Antologia
Todos os Poemas
Valdeck
Almeida de Jesus
Parte
22
Versões
atualizadas e outras nem tanto
Hoje eu vi
Exú-Deus
Ele caminhava
Em minha frente
Abria cadeados
Mostrava atalhos
Esquivava foices
Hoje eu vi, ouvi, senti...
O cheiro dele em minhas vestes
E ele meneava a cabeça
E significava caminhos
Que eu devia seguir
E eu seguia os rumos
E ouvia o rufar
E ouvia o estrondo
E eu o seguia
Hoje eu vi Deus-Exú
E pedia licença
E silêncio Agô
E caminhava
E viajava
E perguntava a rota
E ele apontava
E encantado
Quando olhei firme
Os olhos dele
Sorriam nos meus
E Ele furta cor
Seguiu seu rumo
E mostrou o meu
E eu sorri
E segui Exú
E Ele se foi
E ficou em mim...
Laroye
16.01.2020
Hoy
vi a Dios-Exú
Caminó,
frente a mí,
abrió
candados,
mostró
atajos,
guadañas
esquivadas,
hoy
vi, escuché, sentí ...
Su
olor en mi túnica,
y
él meneo con la cabeza,
y
quiso decir, que debía seguir,
y
seguí las instrucciones,
y
escuché el tamborileo,
y
escuché la explosión
Y
lo seguí
Hoy
vi a Dios-Exú,
y
me excusé,
y
silencié a su saludo “Agô”,
y
caminé, y viajé, y pregunté la ruta, y él señaló
Y
encantado, cuando lo miré, sus ojos sonríeron a los míos,
y
él iridiscente, siguió su curso, y mostró los míos y sonrío
Y
seguí a Exú, y se fue, y se quedó en mí ...
Y
lo saludé: “Laroye”
Ao amor que não
ousa dizer o nome
Não há GPS, geografia,
pontos cardeais, Uber ou medium que me tire a atenção de você.
Não há prisão,
linguística, performática ou artística, que me iluda, desvie meu âmago do teu
amor...
Morte, reencarnação,
vidas futuras, transfiguração...
Nada me ampara, se não
posso ter teu beijo, sussurro, carinho, mesmo que tudo isso não passe de uma
mera ilusão...
The Pub, bairro Usaquen,
Bogotá, Colômbia. Agosto de 2018-09-11
Detalhes
Enquanto você peida na
varanda
Eu voo sobre os Andes
Na vã tentativa de atrar
tua atenção...
Já fiz poema, já me
insinueei,
E você, tão aventureiro,
sequer percebeu...
Vinho tinto, iogurte,
manga verde, rosa, lilás...
Feijoada de feijão preto
com pé de porco,
Compartilhar de
postagens,
Correr solto na
pastagem,
Elogio disfarçado de
"massa",
Cheirar bufa no carro
pra Feira de Santana,
Convite pra falar de
poesia,
Embolar a língua em
outro idioma,
Nada, nada tira teu
foco...
E você, tão aventureiro,
Fama de traidor,
matador, guerreiro,
Parece que estacionou,
Que foi amansado em
algum terreiro...
Que é isso,
companheiro!!!
Solta as rédeas, vive
tuas emoções!
Sei que não és de
amarrar o jegue,
Muito menos de
enlouquecer os corações...
Solta o matador, o
pegador, o putão...
Só não aniquila a vida,
tua verdadeira vocação.
Um dia te mostro este
poema/confissão.
Voando de Salvador para
Bogotá,
Em qualquer latitude e
longitude
17 de agosto de 2018
https://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/6445350
Amor incondicional
Se eu declarasse meu amor em público,
num sarau, num recital, vocês entenderiam?
E os aplausos, seriam verdadeiros,
ou ficariam constrangidos,
se em cada verso, estrofe, rima,
eu fizesse uma declaração, escancarada,
ou metaforizada, do amor que não ousa dizer o nome?...
Você iria repugnar, se eu dissesse o nome de um homem?
Que diferença faz? Não é amor?
O que faz você me odiar, desejar minha morte ou má sorte?
O fato de eu remar contra a corrente?
Não ser trans, não ser tras, não me definir se gozo pela frente ou por detrás?
Ah, tá, palavras têm sentidos diversos, são estranhas em meus versos...
Entendi.
O amor só vale se for o “normal”, entre aspas e tudo mais,
mas se for do jeito que sinto, faz corar as faces, envergonha...
Para mim, o que sinto não é normal apenas quando dito em segredo, entre quatro
paredes,
é necessário ocupar as praças, televisão, todas as redes...
Para você, se esse amor for feito em verso, não se publica...
Por que não posso declarar que amor que fica é amor de P_ _ _...
E se eu amar sem ao menos ter deitado com o crush, você vai me crushificar?
Acorde, entenda que amor não tem e jamais vai ter normalidade,
pois amar pode ser verbo, substantivo, adjetivo... amar não precisa se encaixar
em dicionário, em gramática, em norma culta.
Então, oponente, entenda, de uma vez, que vou amar, sim, e vou estravazar minha
emoção.
Amei, amo, amarei em todos os tempos, modos e em qualquer conjugação.
E para isso eu não preciso de sua aprovação!
09 de agosto de 2018 - VAJ
https://www.recantodasletras.com.br/metapoemas/6420994
Anjo oculto
que amo
Não é a capa do livro, as páginas, apresentação,
índice, textos, entrelinhas.
Não é a edição impecável, correção ortográfica,
licença poética, muito menos o papel do miolo, as cores, fontes, paginação...
Nada disso.
O que me encanta em ti são as fantasias, os
sonhos, as idealizações, o passado inacessível, o presente incerto e o futuro
indisponível. São os devires imaginados, situações desejadas, tudo o que
ninguém mais pode ter contigo, exceto eu em meus devaneios...
08.09.2018, Santo Amaro da Purificação-BA
https://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/6443986
Quando você está sem fé e
descobre que há pessoas/anjos entre nós...
10.09.2018
Pulo no Abismo
(ou)
Beijo com gosto de vinho
(ou) Poema para Você
Te vejo e desejo
teu jeito moleque
o brilho no olhar
a força da voz
Te vejo e desejo
o cheiro que sinto
o abraço que recebo
o crespo do cabelo
o ríspido das mãos
o pulo no trampolim
te olho de longe
admiro a robustez
teu rosto, tua tez
Te penso e te quero
desejo mais puro
inocente até
Te lembro e desejo
que seja pra mim
“A verdade, uma flor e
os três cães da vida”
Em aspas, escrito
11.09.2015, 05:26h.
Poema feito em
26.09.2015, em Santo Amaro-BA
A verdade,
uma flor e os três cães da vida
Minorias
serão sempre minorias, unidas ou reunidas por interesses do grupo. Mas, juntas,
seja em prol de políticas públicas relativas ao seu próprio grupo, seja em rede
com outros grupos minoritários, serão sempre muito mais eficientes.
Consciência de que o outro poderia ser eu, de que a situação pode se inverter a
qualquer momento, pode nos dar fôlego para defender causas alheias ou, mesmo,
fortalecer nossa própria causa. Diz-se por aí que egoísmo é intrínseco ao ser
humano e sua sede por sobrevivência, em alguma medida. Mas pode, também, ser
motivo para isolamento e ataque a qualquer outra causa que não seja a sua
própria.
O título desse texto me veio em sonho às 05:26h do dia 11.09.2015. Sem entender
do que se tratava, guardei na tela do celular e fiquei pensando sobre,
pesquisando e tentando encontrar na internet alguma frase ou texto que me
esclarecesse o sentido, sem sucesso. Quase um mês depois, usei esta frase para
finalizar um poema em homenagem a uma pessoa que eu admiro.
O fio da meada, aqui, é a luta por causas, sejam elas do albino, do sarará,
quilombola, candomblecista, dos gêneros e transgêneros todos, dos sem gênero,
dos portadores de tudo e de nada, enfim, das diferenças, da individualidade,
que, como citado acima, poderia se fortalecer, à medida que cada um tomasse
consciência de que ninguém está isolado nesta luta, ou, dizendo melhor, cada um
poderia se fortalecer mais, caso olhasse para o lado e se sensibilizasse com a
luta do outro.
Pelo contrário, quando se percebe alguém numa luta, ao invés de se juntar a
ela, à luta ou à pessoa, fica-se especulando aonde aquela pessoa quer chegar, o
que ela pretende, qual o verdadeiro motivo da labuta. Isso é compreensível, em
tempos de tantas frentes de batalha que beneficiam, apenas, a um ou a uma, em
detrimento do coletivo, do grupo. Afinal, a sociedade, o povo, é sempre o
outro. Poucos conjugam no presente do indicativo. E poucos ainda incluem, de
verdade, o outro.
A discriminação racial é horrenda, não menos que a sexual e de gênero, que a
violência contra a mulher, povos indígenas, ciganos, pobres etc. A luta por
conquistar espaço e respeito deve, por isso, ser permeada de mãos dadas com
cada diversidade, cada dor alheia, cada constrangimento e cada sofrimento, sob
pena de perder força e, ao contrário, gerar novos preconceitos, novas
discriminações.
Piadas infames relativas a deficientes físicos, mentais, intelectuais; gracejos
discriminatórios contra lésbicas, gays, travestis, transsexuais, transgêneros;
citações preconceituosas sobre ciganos, povos indígenas, quilombolas, negros,
pobres, sem terra e sem teto; discriminações de iletrados e analfabetos;
nada disso tem graça, nem mesmo quando é feito no resguardo do lar, com poucas
testemunhas. A afirmação de nenhum grupo minoritário deve ser feita usando
outros grupos como cobaia, como motivo de riso, de discriminação. Isso
é crime, é desrespeito, é assassinato.
Portanto, mãos dadas e abraços coletivos, fortalecem e ampliam o raio de ação
de qualquer luta. A verdade nem sempre é unguento para a alma. Uma flor abre
portas no coração. Ah, os três cães da vida? Descobri que existe, no
Inferno de Dante, e eles guardam a saída do inferno. Quem entra, não sai. Não
coloque ninguém lá...
Oculto em mim
Vontade de gritar nas ruas, pintar muros, encher outdoors... Fazer mímica,
desenhos, grafites, escrever em todas as línguas, idiomas, dialetos...
Colocar nos títulos dos filmes, novelas, musicais, anunciar nas rádios, fazer
exposições, bienais...
Vontade de mudar os livros sagrados, incluir referências, recontar a história
da humanidade, rebatizar os mitos, renomear continentes, países, cavar todas as
raízes...
Nomear planetas, galáxias, espaços não conhecidos, dizer a Deus que relance a
criação e deixe uma fresta para minha caminhada perto da existência fantástica
e poética nesse sonho que alimenta minha estadia na vida...
Sarau do Goethe, 12.09.2018
Quando o amor chega
ele não traz esperança
nem cama, nem mesa, nem banho...
Ele chega e pronto... já pronto!
Não marca hora de ir-se embora.
Quando o amor chega ao mundo
um ano depois que você,
não importa idade, bairro, cidade...
Ele te energiza, te deixa pleno(a)
O amor não te garante nada,
não te oferta nada, não te dá nada.
Você que imagina, cria, viaja.
E ele se vai, na mesma velocidade,
como num passe de mágica!
Ficam as imagens, lembranças, vontades!
Ficam os olhos, os sonhos, os vultos...
O amor não te dá nada, mas te proporciona
continuar, esperando até o infinito,
na espera, no desejo, de novo encontro finito.
Poderia ter sido em 1997, 1994...
Cuando viene el amor
el no trae esperanza ni cama,
ni mesa, ni baño ...
Llega y listo ... listo!
No hay tiempo para irse.
Cuando el amor viene al mundo
un año después de ti
no importa la edad, barrio, ciudad ...
Te da energía, te llena
El amor no te garantiza nada
no ofrecerte nada, no vá a darte nada
Tú que imaginas, creas, viajas.
Y se va, a la misma velocidad,
¡como por arte de magia!
Las imágenes, recuerdos, deseos permanecen!
Los ojos, los sueños, las formas ...
El amor no te da nada, pero te da continuar,
esperando hasta el infinito, en espera, en deseo,
por un nuevo encuentro finito.
Podría haber sido en 1997, 1994...
Se ele morrer hoje
Vai demorar para sentirem a falta...
Nos saraus, muitos perguntarão (talvez);
No trabalho chato e repetitivo, sentirão no primeiro dia...
Será a única vez que não avisa, some sem dizer o motivo
A porta de casa, sem lâmpada acesa, não chama atenção;
Nenhum cachorro ou gato vai arranhar o tapete,
Até que o gigantismo e apodrecimento do corpo alastre a fedentina...
Os pilantras e saqueadores do país estarão muito envolvidos com suas rapinas...
Pensarão "já foi tarde" quando souberem, mas postarão falsas escusas
nas redes sociais
Ah, os amores, esses, já estarão envolvidos em outros abraços...
O amor, aquele último, sim, pensará sobre a possibilidade que não houve.
Não tem como evitar o fone chamar até descarregar a bateria, a poeira tomar
conta da casa, a geladeira abarrotar de gelo, as frutas apodrecerem junto com
seu dono, o agora defunto...
Se ele morrer hoje, acharão os bichos de moscas em procissão escada abaixo,
denunciando que não tem mais carne podre para comer...
09 de outubro de 2018
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