Antologia
Todos os Poemas
Valdeck
Almeida de Jesus
Parte
23
Versões
atualizadas e outras nem tanto
Pois é. O
tempo passa, e não passa, é apenas impressão, ou ilusão de. Ele gira, faz
curvas, faz e refaz o caminho várias vezes, repete passos, desfaz passos, e nos
coloca, sempre, no mesmo ponto de onde podemos retomar ou mudar a direção. Em
formato espiralado, o tempo nos permite ver passado, presente e futuro sem sair
do lugar, como em uma sala de vários espelhos em labirinto, onde vemos partes,
estilhaços, recortes que, somados, formam um mosaico, e também formam uma
imagem inteira... Em cada catar de milho (datilografar com um dedo apenas),
vamos, também, fazendo caminhos que nos levam a lugar nenhum ou a todos os
destinos. Agora, com várias cartas na mesa e na manga, já se pode representar
sem ser apresentado, sem ser indicado, sem ser levado pela mão. Temos faca e
queijo na mão, e todo o tempo do mundo para fatiar a iguaria e degustar, ao
balanço de uma rede e o afago da brisa. Eis a vida, a rota e o mapa.
Sou um urso que nasceu
no Pólo Norte
e vive no Pólo Sul.
Me dou bem
em ambos os pólos.
Portanto,
sou um Urso (bi)Polar
VAJ, 25.04.2020
Febre
alta, tosse e dor de cabeça?
Chame
a funerária. Servimos café preto, biscoito póca zói e carotinho.
O mais
importante já fizemos:
Lavamos
as mãos.
COVEIRO
FEDERAL. PÁRIA ARMADA
BRASIL
“O Brasil tem prejuízos bilionários com tantos
Feriadões”. (jornal A)
“Empresários calculam prejuízos com cancelamento de
festas juninas nos feriadões”. (jornal B)
Cada um vê o que quer ver, o que mais lhe convém!
VAJ, 12 de abril de 2020
Vírus Mascarado
Todo fim de semana
Todo Dia Santo
Todo Santo Dia
Manchete fria
Mascarando
Mistificando
“Homens Mascarados
invadem residência
e matam casal,
e matam jovens
e matam rapazes
e matam homens”
Jornalistas sabem
o povo sabe.
O Vírus Mata,
a bala, mas não abala...
Já é normal morrer assim.
O vírus sabe a cor
de quem vai ter esse fim...
Não investigam,
mas a sentença é dada
“Usavam drogas”
Como uma senha
pra justificar...
10 de abril de 2020
Debatir
Eu me debato no debate
Debater, De Bater
Debatido, De Batido
De Batidas Palavras
Ideias, Utopias Horizont(ais)
E o tempo come meus pés
E o debate me corroí
E o tempo refaz o mundo
VAJ, 09.04.2020
57 milhões
de infectados
no
Brasil pelo
Jumentona
Vírus
VAJ -
08.04.2020
Já
dizia o provérbio
"Todos somos iguais,
perante o vírus"
Galinus Pulandi, 03.04.20
Eu não
vou passar muito tempo na Terra
Em
cima da Terra
Embaixo
da Terra
Vou
criar raízes
Rachar
o chão
Crescer
tronco
Nascer
galhos
Flores,
Frutos
Sementes...
Me
espalhar.
VAJ,
30.03.2020
"El
gran filosofo Dr. Dinero Cambia Todo,
ya hizo una previsón: "La plata primero,
despues puede joder el trasero"
VAJ, 30.03.2020
Saudade
Mortal
Corona Vírus mandou lembrança...
Disse que nunca mais te viu na rua...
VAJ 30.03.2020
A
mulher do álcool que não acredita em Deus se chama:
Alca
atéia ou Alcatéia
VAJ,
22.03.2020
"Por
motivo de segurança os mascarados não tiram as máscaras".
VAJ,
19.03.2020
"Não
morri na Quarentena. Estou meio da Cinquentena. Será que chego na Sessentena?_
VAJ,
19.03.2020
"Em
relação ao Corona Vírus você está fazendo sua parte ou está lavando as
mãos?"
VAJ,
19.03.2020
Pessoa
folgada espirra e bufa ao mesmo tempo.
Mente
vazia, oficina do poeta....
Máscara
não esconde cara de pau
"Sexo
Delivery: chama no PV o AI FUDE"
VAJ,
14.03.2020
Você
sabe o que os lobos disseram quando chegou à floresta um sósia do Menino Lobo?
- Não
é Mogli não.
VAJ,
22.03.2020
Vírus Quadrilha
João não sabia e contaminou Teresa que também não
sabia e contaminou Raimundo
que sabia, mas foi irresponsável e contaminou Maria que não acreditava e
contaminou Joaquim que achou que era super-herói e contaminou Lili
que interrompeu o fluxo e não contaminou ninguém.
João foi pra os Estados Unidos e contaminou mais gente, foi preso; Teresa para
o convento, ficou enclausurada e não passou adiante.
Raimundo morreu de complicações respiratórias, Maria ficou espalhando o vírus
até ser identificada, condenada e presa, se curou do egoísmo.
Joaquim suicidou-se e Lili foi curada pela vacina, casou com J. Pinto Fernandes
que não sabia da história e foram felizes para sempre.
Salvador, 18 de março de 2020
(Paródia do poema “Quadrilha”, de Drummond)
"Efeito
Corona Vírus: genocídios, subornos, queimadas, racismos, lgbtfobias etc seguem.
E todos lavando as mãos".
VAJ,
12.03.2020
"A
terra é plana e tem quatro cantos. Se fosse redonda teria quatro curvas".
VAJ,
11.03.2020
A
poesia está nos olhos de quem lê
A
poesia está nos olhos de quem vê
A
poesia está nos traços de quem grafite
A
poesia está nas imagens de quem fotografia
A
poesia está em tudo de quem circo
A
poesia está nas linhas de quem paisagem
A
poesia está no balanço de quem mar
A
poesia está nas asas de quem ave
A
poesia está nos ouvidos de quem ouve
A
poesia está nos lábios de quem lê para que não vê nem lê
A
poesia está nas vibrações de quem não ouve, mas sente
A
poesia está os movimentos de quem dança
A
poesia está nas pinceladas de quem pinta
A
poesia está nos dedos de quem braile
A
poesia está nos gestos de quem libras
A
poesia está em tudo de quem imaginação
Salvador,
08 de março de 2020
"Uber
a Pé. No meu aplicativo, você anda a pé e me paga por isso, passo a
passo!"
VAJ,
01.03.2020
Fome
de afetos,
se
come;
Momentos
fugazes,
se
fotografa.
Sentimentos
íntimos,
se
divulga.
Desejos,
sonhos,
idealizações,
tempo
Imaterial,
passado
passando,
pena
capital,
tudo
se embala,
tudo
se capta,
tudo
se embola,
tudo
se engana...
Esta é
a pena,
esta é
a sina,
o
destino final.
Está
aí o comércio,
a
consumir o sonho,
capitalizado,
pelo
mercado...
Vitória
da Conquista, 22.02.2020
Aqui
Jaz um poeta.
Morreu
de tédio.
Não
viu a vida passar.
VAJ,
24.02.2020
De Marcos Paulo Silva e Valdeck Almeida de
Jesus
Fenris Fenrir
As desgraças se amontoam
por todos os lados
Como um vírus se
propaga em cada ação do Estado
Amazônia queima e os indígenas
perdem seus lugares sagrados
Os oceanos são
poluídos e os campos devastados.
A educação forma os
alienados.
E a justiça atua
contra os injustiçados.
Tempos horríveis de
corações torturados
Bocas amordaçadas e
sorrisos nefastos
Traumas profundos criando
abismos amargos
Num tempo em que a
toxidade do machismo
Poluiu a pureza do
lago.
Centenas de espécies
Foram extintas
O que vocês chama de
recurso
eu chamo de vida.
Não adiantara as
preces
Matam a sua própria
espécie
Extinguem a vida na
terra
E caçam extras
terrestres
Se houver mesmo nunca
achariam
A vida em marte
Eles fugiriam antes
que vocês
Peguem toda vida e
mate
Te envenenam e
televisa
Te impulsiona a terem
visa
Parcele de quanto
quiser
Temos o que você
precisa
Sou
reticências
Intraduzível
Sigo
ao horizonte
Ando
em círculo
Um
verso infinito
12 de
fevereiro de 2020
Eu vi
um poema nos olhos do mar
E não
me esqueci mais do extraordinário: a simplicidade da vida cotidiana.
Comi
mais que meus olhos aguentavam e bebi toda a cerveja doce do oceano Atlântico
Sul,
enquanto
os passageiros desciam do barco "Foi Deus que Me Deu", e a maré
subia, enxotando os banhistas da Ilha de Maré, Minha Senhora...
E eu
me afoguei, empanturrado de queijo coalho e mel de abelha
E o
mundo acordava e dormia a cada minuto, enganando os sentidos dos humanos
comuns...
26 de
janeiro de 2020
Fenris Fenrir
Vem me ferir com suas
garras.
Vem me ressuscitar
Preciso crer na
eternidade
Não essa no caos
cósmico,
Mas a eternidade finita,
Gozando dos prazeres,
Das desgraças e das
bondades,
Ainda em vida…
Me encontre, nesse
caos mortal,
Me cure dessa praga do
preconceito,
Me diz o que fazer, o
que dizer,
Como me curar desse
malfeito,
Como eu mesmo me
aceito?
Vem, musa/muso,
Não me deixe
confusa/confuso…
Preciso perder o medo
de sobreviver,
Necessito passar a
fronteira,
Preciso outas línguas
entender…
Me ensina tua
linguagem,
Me passa tua linhagem,
Quero ser um avatar,
Quero ser um
significado
Esvaziado de qualquer
rancor,
Me ama, vem me dar
amor…
Fenris Fenrir,
Como viver sem me
machucar,
Como viver sem me
ferir?
Me dê a chave, a
senha,
Me transforme em um
desenho animado,
Me dê a chance de ser
rascunhado,
De me refazer, me
reciclar, me autodominar.
Deixe-me ser o que não
é,
Me faça robô, miragem,
utopia,
Me leva para longe da
distopia…
Fenris Fenrir
Vontade
de desaguar, nesses
olhos marinhos, ondas, enxurradas, aguaceiros..
Todo o
negrume da noite me veste e me despe…
Na
utopia, vivo sem ti…
"Quantos
grandes poetas jamais foram publicados? E quantos ainda não serão?"
Não se
leva nada. Nem se deixa nada. A vida e a morte comem tudo.
Dez
Falecimentos
Não
fale sobre
Não
fale de
Não
fale com
Não
fale a respeito
Não
fale da
Não
fale do
Não
fale dentro
Não
fale fora
Não
fale nada
Não
fale
Parque
Metropolitano de Pituaçu
03.01.2020
"Pechinchar
Com
cisco a vista, dá pra chorar um pouquinho."
VAJ,
02.01.2020
Sempre
tive um brilhante futuro pelas costas: incentivos pra ser o que eu não
queria...
VAJ,
02.01.2020
Apoie
alguém que não possa te recompensar.
Transborde.
VAJ,
01.01.2020
"Nessa
ditadura instalada, quem você vai trair, quem você entrega pra salvar a própria
pele?"
"O
ano do jumento/asno, no horóscopo das Hienas, me revelou inimigos que se
fingiam de amigos, e 'amigos' que são pior que os próprios inimigos declarados.
Eu devo ter pecado muito para essas revelações. Espero a justiça em 2020 e que
todos nós paguemos por nossas pragas e recebamos conforto interno por nossas
palavras e sentimentos de paz espalhadas". Anônimo.
me
nomeiam
me
inventam
me
mentem
me
desconstroem
me
invibilizam
me
apagam
me
assassinam
não me
enterram
não me
dão lápide
nem
epitáfio
eu me
auto nomeio
invento
biografia
e
deixo rastros de vida
Sair
da discussão em que o cachorro tenta morrer o próprio rabo... Parar de achar
que tudo é sobre mim... Circular ideais, mas, também, tecer teias... E esperar
que os frutos sejam colhidos por todxs, não necessariamente comigo na
colheita... Autocrítica e pegar visão de várias fitas e tretas que não me
acrescentam muito…
Cartagena,
11.12.2019
Não
confio em bandido autorizado
Confio
em bandido não autorizado
Poeta Reverso
(Marcos Paulo, Valdeck
Almeida de Jesus, Juh França/Kuma França, Vanessa Coelho)
Os poetas da ALB estão
ocupados
Os professores de
literatura da UFBA estão ocupados
Os intelectuais de
Salvador estão ocupados
Os professores estão
ocupados
Os artistas não estão
aqui
Eles não dialogam com a
rua
Os verdadeiros artistas
não são valorizados
Nós fazemos o trabalho e
eles recebem os aplausos
As ruas estão ocupadas
por poetas desocupados
que fazem o trabalho
que deveria ser do
Estado
reparando os erros que
eles nos causaram
O nosso lugar é o
asfalto
e no buzu eu grito alto:
um grito preto revoltado
(Saindo de um evento
cultural, no Pelourinho, altas horas, um dia e um ano que pode ser todo dia e
todo ano)
O Estado
O Bandido
A Bala
"Perdida"
O Bandido Atira
O Estado Atira
O Bandido Mata
O Estado Mata
A Bala é
"Perdida" e mata corpo preto
Ou é "Perdida"
porque sai de arma não identificada
Escritas em Trânsito com
Samarone Lima, Poesia e Ancestralidade - Fundação Cultural do Estado da Bahia
2019
Poemas criados:
Minha mãe é uma viagem
- Mãe, tudo bem?
- Tudo, graças a Deus.
- Volto logo, viu?
- Se divirta, meu filho,
essa viagem é muito importante para você.
- Tá certo. Volto logo.
Voltei, e minha mãe
viajou. Nunca mais voltou.
16 de outubro de 2019
Minha casa é fragmentada
Minha casa não é casa
nem apartamento
não é de adobe
nem de cimento
Minha casa tem:
Paredes de madeira
chão de barro
sem pia
nem endereço
Está em várias ruas
poucas memórias
sem móveis, nem
histórias
Minha casa é alugada
é financiada
pelo tempo que puder
pagar
16 de outubro de 2019
A primeira vez
que tive casa
foi aos 25 anos
A primeira casa
da família
fizemos com as próprias
mãos
Foi Emocionante,
Libertador!
16 de outubro de 2019
Saudades - primeira,
segunda, terceira
A primeira vez que morri
meu pai foi enterrado
eu tinha dezesseis anos
Morri de saudades
A segunda vez que morri
minha mãe foi sepultada
eu tinha trinta e quatro
anos
Morri de saudades
A terceira vez que morri
meu irmão se foi pra
sempre
eu tinha cinquenta e
dois anos
Morri de saudades
A quarta vez que morri
fui enterrado vivo com o
Brasil
eu tinha cinquenta e
dois anos
Não morri de saudades
17 de outubro de 2019
Desmemória
Sou excêntrico,
espalhafatoso,
grito na rua, ando nu,
adoro debater em
público,
não sou ciumento, nem
como coentro,
como acarajés o ano
inteiro
sendo sincero, não digo
nada
o que penso sobre Deus
escandaliza
já mijei na igreja
transei em gabinete de
juiz
traí os melhores amigos
não tenho peso na
consciência
só não deixo de viver
e vou repetir tudo o que
fiz
17 de outubro de 2019
A cada oficina, exercito uns riscos. Estes foram
durante a oficina
Escritas em Trânsito, da Fundação Cultural do
Estado da Bahia - Funceb,
com a escritora
Micheliny Verunschk, dias 11, 12 e 13 de setembro
de 2019.
Fiz umas 'traduções' e compartilhei com o poeta
Alejandro Rodelo Caro,
de San Jacinto Bolívar (Colômbia), que me ajudou
nos ajustes:
Mosaico
Sou impressões alheias,
Imaginações,
projeções,
imaginários,
desejos,
deduções,
sonhos...
Construído por outros,
sem permissão,
não consentido,
sem cumplicidade,
sem autorização,
sem meu conhecimento.
Não sou espelho,
sou estilhaços...
Oficina Escritas em Trânsito
12 setembro 2019
Quero
vocês:
Cada
representação
Cada
sonho
Idealização
Imaginação
Desejo
Planejamento
Utopia
Sexualidades
Demônios
Essencialidade
Individualidade
Tudo
pra viver um sonho...
O mar
não enche nunca
Cadeia
Capital
Entrei
compulsoriamente
em
troca de casa, comida, uns trocados na conta.
Por
bom comportamento pude dormir em casa e passar finais de semana livre...
Recebi
progressão: redução de remuneração, corte de gratificação, diminuição de
cobertura em plano de saúde, e garantia para não reclamar...
Recebi
aumento de carga horária, corte de cafezinho, vigilância no horário de
produção...
E
posso sorrir e achar que está tudo bem...
A pena
principal era de 35 anos de reclusão, ou sessenta de idade, o que cumprisse
primeiro.
Na
revisão a principal subiu para quarenta e a acessória para sessenta e cinco,
com direito a liberdade quando cumprir as duas...
Ao
final, salário pela metade, plano de saúde zero, sem gratificação nem lembrança
do café, mas ainda poderei sorrir e agradecer...
E a
pena será, realmente, capital...
Recita
pra mim
Me
acorde com um poema dedilhando minhas imperfeições,
Me faz
de bloquinho de confidências, conta-me teus sonhos secretos...
Faz-me
acreditar em utopias e em duendes, me leva a reinos encantados onde o palpitar
do coração seja sinfonia.
Deixe
tuas vestes ao relento, se agasalha em minhas fragilidades e construa tua
potência em meu peito.
Permita
que as incongruências de nossas vidas costurem o tecido de nossa ambiguidade.
Sigamos
cegos nessa senda que pode nos levar ao desespero se nos perdermos um do outro.
E
vamos dormir esse sonho eterno de depender ambos de nossas próprias
ignorâncias.
.
Valdeck
Almeida de Jesus
27 de
setembro de 2019
Bem-te-vi não se aposenta
Todo dia, pela manhã,
ele e outro, em
sinfonia,
tocam e cantam, sobre os
prédios,
em frente da minha
janela...
Tempo frio ou no verão,
com a mesma alegria,
me lembram de viver.
Eles não sabem de
burocracia,
pirraça, estresse,
boleto bancário;
Para os bem-te-vis, o
sol é bússola e motivação;
Para mim, que não canto,
nem voo,
o sol é despertador, me
lembra das taxas,
reuniões, listas de
compras, e obrigações...
Os bem-te-vis não se
aposentam, só vive e aproveita.
No meu caso, a
aposentadoria distante
não me deixa viver, nem
cantar.
Preciso voar, trinar a
voz, acordar com o sol
e viver como um
bem-te-vi...
Salvador, 11 de julho de
2019
Comida só, não
basta.
Casa só, não basta.
Escola só, não
basta.
Trabalho só, não
basta.
Hospital só, não
basta.
Segurança só, não
basta.
Arte só, não basta.
É preciso poder.
E poder corrompe
ética, estética.
E precisa
alternância.
E derruba
democracia.
E tem golpe.
E tem traição.
E tem guerra.
E tem morte.
Valdeck Almeida de
Jesus, 27.06.2019
In treta
we Triste...
.
VAJ, 21.06.2019
Amor Próprio
Simbolicamente
Já me mataram várias vezes
Exclusão de trabalho
Difamação silenciosa e
sorrateira
Rasteira literária
Silenciamentos
Apagamentos
Não me enxergar de
propósito
Riscar meu nome da lista
Negar minha produção
Desqualificar minha arte
.
Assalto a mão armada
Agressão física e verbal
.
Mas não me aniquilam
Tampouco me eliminam
Ainda...
.
Insisto rastejando
Insisto me insinuando
Insisto me amando
.
Quase passo ao além
Por conta do auto ódio
Injetado por terceiros
.
Hoje conto os dias
Horas e Segundos
Serei sempre o primeiro
Em minha lista de
Prioridades!
.
VAJ 20.06.2019
Lei da Monogamia
O homem pode ter mais de
uma Conga. Mas não pode ter mais de uma Conja.
VAJ, 10.06.2019
A gente compra ovo na
prateleira comum e guarda na galadeira.
Por quê?
VAJ 02.06.2019
Floresta de Prédios
Minha floresta de
prédios
Não tem bananas
Jaca
Melancia
No meu pomar de
edifícios
Só tem espigões
Não há pés de cajás
Não tem rio nem peixes
Não há toca, pedreira,
Não tem onça
Não tem pássaros
Não tem cachoeira
Na minha selva de pedra
Só tem polícia
Multa
Sinal de trânsito
Proibições
Na minha floresta de
prédios
Há suicídios
Há genocídios
Feminicídio...
Minha floresta mata
Po pra tu
Amor em banho Maria
Banho de balde
Banho de cuia
Banho de ducha
Banho de chuveiro
Banho de mar
Banho de sol
Banho de lagoa
Banho de piscina
Banho de banheira
Banho de lua
Banho de língua
Quando é amor, todo
banho, mesmo imaginário, tem um amor ao lado...
Calle Florida, 328 -
Buenos Aires
Argentina
Colonização
Te vejo no espelho
Mas não vejo teu rosto
Do outro lado do Atlântico
Emoção me cega
O cone de trânsito
A roupa de policial sem carteira
Eu distante milhares de quilômetros
A cara concorrência Internacional
Meu sonho reprimido
Meu desejo abortado
Meu trânsito de uber
Meu celular sem senha
E você na multidão
Nublando meus olhos
Trancando meu coração
Pra conhecer outras paragens
Violência denominada
Meu sonho tolhido
Adiado para a aproxima
Encarnação
Parido na Calle
Colonizacion
Montevideo, Uruguai
Quem é sabe
20.05.2019
Roubar é crime.
Morrer de fome, não...
Temos leis pra tudo (?).
VAJ, 02.12.2018
Zanga - Davi Nunes
Na velocidade de um tiro o blecaute
racista é combatido. Vira cinzas no cotidiano, semeia amor nas encruzilhadas...
Debate a morte em vida, a impossibilidade
de dormir com o racismo à solta. Esse racismo que humilha, aniquila... Há o
desejo de não haver mais tiros e tiras.
Denuncia o enterro de Limas Barretos nas
quebradas das cidades negras.
Solução? Mais Mestras de Capoeira, mais
Jesus grafiteiro morador do Pelô, preservação dos cheiros de memórias e o sonho
por paz. Parabéns, Mestre Davi Nunes.
Obrigado por essa pérola zangada de letras e entrelinhas...
Terra da Felicidade
Santo Antônio Além do Carmo:
cinco mortos
Piedade: fome e miséria a céu
aberto
Misericórdia: abandono
Terreiro de Jesus: limpeza étnica
Graça: higienização humana
Ladeira de Santana: lixo e cocô
Liberdade: exclusão e racismo
institucional
São Tomé de Paripe: abandono
Santo Inácio: assassinatos em
série
Santa Tereza: drogas e mortes
Bahia (Baía) de Todos os Santos:
assassinos, racistas, machistas, lgbtfóbicos, transfóbicos...
Preferiria Terra do Desespero com
espíritos do mal me deixando viver livre...
Inspiração no Pensamento
Supérfluo 34, de Evanilton Gonçalves
Balada Literária da Bahia, 17.11.2018
O Chile tem páginas sangrentas
escritas pela ditadura, mas tem também de resistência e solidariedade feitas
por pessoas comuns; re-existência e reconstrução.
Antigo cárcere de presos
políticos é o exemplo mais sublime, transformando em centro cultural e horta
comunitária.
Já sabemos o que um período
triste da história do Brasil fez conosco. Precisamos de mais democracia e menos
repressão.
Valparaíso, Chile.
As ondas é que fazem o mar.
VAJ, 14.10.2018
Ponto de Vista
Daqui do chão
Tudo é tão grande...
Somos todos tão iguais
Estamos no mesmo plano
Deitados num colchão
Toda arrogância
Intolerância
Onipotência
Se torna nada
Quando tudo que temos
É apenas um papelão
Não se dorme de pé
O cargo não serve para nada
O carro e apartamento idem
Conta em banco não dá abraços
Viagem a Paris se apaga no tempo
Não andamos como cobras
A quentinha meio fria
É a refeição do dia
Ou da noite vazia...
O cimento da praça teu cobertor
O pingo de chuva um terrorista
E nenhuma oração de Marista
Vai anular tua dor
Daqui do chão nem terno ou
gravata
Vai te fazer cidadão
Quando o maior bem da vida
Poderia ter sido a xícara no
pires
E um pedaço de pão...
Um trapo de gente
Nem católico nem crente
Apenas um ser anormal
Esquecido de todos
Se tornando animal
Se ele morrer hoje
Vai demorar para sentirem a
falta...
Nos saraus, muitos perguntarão (talvez);
No trabalho chato e repetitivo, sentirão no primeiro dia...
Será a única vez que não avisa, some sem dizer o motivo
A porta de casa, sem lâmpada acesa, não chama atenção;
Nenhum cachorro ou gato vai arranhar o tapete,
Até que o gigantismo e apodrecimento do corpo alastre a fedentina...
Os pilantras e saqueadores do país estarão muito envolvidos com suas rapinas...
Pensarão "já foi tarde" quando souberem, mas postarão falsas escusas
nas redes sociais
Ah, os amores, esses, já estarão envolvidos em outros abraços...
O amor, aquele último, sim, pensará sobre a possibilidade que não houve.
Não tem como evitar o fone chamar até descarregar a bateria, a poeira tomar
conta da casa, a geladeira abarrotar de gelo, as frutas apodrecerem junto com
seu dono, o agora defunto...
Se ele morrer hoje, acharão os bichos de moscas em procissão escada abaixo,
denunciando que não tem mais carne podre para comer...
09 de outubro de 2018
Hoje é aniversário de Lula.
Amanhã vou Haddad um presente a
ele!
VAJ, 06.10.2018
Meu lugar é ser o estrangeiro em
ambos os lados da fronteira...
VAJ, 03.10.2018
Uma imagem fala mais que mil
palavras. Mas um silêncio diz mais ainda...
VAJ, 02.10.2018
Com quantos abraços se faz uma
solidão?
VAJ, 29.09.2018
Poeta é um fingidor.
Defende/ataca o que quiser. Mas não aceito a defesa de violências, reais ou
simbólicas...
VAJ, 16.09.2018
Tenho 52 anos, já sofri (ainda)
exclusões e violências. Ainda não fui assassinado com 20 tiros, 30 facadas,
pedradas, estrangulamento. Tenho amigos que torcem por isso; votam por meu fim.
Eles querem um país onde não tem lugar pra gente como eu...
VAJ 15.09.2018
Ser informado, formado, genial em
artes não te faz humano. Pense no outro.
VAJ 15.09.2018
Gente Lesa
gera
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07.09.2018
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