

amei você mesmo sem saber o que você era ponto e vírgula

sonhei com você

mesmo acordado ponto e vírgula

fiz amor com você (várias vezes)

mesmo com você tão longe reticências e ponto e vírgula

senti vários orgasmos

antes mesmo de ter você em mim

 

(De que valem o Côncavo e o Convexo?) ponto

O que me enlouquece

é o cheiro que emana de você vírgula

é o sabor do teu corpo vírgula

é o prazer que você sente quanto te amo vírgula

é o tesão que sinto ao pensar em ti ponto final

 

Rua Tiradentes, São Luís, Casa de Mônica, 08 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

For Jacob

 

Pensei que a distância fosse diminuir a energia que nos une; pensei que o que sinto por você se esvaísse, gradativamente. Mas o que percebo é que, tanto de minha parte quanto da sua, nossa amizade continua forte. É ótimo saber que (ainda) sou seu melhor amigo e (também) o único. O que sinto é vontade de ir de uma vez morar aí perto de você.

Jequié, 09 de novembro de 1992

 

Morar em Jacobina, pra sempre, perto de você, é o meu desejo. Não sei como será feito isto, mas farei (?).

Jequié, 09 de novembro de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Fui até a esquina, a procura de algo, tentar conversar com um poste.

Mas o poste não me respondeu nada, não me perguntou nada, nem se mexeu do lugar...

Empurrei o poste, puxei o poste, mexi no poste, e ele permaneceu imóvel.

Falei português, inglês, alemão e grego, mas o poste nada entendeu.

Tentei a mímica, língua dos sinais dos surdosmudos, sinais coloridos e jogos de luzes, nada adiantou. Ele continuava sem entender nada, ou fingindo não entender. Então, já exausto (até código morse usei), saí meio decepcionado, meio deprimido e voltei pra casa.

Só aí o poste entendeu, mexeuse do lugar e falou meu idioma: Não vá. Não me deixe aqui sozinho, eu gosto de você...

Jequié, 02 de setembro de 1992, Meu quarto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Gaivotas e mar azul. Não sei o que é mais lindo: o resto do mundo ou teu corpo nu; o que é mais gostoso de ver: um por-do-sol no mar ou você vibrando de prazer fazendo amor comigo. Gostaria de ter você agora me enlouquecendo de tesão.

Jequié, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Grey de Jacobina Santos Silva

Elma Lopes Cajayba

Valdeck Almeida de Jesus

Três personagens

três atores

três peças teatrais

três vidas dificultadas

pela astúcia do destino

três adultos e três crianças

envolvidas pelo destino

Nota Dez pra cada um

Nota Zero para todos

Até onde caminhar

até quando se enganar

pra viver um pouco mais?

For Jacob, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

Grey de Jacobina,

Assim que chegar, me ligue. E quando sair, deixe a chave lá com minha mãe. Ontem tive que arrombar a casa pra entrar.

Valdeck, 12 de agosto de 1992.

 

 

 

 

 

Grey de Jacobina,

deixei minha mãe encarregada de comprar o gás. À tarde a gente resolve comprar o fogão. Se você quiser tomar café, fale com minha mãe que ela prepara para você. Ela vai comprar uma carne para você. Quando quiser almoçar, fale com ela que ela esquenta. A chave eu deixei com ela. Se você for sair, só basta bater a porta. Se você chegar e sair novamente, deixe a chave lá em casa, ok? Desculpe eu ter te incomodado hoje pela manhã.

VAJ, 13 de agosto de 1992

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

GSS:

Não pode ligar o chuveiro, pois o tanque está quase seco;

Não pode gastar água demais senão ficamos sem.

Favor não fazer interurbanos pois a conta este mês virá muito grande (inclusive, a transferência da linha custar Cr$ 380.000,00);

Não deixe a casa só muito tempo pois aqui o pessoal invade e carrega tudo.

O fogão está com defeito: deixe sempre o registro do gás fechado.

Se puder, pegue colchão e cobertor na casa de minha mãe, ok?

 

Sairei de Salvador às 17:00 horas do dia 20.11.92, sextafeira e chegarei aqui mais ou menos às 24:00 horas. Virei direto pra cá, de táxi. Pelo amor de Deus, não saia de casa pois se eu chegar para dormir e você não estiver, terei que arrombar a porta ou dormir no meio da rua.

Em último caso, se você tiver mesmo que sair, não tranque a porta, ponha só o cadeado por fora que tenho a chave do mesmo. Só não tenho a chave da porta. Então, não tranque a porta, ok?

Agarradinho, 19.11.92

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Hoje é 11 de outubro de 1992. Estou no meu quarto.

Tenho: um emprego bom, fui promovido, tenho mãe, irmãos, amigos, colegas, tenho duas casas, tenho nível superior incompleto, tenho um telefone, tenho ventilador, tenho tudo o que quero. Mesmo assim tô triste, melancólico, sofrendo muito. O que me falta é alguém que me dê carinho, que me ame, alguém que preencha esta vazio que me corrói a cada instante; alguém que possa me dar perspectivas novas na vida. Minha vida tem sido uma sucessão de dias tristes, alternados por mais tristes ainda... Não estou numa fase boa vida (não sei se é porque nada me satisfaz, ou melhor, não me satisfaço com nada), mesmo tendo algo material, meu espírito está aflito.

São 10:00 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Hoje é dia 10 de outubro de 1992.

É véspera, aliás, já é um feriadão, um fim de semana prolongado. Já dei mil voltas na cidade, desde às 06:00 horas (quando acordei). Não planejei nenhuma viagem nem passeio, pois ficaria sem graça me divertir sem você perto de mim. Hoje abri o álbum de fotografias para ver nossa foto. Me deu uma vontade louca de chorar e me deu uma tristeza danada! Não estou conseguindo superar esta situação. N]ao sei até quando vou ficar assim, nesta tristeza de matar. Quando você estava aqui eu tinha vontade e alegria para fazer qualquer coisa. Mas agora tudo para mim está tão difícil e quando lembro que você está tão longe me dá vontade de morrer. Nada mais tem graça para mim. Até o trabalho me enche, às vezes, e fico sem nenhuma perspectiva na vida. Não sei mais o que sinto por você, se é amor, se é uma doença. Só sei que sinto imensamente a sua falta. Não estou conseguindo nem sobreviver sem a tua presença. Cada minuto que se passa parece que é um século; cada dia parece um milênio. E eu aqui, enterrado nesta cidade, infeliz e triste, que me infelicita e me entristece, morrendo aos poucos, pagando muito caro por algo que parece ser simples: só preciso é de uma firme e de força de vontade. Hoje, aliás, sempre, tentei ligar para você, mas sempre fiquei adiando. E hoje tomei coragem e liguei. Deixei recado para

 você me ligar à noite. Vou ficar a noite toda no pé do telefone, aguardando que você me ligue. Meus olhos estão vermelhos, como sempre, pois não aguento me lembrar de você e não chorar. Até breve.

 

 

 

Eu não sou perfeito

Isto não é desculpa para a minha pequenez e minha pobreza de espírito, mas é a realidade. Não tenho medo nem vergonha de te falar isto agora.

10 de agosto de 1992, meu quarto, for Jacob.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA Inscrição num cartão de natal ou coisa parecida, numa loja do Shopping Barra: “Você tem que gostar daqui enquanto estiver aqui. ...porque não existe aqui, lá...”

 

ANTES e DEPOIS. Não conheço. Só tenho experiências no “durante”. Todas as minhas amizades nunca tiveram começo nem fim.

 

Garçom, faça o favor de me trazer depressa...” Não sei onde quero chegar com esta cara que tenho.

Jequié, 16 de agosto de 1992

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

 

PROJETO 30 ANOS DE POESIA

Jacobina

Do alto do Cruzeiro, te admiro

Observo tuas ruas estreitas

percorro tuas serras com os olhos

e fico embebido da tua beleza rústica

 

Desço a serra, te abraço

sinto teu solo frio

a dureza de tuas pedras

e o silêncio que te sufoca

 

só após anos a fio

é que você murmura algo

só então sinto e entendo

o que tua brisa me diz

 

tuas ruas, tuas praças

então passam a fazer sentido

e começo a decifrar

o sentimento em ti escondido.

 

Jacobina, 16 de maio de 1993.

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

 

Jacobina, 15 de maio de 1993 (06:10 horas)

Ainda não estou em outra cidade. Mas já estou planejando comprar a passagem. Fiz o roteiro e arrumei as malas. Lá, pretendo erguer uma casa, mobiliála e habitála. Lá, não poderei procriar, mas tentarei ser feliz. Lá, não conheço ninguém, mas há a promessa de uma “entrega total”. Lá, não precisarei dividir e ficar com a parte menor. Lá, serei completo, serei   somente meu, serei inteiro.

Mas o endereço não é desconhecido. Há duas linhas de ônibus, ligações telefônicas via correio... Enfim, sempre estarei lá, pronto para receber os amigos.

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jacobina, 15 de maio de 1993 (Rua Deraldo Dias, 12 - Centro)

Cheguei hoje, às 05:30 horas, em Jacobina. Ela estava silenciosa, parada, como se se fingisse de morta. Aqui e acolá, um galo cantava;  o frio percorria suas ruas; o Cruzeiro a vigiava do alto; parecia uma cidade adormecida. E era. Enquanto o sono imperava em suas ruas estreitas, eu caminhava lentamente, atravessando cada espaço alheio. Caminhava por suas ruas como se fossem minhas ruas e ela, dormindo, não se opunha à invasão.

De repente Jacobina acordou, despertou-se do sono de quase dois anos. Acordou e me viu. Mas ela não estava mais sozinha, não precisava mais de habitante forasteiro. Jacobina agora tinha a sua própria população, tinha seus “filhos da terra” e não precisava mais de forasteiros.

Aí vi e senti que Jacobina crescera; senti que era maior que quando a conheci. Mas vi também que não havia mais espaço para eu construir uma casa. E fiquei inerte, não lutei para conquistas meu espaço. Voltei para casa.

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jacobina, 1º de maio de 1993, 21:45 horas

Este será o primeiro ‘primeiro de maio’ que guardarei.

Foi hoje que senti, no real, o que não queria sentir jamais: a distância entre eu e você.

Mas foi bom constatar isto, pessoalmente, que ficar mais tempo me enganando a mim mesmo.

Foi melhor que fosse assim, gradativamente, pois a dor é menos doída.

Você foi o motivo de milhares de poemas meus (bons e ruins), mas o que importa agora é não nos arranharmos com esta cisão, meu irmão siamês: Meu coração está ligado ao seu pé.

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jacobina, 1º de maio de 1993, 21:45 horas

Este será o primeiro ‘primeiro de maio’ que guardarei.

Foi hoje que senti, no real, o que não queria sentir jamais: a distância entre eu e você.

Mas foi bom constatar isto, pessoalmente, que ficar mais tempo me enganando a mim mesmo.

Foi melhor que fosse assim, gradativamente, pois a dor é menos doída.

Você foi o motivo de milhares de poemas meus (bons e ruins), mas o que importa agora é não nos arranharmos com esta cisão, meu irmão siamês: Meu coração está ligado ao seu pé.

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jacobina, 1º de maio de 1993.

A ameaça pairava no ar. A suspeita era só. E, apesar de sua prosa de que tudo continuaria “igual” depois de se casar, eu sei (e você também) que não é bem assim.

Perdi sua atenção, sua consideração, tudo: Você nem me olha mais, é como se eu não existisse. Eu não quero te prender com uma concha de Álcool (bebida) e sim com o coração, com a amizade, com o carinho. Mas percebi, hoje e amanhã, que você não quer que eu te conquiste. Você ser conquista por ela.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

JACOBINA, 24 DE JULHO DE 1993

 

Olá Valdeck!

Estou aqui em Jacobina, na casa de uns amigos. Vim fazer um passeio. Soube que você ainda está lutando para conquistar mais alguma coisa em sua vida. Vá em frente, pois seu destino já está traçado. Por mais difícil que possa parecer, você terá sua hora de alegria. Não faça nada precipitadamente. Não faça nada que venha a constranger a pessoa que você ama. Lute, continue pedindo forças aos Espíritos Superiores, que em breve (entendase poucos dias - quiçá dois meses) seu sonho será realizado.

Tchau!

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié 07 de agosto de 1992

O que escrevo não é o que penso

o que penso não é o que sinto

o que quero não é o que procuro

o que acho não é o que desejo

o que desejo não é o que me preenche

o que me preenche não é o que tenho

o que me falta é buscar você

e amar com toda a energia do mundo

And to love with all energy of world.

I like You. I want You.

Quero fazer amor com você.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 02 de outubro de 1992

Tenho tentado esquecer tudo o que aconteceu, para não sofrer demais. Trabalho a semana toda, ando de bicicleta, fujo de tudo. Mas agora, às 10:30 horas, não aguentei e chorei. Não me acho um covarde, por chorar. Acho que é uma válvula de escape. Não tem jeito. estou muito triste. Não sei quanto isto vai terminar. Só sei que não aguento mais ficar longe de você. Acho que estou ficando louco. A angústia que me domina agora é indescritível. Não imagino como escrever para te dar uma idéia do sofrimento que me tortura neste momento. Pode ser comparado com o sofrimento de um Presidente da República, eleito pelo povo, que é deposto injustamente...; pode ser comparado com o sofrimento de uma mãe que perde seu filho tragicamente...; pode ser comparado com o sofrimento de quem contraiu uma doença incurável...; Droga! Por que estou tão longe de você?? Eu te amo! Te quero, te desejo, te gosto como gosto de mim mesmo...

Amanhã é dia de eleição. Fico imaginando (fantasiando), que você vem votar aqui e que daqui a pouco vai me telefonar dizendo que está em Jequié... Amanhã vou trabalhar como Presidente da 118ª Seção Eleitoral (Colégio Presidente Médici).

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 06 de outubro de 1992

Estou no bairro São Luís, tomando um vinho licoroso e ouvindo a FM 93, onde toca uma música de Wando. Fico olhando para o tempo e pensando em nada. Penso, ao mesmo tempo, em tudo o que aconteceu aqui em Jequié conosco. Olho para o céu e para as nuvens: será que é o mesmo céu e as mesmas nuvens daí de Jacobina? Será que minha felicidade está realmente em Jacobina? Ou será que tudo isto é uma grande ilusão? Prefiro acreditar que tudo isto não é uma grande ilusão. Eu tive você em mim; pude amar você com minhas energias; pude mostrar a você que meu amor é verdadeiro e fiel. Até agora não tive nada com ninguém. Tudo o que aconteceu entre nós foi forte demais e nunca tive tanta coisa boa quanto tive contigo. Você foi e continua sendo a pessoa que me fez feliz até hoje. Neste momento tenho vontade de ligar para a FM JACOBINA e dar um recado para você: “Jequié está com saudades de você”. Estou ligando para a Telebahia, para saber o telefone da Jacobina FM. Descobri que é 6213366. Vou ligar, dar o recado e pedir a música “Maybe Maybe” do Aha, especialmente para você, ok? Fiz a ligação e a moça da FM me disse que lá “não tem este serviço” (de dar recado). Pediu para ligar 3636. Não liguei. Fiquei chateado. Vou continuar bebendo o meu vinho, com mil saudades de você... “Por favor não me esqueça, estou perdendo a cabeça, de saudades de você...”

HOJE FEZ UM MÊS QUE VOCÊ FOI EMBORA. NÃO AGUENTO MAIS DE SAUDADES. POR FAVOR, FAÇA ALGO PARA EVITAR TANTO SOFRIMENTO!

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 09 de agosto de 1992

Quero uma definição de como ficaremos daqui por diante, em relação a relações íntimas (beijos, abraços, carinhos, afagos, etc).

Quanto a diversões, não estou podendo esbanjar dinheiro. Por isto, tenho que cortar do orçamento várias coisas, inclusive bebidas.

Quanto à sua estadia de um mês, não sei se será viável, pois implicaria em fatores como alimentação e roupa limpa, o que não posso proporcionar a contento.

Quanto à sua volta para sua cidade natal, posso custear, fazendo um sacrifício enorme, inclusive solicitando uma cortesia de empresas locais (ônibus).

Quanto ao incentivo ao seu relacionamento com uma certa pessoa, não sei até onde e quando poderei incentivar e apoiar, não por ciúme, mas por lógica.

Quanto à sua fama de faltar com a verdade, espero uma explicação convincente, pois não me sinto bem com aparências nem com mentiras...

Temos que conversar bastante sobre tudo isto, para evitar desgaste desnecessário no futuro.

Não estou te cobrando nada. Simplesmente não estou aguentando este clima tenso.

Não estou te cobrando nem posso te cobrar nada. Só não estou satisfeito com esta situação.

Possuo sentimento e não gosto de me sentir um simples objeto de prazer.

Tenho sofrido muito em amizades que não levam a lugar nenhum.

Sou sensível e carente de carinho, de abraços, de beijos, de afagos, de atenção, de tudo.

Você não tem culpa de não poder me dar tudo o que necessito.

O que não posso é continuar fazendo é esperar uma eternidade para ver se a vida sorri para mim.

Chega de chorar, chega de sofrer, chega de achar que tudo está bem.

Vamos tomar uma decisão em nossa vida (em minha vida, aliás, já que na sua é mais difícil.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 13 de setembro de 1992

Uma semana que Grey de Jacobina Santos Silva foi pra Jacobina. Até agora evitei escrever algo a respeito disto. Mas agora à noite resolvi fazer estas anotações. Meu peito ainda está angustiado com esta situação. Fiz de tudo para esquecer ou superar esta saudade: andei de bicicleta, não ouvi rádio (para evitar ouvir alguma música triste), trabalhei duro toda a semana, ocupei cada espaço de tempo com alguma atividade, pra não pensar em tudo o que aconteceu e continua a acontecer. Durmo cedo e acordo tarde (hoje acordei às 11:00 horas, por exemplo), pra visitar amigos. Enfim, faço mil malabarismos para não encarar o que está a palmos de mim: estou muito triste com a ida dele. Talvez não seja tanto o fato de estar longe, mas o fato do “limite” que se impõe, naturalmente. E, como os piscianos detestam proibições...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 15 de junho de 1991

Te vejo e desejo teu corpo no meu...

mas é proibido: teu desejo é outro

                                  diferente do meu.

Meu corpo e o teu são iguais

Mas nossas cabeças divergem

E só o que converge

é o aperto de mão...

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 19 de setembro de 1992

Hoje me encontro na casa de uma colega de trabalho, Mônica Barroso, que está viajando, para a Fazenda Serra da Pipoca.

Desde ontem que estou aqui, cuidando de sua casa. Aqui é legal, pois fica perto do trabalho e não é necessário acordar “muito cedo” para poder chegar no horário na Junta.

Agora está passando o Globo Repórter, na televisão, mas não estou acompanhando a reportagem, pois não estou a fim.

Por enquanto é só o que tenho a dizer.

Até logo.

Valdeck Almeida de Jesus

(073) 525-3602

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 21 de setembro de 1992

Caro amigo Grey de Jacobina,

Hoje faz 15 dias que você viajou para Jacobina. Até parece que foi para o outro lado do mundo, pois não dá notícias nem sinal de vida. Será que já esqueceu os amigos daqui, ou será que seus amigos daí são melhores do que os daqui de Jequié? Somente hoje é que você resolveu fazer uma ligação para mim, não é mesmo? Pois bem, todos nós aqui nunca paramos de pensar em você. Minha mãe mesmo, não tira seu nome da boca, toda hora faz comentários a seu respeito. Sabe aquela colcha, ela guardou, confiante que você vai voltar para aqui algum dia. Ela acho que fiquei muito triste depois que você  foi embora. Sempre ficava falando que você é uma pessoa legal, que você é um amigo muito bom, onde e como descobri você. Que eu não devia deixar você ir embora. Fala tanto em você que às vezes não tem outro assunto. Mas a saudade não tem consolo. Sabe, no dia seguinte ao que você foi embora, foi sete de setembro, houve desfile aqui em Jequié e eu fui ver, juntamente com Elma. Mas não senti a mesma emoção que sentiria caso estivéssemos todos ali assistindo. Fiquei sem graça mas tentei não demonstrar nada. Ela viu um colega da Igreja dela e aproximouse dele. Ele estava indo para São Paulo fazer um curso de dois anos e estava promovendo uma festinha de despedida. Convidou a mim e a Elma. Fomos e foi legal. Mas nada é legal aqui, tudo fica chato sem você. Você sabe que nossa amizade é muito forte. Você para mim é como se fosse um irmão, ou muito mais que isto. Você sabe qual é a relação de amizade que tenho com meus irmãos e sabe que nós não somos muito chegados. Fico aqui em Jequié sem ter com quem conversar e sem ter para onde ir. Dou voltas e mais voltas pela cidade, mas sempre que chego em casa, onde deveria ser um local de descanso, é um local de tristeza. Tento não ouvir o rádio para não me recordar dos poucos momentos bons que tive em minha vida, mas não tem jeito: quando passo na rua, sempre tem alguém com um rádio ligado bem alto. Aí eu tento de toda maneira fugir dos pensamentos para não sofrer mais ainda. Mas tem horas que não dá para segurar e então as lágrimas vêm sem que eu possa impedilas. Tentei detestar o disco do “A ha”, mas não adiantou: estou gostando do disco e das músicas também. Não sei o que será de tudo o que planejei. Cada dia que passa, para mim, é como se fosse um ano. Tento ficar o dia todo no trabalho, envolvido com mil coisas para não me lembrar de nada, mas só consigo disfarçar durante a semana. Quando chega a sextafeira à tarde, me dá um frio na barriga, só de pensar em ficar dentro daquele quarto sem fazer nada, olhando para cada parede e me lembrando de tantas coisas... E o que me deixa mais chateado, é que esta situação não se resolve logo de uma vez. Fica nesse clima tenso e chato, uma coisa me devorando por dentro e me tirando o sono. O que eu queria mesmo era estar longe de Jequié e destas pessoas chatas daqui. Fico muito aborrecido quando alguém fala algo sobre mim que eu não faço ou que nunca fiz nem nunca vou fazer. E fico mais chateado ainda, quando existe pessoas que se contentam apenas com os boatos e com o que as pessoas falaram e não chegam pra gente e tira a dúvida. Eu sou uma pessoa muito sensata e além do mais nunca dei o que falar para ninguém. Minha família, apesar de humilde, nunca teve complicação nenhuma com coisas fora do norma, ou que as pessoas condenam.  Mas tem pessoas que se divertem em ver a infelicidade das outras. Tem pessoas que são invejosas, não admitem que perderam e ficam fazendo de tudo para que as outras pessoas percam também. E o resultado de tudo isto é que agora estou aqui nesta depressão danada que me tira o sono e me tida a vontade de viver. Preferia mil vezes que a morte se lembrasse que eu ainda estou aqui neste mundo, do que ficar sofrendo por uma coisa que é fácil de resolver. Bastaria um sinal verde que eu tentaria de toda forma ficar perto de tudo o que me faz feliz. Esta vida é uma só. Por que a gente fica adiando a felicidade para outra oportunidade? Sei que nada é fácil na prática, mas quando a gente quer, o impossível fica fácil e o difícil dá para solucionar. Talvez você seja bastante jovem ainda para entender essas coisas, mas eu já vivi o suficiente para saber que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” e sei também que o tempo é inimigo de tudo: o tempo corrói e destrói até o bronze e o mármore, quanto mais um sentimento que liga duas pessoas que estão distante cerca de 500 quilômetros... Pense bem eu tudo o que eu te falei e tome uma decisão em sua vida que eu prometo que vou procurar entender tudo o que você resolver. Serei ou tentarei ser adulto o suficiente para não querer atrapalhar a sua vida tampouco a minha própria, ok? Sei que você ainda é bastante jovem e inexperiente, mas sei também que tens uma cabeça preparada para qualquer situação que venha a se definir entre nós. Já te falei várias vezes que não consigo ficar sofrendo por uma pessoa sem poder dar uma definição na minha vida, nem sei ficar esperando o tempo todo por uma coisa que não sei se me levará a algum lugar. Talvez amanhã pela manhã eu já pense diferente de tudo o que estou escrevendo agora, isto é normal, mas talvez eu fique o resto de minha vida pensando assim, o que também é normal, mas o que não quero é ficar nesta indefinição absoluta, criada por nós mesmos, sem saber até quando e até onde iremos. Já falamos diversas vezes sobre este assunto, e não é necessário ficar repetindo, aqui, coisas que já sabemos de memória, não é mesmo?

A cidade onde você mora não é muito distante daqui, nem a cidade onde moro é muito distante de onde você está. Mas o que importa neste momento não é a distância em quilômetros, mas sim esta distância física que enfraquece qualquer laço de amizade que possa existir. Por isto, não fique surpreso se a qualquer momento eu deixar de sentir por você tudo o que sinto e tudo o que já te falei antes. Cada momento que vivemos juntos, foi para mim muito gratificante e acho que não vou poder repetir aqueles momentos com mais ninguém, mas nem por isto eu posso ficar “aqui sentado, neste apartamento, com aboca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.

Por enquanto é só o que tenho para te falar. Eu só consigo falar de tristezas mesmo. Então, fique no aguardo de nova carta minha. E não se esqueça de responder as que eu mandar, ok?

Um forte abraço do amigo que te gosta muito...

VALDECK

CAIXA POSTAL 163

JEQUIÉ/BA

45200-000

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, 28 de maio de 1992

 

Caro amigo Grey de Jacobina,

 

Minha remoção, sobre a qual te falei há poucos dias, já está praticamente encaminhada. Esta semana chegou o ofício requerendo do Juiz Presidente desta JCJ o seu pronunciamento a respeito da mesma, e o Juiz a deferiu. Em poucos dias estarei partindo para outra cidade e não sei quanto é que poderemos nos ver novamente.

Quanto à notícia que você me deu de que estará se mudando para Jacobina, fico muito triste, pois com minha remoção e sua viagem, ficará muito mais difícil para nos vermos. Espero que algum dia possamos nos ver, com bastante tempo para conversar, pois você foi uma das pessoa que mais energia positiva me deu. E espero que eu tenha contribuído muito para a sua vida. Fique certo de que estou muito triste com toda esta situação. Mas não podemos fazer nada. Ou melhor, não queremos perder nossas mordomias e nosso comodismo, não é mesmo? Por hora, é só. E deixo aqui registrado um forte abraço para você e o desejo de que tudo de bom possa ocorrer na sua vida, a partir de agora.

Até breve. Do amigo

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, Festa de Santo Antônio, 15 de junho de 1991, às 23:00 horas.

Tua boca tão tosca, mas tão atraente…

(Projeto Madio Editora)

 

Teu corpo tão jovem

Teu espírito tão avançado (?)...

Te imploro com os olhos

Mas você não entende.

Seu corpo tão jovem

mas não imaturo...

Te sinto distante

Apesar de agora

Dividirmos uma mesa

E uma cerveja...

Não posso tocar-te

E o único consolo

É te esquecer...

 

 

Jequié, Festa de Santo Antônio, 15 de junho de 1991, às 23:00 horas.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, Festa de Santo Antônio, barraca “John Drinks”, às 22:50 horas, dia 15 de junho de 1991, ouvindo a música ‘Cheiro de Maça’ de Leandro e Leonardo.

Durmo só

Comigo, mas só

Viro e me reviro na cama

Deparo comigo, jogado num canto

Desejando teu cheiro, teu beijo e abraço

Não acho e me agarro ao sonho

De um dia poder dividir

Meu quarto e meu beijo

E todo o desejo que guardo comigo...

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié, Itajubá Hotéis, Coffee Shopp, 19 de junho de 1991

Saí da Faculdade

(Projeto Madio Editora)

 

 

andei a passos lentos e cadenciados

Olhar fixo no nada

mente longe do corpo

absorto em devaneios.

                Pensando em você

                fingindo pensar

                querendo você

                mas indeciso.

Você não me pertence

teu desejo não sou eu

teu pensar

não é meu pensar.

                Sei que não posso te amar

                não posso sentir esta paz

                pois esta paz não me pertence

                e não tenho o direito de te pedir.

 

Jequié, Itajubá Hotéis, Coffee Shopp, 19 de junho de 1991

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Jequié-Ilhéus-Salvador

        Jacobina

(Projeto Madio Editora)

 

 

Jacobina

Uma amizade/um amor

Se constrói/se destrói

Num século/num minuto

 

Um amigo se faz

Um amor se compra.

 

Um amor se trai

Por um amigo se morre.

Salvador, 12.04.93

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Marginal de elite

(Projeto Madio Editora)

 

Droga permitida

Batina depravada

Sacra-Diabólica:

Eis a vida.

 

Ilhéus, 16 de abril de 1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

ME ENTREGUEI DEMAIS

 

(Projeto Madio Editora)

 

fiz revelações absurdas

não tive coragem de enxergar

que você não me queria

só queria um amigo ‘legal’

que tivesse sempre ‘disponível’

esperando por você.

 

AGORA VEJO O ÓBVIO

você só queria e quer seu filho

e viver como casado

por isto aproveitou-se da despedida

para não aceitar retorno

para não aceitar meu pedido de perdão.

 

Salvador, 20.07.1993, às 19:45 horas.

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Meu AMOR,

Somente agora, às 19:30 horas, encontrei seu recado no catálogo telefônico. Desmanchei todo o meu quarto, coloquei tudo de cabeça para baixo, mas não encontrei nada. Fiquei cansado e esperei que você ligasse para dizer onde colocou o recado. Agora à noite, por acaso, abri o catálogo à procura de suas palavras e as encontrei. Foi ótimo, foi maravilhoso! Emocioneime demais. Te curto bastante. Te adoro, te amo de verdade. Você foi a melhor pessoa que já conheci até hoje. Espero que nosso amor não acabe nunca. Um grande beijo. Te amo.

Jequié, 1º de agosto de 1992

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Meu Tudo (Publicada no livro “Transcendental”)

 

Meu dia

minha noite,

Ouço e gravo, agora, músicas

todas que nos marcaram (ou a mim):

Micareta, ‘João Santana’, Salvador.

Quisera eu, minha noite fosse eterna;

Quisera eu, não morrer, jamais,

Poder tornar os minutos em milênios.

Este momento é único:

Só se repetirá ‘n’ vezes (?).

 

Salvador, 31 de julho de 1993, às 00:05 horas.

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

MEUS ESPÍRITOS PROTETORES

 

Estou em minha casa, em Salvador, no apartamento nº 916, sonhando que o mais breve possível possa acontecer meu tão sonhado desejo. Sei que vocês estão velando por mim e fazendo de tudo para que eu possa ser feliz. Não quero ser o motivo da tristeza de ninguém. Só quero que o vento sopre um pouco e para sempre para meu lado.

Só vocês são testemunhas incontestes do que tenho sofrido por todos esses anos passados, pela falta desta pessoa em minha vida. Não quero que ela seja aniquilada ou tolhida, a fim de satisfazer um capricho meu. Pelo contrário. Quero que viva, conscientemente, tudo, escolhendo, conscientemente, me amar e amar a sua própria existência e a sua própria razão de ser. Não quero ser o sedutor, quero apenas poder ser o espelho daquilo que esta pessoa queira ou sonhe; quero apenas corresponder aos anseio e fantasias desta pessoa; quero poder delirar, urrar, devanear, fazer sentir prazer, fazer sentir a vida e fazer perceber o que é e o que não é...

Só quero viver esta louca lucidez, integrandome a ele e ao cosmos, ao infinito prazer de ser.

Grato a vocês todos.

Amo-os.

Salvador, 02 de agosto de 1993.

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Meus olhos ardem de sono

meu corpo anseia por você

 

(Projeto Madio Editora)

 

 

meu corpo anseia por você

meu coração dispara

quando penso no nosso amor

tão louco e tão genial

que me faz ser anjo...

Quero sentir você aqui

na minha cama, me amando,

me fazendo enlouquecer,

me levando ao inferno

e me levando ao céu (da boca)

sua língua deliciosa...

For Jacob, 07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Nada como uma cama bem gostosa com você ao lado.

Eu e você, 15 de julho de 1992

 

Tanta paixão, tanto tesão

tanta loucura, tanta razão.

Pra nada. Agora, nada me ajuda a sofrer esta dor.

Rey Sol Hotel, 15 de julho de 1992, for Jacob

 

Mas antes uma noite de mor que mil de saudade de quem se gosta.

Colhi as rosas, agora furo os dedos com os espinhos.

Rey Sol Hotel, 15 de julho de 1992

 

O que guardarei de ti é a lembrança de que não fiz tudo o que tive vontade de fazer.

Rey Sol Hotel, 15 de julho de 1992

 

 

O que é viver, senão uma luta ingrata pela sobrevivência?

Rey Sol Hotel, 15 de julho de 1992, for Jacob

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Com você

 

(Projeto Madio Editora)

 

 

Tudo de bom aconteceu comigo

nos últimos dias

Tudo o que quis, consegui:

o calor de teu corpo,

o sabor de fazer amor,

o prazer de desfrutar do proibido,

o tesão de ter você em mim.

De tudo isto guardo um pouco:

a saudade e a recordação

quando lembro ou passo perto

de onde estivemos.

Rey Sol Hotel, 15 de julho de 1992, for Jacob

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Não sei como:

(Projeto Madio Editora)

 

 

conseguirei fingir

Te darei a outra pessoa

e lutarei pra ter você.

Sei que a luta é desigual:

Concorro em desvantagem

e com poucas chances de ganhar.

Agora a distância aproximou vocês

(e eu ajudei nesta aproximação)

e me colocou para escanteio.

(Não entendo jogo de basquete).

Te esqueço ou me aproximo de ti?

Se quiser, posso ir pra perto de você.

Só depende de você...

Mas não sei se é isto que quero

ou se é o que devo fazer.

Em meu quarto, 26.07.92, 08:30 horas

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Neste momento estou morto

Estou vivo, mas morto

Em Jequié, na Rua Magno Senhorinho:

em frente a tudo o que quero,

mas ao mesmo tempo longe

Você não me quer nem pode me querer

Te desejo mas te repilo, para não sofrer mais

 

Jequié, 30 de maio de 1992: Churrasco na Magno Senhorinho, GSS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

NESTE QUARTO

É PROIBIDO:

 

Amar  ou fingir que ama,

Não sentar, ou fingir que senta (na cama),

sonhar alto, ou deixar de sonhar,

fazer baderna, sem me consultar,

gostar do que não gosto, só pra me agradar,

ouvir minhas fitas, sem meu ouvido,

pegar em “minhas coisas”, sem minha autorização,

subir na minha cama, sem sapato,

fumar: cachimbo, charuto ou cigarro de palha, maconha,

ligar meu som, sem minha energia,

passar “horas” sem fazer nada,

fazer tudo o que é permitido nos outros cômodos,

ler minhas cartas e meus escritos,

olhar pelo vidro ou pelo buraco da fechadura,

entrar sem bater e perguntar se pode entrar

conversar alto ou ficar em silêncio,

demorar muito tempo sem motivo justificado,

perguntar muita coisa ou não responder às minhas perguntas,

falar putaria ou falar coisas “lindas”

não pode olhar pra cima, nem pra baixo,

não pode nada, nem pode tudo,

enfim; saia do meu quarto, seu (sua) abelhudo (a)...

Grey de Jacobina Santos Silva

Agradece: a direção.

Depois de tudo isto, você ainda está aí? Vai ser chato (a) assim, na sua casa, ok?

A partir de hoje, nem eu estou autorizado a entrar aqui. Ou estou? Não estou? Quem vai me proibir? Eu mesmo me autorizo, a não me permitir nada...

1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Neste quarto é proibido:

Entrar sem bater,

bater sem entrar,

ouvir minhas fofocas,

fofocar sobre a vida alheia,

falar baixo,

fazer silêncio

fazer barulho,

chutar a parede,

bater com o punho sobre a mesa,

cuspir no chão ou na parede,

limpar o pé sujo, com minha toalha,

usar minhas roupas,

andar “pra lá e pra cá”,

 sentar na cama do paciente,

fumar odrobó,

mexer nas gavetas

chutar a porta,

derramar o pinico,

fazer “pum”,

matar as baratas de estimação,

criar ratos,

suspender o carpete,

jogar lixo no vaso,

dar descarga no vaso sanitário,

usar o papel higiênico pra outra finalidade,

falar com a boca cheia de dente,

espirrar,

entrar pessoas alérgicas a poeira,

sentar no chão (não temos cadeiras: traga a sua de casa),

roer as paredes,

falar palavrões,

falar palavras indecentes e palavras decentes,

roubar minhas coisas,

deixar alguma coisa sua aqui,

ler a bíblia,

folhear revistas de mulher pelada,

entender o que está escrito neste aviso.

 

Você não se toca não, cara. Vai embora. Você não tem convite...

 

Grato pela preferência. N Ã O   V O L T E  S E M P R E!

 

VAJ

15.08.92

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Numa noite fria e solitária te conheci…

(Projeto Madio Editora)

 

A rua é que foi meu (nosso) leito...

A Brasilgás ficou como marca registrada

marca registrada de uma história.

A noite fria e solitária:

o frio cortante, a chuva fina, a solidão

De repente teu calor invadiume

Te possuí como nunca tinha possuído a ninguém

Daí, então, rolou tudo o que rolou até o fim

O fim ainda não chegou, mas o começo não existiu

Sonho em ter um dia de descanso e de paixão

mas só o que tenho é a recordação de um dia ter te conhecido:

um vulto de uma pessoa que jamais existiu: um fantasma.

Salvador, 07 de julho de 1993

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

O fato de estar vivo

(Projeto Madio Editora)

 

não é motivo para sorrir

O fato de estar alegre

não significa, necessariamente, felicidade

O fato de calar-se

não importa, sempre, em consentimento.

 

Estar aqui com você

Deixa-me confuso

Deixa-me atrapalhado

Com a vida que levo aqui.

 

Este planeta é uma loucura

Este país é meu sofrimento

Este contato que tenho contigo

Será motivo de futuro lamento

Pois chegará a hora

Em que me dirá ADEUS

Um adeus frio e cruel

Que congelará nossa amizade para sempre

E me deixará atordoado e atrapalhado.

 

Ilhéus, 16 de abril de 1992  Poema para GSS

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Ode à primeira  (Publicada no livro “Transcendental”)

 

 

Jacobina:

Palco da primeira e

Da primeira e da primeira.

Impropriamente própria foi a escolha:

Também, em aconchego não daria.

Teria que ser ali, na vastidão da natureza

ntnav”: que tu foste erguida, jacobina

Foi ali que te construíram: entre dois

Paredões de pedra, longe dos olhos

Curiosos daquele caminhante solitário

Que te seguia.

Na chapada tu foste a primeira

E serás a primeira, até sempre.

 

Salvador, 31 de julho de 1993, 00:20 horas

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

OI AMIGO!

 

Não sei se sou louco ou se o louco é você. Te espero ansiosamente, imaginando a hora em que você baterá na porta com uma mochila nas costas...

Agora pela manhã eu estava coando o café (por volta de 9 ou 9:30 horas) e ouvindo rádio. Hoje é sábado. Estou passando por mil problemas. Mas tenho certeza de que superarei cada um deles. Os Espíritos estão comigo. Só você é que está longe (fisicamente).

Estava ouvindo uma música de Asa de Águia e acabei chorando. Em seguida passou “Eduardo e Mônica”, caí em prantos, uma angústia sem tamanho invadiu meu peito que me fez sofrer ainda mais. Não sei como você está agora, mas acredito que sofre também a minha falta. Te quero como nem mesmo sei explicar. Te juro que seremos felizes. Não permitirei que nada atrapalhe nosso amor.

 

Salvador, 17 de julho de 1993.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Para GSS:

Não mais...

Não mais crer naquilo que vê e ouve

Não mais fazer aquilo que quer

Não mais sofrer à toa

Não mais sentir amor

Não mais enganarse...

19.08.92

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Pelô - Olodum - Jacobina

(Projeto Madio Editora)

 

Combina?

Bicha - Bicho - Mulher

Rima?

Morro - Ladeira - Subida

Em cima?

Porra, se foda!

Salvador, 18 de julho de 1993, 10:30 horas

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Por do sol

 

(Projeto Madio Editora)

 

 

O sol se escondeu

Com vergonha da gente

Ao ver a gente se traindo

Fingindo que gosta

(Você fingindo que quer ser casado;

Elma fingindo que quer ser noiva; e eu fingindo que quero

te esperar).

Mas o que importa mesmo é que:

AMANHÃ O SOL NASCERÁ, DE NOVO!

Alto da Prefeitura, Jequié, 03.07.93, às 17:20 horas

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Quando estiveres cansado de viver, recomeces tudo de novo, e verás que a vida não te dará nova chance para recompor o que ficou inacabado.

Um espírito do mal

07 de agosto de 1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Recebi uma carta

(Projeto Madio Editora)

 

Você não me deixou lêla

Rasgoua e a jogou fora

Antes que eu a lesse.

Você abriu a carta

Não a leu toda

Nem deixou que eu a visse.

Por que esta atitude?

Foi um ato de crime!

O que aconteceu?

Você me quer só para ti

Mas não te quer só para mim.

Os direitos não são iguais?

Salvador, 12.04.94, Meu quarto.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 06 de setembro de 1993

 

 

Seis de setembro

(Projeto Madio Editora)

 

Há um ano você partiu

Em seis de setembro você se foi

Se foi pra sempre, pra Jacobina

Eu e Elma ficamos na saudade.

                Me recordo, como se fosse hoje

                Eu e Elma, levando você ao ônibus

                Era meia noite e quinze: você partiu

                E ficamos sofrendo (eu, incógnito)

Procurei fugir da solidão

Procurei substitutos

Mas você resiste

A saudade não morreu.

 

Salvador, 06 de setembro de 1993

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 18 de maio de 1993

Espíritos Protetores e Deus

Sei que não se deve querer ser feliz com a infelicidade alheia, mas também não quero ser infeliz com a felicidade alheia.

Meu envolvimento emocional nesta história foi voluntário, mas agora a voluntariedade é mútua e é correspondida. Agora o sentimento está se tornando verdadeiro, real e atinge no fundo do ser. Agora ouço do meu amor, frases que confirmam o seu sentimento. Recebo beijos que comprovam sua transformação interior.

Agora Deus, agora é que poderá haver um rompimento de tudo? O amor também não faz parte da evolução espiritual? Nós fomos o quê, em uma encarnação anterior? Não mereceremos nos amar, não merecemos nos querer e nos ter um ao outro? Tua grande sabedoria solucionará esta situação, sei. Não desejo exclusivismo nem que haja dor e pranto de um lado para que eu sorria do outro lado. Mas distâncias físicas se diminui. Vocês podem dar um rumo firme à vida do pai e da mãe e fim de que eles possam se estabelecer definitivamente aqui ou Feira de Santana. Aí, sim, todos ficarão perto de mim e então a felicidade poderá ser dividida com todos.

Senti tua mão e a de todos os que me amam, quando já não tinha mais esperanças de sair vivo das águas de Itapoan. Agora creio na imensa bondade de teu coração e espero (na certeza) a solução para este impasse.

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 21 de agosto de 1992

Caro amigo Grey de Jacobina,

Neste momento, estou na sede da 8ª JCJ de Salvador, auxiliando uma colega minha, que participou do curso de Secretário de Audiências no último mês de abril deste ano.

Minha viagem foi ótima. Não aconteceu nenhum imprevisto e até agora, nada de extraordinário aconteceu, nem tampouco nenhuma coisa desagradável. Estou bem comigo mesmo e em paz com Deus e o Mundo. Ontem cheguei na casa de Jaqueline mais de 21:00 horas, mas ela ainda estava acordada. Jantei fartamente e fui dormir. Hoje acordei bem cedinho, umas 06:00 horas, mais ou menos. Saí para o Tribunal e estou até agora, às 12:40 horas, ainda no mesmo. Minha colega Mônica Barroso está na Biblioteca pesquisando, enquanto fico aqui procurando o que fazer. Conversamos com a pessoa da Diretoria Geral, inclusive com Patrícia, a respeito da possibilidade de uma transferência para o Tribunal. Até breve. Estarei à sua disposição, para qualquer eventualidade.

 

 

 AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 29 de abril de 1992

Amigo Grey de Jacobina,

É com tristeza que irei comunicar minha transferência para Salvador, pois me afeiçoei a você bastante, como somente você sabe. Mas como tudo que começa tem que terminar, não poderei fazer mais nada para continuar nossa amizade, devido a fatores externos e coisas que não são de minha alçada decidir na minha vida.

Sempre te falei que estas coisas acontecem de uma hora para outra e que quando acontecesse, para mim mesmo, seria muito natural.

Não sei como é que o colega vai encarar esta minha despedida antecipada, mas tenho que fazêla, pois irei para outra cidade distante. Não sei quando é que terei condições de assumir outra responsabilidade com você e a única coisa que te peço, é que me perdoe por tudo de errado que fiz contigo. Agora é que sinto a falta de um bom amigo e como irei sofrer, longe de você e de sua compreensão como amigo e como irmão. Dê abraços na mamãe e dê lembranças a todos daí.

Até breve.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 30 de abril de 1992

Amigo Grey de Jacobina,

Estou neste momento, na sala de audiências da 14ª JCJ de Salvador. Neste momento são 14:40 horas. Acabei de fazer um teste com Dra. Maria da Conceição Manta Dantas Martinelli Braga, para ver se poderei ficar como Secretário de Audiências desta MM Junta. Fiz duas atas de acordo, inclusive uma ata de audiência simulada, a fim de testar minha capacidade de ouvir e de raciocinar ao mesmo tempo. Acabei de datilografar a ata e estou aguardando a resposta da Exma. Doutora Juíza Presidente. Caso eu seja aprovado, farei tudo para corresponder à confiança que em mim será depositada. No entendo, caso eu não seja aprovado, farei com que em outras ocasiões eu venha a participar de outros testes deste tipo, no intuito de galgar caminhos que poderão decidir meu futuro como funcionário público federal, Serventuário da Justiça.

Como não tenho mais nada a deixar escrito aqui, findo esta, deixando para você meus votos de que tudo ocorra como você deseja. Até breve e um grande abraço, do seu amigo que te preza muito.

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 30 de abril de 1992

Querido amigo Grey de Jacobina,

Estou partindo hoje, às 23:00 horas, para Jequié, para resolver minha vida de uma vez por todas. Ainda não consegui nada em relação à minha remoção para Salvador, mas tudo indica que ainda hoje terei uma resposta definitiva a respeito. Ontem à noite liguei para Dr. Colavolpe e para Dr. Gileno, e eles ficaram de me dar uma força no que se refere a comentário sobre minha pessoa, a fim de reforçar minha nomeação para Secretário de Audiências. Até agora, que são 13:00 horas, não sei nada de definitivo. Mas ainda esta tarde, creio, terei qualquer definição. Quanto ao nosso assunto, assim que eu chegar aí, entrarei em contato contigo, para acertar como vai ficar, ok?

Quanto à minha pretensão de alugar uma casa aí em Jequié para ficar uns tempos longe da família e com sossego para praticar esportes perigosos e não recomendados para a maioria das pessoas, até agora não pude dar nenhuma resposta, principalmente, porque não sei se serei ou não removido para Salvador, como desejo.

Agora, em relação a tudo o que poderemos fazer daqui por diante, não tem empecilho algum, pois mesmo aqui na capital, você pode vir e ficar alguns dias comigo, até que eu consiga comprar um apartamento para mim mesmo. Daí então, teremos paz e sossego para fazermos tudo o que temos direito, não é mesmo?

Dê um forte abraço em sua mãe e lembranças ao senhor seu pai, e um abraço no seu irmão Alex, ok?

Não fique preocupado, pois assim que eu tiver definido minha vida, te darei uma resposta concreta e não deixarei você sem nenhuma resposta, mesmo que não seja a que tanto você deseja.

Fico aqui, com uma vontade danada de estar aí com vocês, fazendo aquelas viagens que tanto gostamos de fazer. Mas nós não perdemos nada com isto. Nossas energias ficam acumuladas para que possamos gastálas em outras oportunidades.

Não se esqueça de me escrever, de vez em quando, ok? Meu endereço você tem, mas mesmo assim vou repetir, juntamente com o número do meu telefone daqui de Salvador: Valdeck Almeida de Jesus, Avenida Oceânica, 700, apartamento 203, Rio Vermelho, Salvador/BA, fone (071) 2371433.

Meu endereço de Jequié para correspondências, é este: Valdeck Almeida de Jesus, CAIXA POSTAL 163 - CEP 45200 - JEQUIÉ/BA, fone (073) 5253602.

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Salvador, 31 de julho de 1993, às 10:10 horas

 

Olá Espíritos. Sei que vocês estão cientes de tudo, mesmo assim quero registrar a tristeza e a angústia que me assaltou agora. Não sei qual o real motivo, mas creio e quero que seja (talvez para tornála menos dolorosa) pela falta da presença da pessoa que amo. Às vezes, penso que este sentimento é frágil e que só funciona na cama (necessidade carnal), mas logo tenho a confirmação de que é muito mais forte que isto. É tudo o que planejo e projeto para meu destino na Terra. Não quero e nem vou morrer, sem antes ser imensamente feliz com o meu amor (e fazêlo mais feliz ainda). Por favor, apressem este encontro: não podemos perder nenhum minuto de nossa vida.

Assinado: Eu.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Sobreviver eu sei

(Projeto Madio Editora)

 

Resistir também sei

Amar, aprendi

Odiar, me ensinaram

Fingir, não consigo (?)

Ser falso, não tenho jeito (?)

Mas vou encontrar

uma forma de te amar

sem me machucar.

14.08.92 (for Jacob)

 

 

 

 

Urban Legion - Appear cocaine but is my life.

Legião Urbana - Parece cocaína mas é minha vida.

 

Minha cocaína é você, GSS. My cocaine are You.

29 de julho de 1992

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Vi seu nome escrito

 

(Projeto Madio Editora)

 

 

na porta do elevador;

vi seu nome tatuado

dentro do meu coração.

Que pena que esta amizade

tenha sido tão fraca

que se rompeu assim

por um motivo tão fútil,

me fazendo sentir

que sou um cara inútil.

Salvador, 12.04.93

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

 

Você

 

(Projeto Madio Editora)

 

Você me tem feito ver e crer

que não sou tão gênio quanto imagino

que não sou tão grande quanto acredito

que não sou tão sensacional quanto creio

que não sou tão eu quanto quero.

 

Só agora enxergo minha arrogância,

minha estupidez, minha burrice,

minha pobreza de espírito, minha pequenez,

minha mediocridade, minha falta de inteligência.

 

Então entendo tua fuga para longe de mim:

medo de se contaminar com minha imbecilidade.

Mas saiba que, mesmo sendo medíocre como sou, te adoro!

 

02 de junho de 1992, meu quarto, à noite.

Para GSS. Aprendi muito contigo.

 

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Você - Eu - Você

Eu - Você - Eu

Não há portas de entrada

Não há saídas

Não há volta

Não há ida

Só lamento que seja assim:

tão devagar...

Meu sofrimento é esperar...

que um dia, de repente, você volte, para mim”.

Jacobina, 18.07.93

 

 

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Você está na Chapada Diamantina

(Projeto Madio Editora)

 

 

longe do corpo e da alma

aos poucos a distância destrói

toda a paixão que sinto

só sinto não poder interferir

mudando o rumo da história

e traçando o meu próprio destino

em linha paralela com o teu

com pontos de ligação

pra aumentar esta energia

e amar você com loucura

Ponto parágrafo: Te gosto como a ninguém!

Do seu amigo, de Jequié, for Jacob, 23 de julho de 1992

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

Você não tem o direito de me fazer sofrer.

Você não tem o direito de me abandonar.

Você não tem o direito de ir assim...

Eu devia saber que estava amando e não sendo amado.

Você fez tanta loucura, que acreditei que estava gostando de mim, de verdade.

Salvador, 20 de julho de 1993, às 19:45 horas.

 

 

 

 

AMOR GREY DE JACOBINA

No “seu” banheiro, faça tudo isto:

 

Jogue papel no chão...

Demore bastante no chuveiro...

Faça xixi na tampa do vaso sanitário...

Cuspa nas paredes e no chão...

Jogue creme dental no espelho...

Pegue no espelho pra ficar manchado...

Suje o vaso sanitário todo...

Deixe a porta aberta quando você estiver...

Esqueça o sabonete dentro da água...

Não enxugue o piso...

Não dê descarga quando usar o vaso sanitário...

Espalhe o creme de barbear pela pia inteira...

Deixe o barbeador sujo...

 

 

Mas, no “M E U”, não.

 

Valdeck Almeida de Jesus

 

 

Fim dos textos para Grey de Jacobina

 

 

 

 

 

 

 

 

CONTO LOUCO

Macacos me mordam

 

Era a frase que tio Bano mais falava durante sua curta vida de trinta e oito anos. FALAVA, pois já não fala mais. Hoje, descansa sob sete palmos de terra...

Lembro-me de um episódio no qual meu tio levou a pior:

Estávamos, eu e ele, num jardim zoológico cujo nome não me lembro, a passear numa tarde de domingo. Vimos quase tudo quanto foi bicho naquele domingo: onças, cavalos, leões, leopardos, emas, elefantes, girafas, gaviões, ursos, coelhos, pacas e... adivinha! Isto mesmo. Macacos! Quando chegamos na jaula destes símios, paramos e ficamos a tarde toda. Jogamos bananas para aquela macacada toda, nos divertimos bastante. De repente a jaula foi aberta por um dos macacos, que saiu furioso. Meu tio, como não poderia deixar de ser, antes de armar a carreira, soltou a seguinte expressão de susto e medo:

- Macacos me mordam!

E, como se estivessem obedecendo a uma ordem, todos os macacos deram sua mordidinha e, quando o soltaram o meu tio, ele já estava morto...

 

 

 

 

 

 

 

 

AMOR ILVÂNIO

Ilvânio,

Quando te sonhei

estive em mundos longínquos

pisei e corri por caminhos de orvalho

vivi o tempo que jamais passará por mim

criei um ser etéreo, irreal e abstrato

Materializei a perfeição num corpo perecível,

quando te vi

acreditei ter vislumbrado a felicidade e a paz

tive que sentir a cruel realidade

da procura sem fim do amor ideal

esta felicidade que é irreal (inexistente).

Salvador, 31 de agosto de 1995, às 22:52 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IRÔNICA

Ao “TE LAMBUZAR COM MEU PRAZER”

Perco a vontade de amar

Mas minha energia se renova

Quando volto a te olhar.

 

Então o fogo se ascende

E invade o espírito mortal

Me faz tesão e louco outra vez

Daí injeto em ti a gota fatal.

 

Te preencho e deixo prenhe

Feito u’a égua pra dar luz

Grávida pra ter Jesus.

 

Ele nasce, cresce e nos seduz

Nos possui e nos deixa loucos

E trepamos loucos nesta luz.

Jequié, 28 de fevereiro de 1990 (O grifo faz parte de uma música da Banda Beijo).

 

 IRÔNICA - ENGRAÇADA

Deus oprimido (16 de janeiro de 1991)

Este falso Deus do povo

Que nos mata de tesão

É um corno descarado

Vagabundo e ladrão;

Ele está por todo lado

Perturbando a paciência

Mas nunca foi descoberto

Por nenhuma das ciências.

Devasta nossa nação

Acaba com nosso povo

E depois fica sorrindo

Da miséria deste povo.

Me persegue todo dia

Corre atrás e me derruba

Me arrasta e me deixa louco

Me convidando pruma suruba.

Não me deixa nunca em paz

Me perturba todo dia

Me levando à loucura

Pra deixá-lo com alegria.

Ele quer que eu me foda

E que caia na solidão

Que seja pisoteado

Por toda a sociedade

Infeliz e sem piedade

Pra satisfazer seu tesão.

Mas ainda não conseguiu

Mas receio que um dia

Quando eu menos esperar

Ele me derrube e me amarre

Me deixando inconsciente

Pra poder me estuprar.

Mas aí já não estarei

Mais aqui nesta nação

Pois antes que ele me mate

Matarei este ladrão

Levarei ele à loucura

E lhe deixarei na mão.

 

 

 

 

 

 

LOUCA

Fugi da Terra, montado numa puta

Fui passear em Vênus, Marte, Urano e Netuno

Transei com Zorba, a Deusa da Miséria

E renasci das Cinzas de Gomorra

 

Ressuscitei os mortos e os vivos

Reconstruí Babilônia e Babel

Derrubei as Pirâmides do Egito

E desviei o Nilio-rio-do-mel.

 

Busquei refúgio nas asas da Luxúria

Recostei-me nos ombros de Abul

Tirei as calças da Virgem Santa Puta

E viajei sereno pelo sul.

 

Voltei ao sol e fiz minha casa nele

Tirei um anel do Planeta Mercúrio

Plantei banana na lua de Urano

Tampei o Etna com goma de mascar.

 

Rachei a Terra em duas outras terras

Tirei o Mar de Fogo do Brasil

Transei com Santa e com Santo Piolhento

Varando o ventre com o Juízo Final.

 

Arrebanhei mil ovelhas para mim

Soltei só para longe de minha mão

Deixei as mil para buscar somente uma

Porque ele era minha própria mãe.

 

Fugi do fogo e no fogo mergulhei

Busquei o gelo e nele me enterrei

Subi nos Andes e sobre eles andei

Empurrei-me e de lá caí.

 

Dos altos Andes despenquei colossalmente

Despedacei-me em fagulhas de granada

E depois disto nunca mais eu fui o mesmo

Pois bem inteiro para sempre me encontrava.

Jequié, 28 de fevereiro de 1990

 

 

 

 

 

 

LOUCA

Guerra Santa Puta

(16 de janeiro de 1991)

 

Esta guerra de Saddam

Já passou de putaria

Pois todo dia tem guerra

Mas aqui na minha terra

Ninguém lhe faz pontaria

Parecendo até teatro

Pra enganar aos incautos

Que estão a lhe assistir.

 

Se eu fosse mais covarde

Já teria lhe matado

Lhe deixaria louco

Além de louco, pelado

Para dar motivo pouco

Para todos rirem dele

E daria ainda um soco

Pra tirá-lo a consciência.

 

Já vendemos muitos sacos

E todos os botijões

Não temos mais mantimentos

Acabaram-se os feijões

Então, para que mais guerra

Se não temos mais saúde

Pra vender para os ladrões?

 

Pior guerra tem aqui

Com fome, peste e miséria

Cousa que nossos políticos

Não considera coisa séria

Porque não gera riquezas

Para encher seus grandes bolsos

Que estão sempre “vazios”.

 

 

 

 

 

 

 

 

LOUCA

Jequié, 28 de fevereiro de 1990

(PUBLICADO NO BLOG SUEDDEUS)

...

Que morreram despedaçados

De tanto tanto trepar...

 

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